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segunda-feira, março 28, 2016

NO CAMINHO DO RETORNO DA ESPERANÇA


Apesar do ex-presidente Lula ainda afirmar, numa coletiva a veículos internacionais, que o governo deve buscar uma “coalizão” com parte do PMDB que ajudará a barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, esta hipótese parece, cada vez mais, remota diante do andar da carruagem. Sua avaliação se assenta no passado, no tempo em que possuía credibilidade e governava. Hoje, ele e o governo gastaram seu capital de confiabilidade e passaram da hora de mudar. Não dá mais. Ainda que vá continuar lutando até o fim com o apoio de sindicalistas e militantes, não se tem mais dúvidas, segundo os melhores analistas, que, agora, a queda é só uma questão de tempo. Não adianta mais agrupar militantes para impedir um novo pedido de impeachment da OAB, nem buscar denegrir a entidade. O moinho da política se moveu e, até mesmo o ex-presidente Collor, que já passou por isto, sabe de sua inexorabilidade. Com Dilma, as coisas só piorarão e a população está avida por esperança que este governo não tem condições de suprir.
O anúncio de que o PMDB do Rio Janeiro se vergou à realidade foi a gota d’água. Com sua adesão irá todo o PMDB, e no seu rastro todos os partidos da base aliada abandonarão o governo. Com certeza só o PCdoB pode ser exceção por sua natureza, intrinsecamente, de esquerda, mas, ninguém, de sã consciência, nem internamente no governo, avalia, com realismo, que o governo não conseguirá obter 171 votos para impedir o impeachment, que será aprovado pela Câmara folgadamente. O Senado somente confirmará o afastamento, como o próprio presidente Renan Calheiros, mesmo contragosto,  já admitiu. No Congresso, todos já trabalham com um governo de união nacional de Michel Temer, que tentará repetir a formula de Itamar Franco. Como não é Itamar Franco, e conviveu com o PT e seus desvios e erros, é inevitável que, no decorrer do processo, como já se iniciou com a fala do líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE) comecem a acusá-lo, por diversos meios, e tentar impedir o processo com o “risco Temer”, como afirmou Costa que o vice-presidente Michel Temer “será o próximo a cair” caso a presidente Dilma Rousseff sofra o que ele chamou de um “golpe constitucional” (pelo menos, já admitiu que o golpe não é golpe com a adjetivação).

Porém, um olhar para o futuro mostra que Michel Temer já se prepara para convocar um governo de união nacional. Ou seja, vai convocar todos os partidos para governar junto, indicar ministros e integrantes dos primeiros escalões do Executivo. É o mesmo método de Itamar que, na época, somente encontrou recusa por parte do PT. Talvez, agora, só o PSOL recuse, pois, o PCdoB não tem um histórico de resistir a cargos públicos. O novo governo deve enfrentar a “herança maldita” do PT: a maior crise econômica da história, o mais alto patamar de gastos públicos, uma inflação alta, o descontrole da dívida pública e a falta de investimentos. Será preciso tomar medidas difíceis, porém, é preciso dar o primeiro passo para recriar as condições para o país crescer. Não será um caminho fácil nem de recuperação rápida, mas, pelo menos, se acena com a esperança, que estava morrendo à míngua com um governo que, nos últimos três anos, somente cuidou de tentar se manter no poder. 

terça-feira, março 22, 2016

VAI TER É IMPEACHMENT


O, agora, advogado-geral da União, José Eduardo Martins Cardozo, num discurso enraivecido no Palácio do Planalto, depois de um encontro de juristas a favor do governo, sem nenhum argumento convincente, tenta justificar as conversas nada republicanas, entre a presidente Dilma Rousseff e o quase ministro Lula, alegando que “Conversas privadas que nada têm a ver com delitos devem ser privadas”. Ora, se não houvesse fundadas razões para Lula ser interceptado nas suas conversas telefônicas, e dos em seu entorno, até que se poderia alegar que há uma intervenção na privacidade, mas, o que ficou claro no saldo das conversas é que existiu delito sim; é que o ex-metalúrgico, mesmo sob monitoramento, de forma inequívoca com Dilma ou sem ela, arquitetava manobras para obstruir as investigações sobre esquemas de corrupção e o trabalho da Justiça.
José Eduardo Cardozo, porém, como é comum entre os petistas, não consegue ver crime nenhum no que fazem, apesar da quantidade imensa de companheiros presos, dos crimes tipificados no Mensalão e no Petrolão, na já comprovada irrigação das campanhas petistas com recursos oriundos de propinas, nos dois anos de Operação Lava Jato, que, só de recuperação de recursos alcançou os R$ 3 bilhões que, não há como negar, vieram, e dizem que ainda muito pouco, de desvios de dinheiro público. Não há viés político algum na ação da Justiça ou da Polícia Federal. O que se trata na verdade, e isto é profundamente incomodo para o poder de plantão, é que os fatos anulam as narrativas que tentam impingir à população.
Entre outras narrativas inverídicas está a já desgastada e enfadonha cantilena do “não vai ter golpe”. Golpe se faz com a quebra da lei vigente. E quem a tem quebrado não é a Polícia Federal, quando prende quem infringiu a lei, nem os promotores que acusam, nem o juiz que julga. Quem a fere é um governo que, num regime democrático, não pode se manter ao sabor do seu livre arbítrio, mas, antes de mais nada, tem que ter respeito, incondicional, à legislação vigente, sem o qual a ordem, a tranquilidade da nação deixa de existir. É um governo que considera, por exemplo, normal a adoção das malfadadas “pedaladas fiscais”, bem como elevar, por medida provisória, a chefia de gabinete ao patamar de ministério para proteger  companheiros ou remanejar e gastar recursos públicos sem a devida autorização. E se justifica por se considerar o melhor governo que já houve, embora os milhões de cidadãos que estão indo para rua protestar não reconhecem esta maravilha de governo que os “companheiros” vociferam felizes, nem veem ganhos incontestáveis para a sociedade no governo petista. O que veem são os juros altos, a inflação caminhando para ser galopante, a falta de renda, de emprego e de governo.

Golpe não se faz com os parlamentares votando pelo afastamento de Dilma, nem com o rito sendo julgado pelo Supremo. É inaceitável que se fale em golpe quando a figura do impeachment consta da lei, assim como o processo que tramita na Câmara dos Deputados segue os preceitos legais e é um reclamo da maioria dos brasileiros, que fazem panelaços, buzinaços e caminhadas pedindo aos parlamentares para votarem o processo de impeachment da presidente da República. Golpe se faz com armas. E a única arma que o povo brasileiro possui, no momento, é gritar contra um governo que perdeu toda a legitimidade e cobrar dos seus representantes no Congresso para, democraticamente, retirar do poder um governo que só cuida dos seus próprios interesses, que é o de se preservar indefinidamente no poder. Isto sim que não tem nada de democrático. Isto sim que é golpe. Claro que não vai ter golpe. Vai ter mesmo é impeachment. 

segunda-feira, março 14, 2016

É UM GOVERNO MELHOR O QUE SE DESEJA




Hoje, quem defende o governo, quem defende o PT, embora o PT na verdade vá além do governo e esteja abaixo de Lula, não tem como se defender de um fato real. No Brasil, neste domingo 13 de março, se verificou uma constatação invulgar e inegável: a parcela mais significativa e politizada da população, mesmo que, preponderantemente, de classe média, mostrou que possui uma consciência forte de seus direitos e manifestou-se contra o sufoco da carga tributária, contra a má qualidade dos serviços públicos, contra a falta de atenção da classe política para resolução de seus problemas e mais ainda que não deseja mais Dilma como presidente e que há uma consciência de que os três Poderes da república se deixaram impregnar por níveis, até antes, impensáveis de corrupção, daí, a exigência que, mais que apenas a Lava Jato, haja uma limpeza na política para que se evite o desperdício e, até mesmo, o acinte no uso do dinheiro público.     
Que não se pense que as coisas irão parar por aí. Os protestos foram, sim, pacíficos, familiares, alegres mesmo, porém, havia por trás uma consciência de que a crise pela qual estamos passando é fruto dos desmandos, da corrupção e da falta de funcionamento adequado da democracia. Há, nas pessoas que protestaram, um certo cansaço, um certo desânimo, a sensação latente de que não estão representados pelas pessoas que governam e, mais do que nunca, pedem que se dê um rumo à desorganização, à falta de horizontes, a um desgoverno que parece obstruir qualquer possibilidade de um futuro melhor. Claro que as pessoas sabem mais o que não querem do que querem. Mas, também sabem que querem melhor transporte público, melhor educação, melhor saúde e mais segurança. E o que desejam é que o governo use os impostos, por sinal demasiado pesados, para isto.

Efetivamente, Lula e Dilma foram os alvos maiores por não terem cumprido suas promessas de dias melhores e por não terem, na opinião da maioria que os elegeu, mais condições, nem credibilidade, para reverter a situação. Ambos são apenas mais do mesmo. Tiveram suas oportunidades e jogaram fora. É também evidente que, numa quantidade tão grande de pessoas, há visões e propostas de todos os tipos. Há os extremamente raivosos que culpam Lula de tudo e o querem na cadeia, mas, a grande realidade é que a maioria somente deseja um governo melhor; um governo que lhe cobre menos impostos, forneça melhores serviços e crie condições para que se tenha um futuro melhor. 

terça-feira, março 01, 2016

EM CHATÔ FALTOU ASSIS CHATEAUBRIAND


Sinceramente, que me perdoe Guilherme Fontes, mas, passar 15 anos para fazer de um tema como o de Assis Chateaubriand um filme menor, é passível mesmo de responder processualmente seja pelo que for. A grande realidade é que Fontes transformou “Chatô-O Rei do Brasil numa chanchada, numa autêntica e boa chanchada. Nada contra o gênero, que tem seu indiscutível valor, no entanto, se, é verdade, que a chanchada nunca sai de moda, nem por isto se aplica com perfeição a uma personalidade, como a de Chateaubriand, que carece de um tratamento muito mais sério, muito mais aprofundado de suas múltiplas facetas e vida atribulada e rica.
Acrescente-se que, para fazer o filme, Guilherme Fontes cercou-se de grandes nomes do cinema nacional e, pelo que ficou evidente, teve amplas condições de fazer um filme memorável. Não deve ter faltado também pesquisa, na medida em que o filme se imiscui em momentos fundamentais da vida do grande jornalista, todavia, opta por buscar o lado histriônico do personagem, no que se afasta bastante do livro de Fernando Morais, que busca traçar a trajetória e os motivos comportamentais do biografado. A adaptação livre, com momentos de flash back, escolhe diminuir o personagem a uma espécie de Macunaíma paraibano e tende a ter um lado de desvario, de alucinação tropical, quando centra os interesses de Chateaubriand apenas no seu lado sexual ou no acaso, perdendo de vista sua percepção prática do mundo e sua visão original, dada apenas como um viés meramente oportunista.
O filme tem seus méritos? Tem. Se não se tratasse do grande personagem que trata seria, sim, um filme muito bom. É de um tropicalismo surreal com os personagens de animadores de auditório, meio clowns, meio galãs, quase canastrões, numa mistura entre um Chacrinha estilizado e os apresentadores de circo Fellininianos. Não deixa de ser uma retomada do escracho nacional sobre as relações promíscuas do poder e do sexo, porém, nos deixa sem saber, de fato, quem foi, o que fez, qual a importância de Assis Chateaubriand. Seja a de criar uma grande rede de jornais, introduzir a televisão, ou criar uma coleção de arte, como a do acervo do MASP, por meio de achaques, tudo, como as próprias relações amorosas, vira anedota. Tudo bem. Podem alegar que Fontes flerta com a antropofagia e com a iconoclastia. Não nego que pode ser, mas, o filme acaba como se passa: sem deixar rastro. Quando se termina de rir, infelizmente, Chatô desapareceu.