Hoje em dia é meio ultrapassado
demonstrar algum tipo de conhecimento, mas, para começar, tenho que me valer de
Platão quando escreveu que “A tirania se forma graças aos abusos do regime
democrático”. E, depois da ditadura de 64, quando nos retiraram as liberdades,
como se funcionasse alguma teoria do pêndulo, enfrentamos, nos tempos atuais, o
seu oposto, o democratismo. Ou seja, a falsa teoria de que a democracia deve se
estender a todos os campos sociais quando, ao pé da letra, a igualdade somente
se justifica perante as oportunidades e as leis. A liberdade tem sentido pleno,
mas, quando se fala em igualdade deve-se esclarecer onde na medida em que todos
nós somos profundamente diferentes.
Muitas vezes, a democracia, e
ainda mais a igualdade, é brandida como sinônimo de justiça, quando o princípio
da igualdade é um instrumento, conforme os preceitos constitucionais, muito
mais aceitável para medir desigualdades aceitáveis do que impor igualdades
desejadas por alguns grupos, na medida em que a validade de uma relação de
igualdade, ou de desigualdade, reside no fato dela ser, ou não, justa. Para
sermos modernos, atualizados, a rigor, o binômio que deve regular a vida
democrática, ao contrário do que muito se prega e se pensa, não é o de
liberdade e igualdade, mas, sim o de liberdade e justiça, como nos ensina
Norberto Bobbio. Em suma, igualdade não é um valor absoluto. E quando, como em
diversos aspectos da vida social, como se faz no presente, se acredita e se
utiliza isto para fazer leis, se acaba por criar injustiças sociais. É o que
acontece, por exemplo, com a imposição do regime de cotas nas universidades.
Procura-se compensar o fato de se
julgar alguém vítima da sociedade dando acesso a um patamar para o qual, por
mérito, não conseguiria, o que, na prática, retira vagas de quem teria este
direito e submete o “agraciado” a condições em que, talvez, não consiga se
adaptar ou ser vitorioso. Em suma, invés de se dar uma boa educação se tenta
compensar políticamente a falta de educação.
A grande verdade é que, quando,
como agora, se tenta, de qualquer modo, impor a igualdade na democracia,
somente se consegue aumentar a mediocridade. Isto, aliás, tem por base mesmo a
ideia de que todos somos iguais. Felizmente, não é verdade. Não somos. Há
pessoas que não podem , e não devem ir para uma universidade, e a seleção, a meritocracia
é a forma correta de verificar quem deve ir, ou não. È esta venda da ilusão de
que todos somos iguais que leva, hoje, todo mundo a pensar, que mesmo sem o
menor estudo, sem saber de nada, pode dar opinião em tudo. A televisão, por
exemplo, se tornou um palco de indivíduos vaidosos que não param de falar sobre
tudo a pretexto de qualquer coisa. Pessoas que tem seus 15 minutos de fama, sem
conhecimento e sem acesso à educação, dão conselhos de como governar sem a
menor cerimônia e tratam, com a simplicidade de barbeiros e motoristas, de
problemas complexos; atrizes despreparadas dizem como tratar a Amazônia ou o
Código Florestal, sob palmas de pessoas
que não enxergam um palmo adiante do nariz.
O Brasil do analfabetismo
gritante se gaba de conquistas tolas, enquanto esquece que estamos na era da
informação. Só os países com maior alfabetização e maior acesso às novas tecnologias
são os mais desenvolvidos do mundo. Nações que há 20 anos compartilhavam de uma
situação igual a do Brasil, como Chile, Irlanda e Coréia do Sul, se
desenvolveram e erradicaram a pobreza, justamente, por seus esforços na
universalização do ensino. O Brasil ainda vive a ilusão de que pode melhorar a
distribuição de renda e diminuir as desigualdades sociais legislando e mantendo
seu povo sem educação. E vende a ilusão de que todos somos classe alta com
rendimento acima de R$ 1.019,00 (Hum mil e dezenove reais). É a chamada “pauperização”
da elite que, para desmentir as mentiras oficiais, continua a comprar empresas
e ações no exterior, passear pela Europa nos melhores hotéis e beber vinhos
finos que custam dez vezes este valor. Mas, pela novilíngua oficial, não há diferença ente Eike Batista e um
professor de nível superior: ambos são classe alta. O professor, porém, é
taxado na fonte e Batista tem incentivos do BNDES e paraísos fiscais para
escapar da fúria do Leão. É a mesma igualdade do Imposto de Renda e da carga
tributária recheada de impostos indiretos: a igualdade da injustiça.