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sexta-feira, outubro 28, 2011
Tópicos sobre o mercado de trabalho de Rondônia
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) lançaram na última terça-feira (25), em Brasília, a terceira edição do Anuário do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda. A publicação traz informações sobre o mercado de trabalho brasileiro, entre elas, a ocupação, postos de trabalho gerados e renda. No lançamento, em discurso, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, afirmou que “Esse é o maior retrato que temos de um Brasil que está dando certo. É uma fotografia do mercado de trabalho, das políticas de qualificação profissional, de economia solidária, das políticas para a juventude. A cada ano, vamos aprimorando e ele serve para melhorar as políticas públicas do Ministério. Com os dados do sistema nacional de emprego, podemos saber, por exemplo, onde está precisando de qualificação”.
De fato o trabalho, em especial a parte relativa ao mercado de trabalho, é rico em informações globais sobre o país e, embora não sendo tão detalhado em relação aos estados o que, naturalmente, seria mais interessante. Talvez por causa dos dados utilizados, em grande parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE cuja forma de pesquisa segue as contas nacionais que são mais regionalizadas. No entanto, há muitas informações boas como a de que, no final de 2010, os empregados formais no Estado de Rondônia eram 334.290, o equivalente a 0,8% dos trabalhadores nacionais. Interessante também foi observar que os assalariados representam, em Rondônia, 59.9% do total da força de trabalho e que a iniciativa própria é alta tanto que 20,1% trabalham por conta própria e há 7,5% de não remunerados. Embora a informalidade em Rondônia seja considerada grande se observa que os trabalhadores sem carteira assinada são apenas 15% do total, o que representa o menor percentual do Norte, onde, por exemplo, o Amazonas tem 16,6% de empregados sem carteira assinada; no Pará, este percentual sobe para 22,5%. No país a média é de 16,5%, ou seja, neste item, pelo menos, estamos melhor que a média do Brasil. Vale ressaltar ainda que, em Rondônia, a Taxa de Pessoas em Idade Ativa (PIA) foi, em 2009, de 1.270.000 pessoas, a População Economicamente Ativa, 834.000 pessoas e a Taxa de Desocupação de Rondônia de 6,8%, uma das mais baixas do Norte, que teve uma média de 8,6% enquanto que a média brasileira foi de 8,3%. Não foram divulgados por estados a participação da força de trabalho por setores econômicos, porém, por regiões se assinala que ainda continua a ser o setor agrícola o grande empregador no Norte com, em 2010, respondendo por 20,2% do uso da mão de obra, seguido do setor de comércio e serviços que respondem por 19,1% da ocupação e da indústria que utiliza 10,6% da mão de obra. São dados que nos informam e esclarecem sobre o Brasil atual.
sexta-feira, outubro 21, 2011
As nuvens negras no céu de 2012
Ou Secando as aves e os astros de mau agouro
Não bastassem os economistas e futurólogos afirmando que uma possível desaceleração do crescimento chinês, aliado com os problemas europeus e norte-americanos, apontam para a possibilidade de termos um 2012 muito difícil, agora, quem vem nos assustar é a astrologia, esta inefável e imprecisa ciência que, todos nós negamos acreditar, porém, invariavelmente, corremos para ler nos jornais, por mais inacreditáveis que sejam suas previsões. O fato é que o astrólogo Ivan Freitas faz uma correlação entre o passado e o presente afirmando que “O mesmo céu que regeu o período da grande depressão econômica advinda do crash da Bolsa de Nova York (em 1929) está regendo o céu na atualidade, desde a quebra do Lehman Brothers (em 2008)”. Ou seja, a mesma quadratura que se formou no céu no dia da quebra da Bolsa de Nova York, em 29 de outubro de 1929, a terça-feira negra (“Black Tuesday”), se repete, 83 anos depois. Segundo os astrólogos, naquele dia, o planeta Urano, responsável pelas mudanças drásticas, repentinas e as situações críticas, colocou-se a 08º22’ do signo de Áries, numa quadratura negativa com o planeta Plutão, que transforma as estruturas de poder. Pois é, estamos, novamente, sob as influências insondáveis do Sistema Solar e, para desespero e impotência nossa, no dia 23 de junho de 2012 Urano estará no mesmo 08º22’ do signo de Áries e novamente em quadratura com Plutão.” Podia ser pior: afinal havia até mesmo a predição desmoralizada de que o mundo ia acabar em 2012.
No terreno da realidade, todavia, há o fato real de que há indícios da desaceleração do gigante asiático, mas, a China ainda é um planeta de certa forma também insondável para nós. Afinal se ninguém acertou que iria tão rapidamente ascender no cenário mundial qual a razão para acertarem que terá um baque? É demasiado humano desejar ler o futuro e, neste ponto, a economia pode apontar, graças as chamadas contas nacionais, certas tendências. Ocorre que estas na China (e não somente lá, podem crer) é objeto de muita manipulação. Inflação e produto interno chineses são olhados com certa desconfiança, embora, como acontece com outros indicadores, são os que existem. Mas, o que se divulga, por enquanto, não autoriza ninguém a crer num declínio chinês. E se houver? É evidente que nos afeta, que afeta o mundo todo. No entanto, caso haja, termos que lidar com seus efeitos que, como já ocorreu com os EUA, pode ser bem menos dramático do que se pinta. Quando se trata de futuro, porém, astrologia e economia tem muito em comum: são excelente fontes de erros. E, me valendo de outra ciência que erra muito, a meteorologia, devo concluir que nuvens negras nem sempre são sinais de tempestade, daí, esperar que apesar das quadratura adversas , 2012, venha com muito mais surpresas agradáveis. Mesmo que não seja verdade é um consolo saber que ninguém sabe nada do futuro e, apesar dos astros, quem morre de véspera continua sendo o peru. Feliz 2012!
quinta-feira, outubro 13, 2011
Chico Buarque e a inocência humana
Em primeiro lugar devo dizer que sou um fã de Chico Buarque. Aliás, de longa data quando um velho e grande político do Ceará, Paulo Sarasate, que era dono do jornal “O Povo” e um homem de cultura, louvou fazendo política a música “A Banda”. Era, é, um primor de letra e música e, ali, já se anunciava a genialidade do compositor e letrista. Repetem, e é verdade, que nenhum poeta conseguiu ir tão fundo na alma feminina e, confesso, minha inveja de certos versos que qualquer um gostaria, se pudesse, ter feito. O poeta Chico Buarque é um talento indiscutível. O poeta, porém, não se separa do homem. E o homem envelhece, perde a sintonia com seu tempo, tem as fraquezas e os desejos demasiados humanos.
Chico, que já foi uma unanimidade, esqueceu a música e fez romances. Seus romances me lembram a música “Construção”, uma música perfeita, mas, que possui uma arquitetura que mostra os andaimes da construção, deixa ver o trabalho da elaboração e, se mostra grandeza, acaba por não parecer real. Os livros de Chico são bons, diria que quase ótimos, porém, ao fim, difíceis, exercícios de elaboração, que deixam a desejar diante da obra do poeta mór, do compositor inspirado e múltiplo. Talvez não tenha sido uma opção errada. Quem sabe, amanhã, num país mais culto, com pessoas mais cultas do que sou, as suas obras venham a ser mais importantes do que me parecem. Hoje não. Hoje parece que esqueceu o que sabia fazer tão bem e nos deixou órfãos de belas canções e conseguiu mesmo ser um pouco esquecido.
E Chico também tem uma ingenuidade que transparece nas suas letras. Não que também não seja maldoso, mas, há nele o paradoxo de ser maldosamente inocente. Também na vida, como num episódio em que se envolveu com uma amada nas praias, ou em pensar que é possível opinar livremente sobre política sem ônus ainda mais quando se é um privilegiado num país que está dividido em todos os sentidos. Chico foi um ídolo, um ícone, um tocador da manada quando era contra a ditadura. Num país de múltiplas opções ficar ao lado do poder sendo egresso da elite, e podendo ter apartamento em Paris, é se colocar como alvo, ainda mais quando seu posicionamento político ajudou a irmã a alçar voo para um ministério.
Agora lançou um disco denominado Chico (Biscoito Fino). O primeiro, depois de cinco anos, recebido apenas com críticas e suas novas canções não tocam, nem em canais de internet, televisão e dá trabalho encontrar saber quais as faixas de suas canções, exceto para quem comprar os CDs que sobram nas lojas. E só deram atenção a um verso que fala em “mulher sem orifício”. Uma pena. O CD de dez faixas é de excelente qualidade. O problema é que Chico, um homem de elite, esteve ajudando com seu apoio à incentivar a falta de cultura. Num vídeo se assombra que tem pessoas que falam mal dele na internet e o chamam de “velho bêbado” quando nem bebe. A verdade, para muitos, é que se comportou como se bebesse, e, se suas canções não produzem o mesmo impacto é, justamente, porque até mesmo os que, hoje, estão no poder, na sua grande maioria, são incapazes de compreender (e sentir) a beleza de seus versos. A indiferença vem de que a grande massa gosta dos baticuns ou do barulho do rock ou até mesmo da batida de trilho das grandes bandas e seu público, igual a ele, envelheceu e não conta mais. Chico, infelizmente, esteve distante do país e ainda vive ao som da bossa nova e crê no homem cordial. A violência para ele só chegou pela internet. Pelo menos, o salva fazer ainda belas canções para o futuro. Neste momento, é cercado pela indiferença dos amigos e pela pena de muitos fãs que gostariam que tivesse permanecido sendo apenas o grande poeta que sempre foi. A pena não é de que ele esteja sozinho, mas, que não tenha se limitado a torcer pelo Fluminense e jogar bola pelo Politheama. A pena é de que tenha se equivocado tanto sem ter percebido que estava se enterrando em vida. Talvez seja um caso exemplar de auto-engano. Ou a maldição de que nossos maiores compositores, igual ao país, não encontrem jamais a felicidade.
terça-feira, outubro 11, 2011
A morte do homem cordial no país sem plano
É engraçado como se consolidam socialmente alguns estereótipos na psique popular. Talvez nenhum deles seja mais emblemático do que, por exemplo, a crença de que nossa sociedade se caracteriza por traços que a apontam como uma sociedade cordial, pacífica, sem imensos conflitos sociais. É claro que isto não poderia escapar do olhar científico e são muito conhecidas as palavras de Sérgio Buarque de Holanda que, em Raízes do Brasil, escreveu “A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal”.
Será que ainda é válida a análise feita no século passado, e publicada pela primeira vez em 1936, em que, supostamente, o transplante das relações sociais para o tecido macro da sociedade encobriria, ou amenizaria, as questões mais agudas e graves? Será assim atualmente? Vivemos ainda num país onde grassa a cordialidade? Ultimamente, creio que não, pois, sumiram os traços patriarcais, o predomínio das crenças do meio rural e na nossa realidade contemporânea, urbana e globalizada, o homem cordial se liquefez, com certeza. Nem irei apelar para os episódios de queimas de índios e mendigos ou as recentes agressões absurdas a casais gays ou até a quem num gesto de carinho acabou confundido e sendo espancado. Não há nada de cordial, por exemplo, no MST, nem nas invasões urbanas ou ocupação de edifícios por sem-teto nas cidades brasileiras. Nem mesmo os protestos de estudantes, funcionários públicos, de camelôs ou até movimentos negros e do hip-hop escondem uma violência que se manifesta ainda mais agressiva no trânsito e nos assaltos e roubos. Não faço crítica aos movimentos coletivos, mas, constato que até mesmo os crimes, no passado, eram mais delicados. Não existiam balas dum-duns, nem AR 15, nem se assaltava em grupo como hoje em dia acontece. A grande realidade é que não existe mais o homem cordial e o brasileiro cordial foi enterrado sem pompas num túmulo desconhecido.
Só constato que o Brasil ingênuo morreu. Que há uma violência gratuita mesmo nos grupos mais descompromissados com qualquer agenda política que reflete, talvez, a falta de compreensão dos fenômenos atuais, a impotência da construção de uma solução política para nossos problemas, pois, a grande realidade é a falta representatividade das políticas, dos políticos e das instituições. É imprescindível que se reflita sobre a nossa realidade, sobre um ativismo social que nos faça ter um pensamento estratégico, um planejamento da ação, uma proposta de futuro. Não podemos ficar ao sabor da mistura vazia entre o entretenimento, o marketing e a impostura sem abrir caminho para uma ação conseqüente, sob pena do Brasil cordial, sem a instrumentalização adequada, virar o Brasil da desordem, o Brasil caótico, o Brasil que voltou ao passado sem passar pelo futuro.
quinta-feira, outubro 06, 2011
Alguma reflexões sobre o pós usinas
Estive esta semana conversando com o jornalista Paulo Vagner, do Portal Rondônia, sobre o futuro de Porto Velho depois das usinas. Confesso que foi uma conversa surpreendente e, ao mesmo tempo, estimulante por me fazer tentar exercer um dom de futurologia para o qual não estou minimamente preparado, embora muitas pessoas pensem que isto é uma coisa normal na cabeça de um economista. Não é ainda que seja verdade que os conhecimentos de economia proporcionam certas ferramentas que permitem prever alguns tipos de aumento de demandas e antever problemas. Para tentar matar a curiosidade intelectual do Paulo Vagner, no entanto, tive primeiro que esclarecer que, em Rondônia, para este tipo de exercício, falta inclusive o essencial que são estatísticas em série, estatísticas recentes e confiáveis. Não é um fato comum, mas, todo economista sabe que o grande legado de Keynes foi o de ir buscar na estatística o comportamento médio das variáveis econômicas e, a partir daí, tentar monitorar e controlar o comportamento da economia.
Quando se trata de Porto Velho, como esclareci, o problema é muito maior. A cidade já estava num ritmo de crescimento próximo dos dois dígitos antes do Complexo do Rio Madeira, um megainvestimento de construção de duas usinas ao mesmo tempo, algo raro em qualquer tempo e lugar. O segundo maior empreendimento do mundo com a maior obra do Brasil em execução. Era previsível que houvesse, como de fato aconteceu, um extraordinário crescimento da renda e da geração de emprego por causa do ciclo da construção das hidroelétricas. A cidade recebeu, conforme atestam os resultados preliminares do Censo, algo como 110 mil pessoas, o que foi quase 30% de acréscimo populacional, gerando diversos impactos socioeconômicos também previsíveis, inclusive o aumento trágico da violência e do trânsito. Em contrapartida, com três faculdades de Medicina em funcionamento, a transformação de Jacy-Paraná e a implantação de Nova Mutum há fatores que apontam novos caminhos para o futuro que, na minha opinião, são promissores. Porto Velho é, hoje, uma cidade universitária com mais de 22 mil estudantes de nível superior e, ao contrário do que muitos pensam, não terá grandes dificuldades para o pós usinas. Não se trata de previsão, mas, de dados e de lógica. É evidente que não cresceremos em níveis altos como temos crescido. Mas, como saldo das usinas, teremos uma estrutura muito melhor que ainda depende da governança local ser aprimorada. Nossos problemas não são tão grandes, porém, se faz necessário que haja uma melhor aplicação dos recursos públicos, um melhor planejamento do futuro e trabalho. Existem muito mais promessas, do que realidades efetivas, que precisam se tornar realidade.
É certo que o nível de atividade econômica, de geração de empregos e de renda deve cair no futuro. Já caiu com os recentes distúrbios de Jirau, porém, isto não significa voltar ao período de estagnação, nem aos níveis do passado. Depois das usinas entraremos num período de acomodação. Cerca de 70% da mão do obra formada, ou que aportou com formação, irá seguir o caminho natural dos “barrageiros”, trabalhadores que seguem as grandes obras de construção de hidroelétricas, e com o próprio fim das usinas as demandas serão menores. O nosso futuro, portanto, dependerá mais de nossa capacidade de gerir o pós usinas. De buscar consolidar a vocação de comércio e serviços de Porto Velho, o que significa construir um novo porto fluvial, duplicar a BR-364, que já tem previsão, concluir a BR-319, buscar implantar os projetos do gasoduto de Urucu, das eclusas e da ferrovia Cuiabá-Porto Velho e tornar nosso aeroporto, de fato, internacional, para aprofundar as relações comerciais com os países vizinhos. São projetos viáveis e exeqüíveis que, aliados a uma política de apoio aos micros e pequenos, parecem apontar no sentido de que o período difícil é ainda o que atravessamos, o durante as usinas, em que temos que conviver com uma demanda para a qual a cidade não estava e não está preparada. No meu entender, porém, o pior já passou e se tivermos uma melhora substancial de nossa capacidade política podemos chegar em 2020 com uma grande cidade que poderá ser motivo de orgulho para todos nós.
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