Na imprensa, e entre os
adeptos de soluções fáceis para os problemas sociais complexos, ganhou imenso
espaço, e a adesão espantosa e, possivelmente, interesseira de 193 deputados, a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com a jornada de trabalho na
escala 6 x 1 (seis dias de trabalho para um de descanso) de autoria da deputada
Erika Hilton. A proposta de PEC se
inicia equivocada pela própria justificativa, de vez que pautada na preservação
da saúde e do bem-estar do trabalhador. Claro que criando a expectativa de que,
com mais dias de descanso, o trabalhador tenha mais saúde e seja mais
produtivo, o que também beneficiaria as empresas. Ainda se argumenta que a medida já foi testada em
programas pilotos em outros países. Isto é verdade, mas são países com muito
melhores condições, melhor ambiente de negócios e maior renda do que o Brasil.
Independente disto qual a necessidade e a viabilidade de propor uma mudança tão
brusca? Ora a Constituição Federal permite a redução da jornada de trabalho por
meio de acordos coletivos (art. 7º, inciso XIII), ou seja, os sindicatos podem
negociar diretamente em favor de suas categorias, de modo que a atual redação
constitucional permite flexibilidade e adaptação de acordo com a realidade
econômica de cada setor. Em termos claros não há necessidade nenhuma. E a
viabilidade? O senador e presidente do PP, Ciro Nogueira, foi incisivo quanto a
isto ao dizer que “É uma ideia tão boa como, por exemplo, aumentar o
salário-mínimo para R$ 10.000,00. Quem pode ser contra? Agora, dizer que é
viável no Brasil de hoje é mentir para a população”. Mas do que mentir é criar uma falsa esperança.
Sob o ponto de vista econômico é uma medida desastrosa. Qualquer economista que
mereça o nome, considerando a conjuntura econômica de incertezas em que vivemos
e a enorme maioria de micro e pequenas empresas (as grandes empregadoras de mão
de obra) podem facilmente listar os efeitos que são previsíveis: em primeiro
lugar, aumento dos custos trabalhistas devido à redução da jornada sem redução
dos salários (se cumprida a lei), depois, como consequência lógica, elevação
dos preços dos produtos para cobrir os custos mais altos. Daí, diminuição do
poder de compra dos consumidores e redução dos lucros empresariais, com o
provável fechamento de micro, pequenas e médias empresas e aumento do
desemprego. O impacto negativo na arrecadação de impostos e nas contas públicas
é o toque final. Porém, outros cenários podem ser piores ainda com a
pejotização, ou seja, os trabalhadores serem obrigados a criar empresas para
poder trabalhar e a substituição massiva de mão de obra humana por automação.
Não se descarte também a possibilidade de recessão. Melhorar ambiente de trabalho todos querem,
mas é indispensável considerar a realidade econômica do Brasil, bem como a
preservação das empresas e a manutenção dos empregos. É nocivo que propostas
que envolvem tanta complexidade não sejam discutidas de modo aprofundado e
técnico no Poder Legislativo. Não existe forma de preservar a saúde do
trabalhador, e seus empregos, sem considerar a sustentabilidade das empresas,
pilares essenciais para o funcionamento da economia nacional.
Ilustração: Folha-UOL.