MINEV, ILKO. Onde
estão as flores?. São Paulo, Livros de Safra-Selo Virgiliae, 2014.
É prazeroso,
em especial para quem conhece um pouco a Amazônia, ler o primeiro livro de Ilko
Minev “Onde estão as flores”. É mesmo um momento de encantamento. O título
provém de um hino pacifista cantado no período da Segunda Guerra Mundial, época
de quando a história se inicia com o amor entre dois jovens búlgaros, que, fugindo
dos horrores da guerra, imigram para o Brasil, um país cheio de promessas, um
lugar de recomeço, um bilhete para uma nova vida. E, com o toque do inesperado, de vez que, por
um acaso, acabam em Belém e, depois, passam a viver em Manaus onde vão passar
pelas grandes transformações da cidade, vivenciar uma realidade inteiramente
nova, a borracha, com o esplendor do seu apogeu e sua queda. É na
Amazônia, aliás, que o romance ganha intensidade e se mostra como uma história
de vida de muitas pessoas que estiveram em situações similares e criaram uma
nova civilização no coração das florestas. É, de certa forma, uma recriação, de
como, os imigrantes se inseriram e fizeram parte da construção de um novo mundo
na Amazônia.
O livro de
Minev, que não deixa de ser uma memória de parte de sua vida, tem a beleza de
ser também uma vivência de muitos, uma realidade social que foi compartilhada
por muitas famílias imigrantes, daí, ter um gosto, um pé nos temperos da
verdade e da história. Acrescente-se que deve ser motivo ainda maior de orgulho, ser um
triunfo fantástico na vida de um escritor, mesmo com tanto tempo de vida no
país, escrever numa outra língua que não é a sua, e ainda mais, captar, como
Ildo Minev consegue captar, as nuances regionais, de tal forma que conseguiu
escrever um livro amazônico e que, na sua essência, é universal, por enfocar o
drama humano da sobrevivência, da luta contra a natureza, da superação dos
medos e obstáculos. O maior mérito é que consegue tudo isto escrevendo uma
história que prende o leitor com leveza, simplicidade e uma escrita que é
gostosa, quase coloquial, mas, sem perder a beleza e a capacidade de ser exata.
A trama é a cereja do bolo. Quem gosta de uma boa literatura, quem se interessa
pela Amazônia não pode deixar de ler e, com certeza, há de encontrar um
pouquinho de si mesmo nas flores que, Ildo Minev, plantou com a delicadeza de
um grande jardineiro.