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quarta-feira, julho 22, 2009

O humor negro da política



O Macaco Simão diz, com muita propriedade, que o Brasil é “o país da piada pronta”. E, muitos humoristas se queixam, de que os discursos e as atuações dos políticos nacionais, apesar da dor que provocam como resultado de suas ações, é uma usurpação do lugar deles na medida em que fazem, e dizem, asneiras com a maior sem cerimônia. Deve ser, poristo, que, agora, ensaiam uma reação. Pelo menos é o que parece, pois, na semana em que Lula chamou os senadores de pizzaiolos e colocam um Duque na presidência do Conselho de Ética, que muitos chamam de étitica, do Senado, um verdadeiro trapalhão anunciou que pretende ser deputado federal pelo Paraná. É o famoso companheiro de Didi, Mussum e Zacarias, o Dedé Santana que vai concorrer em 2010 pelo PDT. À primeira vista, o desejo de Dedé pode soar meio estranho, mas, a nova carreira, nos tempos atuais, está tão próxima da antiga que ninguém vai notar a diferença, exceto pelo fato de que irão rir menos dele.
Não sei se é possível suportar as notícias de Brasília, mesmo com extremo bom humor. Mas, a galhofa corre solta entre os políticos e o uso do termo pizzaiolo demonstra que até o presidente Lula, diante da tristeza do seu governo, quer nos fazer rir. O Senado também tanto que nada mais hilário do que o novo presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ) apesar da falta de repertório. Certamente não nos fará rir dizendo que os atos secretos são “bobagens”, assim como as nomeações de parentes (e namorados de parentes) coisa boba. Apesar de carioca não conseguiu nos fazer rir ao reeditar o deputado Sérgio Moraes (o que se lixa para o povo) para desmerecer a inteligência e a opinião pública. O único humor que demonstrou, com cara de pau, foi ter dito tudo sorrindo como só os cariocas fazem quando pensam que estão enganando os tolos.
Se, num pastelão, também seria risível a absolvição definitiva do deputado Edmar Moreira, aquele do castelinho de R$ 25 milhões, no momento atual parece mesmo que a comédia continua sem graça para o público que paga o ingresso. È uma peça em que só os atores riem e debocham do público que parece assistir impassível. É bem verdade que os donos do circo se protegeram fazendo com que parte do público seja pago pra assistir, mas, quem pagou caro não gosta muito subsidiar um espetáculo tão deprimente. Peças com escândalos, caixa 2, pizzas e patrocínio governamental já se tornaram comuns na vida brasileira, de forma que um trapalhão a mais, ou a menos, não fará muito diferença. A questão que não quer calar é até onde a sociedade brasileira aguentará fazer o papel de palhaço pagando todas as despesas? Vivemos uma inversão de valores que retarda o desenvolvimento do país e afasta da política seus melhores valores, daí que as piadas correntes são totalmente sem graça e cheiram a humor negro.

quarta-feira, julho 15, 2009

O IMPACTO IMPREVISTO



A história dos grandes projetos tem sido de, certa forma, a história do infortúnio das populações locais. Afinal, como é o caso das usinas do Madeira, a intervenção e a implantação das usinas está muito além do poder local e suas conseqüências, todo mundo sabe, acontecem localmente. É claro que o mundo mudou. Hoje, as questões ambientais e a responsabilidade social das empresas obrigam a que, mesmo nos grandes projetos, haja uma atenção fundamental para os seus impactos, porém, a grande verdade é que empresa, ou qualquer projeto está limitado ao seu orçamento, ou seja, por mais responsabilidade social e cuidados que existam há um limite de recursos que podem ser despendidos para atenuar os impactos.
Na construção das usinas do Madeira, por mais que haja problemas, houve desde cedo a preocupação básica em minimizar os efeitos sejam ambientais, sejam sociais. Há em todo o seu desenrolar uma real preocupação com aspectos que, no passado, não foram levados em consideração, mas, mesmo assim não se pode deixar de reconhecer que se trata do 2º maior investimento do mundo e, portanto, ambos, correspondem ao tamanho de uma Itaipu, daí que os impactos são muito mais elevados do que os consórcios podem resolver. Em especial no que tange à infraestrutura de uma cidade como Porto Velho que é carente de todas elas. Assim a esperança de desenvolvimento que o Complexo do Madeira traz também implicou, de imediato, numa mudança fundamental na cidade que, a rigor, deveria anteceder o projeto e não houve. Está acontecendo ao mesmo tempo e, como se observa, os antigos moradores de Porto Velho são os que mais sofrem seus efeitos e sentem que não estão sendo beneficiados pelos novos investimentos o que resulta em que qualquer coisa que aconteça comecem a culpar as usinas. Encontrar um culpado é sempre mais fácil e prejudicar um grande projeto, como aconteceu agora com as queixas contra o Ibama, a forma mais fácil de pressionar e chamar à atenção.
No entanto, num momento de crise como a atual, os investimentos do Complexo do Madeira são uma benção. Tanto que segundo os dados do CAGED, em maio de 2009 foram gerados 5.361 empregos celetistas, equivalente à expansão de 3,09% em relação aos assalariados com carteira assinada do mês anterior sendo este resultado o melhor da Região Norte. Tal desempenho deveu-se ao crescimento principalmente no setor da Construção Civil (+4.367 postos). Para se ter uma ideia no período de janeiro a maio do corrente ano, houve acréscimo de 11.392 postos (+6,81) e, nos últimos 12 meses, o Estado de Rondônia foi responsável pela maior geração de empregos da Região, ao apresentar crescimento de 8,71% no nível de emprego, a maior taxa de crescimento entre todas as Unidades da Federação, equivalente à geração de +14.316 postos de trabalho. A venda de veículos novos em junho cresceu 15%, os hotéis estão lotados, mas, o comércio se queixa de problemas invadido por uma concorrência mais moderna e com margens de preços mais baixas. Enfim, o efeito inesperado parece, no fundo, ser o efeito antigo: quem não está ganhando nada com as usinas é a população mais antiga que somente sente o projeto pelo lado negativo. A vida, pelo menos por enquanto, com um trânsito maluco, os serviços mais ruins, as ruas e os locais mais lotados parece que ficou pior. O efeito inesperado das usinas é que seus maiores beneficiários estão sendo os novos migrantes que enriquecem a olhos vistos e, muitas vezes, não vistos. O mundo não é justo, é certo, mas, ninguém vê sua aldeia ser destruída sem lutar.

sábado, julho 04, 2009

A LIMPEZA INEXISTENTE



Como um Pedro moderno, embora não renegando Jesus, por três vezes, o que já o transformou num bordão, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, tem repetido que “Não basta ganhar. Tem que ganhar limpamente”. A frase foi dita e repetida quando dos julgamentos no STF que culminaram na cassação de mandatos dos governadores Cassio Cunha Lima, Jackson Lago e Marcelo Miranda. Segundo o ministro ganharam, mas não limpamente, e, portanto perderam o que haviam conquistado. È fundamental que a Justiça proceda assim para a manutenção do jogo democrático e não deixa de ser um amadurecimento da Justiça Eleitoral brasileira. È o ideal que se tem de justiça, ou seja, de quando há erro, e fica provado, seja quem for, grande figura política ou cidadão comum, tem que pagar por ele e assim deve ser. A impunidade não é boa para a democracia e a justiça social.
A pergunta, porém, que não quer calar é: e quem ganha limpamente? Não me interessa aqui discutir nomes ou apontar miudezas. Não se trata de demonizar ninguém, nem de querer fazer campanha contra a ou b. Longe de mim. A rigor ainda me interesso por política à força. Gostaria mesmo que os políticos fossem tão bons que pudesse esquecer que a política existe. O problema real é que, diariamente, somos bombardeados pelas manchetes que falam de coisas que nos incomodam porque custam o nosso suor na medida em que passamos, praticamente, meio ano pagando impostos e, é claro, se tudo estivesse a beleza que dizem que está, com certeza, seria o primeiro a louvar os grandes dirigentes da nação. O problema real é que, apesar de todo o esforço da Justiça Eleitoral, é muito difícil existir uma eleição justa na medida em que há o peso decisivo do poder econômico que, para piorar, muitas vezes, vem do próprio uso da máquina pública. Mesmo os políticos melhores intencionados para sobreviver, de uma forma ou outra, acabam se atrelando a processos que ou são assistencialistas ou são ilegais.
Até mesmo o presidente da República, em plena à crise do Mensalão, numa entrevista na França, se desculpou, enviesadamente, dizendo que todo mundo usa Caixa 2. E, de fato, se examinadas as contas e os documentos levados à Justiça Eleitoral das campanhas muitos poucas se sustentariam. Há até mesmo uma tradição de se ter contabilidades paralelas nas campanhas que se revelam, vez por outra, por meio de denúncias, inclusive vídeos ou gravações, que mostram que as eleições estão longe de ser limpas. Por tais razões é importante não somente que as despesas sejam acompanhadas durante o processo, mas que também o voto distrital e outras formas de tornar as eleições mais limpas sejam adotadas. Se isto não acontecer as possibilidades de mudanças serão poucas e os cassados poderão sempre alegar “Por que somente eu se todo mundo faz?”.

quarta-feira, julho 01, 2009

O trânsito e os políticos



É impressionante a irritação das pessoas com o fato de que as leis não são respeitadas, os políticos se apropriam do que é público e, pior, nem por um momento parecem pensar na coletividade. É, como se observa no momento, o tipo de comportamento indigno que transparece no Senado em relação aos escândalos diários que são relatados pela imprensa. Confesso que até para falar sobre o tema já estou farto, mas, ontem e hoje, andando no trânsito de Porto Velho, que, como se sabe, é um caos diário, não tive como não pensar no Senado. É que tudo que se repreende nos políticos transparece no trânsito. E olhe que minha crítica não se dirige as autoridades, embora elas também mereçam, mas, ao cidadão motorista comum.
É impressionante como se comportam da forma que criticam os políticos. Não há, em geral, no trânsito de nossa capital o menor sintoma de educação, de respeito ao outro e à coletividade. Parece que, ao por as mãos no volante, todos os que criticam tanto os políticos passam a se comportar como se políticos fossem. É incrível o grau de desrespeito, o comportamento reprovável da grande maioria dos motoristas de nossa capital. Parece até que se transformam em brutamontes estressados e sem cérebro quando entram em seus veículos. Como se explica tanta pressa, quando se vai parar logo adiante, ou o completo desrespeito ao direito alheio seja parando em fila dupla ou indo bem devagarzinho procurando vaga onde não existe numa rua completamente engarrafada? Ou o fato de dar sinal e sair ou encostar atrás do carro da frente quando há uma distância regulamentar a ser respeitada? Como aceitar que se dirija à 80 km em ruas centrais? Ou que uma parcela dos motoristas costume se apropriar das ruas como se fossem deles inclusive parando em fila dupla para conversar? Como aceitar que se fure o sinal vermelho ou se estacione em lugares proibidos como garagens alheias ou pontos de ônibus? Muita gente entende que não está fazendo nada demais se comportando assim, mas, não é bem isto. Não há muita diferença entre o comportamento dos nossos motoristas e dos políticos na medida em que o trânsito, assim como o dinheiro público, também é um bem comum, embora se costume esquecer disto e, muitos, privatizem para si um espaço que deve ser compartilhado por todos. Há muitos motoristas que dirigem em Porto Velho como se estivessem no quintal de sua casa e pudessem fazer o que bem entender, daí os inúmeros acidentes. Não há diferença real entre o comportamento dos motoristas ruins e as atitudes dos políticos. No fundo refletem a ausência de cidadania e a necessidade que temos de mudar nossas atitudes. È preciso frisar que o respeito aos bens coletivos, como as ruas, o trânsito e coisas públicas, é uma parte essencial da vida coletiva e que só poderemos, de fato, ter políticos melhores na medida em que houver um maior respeito às leis tanto da parte da população como dos governantes.

quinta-feira, junho 04, 2009

O SUCESSO DA MT & EXPO 2009



Aberta na segunda feira, 02 de junho, e se estendendo até o próximo sábado a M&T EXPO 2009- 7ª Feira Internacional de Equipamentos para Construção e a 5ª Feira Internacional de equipamentos para Mineração não se apresenta apenas com a principal vitrine do mercado de máquinas e equipamentos para a construção e a mineração do Hemisfério Sul como também demonstra que venceu o desafio de fazer uma das maiores feiras mundiais no meio de uma grave crise econômica internacional. A feira, no Centro de Exposições Imigrantes em São Paulo já demonstrou que é um sucesso com a presença maciça no seu evento paralelo o 2° ELACOM- 2° Encontro Latino-Americano da Construção e Mineração mais de 4 mil pessoas que irão assistir palestras de especialistas nos mais diversos temas, bem como pela afluência de público e interessados em seus lançamentos e produtos.
Se havia um entusiasmo contido nas palavras do presidente da Associação Brasileira de Tecnologia de Equipamentos e Manutenção-Sobratema, Afonso Mamede, da entidade responsável pela realização da feira, que, na abertura, destacou números que impressionaram,como de que a MT & EXPO 2009 tem 52 mil metros quadrados, 424 expositores e mais de 500 marcas ou que são expositores de 28 países que mostram mais de 1.000 equipamentos que, em conjunto, representam um valor estimado de mais de R$ 200 milhões, agora, alguns especialistas com a introdução de novos produtos estimam que serão negociados acima dos 10% da expectativa de gerar negócios nos próximos três anos da ordem de US$ 1,5 bilhão. È um espetáculo, de fato, verificar que todo o centro de exposição está tomado de máquinas e equipamentos que exigiram a abertura de mais três pavilhões até o limite físico do parque e, mesmo assim, houve expositores que ficaram fora da feira que cresceu 57% em relação a sua última edição, em 2006, de vez que ela somente acontece de três em três anos.
Por outro lado, também se verifica que o avanço dos asiáticos no mercado brasileiro é visível, pois, os chineses chegaram junto com os coreanos ocupando na feira, em conjunto, 20% do seu espaço. Também vale ressaltar que 191 expositores, ou seja, 45% dos expositores não tem representação no Brasil. Interessante é ver que isto é resultado de todo um trabalho de marketing, de vez que a feira se apresentou num novo visual ressaltando o seu papel como a supermáquina do desenvolvimento, ou seja, um fator essencial no que é um problema da America Latina, o da infraestrutura. Isto, porém, não funcionaria se, como se verifica com os empresários e jornalistas, não houvesse a percepção de que, na crise, os países da América do Sul serem, hoje, passaram a ser encarados como solução e não como problema. Neste contexto o Brasil se destaca como um mercado atrativo que pode impulsionar os negócios de todo o continente e há uma grande esperança de que os investimentos públicos, em especial o PAC, seja o estopim de melhores dias. E há, como se pode constatar na feira, a percepção de que os dias piores da crise, pelo menos na América do Sul, já passaram.

(*) Silvio Persivo viajou para São Paulo a convite para a MT & EXPO 2009 a convite da Sobratema- Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção

quinta-feira, maio 28, 2009

BRASIL FOODS



Brasil Foods é realismo pragmático

Principalmente na segunda metade do século passado as esquerdas latino-americanas, e a brasileira em especial, tinham um inimigo: as empresas multinacionais. Foi um grito comum entre os esquerdistas o “Fora multinacionais” na medida em que, como mantinham seus centros de decisões no exterior, as empresas eram vistas como inimigas do país, risco para a soberania do povo brasileiro e, principalmente, como grandes sugadores da riqueza pátria. A grande diferença é que, no passado, havia, na sua grande maioria, o predomínio das multinacionais norte-americanas e os Estados Unidos eram vistos como o país imperialista por excelência, de forma que tornou-se comum os slogans “Fora ianques” e “Go home trustes”.
É irônico que o Brasil que tanto ajudou a criar este tipo de mito seja agora acusado pelas demais nações latino-americanas de serem “os ianques da vez”, pois, seja no Paraguai, na Bolívia, no Equador ou na Venezuela, hoje, o perigo imperialista é, quem diria, o Brasil com suas grandes multinacionais estendendo seus tentáculos e recebendo em troca o tratamento que deu no passado aos investimentos estrangeiros. Ou alguém dúvida de que a Petrobras, a Odebrecht, a Camargo Correa, a Ambev ou a Vale, só para citar as mais comuns não sejam vistas como empresas gigantes e dominadoras de mercado? Como se vê o mundo mudou. Mudou tanto que a fusão da Sadia com a Perdigão, criando a Brasil Foods, que pareceria impossível tempos atrás, se fez quase por imposição do mercado internacional. Na verdade os seus dirigentes compreenderam que só em conjunto poderiam pesar e ser uma das maiores empresas do mundo na produção e exportação de alimentos industrializados, porém, por isto mesmo também uma nova candidata a engrossar a lista das empresas que, para muitos esquerdistas, compõem o que, para nós, é uma completa paranóia, o projeto imperialista brasileiro da América do Sul. Longe estão de pensar que estamos numa época onde não existe nenhuma intenção imperial, mas, apenas e tão somente as necessidades estratégicas comerciais de empreendedores.
É certo que muitos dos nossos vizinhos, como nós no passado, não compreendem o mundo novo de megaempresas de atuação multinacional, o que no setor de alimentos é indispensável. A questão de criar grandes corporações multinacionais brasileiras é um caminho sem volta e a única forma possível de inserção no comércio internacional. Hoje, em dia, por mais que o esquerdismo infantil não compreenda só há uma coisa pior do que ser explorado por multinacional: é não ser. Quem não tem multinacionais na sua economia, como muitos países da África, estão excluídos do desenvolvimento e da modernidade.

sexta-feira, maio 22, 2009

NEGÓCIOS DA CHINA



É anunciado com estardalhaço que a China emprestou R$ 10 bilhões para a Petrobras. Tal empréstimo seria um sinal do sucesso da visita de Lula da Silva ao gigante asiático e prova do acerto da política diplomática posta em prática pelo atual governo. Não é preciso ir muito longe para relembrar que, em 2004, Lula já havia ido até lá para, supostamente, acertar a vinda de grandes investimentos chineses para o Brasil e, passados cerca de cinco anos, qualquer um que se debruçar nos números verá que os chineses investem muito mais em países africanos como a Nigéria, Sudão e Argélia do que no Brasil.
O fato real é que, em contraposição à nossa política ciclo tímica e de terceiro-mundismo anacrônico, a China, se comporta de forma pragmática e com uma estratégia de longo prazo que não está nem aí para boas intenções ou promessas vazias. Os chineses, ao contrário de nós, cuidam de seus interesses, daí que o que o empréstimo revela é a consistência de sua política externa que se alicerça em ter muito dinheiro em caixa e na compra maciça de insumos que possam garantir o seu desenvolvimento. Numa época em que falta crédito no mundo e a demanda cai não existe negócio melhor do que aproveitar os preços em queda das “commodities” e comprar o minério de ferro, a soja e, agora, com este último empréstimo também o petróleo, para poder continuar crescendo velozmente. Claro que isto nos garante um sólido superávit comercial neste ano de crise, mas, não deixa de ser revelador de que continuamos sendo exportadores de matéria-prima para nações que nos vendem produtos processados, ou seja, vendemos as mercadorias de baixo preço, sem tecnologia e sem valor agregado o que, convenhamos, revela bem que existe um grande desequilíbrio na relação bilateral com a China (e não somente com ela) e desvela estratégias diferentes que mostram que o Brasil não sabe negociar com os chineses. A viagem de Lula revela friamente que somos ineficientes em aproveitar as oportunidades existentes enquanto os chineses são precisos, frios, calculistas e estão nos dando um banho de competência diplomática em todos os sentidos. A rigor não há o que comemorar. Se a diplomacia brasileira tivesse capacidade de auto-análise certamente encobriria o rosto do Barão do Rio Branco para que, nem com os olhos apertados, pudesse enxergar o fiasco de seus sucessores fazendo negócios na China. Não é de estranhar que Lula, muitas vezes, apareça desajeitado. O estranho é que não exista ninguém perto dele que o tenha desaconselhado a sacramentar o fracasso de sua diplomacia sob o sol do Oriente.

sexta-feira, maio 15, 2009

O HOMEM CORDIAL....



Foi para o brejo
É engraçado como se consolidam socialmente alguns estereótipos na psique popular. Talvez nenhum deles seja mais emblemático do que, por exemplo, a crença de que nossa sociedade se define por traços que a caracterizam como uma sociedade cordial, pacífica, sem imensos conflitos sociais. È claro que isto não poderia escapar do olhar científico e são muito conhecidas as palavras de Sérgio Buarque de Holanda que, em Raízes do Brasil, escreveu “A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal”. È verdade, mas, é preciso não esquecer que nossos ancestrais com pertinácia fecunda no meio rural e patriarcal foram responsáveis por reduzir cerca de cinco milhões de índios que estavam aqui antes dos colonizadores, divididos em mil etnias, nos parcos 300 mil indígenas de hoje o que dá bem uma dimensão do extermínio que lhanamente cometeram. Ou seja, a rigor sempre houve uma máscara de paz, de cordialidade, porém, o jogo sempre foi duro.
No entanto nos tempos atuais onde as boas maneiras, a polidez e o respeito parecem comportamentos cada vez mais distantes dos padrões brasileiros se alguma vez houve mesmo o tal do “homem cordial” deve ser uma espécie em extinção ou prestes a desaparecer. Basta ver que até mesmo nas classes menos favorecidas e entre os mais jovens se alastram os números pesados da criminalidade com homicídios, uso de armas e drogas despontando de um lado e, de outro, nos supostos movimentos sociais, vemos o MST ocupando estradas, centros de pesquisa, edifícios e órgãos públicos ou os sem-teto nas cidades brasileiras ocupando conjuntos ou prédios abandonados ou em construção, sem contar os protestos nada pacíficos de estudantes contra os aumentos de passagens ou pelo passe livre, os conflitos entre policiais e camelôs em São Paulo ou, aqui em Porto Velho, entre policiais e mototaxistas. Esses movimentos sociais, afora tantos outros, rasgam o véu da cordialidade, verdadeira máscara que esconde, na verdade, a crueldade sempre presente nas relações da sociedade brasileira.
Aliás, nenhuma crueldade é maior do que a do próprio sistema político que afastou, definitivamente, a elite intelectual e moral do país do seu comando, por meio do clientelismo e do poder econômico, criando uma agenda em que os verdadeiros problemas do país são tratados apenas nos discursos enquanto os poderes oligárquicos se perpetuam mesmo que sob a fachada de um operário e de um partido de esquerda que perdeu completamente a noção de que esquerda é lutar pela condição de cidadania e não manter o povo pendente de um auxílio qualquer. Definitivamente quando se perde a batalha da educação e o espelho dos bons modos é porque o homem cordial há muito foi pro brejo.

sábado, maio 09, 2009

A LÓGICA TORTA...



PODER
(ou Salvai-me São Jorge de ser crente!) DO >

Pode até parecer grotesco que um deputado federal, e logo do Rio Grande do Sul que supomos uma bastilha dos libertários, o deputado Sérgio Moraes, tenha a coragem desabrida de afirmar que está “se lixando” para a opinião pública” e ainda emendar desafiadoramente para a jornalista que o entrevistava que “Até porque parte da opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, mas a gente se reelege”. Bem, pode até ter sido um deslize, mas, o deputado disse o que realmente pensa – sobre o povo, a imprensa e a democracia. Disse também, indiretamente, o que pensa sobre a atuação do colega, de vez que não viu indícios de quebra de decoro por parte de um parlamentar acusado de usar notas frias na sua prestação de contas, ou seja, foi honesto dentro dos seus parâmetros.
Não deixa de ser irônico que quando um político diz o que pensa realmente revele a lógica do poder e esta, como fica evidente, é a de que se pode fazer tudo desde que se seja eleito como se o fato de obter votos, mesmo que da forma mais rasteira possível, promova a limpeza na falta de ética e no desrespeito as leis. No entanto o desabafo do deputado Sérgio Moraes é também revelador dos tempos em que vivemos na medida em que, recentemente, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, procurava ser candidato por seu partido como uma forma de “apagar” seu passado, assim como o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palloci, anda prestes a conseguir via um mandato, que somente se explica pela inércia da Justiça. Todos se agarram na frágil defesa de que “fazem o que todo mundo faz”. Mas, isto é uma justificativa que não livra ninguém dos crimes e torna todos criminosos, porém, é diferente a atribuição generalista do crime ao crime específico. O que seria correto, se pudessem fazer, seria dizer que não fizeram o que fizeram. Ao jogar todo mundo no lixo comum o que se faz, de fato, é querer justificar a criminalidade pelo discurso e sepultar a culpa pela via do voto. Se assim se for, então se justificaria inocentar os criminosos que conseguissem votos? E quem duvida de que Marcola ou Fenandinho Beira Mar não seriam bem votados?
Aqui, por dever de ofício, é preciso acentuar que se trata de um costume que tem raízes no PT. Concordo plenamente que o Partido dos Trabalhadores é igual a outro partido qualquer e que não inventou a corrupção nem é o único por ela responsável, mas, não posso deixar de assinalar que lhe cabe a culpa, com a reeleição de Lula da Silva, de ter inaugurado o costume de se achar que tudo é possível se encobrir com os votos. Não é. O sistema eleitoral brasileiro, por si mesmo, é uma fonte de males com o clientelismo e a compra de votos afastando do exercício da política os mais probos, os mais cultos e os mais jovens. E, infelizmente, como comprova a tentativa frustrada de retorno de Delúbio Soares, com seu discurso lamacento de renúncia, um partido que veio para mudar se transformou numa fonte de atraso, o verdadeiro condutor do clientelismo, do “é dando que se recebe” e da compactuação com quem, no passado, como Sarney, Collor, Jáder Barbalho ou Jucá Romero, chamavam de “ladrões”. Também nisto o PT não inova, mas, se afasta dos ideais que nortearam sua formação e se tornou a verdadeira direita do país que, estranhamente, somente se revela em episódios tristes, como este, onde um deputado da base aliada desvela a lógica do poder que quer se manter a qualquer custo. Ou é mentira que já anda se pretendendo, no melhor estilo Chávez, rasgar a Constituição em busca de um terceiro mandato?

quinta-feira, maio 07, 2009

É NEGÓCIO TER A VENEZUELA NO MERCOSUL?

NA ENCRUZILHADA DOS RUMOS FUTUROS
Embora não tenha tido, por parte da imprensa e da opinião pública, o espaço e a discussão merecida um dos mais importantes assuntos que se encontra prestes a ser votado no Senado é, sem dúvida, o projeto que aprova o texto do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul. Há até mesmo uma certa pressa, um açodamento para que seja votado e que se aproveite a vinda do presidente Hugo Chávez, que tem encontro marcado com o presidente Lula no próximo dia 26, na Bahia, para que o país vizinho seja incluso no bloco como defende o Executivo.
Como argumento para que isto seja feito o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve recentemente em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Congresso justificando a posição do governo de apoio à entrada da Venezuela não sob o ponto de vista ideológico, que é o verdadeiro ponto de união entre Lula e Chavez, e sim pelo fato de que a Venezuela é o país com que o Brasil possui maior superávit nas relações comerciais individuais – US$ 4,5 bilhões no ano passado. Por isto, segundo Amorim, a entrada do país vizinho no bloco pode ser muito vantajosa.
Bem não se discute o fato de que, num mundo globalizado, ainda mais diante de uma crise econômica, não seja melhor uma maior integração, em especial com as nações vizinhas. Todo o esforço que é feito para salvar o Mercosul advém desta base, logo o raciocínio parece adequado também para a Venezuela. Se isto é correto em tese, na verdade, não é bem assim. Isto em razão de que o governo da Venezuela é, sabidamente, marcado por um exacerbado personalismo de seu chefe que cria um ambiente político incerto, principalmente diante das sucessivas manobras de Chávez para se perpetuar no poder. É verdade que os governos passam e os países ficam, ou seja, poderia ser de bom alvitre ignorar as posições do dirigente em nome das boas relações que sempre mantivemos com o país vizinho. O problema principal disto é o de estimar se vale o preço a ser pago.
É indispensável lembrar que com a Venezuela no Mercosul, por conta do estilo imperial e passional de Chávez, com o poder de veto é dado a todos os países integrantes do bloco, este pode certamente impedir o avanço de acordos de livre comércio e das flexibilizações da Tarifa Externa Comum (TEC), negociadas, em virtude das infindáveis incompatibilidades de interesses, especialmente entre argentinos e brasileiros. Não se pode esquecer também os princípios que regem a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), a versão chavista da Alca, na qual a Venezuela tem defendido o pleito de Fernando Lugo, presidente do Paraguai, de renegociar com o Brasil o Tratado de Itaipu, bem como condenado uma das políticas mais caras a Lula que é a expansão do uso do etanol, com o aumento da cultura da cana-de-açúcar , na opinião dos chavistas, responsável por “efeitos devastadores” sobre a produção de alimentos. È claro que o interesse é outro: com o petróleo sendo sua principal fonte de receita Chávez não tem o menor interesse na produção em larga escala de combustíveis que concorram com a riqueza natural da Venezuela. Será que é um bom negócio atrair um país para a integração quando este é dirigido por quem está mais atento as bandeiras que atendam mais ao seu desejo de liderança regional do que uma efetiva integração? O balanço fica mais negativo ainda se verificamos que, por suas posições, será um grande complicador para as discussões de possíveis novos acordos com a União Européia e os Estados Unidos aos quais, seguidamente, critica. O grande perigo é que o Mercosul acabe atrelado à agenda chavista o que, na prática, significará sua efetiva estagnação.

segunda-feira, abril 27, 2009

O PILAR BÁSICO DA DEMOCRACIA



Em defesa do Congresso
A política, é verdade, não é feita por santos. È feita por homens com suas virtudes e seus defeitos e sua conhecida falibilidade. É claro que, por tal causa, nunca será o ideal de pureza com que se sonha. Não poderá ser nunca isenta dos problemas humanos, de suas fraquezas e seus erros. Isto não significa que não se lute por uma política com maior seriedade, com maior moralidade. No entanto, em certos momentos, parece haver uma escolha visível de uma Geni para se jogar pedra. A Geni atual é o Congresso Nacional.
É fato que existem motivos. Afinal a opinião pública acompanha com justificada revolta o fato de que, a partir de brigas internas de poder, já nos aproximamos da metade do ano com as duas Casas chafurdando na lama dos escândalos que se revelam, continuamente, num festival de baixarias que impede o exame de matérias do que, de fato, seria importante para o país. È uma crise política séria, porém, não nova. O cerne real é antigo: a forma como os parlamentares são escolhidos. As denúncias que envolvem os deputados e senadores possuem sua raiz na forma de eleição, pois, num país onde as pessoas mais escolarizadas e culturalmente mais capazes, a elite, são execradas e afastadas da disputa seja por questões financeiras ou morais, onde, praticamente, só conseguem se eleger quem compra votos ou pratica o clientelismo; no qual são gastas fortunas para se eleger, nada tem de espantoso que os parlamentares considerem o mandato como “seu”, o que é um passo para os privilégios impensáveis como passagens aéreas utilizadas para viagens de passeio, telefones celulares franqueados, auxílio-moradia, serviços médicos de primeira classe pagos por conta do Estado e por aí vai....
Sendo uma crise política também é moral e ética. Tanto que não há diferenças expressivas político-partidárias, ideológicas ou de visão administrativa. O próprio presidente publicamente confessa, assinando um pacto com outros poderes, que, entre eles, “não há santos nem freiras” e, justificou práticas de seu partido, afirmando que “todos fazem igual”. O ruim, o péssimo, no entanto, é que o Congresso é o mais frágil dos poderes e, o que, efetivamente, representa o povo. Ao se enxovalhar, como está se enxovalhando, cria a falsa impressão de que é uma instituição desnecessária, na medida em que parece apenas um local para o exercício de bandalheiras. E, como se verifica, seja por medidas provisórias ou por interpretações das leis, os demais poderes da República, distorcendo os princípios constitucionais, as cláusulas pétreas da autonomia e da harmonia dos poderes, tem invadido a seara legislativa. Esta situação anômala é que induz à equívocos, como o do senador Cristovam Buarque, que, num haraquiri político, chegou a propor um plebiscito para que o povo decida se o Parlamento deve ser fechado. Só o fato de um ex-ministro da Educação, ex-governador e senador propor um absurdo deste já demonstra a falta de preparo e de representatividade de nossos políticos. É a completa falta de compreensão de que o Congresso é um pilar básico da democracia e que, só nas ditaduras, os parlamentos são fechados. O que se precisa de fato é restaurar a representatividade por um processo eleitoral mais transparente e menos sujeito aos vícios que todos nós tão bem conhecemos da manipulação das classes mais pobres do país. A rigor, o Congresso, em si mesmo, é o menos corrupto dos poderes por ser muito mais transparente, mesmo com todos os pecados que lhe são apontados.

sábado, abril 18, 2009

UM VIDENTE ANARQUISTA



Bakunin conhecia a alma de Lula

O que não perdôo em Lula da Silva é a desfaçatez com que faz hoje o que, ontem, criticou. Lembro que, quando ainda sindicalista, sem a menor cerimônia chamou de “ladrão” os senadores Sarney e Collor com os quais, no momento, se abraça. Mas, o pior de tudo, é que quem, no passado, foi o maior crítico da corrupção pode se orgulhar do recorde de escândalos que “nunca antes houve neste país”. É um fato indiscutível que antes não se havia visto nada igual aos vídeos que mostraram integrantes do governo recebendo propina e gerando o famoso “Mensalão”que, depois, foi transformado, por obras de artes marqueteiras, em caixa 2 para a arrecadação de recursos ilícitos para o financiamento de campanha.
É até fastidioso enumerar a série de escândalos impunes que chega agora ao fundo do poço (é o que se espera, mas, nunca se sabe) com a série infindável de denúncias que enxovalham o Congresso e salpicam os demais poderes. É um contraste, que somente se explica pela necessidade de criar factóides, que o mesmo governo que “espetacularizou” as ações da Polícia Federal assine um acordo com os outros Poderes para fazer, o que seria feito, se apenas se respeitassem as regras e, para tornar o espetáculo ainda mais dantesco, com o presidente dizendo que “Ninguém aqui é freira ou santo, e não me consta que no convento também não haja briga”.
Ou seja, daqui a o pouco vai considerar natural os desvios das cotas das passagens aéreas das mordomias parlamentares, para financiar viagens ao exterior ou para a folia do carnaval dos convidados do deputado Fábio Faria (PMN-RN). Para quem entende que é elastecer demais o raciocínio basta lembrar que o presidente disse que "Fazer a minha sucessão é uma tarefa gigantesca. Todo mundo sabe que tenho intenção de fazer com que a companheira Dilma seja a candidata do PT e dos partidos”. E, para tal, não tem poupado esforços seja reunindo prefeitos, distribuindo recursos para Estados e Municípios, prometendo investimentos, aumentando salário mínimo, não contendo gastos, desonerando impostos e, por último, prometendo fazer um milhão de casas e aumentando o Bolsa Família.
É claro que a alegação em defesa de suas atitudes pode ser sempre a de que todo mundo faz do mesmo jeito, mas, o que se esperava de quem pregou que não tem brasileiro capaz de julgá-lo em termos de ética e de moral seria bem mais do que este triste espetáculo de tentar eleger alguém a qualquer preço. Infelizmente, como tantos outros, o Lula dos palanques dá toda razão a Bakunin que, numa discussão contra Marx, disse sabiamente que: “O governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana. "

quinta-feira, abril 16, 2009

O MUNDO GIRA



O PESO DA ECONOMIA
Há quase já estabelecido um ritual, pelo governo Lula da Silva, que tem dado certo: segurar as contas públicas no início do mandato e, nos dois últimos anos, praticar políticas eleitoreiras para buscar a adesão social de camadas que influenciam o voto. Com Lula como candidato isto tem dado certo, daí a formula estar sendo reeditada quando ele não mais pode ser. Só isto para explicar a abertura das porteiras do gasto público com o objetivo de manter o PIB crescendo ou a liberação da Petrobras de contribuir para o superávit primário. Também a marcha-ré no “aperto dos cintos” das prefeituras, com a liberação por MP de um bilhão de reais, a negociação de "ajuda" a Estados e as bondades fiscais que estão baixando o preço dos bens de consumo se regem pela mesma lógica. Porém, entre essas, nenhuma supera em apelo emocional à antecipação do aumento do salário mínimo que vai subir de R$ 465,00 para R$ 506,50, ou seja, está dando, logo em janeiro de um ano eleitoral, um aumento de 9% para uma significativa faixa da população, bem maior que a inflação prevista de 4% e, num ano em que o PIB, se não diminuir, deve ser igual ou próximo de zero.
É verdade que isto vem coberto pelo glacê de medidas "anticíclicas", mas, são iniciativas que tem uma vertente eleitoral visível como é o caso do agrado aos prefeitos, aos governadores e a diminuição do superávit público que se explica muito mais pela necessidade de manter quietos segmentos do funcionalismo público e os militares do que, de fato, aumentar investimentos. Basta ver que um exame superficial dos gastos de investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento-PAC demonstra que a execução dos gastos de investimentos pelo governo é pífia, quase nula. A rigor bastaria efetivar, de fato, os investimentos previstos para que houvesse um maior aquecimento da economia.
È claro que se trata do jogo político. Ninguém ignora a força dos votos dos prefeitos ou dos governadores nem de muitos senadores e deputados que tem seus pleitos atendidos, inclusive negociações de dívidas de setores específicos, que são feitas sob a ótica do futuro eleitoral. Nem se pode subestimar o fato de que Dilma Roussef apareça no jogo como tendo um papel importante na decisão sobre liberação de dinheiro para as cidades. Pode-se dizer que não se trata de uma concorrência justa, porém, na política, o Partido dos Trabalhadores-PT pode alegar, o mesmo que alegou sobre o Caixa 2, que nunca foi. A questão real é de que, apesar disto, as possibilidades de que, mesmo com tais medidas, seja possível ganhar o jogo depende cada vez mais de fatores que estão fora de controle: a intensidade da crise. Quanto mais os indicadores forem negativos, quanto menos consumo, renda e emprego houver menos possibilidades tem o governo de ter êxito no apoio à sua candidata. A eleição de 2010, mais do que as anteriores, será decidida pela situação econômica. E a queda da arrecadação federal, pelo quinto mês consecutivo, dá sinais de que os ventos estão soprando a favor da oposição.

terça-feira, abril 07, 2009

A COMUNICAÇÃO EM FOCO



Wolton, um pensador inquietante

Sem dúvida uma das mais brilhantes reflexões sobre a atualidade, em especial sobre as relações entre comunicação e sociedade, é a de Dominique Wolton, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa), que, no seu último livro, McLuhan “Ne Répond Plus. Communiquer C’est Cohabiter (McLuhan não Responde Mais. Comunicar é Conviver) dispara suas idéias sobre assuntos que causam polêmica e despertam provocações e reflexões como afirmar que os jornalistas e políticos “Não escutam os homens de ciência...”. Nascido em 1947, em Duala, Camarões, é um dos pioneiros na França a se debruçar sobre a “comunicação”. Como afirma também “Comunicar é dirigir-se a um outro que não nos compreende porque não é nós mesmos. É construir uma relação com o outro sabendo que ele é um outro. Comunicar, no fundo, é aprender a conviver”.
Dominique Wolton tem um pensamento inquietante e permanente sobre a comunicação cujas raízes, confessa, remontam à sua infância africana. “No Camarões, quando menino, fiz a experiência, sem o saber, da alteridade. E com ela, da dificuldade de se compreender”. Tornou-se famoso graças aos livros Le Spectateur Engagé, um livro de entrevistas com Raymond Aron, e La Folle du Logis, um ensaio sobre a televisão que rapidamente se transformou na bíblia de todos os estudantes em comunicação e jornalismo por afirmações ousadas como “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, mais lenta se torna a comunicação humana”. Para ele: “Os cientistas criaram as ciências humanas, as ciências naturais... mas ainda não as ciências da comunicação. Ora, esse terreno de estudo é fundamental em nossa sociedade”. O que comunicar? Como podemos nos compreender? O que sabemos do “receptor”? São questões urgentes e candentes em tempos de meios de comunicação de massa. “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, tanto mais a circulação da informação é rápida e tanto mais lenta é a comunicação humana.”
Para Wolton o progresso (coisa que não acredito que exista) não vai mudar esta situação. Diz ele. “Os progressos da técnica, longe de gerar uma aldeia global, como pensava McLuhan, nos mergulham na torre de Babel. A multiplicação dos canais de informação, como o mostra a internet, favorece comunidades e redes. Permanecemos entre nós”. Por esta razão, Dominique Wolton é um advogado incansável das grandes mídias generalistas: “Elas exercem um papel capital em nossa sociedade. Seu desafio, que é o desafio da comunicação, é colossal: como se dirigir a todos quando cada um é diferente?”. Neste sentido é que, longe de desprezar a televisão, ele foi um dos primeiros a definir seu papel na cidade: criadora de vínculo social. “Como a imprensa generalista, ela permite ao cidadão sair de seus interesses pessoais e ir ao encontro da coletividade.” Interessante também, tem uma visão com a qual concordo, acredita que o leitor, o ouvinte, o telespectador tem um papel central. Trata-se de um dos poucos pensadores que crê que os telespectadores são mais inteligentes e menos influenciáveis do que se acredita. “O telespectador não é ingênuo. Ele não adere incondicionalmente e sem distância ao que lhe é mostrado: não é porque ele assiste que ele adere! Como em todas as indústrias da cultura, não é a demanda que cria a oferta, mas a oferta que cria a demanda.” Também acredito, e tenho insistido nisto, que as pessoas são muito menos guiadas por suas situações concretas do que por influência de idéias dos outros. Neste sentido acredito, como parece ser o caso de Wolton, na lógica das pessoas, mas, adaptadas a seus desejos e contingências.

segunda-feira, abril 06, 2009

A IMPRENSA PINTADA DE MARRON



É muito comum que, quando uma notícia não agrade a um político ou a um dirigente sua primeira reação seja desqualificar a imprensa. Uns mais tendentes a ter desejos ditatoriais nem precisam ter tantas noticias assim, pois, vive pensando em meios de cooptar, domesticar ou enquadrar a imprensa por meio seja de leis, seja de regulamentos ou até mesmo mandando, quando o jornalista é estrangeiro, para fora do país.
O engraçado é que se raciocina sempre como se a imprensa fosse capaz de manipular o público ou que os jornais só publicam aquilo que interessa aos agentes econômicos e políticos dominantes (se bem que no Brasil com a fortuna que o governo gasta em propaganda isto não está muito longe da verdade) ou que nada se publica sem que o dono, ou os diretores, tenham aprovado ou que a imprensa é “marronzista”, ou seja, se guia apenas pelo dinheiro.
Ora, apesar dos últimos resultados eleitorais terem derrubado a tese dos “formadores de opinião” o que se depreende deste tipo de pensamento é uma tese difícil de defender: o público dos meios de comunicação seriam uma tabula rasa com o qual, por exemplo, a Rede Globo faria o que bem desejasse. Nem parece que nós, humanos, raciocinamos por padrões lógicos, por suposições que consideram os nossos interesses procurando as opções mais prováveis ou exeqüíveis, chegando a conclusões prováveis, que podem nos conduzir à aceitação ou rejeição, simpatia ou antipatia, engajamento ou indiferença. Neste processo, muitas vezes, pesam muito mais as situações, as amizades, os compromissos financeiros, a situação econômica do que qualquer tipo de argumentos ou juízos de valor até mesmo dos nossos ídolos quanto mais de jornalistas ou intelectuais que se ouve ou lê, na maioria das vezes, esporadicamente. Em suma, a informação ganha sentido num contexto onde pesam os valores, a experiência ou o grau de informação. Por mais que meu conhecimento, por exemplo, de economia seja grande, nenhum leitor vai aceitá-lo simplesmente porque sou professor e exponho minhas idéias. Dentro do seu grau de conhecimento, é claro, que vai, em geral com o mínimo de esforço, analisar a mensagem, contextualizar o que pode aproveitar, e, o que não se bate com as informações já disponíveis na memória é simplesmente ignorado.
O que é mais interessante é que, na maioria das vezes, quem defende estas teses absurdas são pessoas que se dizem de esquerda, contrariando o pensamento das massas revolucionárias de Marx e adotando, ingenuamente, a visão das “massas passivas”, que é um conceito muito do agrado das teses fascistas de Le Bom e de Goebbels que sobreviveram a Hitler e se incorporaram, com alguma maquiagem, ao centro conservador ou liberal e, agora, são consideradas "de esquerda". A questão da informação não passa somente pela qualidade do jornal e do jornalista, mas, principalmente, pela educação do povo. Todos sabem que se há uma verdade é a de que os discursos do poder são unânimes na louvação dos feitos dos governos e governantes e, na sua essência, hipócritas. Todavia, as pessoas dependem, cada vez mais, do fluxo de informação. Hoje muito mais do que em qualquer outra época da História. Sem informação jornalística, o homem não consegue orientar-se bem, mas, o jornalista, como o político, é fruto de seu meio. Não se espera que no milharal nasçam rosas.

Ilustração: A foto é do ilustrador e caricaturista Richard Fenton Oucault que criou o Yellom Kid, um menino criador de confusões, que deu origem ao termo imprensa marron ( por lá é yellow, amarela).

quinta-feira, março 26, 2009

A ÉTICA E AS EMPRESAS



Entre os especialistas em desenvolvimento há o consenso de que o estado é um mau gestor e seu aumento gera burocracia, corrupção e impede o estimulo a um ambiente adequado ao empreendedorismo, ou seja, quanto mais o estado intervém na sociedade maiores os obstáculos para criar uma iniciativa privada saudável e mais corrupção. No entanto, como agora vemos na avalanche de casos que provém do “Mensalão” passa por espionagens que envolvem o empresário Daniel Dantas e desemboca na prisão de dirigentes da Camargo Corrêa quando se trata de corrupção não é muito fácil isolar o público do privado. E nas obras, no lixo, no transporte coletivo e nos contratos de prestação de serviços há toda uma história a ser revelada e escrita.
É impossível não constatar que no meio dos escândalos públicos há sempre as impressões digitais de empresários e/ou de empresas privadas. E, por mais que se criem mecanismos para reforçar o comportamento social e ético das empresas, não se pode esconder que, nos escândalos do cotidiano, na maioria das vezes, estão envolvidas empresas de todos os tipos. Na busca do lucro fácil se abandonam às atividades de desenvolver melhorias em inovação e aumento da produtividade em troca de propinas e de crescimento rápido sempre com os riscos muito elevados que tais práticas acarretam, principalmente, com a atuação cada vez mais forte do Ministério Público e o fortalecimento das agências de investigação.
No Brasil, onde os mecanismos de acompanhamento e punição de tais práticas ainda são frouxos, há empresas, como ficou patente com as de Marcos Valério, que crescem com uma rapidez impressionante por ligações políticas. O problema parece ser que, quando se alcança um determinado tamanho, é impossível não ganhar visibilidade e não chamar a atenção para a forma como isto acontece, mas, o fato real é que, na guerra por espaços comerciais, na qual, em geral, o estado possui uma participação relevante seja como comprador, seja como concessionário ou meramente como facilitador de certas questões, o favor de agentes políticos, ou funcionários públicos, pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, daí a facilidade para que se estabeleça algum tipo de relação que acaba sendo espúria. Segundo a Transparência Brasil um dado típico de tal simbiose é o fato de que, de todas as empresas que participam de licitações no país, 62% receberam pedidos de propinas ou outros tipos de pagamentos para conquistar contratos. Ou seja, embora a corrupção pública seja execrada não é possível dissociar a pública da privada.
O que acontece, na grande maioria das vezes, é que a punição se restringe aos gestores de recursos públicos que são, imediatamente, execrados sem que se dê maior atenção aos corruptores. No entanto, como comprovam episódios em que agentes públicos foram flagrados pedindo propinas que geraram CPIs, não há corrupto sem corruptor. Por isto mesmo na democracia é indispensável criar mecanismos e controles éticos na gestão do próprio negócio até para evitar as tentações. Afinal se, no mundo dos negócios, santos não prosperam, é muito melhor prosperar devagar e solidamente do que ultrapassar limites que põem em risco o próprio nome, o patrimônio e até a família que, muitas vezes, paga inocentemente os pecados empresariais.

quinta-feira, março 12, 2009

NÃO É TÃO SIMPLES



Afogados na marolinha

Quando um país que continua a ser o centro do mundo, como é o caso dos Estados Unidos, é abalado por uma grande crise com o grau de interdependência que existe na economia seria impossível o Brasil não ser afetado. Mas, no primeiro momento, qual foi a atitude de nossos dirigentes? Em 15 de setembro do ano passado, quando quebrava o grande e tradicional banco americano Lehman Brothers, o ministro Guido Mantega da Fazenda trombeteava com empáfia: "O problema é lá, não aqui". Dois dias depois era o próprio presidente Lula da Silva que fanfarroneava: "Ela (a crise) pode atingir, mas atingirá o Brasil menos do que em qualquer outro momento. Eu diria muito menor (do que as anteriores), quase imperceptível". E, em 5 de outubro, o tom não era menos otimista "Ela é lá (EUA) um tsunami, e aqui vai chegar uma marolinha, que não vai dar nem para esquiar".
Claro que não era bem assim. Não é bem assim. A posição boa do Brasil era (é) decorrente de seus saldos da balança comercial e do aporte de recursos externos, mas, o Brasil possui uma dívida grande, embora tenha trocado a externa pela interna. A boa economia e a boa matemática ensinam que não é possível se estar confortável quando se deve, quando se tem problemas na praça e quando esta apresenta momentos de tensão que abalam economias como da Alemanha e da Suíça. No mínimo, de responsáveis pela condução econômica do país, é de se esperar que se tomem medidas preventivas e se meçam as palavras que são utilizadas. A retórica de que a economia brasileira não seria afetada era vazia até porque já se sabia que estava sendo afetada pela queda das exportações, pela diminuição do crédito externo e pela fuga de capitais das bolsas. Até que se tomaram algumas medidas, porém, insistir no discurso de que os bancos oficiais sustentariam o crédito, manter os níveis da taxa de juros e não acelerar medidas concretas para que o mercado sentisse que projetos, como os de infra-estrutura continuariam em ritmo acelerado, foi um erro de avaliação e uma esperança infundada de que a sorte continuaria bafezando o governo. Não há sorte que resista aos fatos.
E eles se revelaram quando faltou crédito para projetos essenciais, como das obras de ampliação do caótico sistema portuário brasileiro estão seriamente comprometidos, por falta de crédito. O Brasil, por incompetência, perdeu a onda de capital abundante para concretizar os projetos de infra-estrutura, base do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), agora os investimentos serão muito mais difíceis de serem concretizados, devido a falta de crédito em todos os mercados. O Brasil não é uma ilha. Não está imune à nada como comprova a onda de desempregos (8,5% dos empregos da indústria paulista perdidos nos últimos meses) e a apatia e inação do governo que, até março, só empenhou pouco mais de 6,09% dos R$ 20,5 bilhões que tem para aplicar no PAC e realizou apenas 0,65% num desempenho pífio. E, cortando, como tem feito, os juros de forma ortodoxa tende apenas a se afogar na marolinha que, se não for bem cuidada, se transformará num tsunami que nos levará ao atraso de ter um ano com crescimento zero do produto interno.

terça-feira, março 10, 2009

OS LAÇOS QUE OS UNEM SE ESTREITAM



O abraço entre os que se sabem impuros

Lembro de um candidato que passou vinte anos dizendo que “se eleito” mudaria completamente a face do país. Nunca antes neste país e, talvez no mundo, na verdade, alguém falou tanto em mudar quando Luiz Inácio Lula da Silva. Até mesmo no seu discurso de posse, nos idos de primeiro de janeiro de 2003, ainda assumiu dizendo que a palavra chave de seu governo era “mudança”. Mas o que mudou de fato? Um Senado presidido, pela terceira vez, por José Sarney, ou uma Câmara presidida, pela terceira vez, por Michael Temer? Ou será que a eleição de Fernando Collor de Mello, que chegou a ser sinônimo-mór de corrupção, para chefiar a Comissão de Infraestrutura que fiscaliza o PAC? Ou a mudança será de que Lula usa a máquina com a maior desfaçatez, com ar de dissimulação, para promover uma candidata de seu partido? Que, contanto, que alcance seus objetivos não importa que se destruam os partidos e o futuro do país? Que quanto mais fala menos as coisas acontecem na vida real?
Bem não se pode negar que, ao não mudar, ao manter o que era indispensável, como a estabilidade econômica, uma razoável responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e inflação na meta, Lula não tenha mudado (suas posições antigas) e acertado. Porém, no que tange ao modo de fazer política não mudou absolutamente nada do que precisava ser mudado. Pelo contrário enraizou o clentelismo oficial com o bolsa família, sedimentou, com a cooptação dos sindicalistas no governo, o fisiologismo descarado e, ainda, com formas dissimuladas, como apontou o ministro Gilmar Mendes, alimentou o conflito no campo e, com práticas como a do Mensalão, o crime organizado na política nacional.
Convenhamos que os petistas têm razão quando dizem que não inventaram nenhuma podridão nova, mas, com marketing e o colaboracionismo omisso das oposições, tornam o jogo político cada vez mais um circulo vicioso onde a locupletação e o crime se lavam com a hegemonia política, daí que os escândalos se tenham tornado tão normais que não escandalizam mais ninguém. Seja o deputado que esconde um castelo ou um avião, o funcionário público com uma mansão, a venda de cargos na polícia ou ex-dirigentes públicos ostentarem vidas milionárias quando saem de seus cargos quando são (eram?) reconhecidamente sem posses. O fato é que, ao propiciar a vitória do que supostamente, seria o seu oposto, o agora senador Collor, Lula se mostra como um patrocinador do “é dando que se recebe”, um adesista militante e, portanto, fator de aceleração da degeneração política denunciada amplamente por Jarbas Vasconcelos. Seu comentário de que a vitória de Collor, com seu aval, na comissão do Senado, de que “O acordo que elegeu o Sarney, elegeu o Collor” é uma concordância com o que vem sendo feito e uma reconciliação com o ex-presidente alagoano que, sabiamente, retrucou Aluízio Mercadante, lembrando o caso dos aloprados, dizendo que “Não sou mais puro nem impuro do que ninguém”.

quinta-feira, março 05, 2009

NO PALCO NOVAMENTE



Os irmãos siameses se reconciliam
Lembram de um ex-presidente que foi apeado do governo e já foi símbolo da corrupção? Ele foi o primeiro presidente do Brasil que afirmou que ia deixar a esquerda perplexa e a direita estupefata e tem o nome de Collor. Prometeu e cumpriu. Mas, sem prometer, mais longe foi Lula da Silva que alardeava fazer grandes mudanças na política e na economia. Não mudou nada e mesmo assim foi reeleito. Collor criou muitas frases de efeito como: "Tenho aquilo roxo" ou "O tempo é o senhor da razão" ou "Minha gente", mas, teve que renunciar por pressão pública e todo o aparato sindical contra ele. O Lula da Silva navega em águas mansas com frases: como "Eu não sabia", "Nunca na história desse país" ou “Companheiros”. Aparentemente, como disse o governador Aécio Neves, “Lula não é Collor”, porém, são, no fundo, muito parecidos. Basta comparar o depoimento de Lurian, por exemplo, com o factóide da “privatização”. Os métodos são os mesmos. O que se pode dizer é que, com o tempo, um ficou mais hábil do que o outro.
Se dúvidas havia de que se reconhecem como irmãos, depois que o senador Collor foi recebido no Planalto, sua volta triunfal à cena política elegendo-se presidente da estratégica Comissão de Infraestrutura do Senado, ao derrotar o PT, com o apoio de Lula, José Múcio, Renan Calheiros, o PMDB e o DEM liquida o passado como se ambos se perdoassem pelos excessos. E a coerência política anda tão fragmentada que o PSDB, num equívoco lastimável, se uniu ao PT para apoiar a derrotada candidatura da senadora Ideli Salvatti. Esta, uma guerreira permanente e inconsciente a favor do governo, teve que, abandonada pelo Planalto, assistir impassível à ofensiva do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, em favor de Collor e engolir as desculpas esfarrapadas do presidente de que fez o que era possível quando o líder do PMDB, Renan Calheiros, só mobilizaria sua tropa de choque para votar contra ela com o aval governista.
As ironias da situação são várias, inclusive porque, em 2007, quando Calheiros renunciou à presidência do Senado para não ser cassado, foi a brava Ideli que assumiu publicamente sua defesa para ser recompensada da forma que agora foi. Sobrou como consolação o senador Aloizio Mercadante (SP) ter sido duro com o PMDB ao dizer que "Foi uma aliança espúria que interferiu no direito legítimo e democrático do PT". Não compreenderam que foi um ajuste do passado. Um irmão devolvendo o resto do brinquedo que tomou do outro. Collor é Collor. Tanto que se revelou, mesmo que por uma alfinetada do senador Sérgio Guerra (PE), ao responder que "Sou um homem bastante experimentado e sofrido para chegar num momento como este e ouvir ironias. Aprendi a ser um homem cordial não somente pela educação que recebi, mas pelas experiências e pelos sofrimentos que colhi ao longo da vida pública. Mas não está apagado dentro de mim a vontade do debate, do enfrentamento e a coragem". Voltou ao palco.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

JARBAS RASGOU A FANTASIA



Por mais que a grande imprensa tenha minimizado a verdade é que, desde que, em junho de 2005, o deputado Roberto Jefferson, do PTB, denunciou a compra sistemática de parlamentares para servir ao governo Lula, no esquema conhecido historicamente pelo nome de "Mensalão", um político não conseguiu um efeito tão devastador quanto o da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja. Afinal Jarbas não é um político insignificante nem um neófito. Já foi duas vezes governador do seu Estado e é um dos fundadores do seu partido e, ao contrário de Jefferson, não tem o intento de vingança nem é um homem que almeje muito mais do que já obteve na política. De fato, o que fez foi um desabafo de alguém que se cansou de ver o controle do Planalto sobre o Congresso que dança sob a conveniência do lulismo deteriorando ainda mais os costumes políticos e se afastando da ética e do bem público que deve ser o norte da política.
Claro que não iria citar casos concretos nem dizer nomes, aliás, dispensáveis, porém, meteu sem dó o dedo na ferida que não é apenas do PMDB, que não é segredo para ninguém que se trata mesmo de uma confederação de líderes regionais, todos com os seus próprios interesses onde predominam as práticas clientelistas. Não é um apanágio do PMDB como explicou Vasconcelos, mas, de todos os partidos fisiologistas que usam os cargos como instrumento de prestígio político e se especializam na “manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral". Nem mesmo é novidade que "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção." O que salta aos olhos é que o senador denunciou com muito mais veemência o clientelismo explícito do governo Lula da Silva que quer se perpetuar, à la Chávez, alargando o Bolsa Família, como bem disse Jarbas “O maior programa de compra oficial de votos do mundo”.
O que, de certa forma, motivou o desabafo é a geladeira em que colocaram um homem com a experiência de Jarbas Vasconcelos à margem da política nacional enquanto outras figuras menores, por serem coniventes com um sistema corrupto, não contribuem para mudar absolutamente nada para o país. A amargura do senador foi extravassada pelo fato de que considera inadmissível Renan Calheiros, depois de ser apeado da presidência por um escândalo, voltar a ser líder e Sarney que considera sem “compromisso com reformas ou com ética" ser guindado à presidência apenas por servir para manter os partidos numa relação essencialmente clientelística. Jarbas Vasconcelos não atingiu o PMDB, mas, uma estrutura clientelística e corrupta de manutenção do poder que quer se perpetuar. Jarbas Vasconcelos rasgou a fantasia de eficiência de um governo que tem sido excepcional em marketing e medíocre em resultados.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

UMA PALHINHA...



NA FOGUEIRA DO DEBATE
A provocação está feita para todos que, de uma forma ou de outra, dependem das mídias, porém, afeta mais particularmente os jornais. Já, no Alto Madeira, de domingo a provocação veio sob a forma da matéria de Antonio Nilton que sob o título “A Imprensa morreu. Viva a nova Imprensa” em que defende a tese de que só haverá salvação para os meios de comunicação se, e somente se, houver mais investimentos, mais criatividade e preocupação com os leitores. É um bom veio a ser explorado. Ou seja, a preocupação com o futuro dos jornais é uma preocupação bem nossa.
Mas não só nossa como comprova a reportagem de capa desta semana da revista Time que aborda exatamente os tempos negros vividos pelos jornais. O autor da análise é pessimista, pois, trata-se de Walter Isaacson, ex-editor da própria Time, que enfoca os jornais americanos apresentando números que comprovam a queda de faturamento das empresas de mídia, enquanto, contraditoriamente, se constata o aumento do número de leitores, em especial mais jovens, que, normalmente, rejeitavam o formato de jornal impresso. Issacsoon trava uma luta intelectual tentando encontrar caminhos para que as empresas possam sair da sinuca em que se encontram derivada de que a tecnologia democratizou o acesso à mídia global, dificultando os mecanismos de faturamento. Ou seja, como se pode ter acesso às publicações do mundo inteiro num simples clicar de botão qual o sentido de pagar pela notícia? É partindo desta premissa que Isaacson considera que as empresas de mídia estão seriamente ameaçadas e a profissão de jornalista também porque- diz ele- logo as empresas não mais poderão pagar salários justos a seus profissionais e, sem fontes de renda, as empresas desaparecerão.
Bem, a premissa dele me parece complicada na medida em que seu raciocínio é o de que ninguém vai assinar uma publicação se pode lê-la on-line sem pagar um centavo. De resto, com a crise econômica, segundo ele, as coisas ficam piores. E há, lá e aqui, muitas evidências a favor deste argumento. Todo mundo sabe das dificuldades de grandes jornais, inclusive do The New York Times. Ou de fatos acontecidos recentemente como a suspensão das edições impressas do Christian Science Monitor e o Detroit Free Press que são agora somente on-line. No Brasil, os mais notórios exemplos são a Tribuna da Imprensa, do Rio, e a Gazeta Esportiva, de São Paulo – um tradicional jornal de esporte, que somente ainda continuam gerando conteúdo na internet. A posição de Isaacson é dogmática. Crê que foi um erro a liberação gratuita de conteúdo e sugere um tipo assinatura eletrônica via pay pal como o Wall Street Journal. Não creio que seja o caminho. Acredito que a questão está mais ligada à falta de diversidade, de adaptação à clientela, de qualidade e de circulação do que qualquer outra coisa. Cada caso é um caso, mas, há empresas que estão aumentando seu faturamento e circulação e exemplos de jornais que são distribuídos de graça mostram que a tendência é mais para o “di grátis” do que tentar lutar contra o inevitável que é a liberdade de informação e a tecnologia.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

A TRAIÇÃO É A MARCA DO ATRASO



Esta semana fiz duas leituras completamente diferentes. Uma do escritor recém-falecido John Updike, reproduzida pela revista Veja, do seguinte trecho: “Minhas amizades com autores e críticos tentando seguir carreira nos países comunistas e do Terceiro Mundo tornaram-me um apreciador das liberdades e oportunidades que gozo como americano. Eu amo o governo do meu país por sua tentativa de, num mundo tão precário, preservar uma ordem pacífica na qual o trabalho é possível e a felicidade pode ser buscada não para o bem do estado, mas num estado que existe para o nosso bem. Eu amo o meu governo no mesmo grau e medida em que ele me deixa em paz”. É um depoimento sólido de quem vê como é difícil ter, e valorizar, a liberdade política. Neste ponto, não posso deixar de ser um admirador da democracia norte-americana, sem igual em criar espaço para o cidadão. Como brasileiro sei como o governo pesa no bolso e na vida criando obstáculos para que se tenha uma vida melhor. Porém, aqui, Updike, toca num ponto fundamental: a construção de respeito às regras, de confiança social mútua, de respeito aos valores.
È o grande contraste em relação à outra notícia que li sobre as eleições dos presidentes da Câmara e do Senado. Nela houve um jogo de enganos e de traições. Claro que o homem trai seu semelhante desde os tempos mais remotos. Pode-se dizer que é um traço inato da humanidade. Mas, a vida em sociedade somente progride, somente cria o que nós chamamos de desenvolvimento quando passa a haver o cimento da confiança entre as pessoas. Todas as culturas condenam a traição por ser um sintoma de atraso, de falta de desenvolvimento inclusive mental. É emblemático o beijo de Judas na face de Jesus que tornou-se símbolo máximo da traição dissimulada. O apóstolo matou-se sufocado pelo peso da consciência e, mesmo assim, o termo “Judas” é sinônimo de “traidor”. È triste ver que as eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado são exemplos de como trair virou uma fato normal na busca de objetivos. Claro que trair na política não é novidade. Em geral os políticos traem prometendo coisas que não vão fazer. Triste, porém, é ver a desfaçatez com que os parlamentares falavam na traição de colegas como estratégia para eleger seu candidato e não se vê indignação nem protestos da opinião pública com o jogo de traições na cúpula do poder nacional. È um péssimo sinal. Quando trair vira um valor, é sinal de que há algo de muito errado na nossa sociedade. É uma questão de princípios. Princípios? Isto parece uma coisa do passado quando se observa que um mesmo partido age, em dois lugares de forma completamente diferente, de acordo com os seus interesses locais. O que vale é o poder a qualquer preço. Pode-se mantê-lo, mas, condenando a sua própria sociedade ao atraso.

Ilustração: http://www.lepanto.com.br/Imagens/Judas2.bmp

sábado, janeiro 31, 2009

A ILUSÃO DOS FÓRUNS




Todo ano, já se tornou uma tradição, tanto o Fórum Econômico Mundial como o Fórum Social Mundial, um contraponto supostamente de esquerda ao encontro que é considerado como cúpula dos capitalistas, ocorrem nesta época. . O interessante é que este ano os dois ocuparam muito menos as páginas dos jornais, apesar da escassez de noticias que o primeiro mês do ano sempre tem. Uma parte porque as estrelas desapareceram, ou andam meios ofuscadas; outras porque os eventos perderam parte de sua novidade e da capacidade de fornecer notícias diante da crise econômica que, em geral, somente abre espaço para os indicadores ruins.
Por sinal o Fórum Social Mundial ainda recebeu mais atenção do que o quase desaparecido Fórum Econômico Mundial que recebe todo ano, em Davos, durante uma semana, políticos, empresários e líderes religiosos. Com eles, chegam sempre grandes ou pequenas comitivas, que ocupam hotéis, frequentam restaurantes, cafés e lojas e dão brilho e movimento ao evento. O que os fóruns, com certeza, patrocinam é mesmo turismo tanto que, em entrevista à imprensa, o prefeito de Davos, Hans Peter Michel, disse que o setor mais beneficiado é mesmo o hoteleiro, já que 20% do faturamento anual dos estabelecimentos resulta da semana do fórum econômico.
Não há dados sobre Belém do Pará, sede do Fórum Social Mundial, porém, com a inundação de delegações que incluiu chefes de Estados sul-americanos como Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Lugo, afora Lula acompanhado de 14 ministros e incontáveis assessores, a colheita deve ter sido farta tanto que houve pessoas que ficaram zanzando atrás de acomodações. De qualquer forma um evento que, afirmam os realizadores, teve mais de 90 mil inscritos e que foi realizado em dois grandes campus universitário, agita uma cidade mesmo grande como Belém.
É notável mesmo é que, pelo que consegui ler a respeito, as únicas coisas em comum que os dois eventos tiveram foram críticas e congestionamentos de trânsito. È bem verdade que, em Belém, a razão do congestionamento foi a falta de organização, um detalhe comum na nossa história, enquanto por lá, em Davos, uma cidade de 13 mil habitantes, é normal que não suporte a chegada de uma grande quantidade de veículos. Lá os habitantes fazem quase tudo a pé, embora tenha veículos.
O certo é que eventos como os fóruns mundiais são interessantes por criar a ilusão de que seja possível reunir o mundo para encontrar soluções, todavia, quem tem espírito analítico e crítico sabe bem que muito pouco se muda nesses locais. È mais um mis em scéne. A vida se resolve mesmo é no dia à dia. Na contagem minúscula dos minutos. Os grandes palcos são só para os comunicados.

ZIZI, O DESERDADO CULTURAL



Começo por trazer à baila a palavra “cultura” que provém da língua latina, mais precisamente do radical da palavra que é o verbo colo, no sentido original “cultivar”. Daí o cultus (particípio de colo) que tem o sentido de cultura da terra de onde derivou “cuidar de”, “tratar de”, “querer bem”, “ocupar-se de”, “adornar”, “enfeitar” e, por fim, o sentido moderno de “civilização”, “educação”; e também de “adorno”, “moda”, “decoração”. É dos alemães, porém, a derivação mais rica, a palavra “cultura” num sentido mais amplo, para referir-se ao cultivo de hábitos, interesses, língua e vida artística de uma nação. Creio que, na língua portuguesa, não exista nenhuma outra palavra com sentido mais abrangente do que a palavra “cultura”. Por cultura se entende muita coisa, mas, essencialmente a idéia de totalidade humana. O que faz a diferença entre os homens e os animais, uma nação e um bando.
A ampla concepção de cultura me fez saudar como uma magnífica idéia a construção, no lugar do antigo mercado, bem no centro da cidade, de um “Mercado Cultural”. Nem mesmo me abalou o fato, na época lamentado por muitos, de fechar o Bar do Zizi. Raciocinava que para fazer do que restava ali um local de cultura bem que o Zizi poderia fechar pelos 180 dias previstos para, depois, ele e a cidade receberem um lugar muito melhor. Como a velhinha de Taubaté eu acreditei. Acenaram com a isca da cultura e nos prenderam na armadilha da burocracia, da falta de cumprimento de prazos, em suma, da falta de compromisso com o que foi divulgado e acertado.
Como sempre irão nos vender a idéia de que se trata de mais um “transtorno” que tudo, depois, ficará melhor. Pode ser. Mas é preciso lembrar a angústia, o sofrimento, o custo pessoal do Zizi. Ele, como muitos de nós, acreditaram que a obra seria feita em seis meses, porém, já se arrasta por mais de um ano. Era para ser inaugurada em setembro. Setembro passou e marcaram para dezembro. Dezembro se foi. Quem conhece o Zizi sabe que o bar sempre foi a vida dele, por 45 anos. Não se trata apenas de um trabalho, mas, de um comportamento, de uma cultura que se encontra interrompida, parada no tempo. Zizi, por incrível que pareça, vai todos os dias, nos mesmos horários de quando abria e fechava o bar, até lá à obra na esperança de que possa voltar ao seu cotidiano, à sua vida normal. Alguns freqüentadores também e até esticam até o Manelão para se queixar da falta que o bar faz. O Zizi anda meio cabisbaixo, cansado de esperar. Pode daqui a pouco ter um troço de desespero, magoado com a indiferença que se tem em relação ao problema. Desesperado para que devolvam sua vida, sua razão de ser, sua cultura, enfim. É um homem sem raízes sem seu trabalho e sem seu bar. É tempo de inaugurar a obra paralisada. Antes que seja tarde demais e o Zizi desabe sob o peso imenso da burocracia que o tornou um deserdado cultural.

Ilustração: Site Gente de Opinião

segunda-feira, janeiro 05, 2009

POBRES ESCRITORES...


Escritor, um mendigo moderno

Foi feito, em Brasília, com escritores e colunistas do Congresso em Foco, Marcelo Mirisola e Márcia Denser, uma discussão, no último dia 19 de dezembro, um debate mediado pelo jornalista e professor Sérgio Sá, sobre os rumos da literatura contemporânea, no Espaço Brasil Telecom, em Brasília. Destaco algumas das afirmações controvertidas que saíram do debate 1) O escritor José Saramago, Clarice Lispector e Virginia Woolf são chatos; 2) Personalidades como José Carlos de Oliveira, Paulo Mendes Campos e Nelson Rodrigues provavelmente não teriam espaço nos principais jornais do país, que fecharam suas portas aos escritores brasileiros; 3) A falta de originalidade e de grandes talentos marca a produção literária atual; 4) O escritor brasileiro é um pangaré, que vive das migalhas garantidas por seus contatos; 5) Os mais inventivos autores nacionais contemporâneos são ignorados pela academia; e 6) Escritores não lêem uns aos outros e não há nada interessante na literatura contemporânea.
É interessante que não consigam ver nada de interessante. No fundo confirmam que, no mundo atual, chegamos ao ponto que o conforto e o excesso fazem com que as pessoas se confinem no seu mundo e só tratem do que lhes interessa. De certa forma é isto que acontece tanto com a academia, como com o jornalismo ou mesmo com os escritores. È a razão também pela qual quem tem opiniões sólidas não é bem aceito. De fato não é fato que não exista originalidade nem personalidades nem escritos interessantes. Há demais. Há como nunca houve antes neste país, para usar uma frase de um leitor eventual, mas, a grande realidade é que tanto a academia como a literatura se perderam nos seus próprios nichos. Não interessam a ninguém. E quando interessam, como é o caso de Paulo Coelho, é mal visto, apesar de todo o bem que faz à literatura. E, não sei, como alguém pode se dizer intelectual e não reconhecer que Paulo Coelho é interessante por mais que não possa permanecer nem ser considerado um gênio da literatura. Mas, se não é um Pelé é um Ronaldo, o Fenômeno.
Claro que o escritor brasileiro vive de migalhas. Só há uma profissão quando se consegue viver dela. E para ser escritor é preciso ser editado, é preciso ser distribuído e divulgado. Os jornais no passado iam buscar os escritores para melhorar sua qualidade e atrair publico. Os escritores, hoje, somente aparecem no lançamento dos livros e se forem objetos da mídia. É mais fácil um Big Brother qualquer chamar a atenção para um livro seu do que um bom escritor. A questão real é a de que até os próprios escritores, mesmo os melhores, vivem de outras profissões. Ser escritor no Brasil é ser mendigo de benesses e produto de espanto. Quando alguém apresenta alguém que escreve e diz este é fulano de tal, escritor, invariavelmente se responde:-Ah! É? Qual livro? Depois da resposta certamente terá que explicar ou dar seu livro, pois, não terá, com certeza, sido lido.

terça-feira, dezembro 30, 2008

REFLEXÃO DE FIM DE ANO



Os bons navegadores-dizem os velhos pescadores do meu perdido Ceará-são como os rios que contornam os obstáculos, simplificam a vida. Assim, logo depois de um momento em que, pelo menos em tese, deve ser de renovação da esperança, de renascimento, de lembrar que Jesus, seja santo, filho de Deus ou mito, nasceu numa manjedoura para nos salvar, não é hora de ficar chorando as pitangas ou lamentando os acontecimentos. A vida é bela, principalmente pelo inesperado. Por ser uma gangorra onde os sem memória e os sem escrúpulos sempre pagam pelo que fazem quando pensam que são espertos. Uma nação, é preciso saber, não se faz com discursos, espertezas, mistificação. Isto é o auto-engano. Uma nação se faz com pessoas que respeitam as regras, que compartilham projetos, ideais e criam um grau de confiança mútua nos quais as leis são simples confirmação de uma forma de viver que se vive.
Vivemos tempos sumamente interessantes nos quais parece ser impossível ser alguém socialmente sem se deixar vencer pelas teses vigentes de que o que vale é o poder a todo custo ou o ter a qualquer custo também. Até nas novelas globais os mocinhos, agora, são bandidos sejam da alta, da média ou baixa camada. Nunca antes neste país a falta de educação, de respeito aos valores humanos e ao bom comportamento social estiveram tão em alta enquanto se tecem loas aos “melhores índices econômicos de uma década”. Efetivamente não há nada de muito novo no que acontece. Estamos numa época em que os mais velhos, abusados e maus costumes fazem os novos dias. Numa época em que as palavras perdem o sentido para coonestar a farsa dos bons tempos que a mídia propala, mas que não chegam, de fato, ao povo, que iludidos por migalhas e pelo alargamento do crédito se embalam num consumismo sem base, que, como corolário, deve trazer, no futuro, somente dor e desespero.
A verdade verdadeira é que, por mais que a luta tenha sido grande e o caminho árduo, nós mudamos muito pouco do que herdamos de nossos pais. Pode-se até dizer que “ainda somos os mesmos” apenas vivemos um pouco diferentes e mais rápidos. É a certeza de tal rapidez que me embala nestes dias que são tão antigos e, ao mesmo tempo, tão novos. Já existiram inimigos, verdades e muros tidos como eternos que, como por encanto, sumiram e são, hoje, só lembranças. Este tempo atual, com todas as suas nuances de engano e de metamorfose, também irá passar. E é belo saber que os Judas, por mais punhados de moedas que recebam, não escapam do remorso e da história que, embora escrita pelos vencedores, somente recolhe os que resistem, os que lutam sempre, os indispensáveis. A vida é bela. A vida é renovação. E a renovação como o tempo é irreversível. Os ventos da liberdade e da consciência sempre soprarão para o lado da verdade de forma, companheiros, que espero, luto, sonho com o amanhã melhor. Se há uma coisa que é imprescindível não é ganhar, mas sonhar pela esperança que um dia há de colorir a vida depois dos tempos da escuridão. È imprescindível sonhar. E, mais ainda, sonhar o sonho impossível de um amanhã de paz, de liberdade e de democracia.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

A LACUNA DA GRANDE TEORIA



Pós-Modernidade e teorias

O conceito de modernidade, sem dúvida, aparece inúmeras vezes em Baudelaire que a vê como "O transitório, o fugaz, o contingente, é a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e imutável", de forma que a experiência moderna se move entre os dois pólos de referência. Por suposto, os que lhe seguiram, traçaram a pós-modernidade como o lado fugaz e contingente da afirmação de Baudelaire, ou seja, no fundo a pós-modernidade não seria algo inteiramente novo com respeito à condição moderna, mas, sim o seu aprofundamento. Na prática, invés de ruptura entre os dois conceitos há continuidade na medida em que, em ambos, se percebe que a efemeridade, a transitoriedade e a fragmentação são próprias de ambas as épocas.
O que se observa, quando se compara as categorias do modernismo e pós-modernismo, é que ambas são pouco explicativas fora do conceito de capitalismo. Na verdade, a rigor, a modernidade que os pós-modernos pretendem transcender é apenas a falta de explicação para fenômenos fragmentários que nem o estado da arte nem a razão instrumental conseguem enquadrar nos conceitos que manejam e se cria, até mesmo, uma aversão por qualquer projeto que procure uma explicação universal através do desenvolvimento da razão e da ciência por conta da incapacidade de ter uma teoria globalizante. A forma, então, de escapar da incapacidade da razão é a criação de teorias minimalistas, de metadiscursos ou a própria negação da ciência que demonstram somente uma crise da filosofia iluminista.
Neste particular, ressalte-se que, quando ainda se falava de modernidade, Adorno e Horkhemeir já ressaltavam a traição aos ideais, inclusive marxistas, na medida em que um projeto de libertação tornara-se um sistema de dominação. Outros, como Nietzsche, Shelley e Byron propunham a experiência estética subjetiva frente à razão objetiva como forma de fugir do dilema, mas, perspicaz, Benjamin ressaltava que metanarrativas sobre o capitalismo não são necessariamente excludentes com o reconhecimento do valor da fragmentação nem iluminadoras.
O problema real continua a ser que a fragmentação, a especialização, a diversidade, enfim os elementos que configuram esta coisa opaca e multifacetada que se convencionou chamar de globalização nos impede de ter uma visão dos processos gerais nos quais nos movemos e obstrui o pensar sobre o capitalismo, inclusive por ter explodido certos conceitos marxistas que seriam essenciais para se ter uma visão global. Isto é o que leva a muitos dos grandes pensadores, como por exemplo, Foucault e Lyotard, a um anarquismo estetizante e, mesmo, ao niilismo. É a falta de categorias com que pensar a realidade e a assimilação das diferenças pelo capitalismo que impõe o modismo também nas ciências como uma forma de ocultar e de renovar pela conservação. Contra o neoconservadorismo, o niilismo e a falta de pensar, que, no fundo, são o pós-modernismo, somente é possível o combate com uma grande teoria que, infelizmente, não se enxerga no horizonte.