Algumas vezes não fazemos o que devemos fazer. É,
algumas vezes, por conta de um “deixa a vida me levar”, mas, outras, apenas pela
maldosa procrastinação, que é um mal que, infelizmente, me assola. Seja como
for devia, já faz tempo, um comentário sobre o mais recente livro de Júlio
Olivar, “O Poeta que Morreu de Amor” sobre o poeta maranhense Vespasiano Ramos,
tido por grande parte dos historiadores como o precursor da literatura de Porto
Velho, o que significa, praticamente, de Rondônia, de vez que a cidade foi, por
muito tempo, a única parte onde podia existir algum tipo de literatura.
Antes de mais nada cabe dizer que Júlio, com este
segundo livro, se torna uma espécie de escavador literário do tempo, pois, já
no seu livro anterior sobre Santo Antônio do Rio Madeira, tinha se arriscado
nas águas profundas da história em busca de pérolas que, supostamente, só
existiam como lendas. E, como na vez anterior, pode se gabar de ter conseguido
um resultado extraordinário, apesar dos riscos e da tarefa árdua que teve de
executar. De fato, especialmente, no livro sobre o poeta, consegue tirar leite
de pedra.
É que, Vespasiano, em Rondônia, é mais lenda mesmo
que realidade. O poeta de Caxias foi uma figura contraditória, que andou por
outras cidades, inclusive com relativo sucesso em Belém do Pará, autor de
apenas um livro “Coisa Alguma” que, se fosse no mundo atual, se diria que foi
mais performático do que construiu uma obra. Além de ter vivido pouco (32 anos),
uma vida conturbada, se atribui a uma decepção amorosa sua vinda para Rondônia
onde, em pouco tempo, viria a falecer na cidade de Porto Velho em 26 de
novembro de 1916. E, como foi, mesmo assim, adotado como intelectual local,
mereceu de Júlio Olivar uma recuperação histórica de muito valor que começa
pelo título de “O Poeta que Morreu de Amor”, uma evidente licença poética, de
vez que o que o matou mesmo foi uma cirrose. Talvez até, depois de duvidar de
sua importância para a literatura de Rondônia até me incluam na famosa prole
que cantou no poema “Ao Cristo”:
“Prometeste
voltar! Não voltes, Cristo:
Serás
preso, de novo, às horas mudas,
Depois
de novos e divinos atos,
Porque,
na terra, deu-se apenas, isto:
Multiplicou-se
o número de Judas
...E
vai crescendo a prole de Pilatos”.
Certamente não será o caso de Olivar que escreveu um
livro bem documentado, fácil de ler, divertido, com parte dos poemas de
Vespasiano e, ainda por cima, com um certo perfume de passado, que torna o seu
livro uma leitura fascinante. Vale a pena comprar, ler e divulgar.