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sábado, fevereiro 25, 2006

CARNAVAL, DESENGANO

Diz um dos mais polêmicos psicólogos norte-americano, Steven Hayes, que “a felicidade não é normal”, ou seja, a dor faz parte da vida embora nós façamos esforços para escapar dela das mais diversas formas possíveis. Nas palavras dele: “As artimanhas que usamos para escapar da aflição nos desviam de nossos objetivos de vida”. Efetivamente procuramos nos esquivar das coisas ruins, não lembrar que um dia iremos morrer, esquecer a perda de amigos diletos, buscar a felicidade momentânea de sair com os amigos, beber um bom vinho, viajar, viver uma aventura amorosa ou procurar atenuar as incertezas do futuro. De fato “Nosso conceito de felicidade está ligado a emoções de curto prazo”. E, entre tais emoções, o carnaval surge como o resumo delas na medida em que busca apagar a realidade e, seja pela fantasia, seja pelas drogas, por um amor de três dias, viver momentos que bem sabemos são irreais. O carnaval é, na verdade, um intervalo de sonho na dureza da vida. No entanto é sonho, um sonho curto como os dos suburbanos de Madureira ou de Vila Isabel que vestem roupas de rei e, na quarta-feira, terão que voltar as suas vidas pequenas. Todavia, muitas vezes, se sacrificaram (e sacrificam outros prazeres) por muito tempo para viver seu momento de glória na avenida.
O certo é que o carnaval é uma espécie de prazer com fim pré-datado. É como se, por uns dias, tudo fosse permitido, porém com a quarta-feira ingrata, no fim, para cobrar a conta, para fazer com que a alegria se transforme, de novo, no cotidiano, na vidinha de sempre, de trabalhar, estudar, comer, fazer o que tem que ser feito e, depois, dormir. Há, contudo, como em todo sonho, uma grandeza, um elemento indefinido e indefinível que faz com que o carnaval, mesmo se sabendo no fim desengano, valha a pena. Afinal é significativo que pessoas e comunidades façam desses três dias o motivo de tantos sacrifícios, de tanto planejamento, de tanto trabalho e suor. Para não ir longe, e o protótipo é o carnaval carioca, aqui mesmo temos exemplos memoráveis de dedicação ao carnaval como é o caso de Manelão da Banda do Vai Quem Quer que se sacrificou pessoalmente, muitas vezes, para criar esta instituição que, hoje, é a banda. Temos, inclusive o anonimato heróico de muita gente que criou, e cria, blocos como o Galo da Meia Noite, o famoso bloco estacionário do Caititu, o Bloco da Mucura, do Canto da Coruja, do Tô Nessa, do Não Tô nem Aí, do Kayari e, agora, surge também o Pirarucu do Madeira. Sem falar dos blocos e escolas que são o suporte do nosso carnaval de rua. È, de certa forma, uma prova de que o carnaval é uma metáfora da vida. Apesar do desengano vale a pena ser feliz mesmo que por algumas horas. Um bom carnaval.

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