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domingo, maio 29, 2011

Sobre a rara espécie política que diz não


Na política, ao contrário do que pensa muita gente, não é fácil ser oposição. Especialmente numa época como a nossa em que o contentamento das pessoas se parece mais com conformismo do que qualquer coisa. Há uma inevitável vontade de dizer sim diante da enorme onda de “sims” dito a todo instante seja no nível municipal, estadual ou federal. Esta moda não passageira, até onde se enxerga, de governos de coalizões parece querer enterrar ou colocar no museu quem se posiciona contra alguma coisa. Isto acontece em relação a governos de qualquer tipo, no Brasil de hoje, onde parece que, ao contrário do passado, ser contra é pecado. Ainda mais quando ser contra significa não ter acesso aos cargos, as benesses, pois, até mesmo os assessores dos parlamentares, que se comportam sem fechar os olhos ao que vem do governo, olham o chefe como um ser de outro planeta quando não prática a famosa Oração de São Francisco do “É dando que se recebe”.
O triste é ver que os princípios foram para o brejo e que, estando ou não de acordo com o encaminhamento das políticas públicas, o parlamentar acaba votando do jeito que o governo deseja e não como a população espera que ele vote. Na prática se observa que, quando contemplado com verbas ou cargos, automaticamente, fecha-se os olhos a tudo o que de condenável possa existir, e o parlamentar, que deveria ser um representante do povo vira uma empresa política que só visa o próprio lucro e não o bem estar social pelo qual deveria zelar. No Brasil, a base do governo é tão grande que praticamente exterminou qualquer foco de oposição. As poucas vezes em que o governo tem alguma contrariedade é, como acontece agora, com o Código Florestal, quando o absurdo das posições é tão grande que não há como vastas camadas ou segmentos da população não chiar e exigir um posicionamento diferente. Em coisas, porém, que não atingem tão diretamente os interesses das pessoas, estas passam batido, como é o caso atual do ministro Palocci que, em qualquer país com uma cultura política sólida, já estaria afastado, enterrado, seria coisa do passado.
O fato é que ter a fama de ser do contra pode fazer a fama de um parlamentar. E isto se trata apenas de manter a coerência, de se aferrar aos seus princípios, lutas e posições. Estes parlamentares, aliás, se sustentam na vida partidária exclusivamente de pessoas que acreditam nele e que esperam que continue cumprindo seu papel de crítico, ainda que sozinho. O problema é que, muitas vezes, acabam sendo tachados de radicais, de serem oposicionistas só por ser e, pior, se indispõem com seus próprios pares que desejam apenas dizer sim. Também podem acabar isolados e será que é possível fazer política assim, sendo a minoria até no seu próprio partido? Converso com alguns destes espécies raras e crêem que podem e seguem pregando contra os mal-feitos do governo mesmo incomodando a classe política. Embora nem sempre concorde com suas ideias considero que são indispensáveis e funcionam muito bem como um anteparo social para a unanimidade que, como acentuava, Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”.

quarta-feira, maio 25, 2011

Humano, demasiadamente humano


A atração por mulheres é, a meu ver, uma coisa normal no homem. Até mesmo bíblica, digamos, pois, segundo o livro sagrado, Deus fez o homem e a mulher para se completarem e se reproduzirem conservando a vida. A questão é que o sexo se tornou, como toda coisa boa, um pecado e, para muitos, um vício. Que sexo é bom não há a menor dúvida que é. O problema é quando o sexo se torna uma obsessão ou é transgressivo. Para mim, o problema real é o sexo sem amor, sem se ter pelo outro o desejo e a reciprocidade. Não acredito em pessoas que dizem que jamais tiveram o desejo de “mexer” com outra pessoa. Muitas vezes, é verdade, a atração pode ser maior do que o bom senso e não é incomum, e sim demasiado humano, que os homens cometam tais pecados. Se bem que há mulheres que também o fazem, ou seja, o pecado não tem sexo. É preciso, todavia, preservar certos limites e, o limite sempre é dado pelo que o outro permite. Em palavras claras: tentar é possível. O impossível de aceitar é que diante da recusa do outro se queira impor o seu desejo como senhor do outro.
O comentário não pode deixar de ser sobre os recentes casos do ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, que quis submeter à força uma camareira e do ex-governador da Califórnia e ator Arnold Schwarzenegger que admitiu ter tido um filho fora do casamento há mais de dez anos. Mildred era empregada na casa do ator e de sua ex-mulher, Maria Shriver, e se aposentou em janeiro deste ano. De acordo com o site "TMZ", Mildred confidenciou a amigos que fez sexo com Arnold na própria casa do ator enquanto era funcionária da família. São dois casos escandalosos, de fato, por ambos terem uma vida pública, porém, o primeiro é, digamos, muito “fora do normal”, pelo fato de que envolve o crime de estupro. Já o do Exterminador do Futuro, inclusive o próprio, é censurável, porém, muito mais comum do que se imagina. Na verdade o fato de que a mulher é muito mais bonita do que a empregada (feia para os padrões comuns) revela o que, muitas vezes, a sociedade esconde que é que a beleza nem sempre é mais importante na relação entre as pessoas. Muitas vezes, ao contrário do que se pensa, são mulheres feias que são grandes mulheres, que dão ao homem o carinho e a atenção que não encontram no cônjuge. Se bem que cada caso é um caso.
É impressionante, porém, que um homem com a formação de Strauss-Kahn tente forçar alguém a fazer sexo. Afinal é uma pessoa fina, sob todos os padrões, e de educação refinada e com dinheiro. Como explicar um comportamento assim? Deve ter razões psicológicas profundas. Similar é o caso do músico norte-americano Joseph Brooks, recentemente encontrado morto no último domingo em sua casa em Nova York, que aguardava julgamento por acusações de estupro. Brooks, de 73 anos, compôs “You Light up My Life”, para o filme Luz da Minha Vida (1977) que também escreveu e dirigiu. Pela canção, ganhou o Oscar e o Grammy. Em 2009, o compositor se declarou inocente de uma série de acusações, entre elas a de estupro, depois de ter sido acusado pela polícia de levar para seu apartamento 13 candidatas a atriz para “entrevistas” individuais, como desculpa para agredi-las sexualmente. Parece que se suicidou, ou seja, talvez não tenha resistido a seus fantasmas. Casos assim demonstram que o homem, apesar de toda sua capa de civilização, ainda conserva instintos primitivos que o governam, entre eles, sem dúvida, um é o sexo. Humano, demasiadamente humano.

sexta-feira, maio 13, 2011

Confúcio, o resiliente otimista


Viver é sinônimo de aprender. E, confesso, que não esperava aprender nada quando fui participar, um pouco de forma inesperada, do I Rondônia Antenado no Futuro, um evento programado para a segunda-feira passada, pela Faculdade São Lucas com o apoio do Consórcio Santo Antônio e o Sistema Imagem de Comunicação. Seria um encontro para discutir os rumos futuros de Rondônia, mas, pelo formato que teve, com uma palestra central do governador Confúcio Moura e pouco tempo para os demais participantes, acabou mesmo sendo uma exposição sobre o governo e a administração atual. Surpreendente mesmo, em primeiro lugar, para mim, foi a presença de um governador que continua com a mesma disposição e o entusiasmo do candidato em campanha. Com tantos problemas iniciais em seu governo a minha sensação de longe é que deveria estar abatido com os percalços iniciais que estavam fora do alcance de qualquer visão política, por mais sagaz e previdente que fosse. Ledo engano, encontrei uma pessoa tranqüila, consciente e determinada.
Somente me veio à mente a palavra vinda da Física denominada de resiliência que significa a resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada num corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo. Nas Ciências Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o seu desenvolvimento pessoal, profissional e social. Traduzindo isto de uma forma simples é fazer de cada limão, ou seja, de cada adversidade que a vida nos apresenta, uma limonada refrescante e agradável.
A aplicação do termo ao governador Confúcio Moura vem de que, na sua palestra, demonstrou não ser uma pessoa comum sob este aspecto e, quando digo comum, sem desrespeito aos comuns, é porque o normal, mesmo entre os políticos, é sentir, se abater quando as coisas não correm conforme o programado. Já os excepcionais, os resilientes, se caracterizam por um conjunto de atitudes que os fazem resistentes aos embates da vida. O termo ressalta bem a capacidade que os corpos têm de voltar à sua forma original, depois de submetidos a um esforço intenso. Ou seja, é o tipo do ser humano que vive suas emoções sem se deixar abater pelos obstáculos, o que somente é possível quando se age com respeito à dignidade e reconhecimento pelo que se faz e se gosta de fazer. Pelo que vi a surpresa não foi somente minha tanto que o governador foi interrompido por aplausos em diversos momentos e, mesmo quando não teve as melhores respostas (e teve muitas) demonstrou um comprometimento e um entusiasmo que me despertou, apesar de cético e crítico, algumas reflexões que vale a pena externar. A primeira delas é que demonstrou que seu governo faz muito mais do que divulga, pois, revelou medidas que poucos no auditório tinham conhecimento, mas, também que há necessidade de mudanças na sua administração para que o que está sendo feito seja compartilhado e comunicado adequadamente.
É claro que não se pode desejar de um governo com pouco mais de cem dias que tenha uma obra pronta, porém, o que, para mim, ainda parece acontecer é que ainda se olha para o atual governador com uma certa visão salvacionista, com a esperança de que ele tenha as soluções para todos os problemas. Confúcio é oposto disto e todo seu posicionamento é de agregar soluções, buscar parcerias, construir em conjunto. Sua posição é a de não atrapalhar se não pode ajudar. É, talvez, neste sentido o mais puro produto político de Rondônia: um político que acredita que a solução dos problemas está na própria sociedade. Sua fé no futuro é invencível. E, por isto, teve um momento que perdi em relação a ele o olhar intelectual e passei a acreditar que seu governo pode ter resultados muito melhores do que, hoje, se espera na medida em que, como ser político, ele demonstrou ser bem maior do que muita gente imagina.

domingo, maio 01, 2011

Em favor de um forte partido de oposição


Não há nada demais em um partido governar um país por doze anos ou até vinte ou trinta que seja. O grande problema em relação ao PT é que não tem um projeto para o país e adota e incorpora os discursos alheios, como os do PDSB de distribuição de renda e modernização pelas privatizações, cujos resultados positivos foram estigmatizados e demonizados durante as campanhas eleitorais, sem explicações, via uma distorção dos fatos e a propaganda intensa que, conforme a Folha de São Paulo, é feita maciçamente, hoje, até mesmo pelos livros do Ministério de Educação. Pode-se defender dizendo que o PT, de maneira competente, no governo ocupou todos os espaços políticos. É, porém, neste sentido, se não há oposição, se o governo pode tudo, inclusive modificar a realidade e as regras a seu favor, a pergunta que fica é: onde está a democracia?
A democracia anda mal na medida em que toda e qualquer oposição foi reduzida a uns poucos pronunciamentos parlamentares, sem a menor relevância e influência no processo político, ou as análises esparsas de estudiosos e colunistas que demonstram que a vida brasileira não é cor de rosa como os áulicos do poder insistem em pintar. O governo também alega, e por isto vive alimentando a ideia de amordaçar os meios de comunicação, que o papel da oposição está sendo feito pela mídia. Uma irrealidade flagrante tanto pelo fato de que a mídia não é um partido, não disputa eleições, como porque as críticas são feitas em cima da falta de ação do Executivo, da corrupção e do saque ao tesouro que sempre os denunciados alegam ser apenas “discurso de oposição” ou equívocos de políticas e/ou até mesmo mazelas da administração pública que sempre existiram. Pode até ser, mas, o discurso era o de que com a ascensão do Partido dos Trabalhadores, como eles sabiam o que fazer e sabiam fazer as coisas no interesse popular, os desmandos seriam, pelo menos, amenizados. Na contramão das promessas esses parecem terem crescido e se tornado a tônica. O país, segundo grande parte dos analistas políticos e econômicos respeitados, se encontra paralisado em relação as reformas que precisaria para avançar e ser competitivo e refém de uma política do “é dando que se recebe” que imobiliza qualquer modificação positiva. Apesar do discurso ufanista o Brasil não cresceu, de fato, e desindustrializou-se voltando a ser agrário-exportador.
A miséria em que o Brasil se afunda não é que o PT seja um partido hegemônico, que cooptou, com sobejos do poder, outros partidos e o sistema sindical, antes tão combativo e, agora, inerte gozando das delícias do poder. A miséria é mesmo a falta de uma oposição com projetos, com alternativas, que faça o que o PT fez no passado e combata diuturnamente os erros, aponte as negociatas, os acordos espúrios que mantém o poder e passam também pelo financiamento das eleições, porém, são muito mais presentes nas licitações, nos preços absurdos que o governo paga por bens e serviços que, muitas vezes, nem são prestados em razão de que as empresas, mesmo aquinhoadas, acabam por falir sob o peso das propinas altas. Não vejo o PT como um partido diferente dos demais. Nele há pessoas bem intencionadas e qualificadas, porém, não infalíveis nem predestinadas. Como partido considero que fez sua parte e esgotou-se num programa que se tornou eleitoreiro, assistencialista e apegado ao poder. É preciso que se crie uma nova alternativa de oposição que não pode ser também um novo pouso para os caciques do PSDB, do DEM e outros que já se provaram incapazes de construir algo novo. É preciso indispensável um proposta nova, mobilizadora, pois, nenhuma democracia pode sobreviver sem uma oposição forte com um programa alternativo, com políticos e militantes fiscalizadores e dinâmicos. Se isto não acontecer o PT irá se consolidar como um partido hegemônico, a exemplo do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por dezenas de ano, porém, como no México, não iremos avançar mergulhados no pacto da mediocridade e do imediatismo. E, é preciso lembrar, até os árabes se revoltaram contra o totalitarismo.