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sexta-feira, fevereiro 12, 2016

UM LIVRO COM CHEIRO E GOSTO DE AMAZÔNIA


MINEV, ILKO. Onde estão as flores?. São Paulo, Livros de Safra-Selo Virgiliae, 2014.

É prazeroso, em especial para quem conhece um pouco a Amazônia, ler o primeiro livro de Ilko Minev “Onde estão as flores”. É mesmo um momento de encantamento. O título provém de um hino pacifista cantado no período da Segunda Guerra Mundial, época de quando a história se inicia com o amor entre dois jovens búlgaros, que, fugindo dos horrores da guerra, imigram para o Brasil, um país cheio de promessas, um lugar de recomeço, um bilhete para uma nova vida.  E, com o toque do inesperado, de vez que, por um acaso, acabam em Belém e, depois, passam a viver em Manaus onde vão passar pelas grandes transformações da cidade, vivenciar uma realidade inteiramente nova, a borracha, com o esplendor do seu apogeu e sua queda. É na Amazônia, aliás, que o romance ganha intensidade e se mostra como uma história de vida de muitas pessoas que estiveram em situações similares e criaram uma nova civilização no coração das florestas. É, de certa forma, uma recriação, de como, os imigrantes se inseriram e fizeram parte da construção de um novo mundo na Amazônia.

O livro de Minev, que não deixa de ser uma memória de parte de sua vida, tem a beleza de ser também uma vivência de muitos, uma realidade social que foi compartilhada por muitas famílias imigrantes, daí, ter um gosto, um pé nos temperos da verdade e da história. Acrescente-se que deve ser motivo ainda maior de orgulho, ser um triunfo fantástico na vida de um escritor, mesmo com tanto tempo de vida no país, escrever numa outra língua que não é a sua, e ainda mais, captar, como Ildo Minev consegue captar, as nuances regionais, de tal forma que conseguiu escrever um livro amazônico e que, na sua essência, é universal, por enfocar o drama humano da sobrevivência, da luta contra a natureza, da superação dos medos e obstáculos. O maior mérito é que consegue tudo isto escrevendo uma história que prende o leitor com leveza, simplicidade e uma escrita que é gostosa, quase coloquial, mas, sem perder a beleza e a capacidade de ser exata. A trama é a cereja do bolo. Quem gosta de uma boa literatura, quem se interessa pela Amazônia não pode deixar de ler e, com certeza, há de encontrar um pouquinho de si mesmo nas flores que, Ildo Minev, plantou com a delicadeza de um grande jardineiro. 

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

O ACASO QUE NOS PROTEGE...


Também deu nome à muitas ruas de Porto Velho

Alguns bons pensadores afirmam que o acaso tem um papel muito mais forte no sucesso ou na existência de algum acontecimento mais do que se pensa. Lembro-me que li a tese, num livro de grande qualidade, de Leonard Mlodinow denominado de “O Andar do Bêbado”. Nele Leonard consegue explicar que, na vida, a aleatoriedade é um fato e que, muitas vezes, ocorre contra a lógica comum. Ele ressaltou, por exemplo, que, ao contrário do que pensam os torcedores, que pedem a dispensa do técnico quando o time vai mal que, em média, elas não tiveram nenhum efeito num desempenho melhor da equipe. Efetivamente, embora tente criar uma teoria de como o acaso acontece, deixa bem claro que nem mesmo a quantidade de informações influem muito, ou seja, os insucessos acontecem com excesso ou falta de informações. Para ele, há, em qualquer série de eventos aleatórios, uma grande probabilidade de que um acontecimento extraordinário (bom ou ruim) seja seguido, por puro acaso, de um acontecimento mais corriqueiro. De qualquer forma o que ele escreveu, como escreveram outros, é que se o acaso é inevitável, então a sorte é fundamental para algum acontecimento, de forma que o diferencial pode não ser o talento (ainda que necessário), mas, a persistência. Digo mesmo a teimosia.
Tudo isto foi uma longa introdução para um evento de pura sorte que me aconteceu. O Flávio Daniel Pereira, que foi carnavalesco e sindicalista reconhecido em Porto Velho, precisava de uma dica de um economista e, vejam que, por acaso, veio me procurar. E, de fato, quem saiu ganhando fui eu. Na conversa ele me lembrou uma pessoa que teve um papel fundamental em Porto Velho que foi o seu Miranda, com o nome por extenso de Luis Borges de Miranda, que, por sinal, nem sabia é o pai da mulher dele. Seu Miranda, uma figura esquecida no tempo, foi um desses heróis anônimos, como a Maria Helita Ferreira, que também foi responsável pelo cadastro e abertura de muitas ruas e avenidas de Porto Velho e outras cidades, que dela dependiam no passado. Foram pessoas que fizeram história sem se preocupar em ficar ricos ou preservar seus feitos, mas, que merecem não serem esquecidas e terem o seu valor preservado.

Flávio Daniel, com uma excelente memória, recordou como seu Miranda deu o nome de muitas das ruas de Porto Velho. A rua Brasília, por exemplo, só teve este nome porque na ocasião a nova capital federal estava sendo inaugurada. Outros nomes que foram postos por seu Miranda foram os de Getúlio Vargas, Salgado Filho e João Goulart, uma homenagem que ele, como um bom “cutuba” fez aos políticos de seu partido. Assim como homenageou os amigos, como Elias Gorayeb, Rafael Vaz e Silva, entre outros, bem como, criado pela ditadura o Estado da Guanabara virou rua graças a ele. E, vejam o acaso dos acasos, quando abriram a rodoviária e permitiram novas ruas; ele começou a denominá-las com nomes de países, porém, como não gostava de argentinos, chegou na vez dos “hermanos” e ele , no meio dos países, colocou lá uma diminuição de importância e a rua virou rua Buenos Aires.  Como se vê o acaso é muito mais forte do que se pensa. Tanto que não fosse ele não seria lembrado da origem de muitos nomes das ruas de Porto Velho.