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segunda-feira, abril 21, 2008

OS INDIOS REAIS SÓ SE PINTAM NA HORA DE REIVINDICAR

Os índios, os cidadãos especiais
Se as declarações não viessem de um intelectual respeitado como é o caso de Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por muitos tido como “o” antropólogo, poderiam ser consideradas dignas de qualquer dos pelegos que vivem pendurados na Funai. Dizem que se trata de um grande pensador. Longe de mim desacreditar, mas, por maior pensador que seja, sua visão da Amazônia e da questão indígena parece um bocado distorcida. Primeiro, por sua colocação de que, praticamente, apesar de dizer que são os brasileiros de outros rincões que comandam a região, que todos são praticamente índios, ao mesmo tempo, que, ao tentar responder quem é índio no Brasil, afirma textualmente: “Vamos mudar a pergunta: quem está autorizado a dizer que é índio? Eu não estou. Esse é um problema fundamental: quem está autorizado a dizer quem é quem, quem é o quê. Fazer disso uma questão de peritagem me parece uma coisa monstruosa. Ninguém se inventa índio, ninguém sai por aí reivindicando uma identidade escondida, recalcada, eu diria. Vá ver de perto e descobrirá que é assim que a coisa acontece. Portanto, não é índio quem quer. Mas quem pode. Não é negro quem quer. Mas quem pode”. Ou seja, não é a questão de questionar quem é índio ou não. Ocorre que os índios, ou outros por eles, reivindicam terras e, muitas delas, já ocupadas e plantadas. Agora o índio pode matar que não tem responsabilidade civil o que, é muito interessante, têm direitos, mas, não tem nenhum dever. Ser índio, portanto, é ser um cidadão especial.
Ocorre que, por exemplo, com os dados dele, um punhado de índios tem direito à 43% do território de Roraima e fica 57% para mais um milhão de pessoas que mora lá? Maravilha. Ainda mais quando a terra fica na fronteira e, sabidamente, missionários estrangeiros dizem aos índios quem pode passar ou não. No olhar do professor não há interesse externo nenhum pela Amazônia. Só creditando à ingenuidade acadêmica a afirmação de que “A terra ianomâmi está demarcada desde o governo Collor e nunca houve isso. Alguém imagina que os ianomâmis queiram reivindicar um Estado independente, justamente um povo que vive numa sociedade sem Estado? Chega a ser engraçado”. Não tem nada de engraçado quando, só agora, de fato, estão retirando todos os não-índios e o governo brasileiro, numa ação anti-nacional, concordou em aprovar na ONU a Declaração dos Direitos Indígenas, uma verdadeira cabeça de ponte para a formação de mais de uma centena de nações indígenas na Amazônia, sem contar que até o mais desinformado dos cidadãos tem conhecimento que até a constituição de nações e governos indígenas já são formados no exterior. E mais: como os índios podem ir e vir à vontade nas terras não indígenas, então, nós, todos, somos, brasileiros de segunda classe porque nosso direito de ir e vir é restrito nas áreas indígenas.
Não apenas isto. O próprio Viveiros afirma sobre as atividades dos índios “Sim, podem plantar e vender. Podem até virar arrozeiros. Mas terão de produzir dentro de limites muito estritos, sujeitos a leis ambientais severas, não se esqueça de que a reserva integra o Parque Nacional de Roraima. Também não podem explorar o subsolo, a não ser o que há no solo de superfície. Mas francamente acho que a população indígena jamais entrará de cabeça no modo de produção do agronegócio, que eu chamo de modelo gaúcho, porque isso simplesmente não bate com seu modelo de civilização”. Será? Esta parece ser a visão de que os índios permaneceram incólumes aos brancos e à civilização. Não parece ser esta a realidade. Basta ver a Reserva de Roosevelt que dizem ter uma das tribos mais ferozes da região. Lá índios de Hilluxs, celulares, roupas da moda e até avião não parecem endossar a opinião do renomado mestre.

quarta-feira, abril 16, 2008

NEM TUDO QUE PARECE É

A Carência é de Análise
O sociólogo suíço Jean Ziegler, de repente, aparece na mídia mundial classificando de um crime contra a humanidade a produção de biocombustíveis. Vai um pouco mais além quando acusa o FMI de haver obrigado países do Terceiro Mundo a produzir para exportação, desviando esforços da agricultura de subsistência. Duas afirmações que só demonstram que quem não entende nada de economia não deve se dispor a falar do que não entende, principalmente, quando, como Ziegler ocupa um posto numa organização multilateral, que transforma sua fala num poderoso microfone com amplificador mundial.
Em primeiro lugar há o fato de que não é a falta de produção que impede a fome de parte da população, em especial dos países muito pobres e importadores líquidos de alimentos e sim a renda. Tanto que muitos deles são dependentes, tipicamente, de doações e de programas especiais de auxílio. São países da África, das zonas atrasadas da Ásia e, em menor proporção, do Caribe e da América Latina que vive na miséria e, a menos que mudem suas variáveis internas, continuarão assim independente do encarecimento, ou não, das commodities. Estes povos pobres deixados no atraso e na miséria pelas velhas potências coloniais européias não tem poder aquisitivo, logo não influem na demanda mundial. A crise dos alimentos é oriunda mesmo é do alto crescimento da China e da Àsia que, com poder aquisitivo, pressionam por mais alimentos.
Em segundo lugar somente parte da alta dos preços pode ser atríbuida a questão da produção dos biocombustíveis circunscrita aos Estados Unidos, onde o etanol é produzido no lugar do milho, e à tentativa européia de produzir biocombustíveis. Ocorre que tanto nos Estados Unidos e como na Europa estas atividades só são possíveis com pesados subsídios. A verdade é que aí repousa o busílis da questão. O subdesenvolvimento da agricultura nos países pobres se deve muito às distorções criadas pelos subsídios e pelo protecionismo do mundo rico. Numa perspectiva de longo prazo as commodities teriam estimulado o desenvolvimento agrícola nos países não fosse estas políticas. Aliás, foram os preços deprimidos pelas políticas dos países desenvolvidos que causaram parte significativa da pobreza persistente.. Este foi um dos temas centrais da Rodada Doha de negociações comerciais sem que se conseguisse avançar um passo. Sobre isto Jean Ziegler nunca disse nada.
É preciso, portanto diferenciar a produção de biocombustíveis no Brasil da produção nos Estados Unidos e na Europa. Inclusive porque no nosso país foi a capacidade dos produtores e o investimento em tecnologia para competir no mercado internacional que causou o barateamento da comida no mercado interno. Assim a acusação de Jean Ziegler ao FMI, de ter forçado os pobres a produzir para exportação, não se sustenta nos fatos. Se, por exemplo, os países pobres tivessem feitos como nós e desenvolvido o agronegócio, não estariam sujeitos à miséria e à fome. Produção de subsistência não garante alimentação farta para a população de nenhum país. Como representante da ONU o sociólogo Jean Ziegler está agindo mais como provocador de polêmica do que analista.

sexta-feira, abril 04, 2008

PODEM ARRANJAR PENEIRAS


O PROBLEMA É UM PROBLEMÃO
Nunca antes neste país um governo produziu tantos escândalos, fez tantas asneiras e tantas trapalhadas, mas, justiça seja feita, também nunca se usou o poder com tanto desembaraço e impunidade. Diz a Bíblia, e dizem os sábios, que tudo tem seu tempo e, talvez, a sorte de Lula da Silva seja a de que chegou ao poder num tempo (talvez somente pudesse chegar nele) onde faltam efetivas lideranças, políticos de fato que saibam e possam mobilizar a população. Ou, quem sabe, a raça tenha sido extinta com a corrupção sistêmica, o fisiologismo congênito, a falta de vergonha pública disseminada e louvada. O fato é que Lula, apesar de acumular uma cronologia de escândalos e mal-feitos, conseguiu se reeleger depois de um governo medíocre e, por conta de situações diversas, ainda posa de redentor do país. Só tem um pequeno problema: tudo em sua volta está enlameado, contaminado, exalando o odor de ruína.
É claro que o uso do poder da presidência da República esconde muita coisa. Um marketing bem-feito, como nunca faltou, articulado com a manipulação da realidade, é, como diria Goebbels que deveria dar pulos de satisfação numa situação como a brasileira, a comprovação maior da teoria de que a mentira mil vezes repetida é a maior do todas as verdades. A questão é que, debaixo da propaganda a realidade se agita, e, a maior ironia, é que se agita, justamente, por conta dos próprios detentores do poder. É que os companheiros confundem governo com partido, público com privado, ser servidor público com ser petista. Daí o imenso susto quando surgiram os primeiros sintomas da farra dos cartões corporativos. Embora sendo um comportamento geral, como comprovam o envolvimento de vários ministros, para abafar o caso sacrificaram, rapidamente, a ministra Matilde para encerrar a questão. Não encerraram na medida em que cortar, de cara, um peixe tido como grande era uma confissão de culpa. E, logo se fincou a convicção, reforçada por matérias jornalísticas, que o buraco era mais fundo. Fazia voltas e terminava no Palácio. Inventaram a questão de “segurança”. Claro que se trata da segurança do partido.
Depois, sem jeito, propuseram a CPI para transformar tudo em pizza. Deveria ser tudo divino e maravilhoso, mas o medo, a paúra era tão descomunal ( e sempre sobram aloprados) que não se contiveram e utilizaram o que sempre tem utilizado para abafar suas encrencas: a corrupção não é de hoje, vem de longe, todo mundo participa, deixa isto pra lá que também houve nos tempos de FHC. Diante da resistência não vacilaram em organizar um dossiê, um “banco de dados” que seja contra FHC. O vazamento explodiu a safadeza oculta de que, para preservar Lula da Silva e família, não tiveram o menor pudor em jogar lama no antecessor. Com tanta incompetência que, hoje, qualquer analista de meia-tigela sabe que tão desmedida reação somente pode se justificar por haver carne debaixo do angu. Como o governo está atrás de quem vazou, com certeza, outros ações alopradas virão. É só esperar. É pouca peneira para muito sol.

quarta-feira, abril 02, 2008

ESCOLARIDADE FAZ DIFERENÇA

A Diferença da renda é a educação
Há toda uma propaganda governamental cantando em prosa e verso o aumento da massa salarial e da renda do brasileiro. No entanto, os dados disponíveis sustentam, de fato, que a massa salarial cresceu, e sempre cresce no tempo, mas o mesmo não aconteceu com os salários que, a bem da verdade, tem decrescido. O salário médio do brasileiro está menor-a informação é do Cadastro Central de Empresas, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, cujo dado mais recente afirma que, em 2000, se ganhava em média cinco salários mínimos, em 2005 o valor caiu para 3,7. É verdade, porém, que graças aos programas assistencialistas governamentais 6 milhões de pessoas melhoraram seus padrões de vida e, com o aumento do salário mínimo, reforçado pela queda do dólar que se reflete num menor custo interno, a vida melhorou para as classes mais baixas.
No rastro desta melhora veio a diminuição do custo de máquinas e equipamentos de informática, juntamente com a expansão do crédito e dos prazos de crediário, que deram ensejo a que milhares de pessoas passem a ter acesso à tecnologia. Ter um computador, antes um privilégio das classes mais ricas, passou a ser um objeto de desejo com ampla possibilidade de ser satisfeito, por uma quantidade muito maior da população em decorrência seja da facilidade em adquirirm pelas formas de pagamento e preços mais acessíveis, seja menor custo. No Brasil, em 2007, foram vendidos mais de 10,7 milhões de computadores. Isto se reflete também no comércio eletrônico no qual a renda média dos compradores vem caindo ano a ano, o que indica que mais pessoas da classe C estão utilizando as facilidades das lojas virtuais, antes restritas as classes A e B.Dados fornecidos por pesquisa da e-bit, no período de Natal de 2007 (de 15/11 a 23/12), comparam a percentagem de títulos de CD, DVD e Vídeo que são consumidos pelas classes A e B e pela classe C que mostram que, em razão do número maior de compradores, um empate técnico, de vez que os números são de 8% e 7% respectivamente. Ora, quando se compara o resultado com itens de Informática, que são mais caros como computadores, impressoras, notebooks, softwares e acessórios, o consumo da classe C é de apenas 9%, enquanto que nas classes A e B o número sobe para 12%. Há, nas compras de Saúde e Beleza, como perfumes e cosméticos, também uma igualdade, mas, a distância real entre as classes se mostra mesmo é no consumo de livros: as classes A e B têm percentagem de 17% contra 12% da classe C. A chave da questão se situa em que 79% das pessoas com renda familiar superior a R$ 5 mil possuem nível superior ou pós-graduação e somente 34% do e-consumidores com renda familiar de até R$ 3 mil possuem ensino superior completo ou pós-graduação. Ou seja, o nível de escolaridade responde pela diferença de renda.