Que tudo se acelerou
ninguém tem dúvidas. A pressa, que sempre foi inimiga da perfeição, é quem nos
escraviza no presente. A pressa e a novidade, ou, se quiserem, a
presencialidade que se expressa na visão de que é preciso estar in, estar por dentro, num mundo altamente tecnológico e pós-moderno, ou
seja, é preciso estar informado para se decidir. Mas, como estar informado num
mundo onde a informação entra aos borbotões? Como tomar decisões onde há um
imenso excesso de estímulos, de vertentes que, invés de dissipar incertezas,
contribui para aumentar as dúvidas? Afinal com a evolução tecnológica, o volume
crescente de dados que chegam por sistemas de informações, por e-mail, twitter,
redes sociais, feeds, mídias convencionais, newsletter etc. é tão incrivelmente
grande que a esmagadora maioria das pessoas não consegue nem ler e ver o que
precisaria quanto mais filtrar o que é importante para direcionar sua vida,
seus negócios, suas decisões.
São
tantas e tão variadas as informações disponíveis que, por mais que se tente
negar, o que acaba tendo, de fato, é a desinformação. No meio a tantos dados, de tantos fatos e
números, muitas vezes, antagônicos, como não perder tempo e não correr o risco
de não divagar ou fazer as escolhas erradas? Não há forma fácil. É preciso se
ter uma estratégia de filtragem e uma percepção eficiente do que, realmente,
faz, ou não, diferença, por isto, se precisa, como na agricultura, separar o
joio do trigo, transformar a massa de dados em informações confiáveis e, o que
é muito pior, cada vez mais rapidamente e, não raro, dispondo de menos
especialistas que tenham a capacidade de selecionar o que é relevante. Isto é muito mais visível ainda porque, muitas
vezes, como é comum na política, hoje, existem estratégias que visam
transformar em verdade, por meio da propaganda, os interesses de certos
segmentos, seja na vida, seja nos negócios.
Também até os grandes meios de comunicação, numa política de
cortar custos, empobreceram as suas análises e suas redações, de forma que, ao
fim, as matérias parecem ter sido padronizadas e reproduzidas em massa.
Acrescente-se que, mesmo os grandes analistas que restam, submetidos a um
processo massacrante de produção em larga escala, não conseguem ter o tempo
hábil para lapidar seus pensamentos e textos. Ainda por cima há um processo,
intensivo e on-line, de grupos que se especializam em hostilizar quem não pensa
da mesma forma e, não raro, de uma forma grosseira que revela a pobreza de seus
horizontes e ideias. A verdade é que a informação, hoje, a informação real é um
veio escasso de ouro sob um amontoado de lixo. E é o lixo que se propaga e
tenta se instalar como se fosse verdade como se fosse um vírus moderno. E são
bem pagos, justamente, o que produzem mais lixo. Por isto há uma legião de
desinformados que sustentam até mesmo a ilusão de que é possível alcançar o paraíso
sem esforço. E se vende até vaga no céu para quem não tem capacidade de
discernir de forma adequada. São os tempos, os nossos tempos.
Ilustração: entreasbrumasdamemoria.blogspot.com
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