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sábado, agosto 28, 2021

A REPETIÇÃO INOVADORA DE UMA VELHA HISTÓRIA

 


O mundo nunca foi justo. Quando mais jovem acreditei na utopia de que a nossa geração, os nascidos na segunda metade do século XX, poderiam transformar o mundo num lugar de maior justiça social. Era um sonho das pessoas jovens e, grande parte de melhor formação da sociedade brasileira, muitos dos quais se embeberam de Marx, Engels, Gramsci, Marcuse e Jean Paul Sartre, que se apresentava como o intelectual engajado com  as causas sociais, acreditavam na capacidade de fazer mudanças rápidas. Havia a crença, pouco justificada cientificamente, de que seríamos capazes de mudar as condições sociais pela atuação dos intelectuais e pela conscientização dos trabalhadores. Olhando para trás não há como não sorrir da nossa ingenuidade. O conceito de classe social marxista em que nos baseamos-só os cegos pela ideologia-não conseguiram ver que se dissolveu pela realidade. Marx, que no fim da vida não era mais marxista-possivelmente torceria o nariz para uma infinidade de intelectuais que se dizem marxistas por repetir chavões sem nenhuma correlação com a realidade moderna. E olhe que Marx, apesar de seu indiscutível talento, depois de arrasar intelectualmente Bakunin ouviu dele a sua sentença definitiva quando confessou, com humildade, que não tinha condições de discutir com ele, mas, que, em compensação, Marx “não entendia nada da natureza humana”. Aliás, ele passou a vida inteira, praticamente, sem conseguir manter sua própria vida, o que, no mínimo, é constrangedor para quem se julgava capaz de tudo explicar. Há uma imensa quantidade de imitadores atuais-até mesmo sem saber. Principalmente jovens que não arrumam a própria cama, não se sustentam, não possuem formação intelectual, muitas vezes, nem exerceram qualquer tipo de trabalho, mas, se propõem a mudar o mundo. São os próprios homens que classificam os outros de mocinhos, bandidos, santos, medíocres, bons, ruins. Em geral, sem ter nem consciência da régua que usam para medir os outros e, menos ainda de que a história da humanidade tem sido uma história de vencidos e vencedores. Que o que fez o mundo avançar mais do que a educação foi o desejo de poder. E domar o egoísmo, o desejo de dominar, de poder dos homens é um processo, infelizmente, muito lento. É muito fácil julgar o passado e queimar, sem nenhum senso de ridículo e de falta de civilidade, a estátua de Borba Gato como se ele tivesse sido apenas um exterminador de índios, mas, a grande realidade é que a natureza humana mudou muito pouco, embora revestida de mantos mais elegantes. Esta aí, explodindo em nossos rostos, o problema do Afeganistão, que, no fundo, não é diferente das guerras de conquistas do passado (os escravos é que mudam). Nem do ambiente esfumaçado e obscuro do Brasil onde uma pandemia exacerbou a luta pelo poder sem nenhum respeito ao sofrimento dos mais pobres. E me espanta ver que pessoas que pensam que pensam tomar partido numa luta que só tem como vítima a população brasileira. Talvez, de vez que o mundo não mudou na sua essência, o que tem de novo na antropofagia brasileira é que os limites da capacidade de analisar estão totalmente perdidos e a nossa dita elite se comporta com o apetite dos conquistadores antigos. Enfim, a ferocidade do passado não desapareceu. Agora desfila impune no palco político, no Facebook, no Whatsapp, na vida real com  a naturalidade com que os índios andavam nus e comiam os inimigos antes e durante os séculos iniciais da colonização.

Ilustração: http://revoluciomnibus.com/. 

 

domingo, agosto 01, 2021

A IMPRENSA BATEU NO ICEBERG DA VIRALIZAÇÃO


 

Que nós vivemos tempos em que se repetem os pensamentos, as notícias e as imagens sem análise não se trata de novidade nenhuma. O que mais me impressiona, porém, é a completa falta de noção que passou a dominar as redações dos denominados órgãos de imprensa, a grande imprensa em especial, as agências de notícias e os portais que dominam a veiculação das notícias. É comum, repetindo as palavras de Millôr Fernandes de que “Imprensa é oposição, o resto é secos e molhados”, que os jornalistas sejam oposição ao governo (embora a moda tenha se acentuado, agora, pois, passaram anos aplaudindo governos anteriores), porém, o que se pede de quem escreve para o público é, no mínimo, que procure, mesmo colocando sua posição, analisar os fatos e não ser explicitamente contra e, fortemente, partidário. Até aparece, e aqui não digo que não possa ter algum conteúdo de verdade, como chamada para um artigo a citação de que “em um ano, Bolsonaro emitiu mais de 1,6 afirmações falsas ou enganosas”. Convenhamos que o presidente pode, de fato, ter mentido, mas, a base para isto provém de onde? A resposta é de que vem de uma pouco conhecida entidade denominada de Artigo 19, aliás, que criou um Relatório Global de Expressão. Nada contra organizações assim, mas, em geral, apesar de possuírem pessoas com espirito público e, muitas, capacitadas, são direcionadas por um viés que é nitidamente anti-bolsonarista. Na maioria das vezes são pessoas ligadas às causas de direitos humanos, de defesa de minorias, do politicamente correto, ou seja, é quase como analisar o presidente sob a ótica dos lulistas! Também é preciso ver que grande parte da população não tem o menor interesse no que Bolsonaro diz ou deixa de dizer. Bem, mas, esta não é a questão, no fim, pois até mesmo a agência de notícias do governo federal quando anuncia os resultados de indicadores o que faz? Ressalta o aumento da inflação, quando, efetivamente, a notícia mais relevante é a de que o Produto Interno Bruto-PIB, a soma de tudo que se produz em bens e serviços no país, na previsão do mercado financeiro aumentou!!! Esta aí o nó da questão. A imprensa trata de assuntos de menor importância e é uma difusora permanente de más notícias. Todo dia reprisa o número de mortos, mas, não dá nenhuma atenção ao fato de que o país vacina quase três vezes mais, hoje, do que os Estados Unidos. Não dá a mínima para uma recuperação visível da economia que é o que interessa para nós, pobres mortais, que precisamos de renda para sobreviver. Que isto atue contra o governo Bolsonaro é ruim. Sob o ponto de vista econômico é péssimo por não contribuir para a estabilidade e a previsibilidade, contudo, este é um problema de Bolsonaro. O que me incomoda é que, como alguém que gosta de redação e da imprensa, é que as redações pareçam dominadas por robôs. Até parece que o que importa é ser contra, o que basta é criar polêmica, fazer a notícia ter ar de sensacionalismo-algo antes execrado no jornalismo marrom. Até os termos que usam são amadoristas. Nos estimulam a ver o que “viralizou”. Meu Deus! Viralizar não é ser importante, notável nem mesmo fundamental. É, nas mídias sociais, o que dá mais citações, mais likes! Penso que o jornalismo perde totalmente sua importância quando se pauta pelas redes sociais. Vira, efetivamente, um prisioneiro dos robôs e dos algoritmos. É de ser perguntar: para que manter pessoas nas redações se tudo está padronizado? Se não há bons jornalistas fazendo a escolha e a análise das matérias; se as notícias, as visões e as fotos são as mesmas, então, não é de espantar que os ouvintes/leitores estejam migrando para as redes sociais. A imprensa desta forma está se tornando irrelevante e, o que é mais grave, sendo vista, cada vez mais, como menos confiável.

Ilustração: Em alta.