As manchetes já
festejaram e o governo brasileiro vê quase como uma tábua de salvação a vinda
do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, com mais de 200 empresários e um
pacote de investimentos destinados ao Brasil estimados em 53 bilhões de dólares,
que tornaria realidade alguns grandes projetos brasileiros necessitados de
capital, como é o caso da Ferrovia Transoceânica, um megaprojeto de ligação
ferroviária entre o Rio de Janeiro e os portos do Peru, investimentos em
energia, como a linha de transmissão da usina de Belo Monte e projetos
industriais, com ênfase no setor automobilístico e de máquinas e equipamentos. Bem,
a própria denominação “negócios da China” já traz em si, a ideia de lucros
extraordinários. A questão, quando se trata com os chineses, é de perguntar:
extraordinários para quem?
Uma das características
intrínsecas ao modo de atuar dos chineses, na atualidade, é a de que eles têm
sido extremamente competentes na estratégia de oferecer grandes projetos de infraestrutura
para outros países que, efetivamente, criam grandes oportunidades para seus
investimentos, criam mercados para sua mão-de-obra e exportações, abrem maiores
concessões em relação aos seus interesses e passam a exercer maior influência
sobre os países que aceitam suas propostas. Não se precisa ir longe para buscar
exemplos, pois, aqui do lado, temos o caso argentino que, em troca de
financiamento, permitiu que a indústria chinesa inundasse o mercado argentino
com centenas de trens de passageiros, vagões de carga e locomotivas, além de
outros tipos de materiais, enterrando o pouco que restava da indústria local e,
como dano colateral, atingindo também a indústria brasileira que seria um potencial
fornecedor de componentes e equipamentos para o setor ferroviário argentino.
Assim, por mais que
seja evidente a nossa necessidade de atração de investimentos e de melhoria da
logística, a pergunta que não pode deixar de ser feita é: a qual custo? Se,
como tudo indica e os chineses são hábeis em pedir, for com a flexibilização
das regras de conteúdo nacional para a aquisição de equipamentos, será que vale
a pena? Se ampliado o espaço para a participação de investidores estrangeiros
nas novas concessões para projetos de infraestrutura, como os brasileiros terão
condições de competir contra um investidor chinês em posição privilegiada,
sendo, como é, competitivo na tecnologia,
nos equipamentos e com a prerrogativa de contar com o financiamento? É preciso
lembrar que, por lá, eles exigem participação dos chineses em qualquer tipo de
investimento. Será que, por aqui, haverá, para os brasileiros, alguma
contrapartida positiva a estes investimentos chineses? Ou, vamos perder a
oportunidade de ter competitividade logística na esteira da construção de uma
infraestrutura melhor? Ou, em nome do imediatismo, jogar a pá de cal na já maltratada
indústria brasileira? A resposta será dada pelo governo se aceitar, ou não, a
“flexibilização das regras de conteúdo nacional” e uma maior “abertura de
mercado para exportações chinesas”. É preciso acentuar, parodiando o passado,
que nem tudo que é bom para a China é bom para o Brasil.
Ilustração:
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