Não resta dúvida de que a taxa
Selic chegou, nos últimos tempos, aos seus patamares mais baixos. Mas,
ironicamente, por mais que o governo alardeie sua política de juros baixos, a
grande realidade é a de que, na prática, a queda dos juros não foi para todos.
Aliás, a bem da verdade tem sido para muitos poucos. Embora os clientes se
queixem da desinformação e das dificuldades de conseguirem taxas mais baixas no
próprio banco ou ao tentar migrar a dívida para outra instituição, a verdade é
que os bancos adotaram políticas que somente beneficiam os clientes que não tem
necessidade de crédito, ou seja, efetivamente, o crédito está mais difícil de
ser acessado, mesmo por quem tem conta salário, renda mais alta ou
investimentos no banco.
Principalmente para quem já está
endividado, a grande maioria das famílias brasileiras conforme informam as
consultorias e pesquisas existentes, os bancos fecham a porta na medida em que,
se oferecem crédito mais barato, é mais que provável que sejam tomados créditos
mais baratos para apenas quitar créditos mais antigos com juros mais altos, o
que, para eles, avaliam, não é um bom negócio. Assim, depois de tentarem
conseguir benesses do governo sem efeito, uma das primeiras coisas que os
bancos fizeram, com a queda dos juros, foi logo diminuir as possibilidades de
acesso ao crédito automático e nos limites do crédito pessoal e, ajudado, pelo
acesso que, agora, possuem limitaram os montantes a serem emprestados pelos
indivíduos e firmas. O reflexo imediato ocorreu sobre o produto na medida em
que o consumo tem sido alimentado pelo crédito e, como conseqüência, caiu o
produto e o investimento, daí, os níveis rasteiros de crescimento dos últimos
trimestres.
O governo até tenta com os bancos
públicos reverter esta onda baixando juros, porém, é um esforço setorial e
prejudicado pela própria burocracia dos bancos estatais que, numa compensação
para impedir níveis mais baixos de lucros, adota práticas draconianas, como
acontece com o Banco do Brasil que, ao arrepio da lei e do bom senso, dias
antes do vencimento de parcelas de algum tipo de contrato já arresta das contas
por antecipação o que será debitado, num claro desrespeito aos direitos do
correntista. Como resumo da ópera, temos que a queda da taxa de juros que
deveria beneficiar os clientes acabou por gerar uma contenção de acesso ao
crédito que piora o endividamento e a vida das pessoas. E, como os bancos são
ligados às financeiras e a compra de veículos e bens, há um endurecimento geral
das negociações e da forma de tratar os clientes. No caso de parcelas vencidas
de financiamento de veículos, por exemplo, se chega ao cúmulo de, por um
atraso, de uma ou duas parcelas se lançar todo o débito nos órgãos de controle
de crédito prejudicando sensivelmente quem já se encontra com problemas.
Neste momento em que a taxa Selic
chega a 7,5%, o que se tem percebido é que, para o consumidor, até agora, não se percebe os
efeitos das medidas do governo de incentivo ao crédito e ao consumo, e por
isto, sua postura tem sido cautelosa. Isto se reflete bem na queda do Índice de
Confiança do Consumidor (ICC) que, recuou 1% de julho para agosto, depois de
uma queda de 1,5% registrada no mês anterior. A constatação que se faz é a de
que as medidas de estímulo não se refletiram no orçamento das famílias. No caso
do governo, a economia feita com o menor custo dos juros, como também tem sido
carreada para pagamento de juros, em nada refresca a economia. Não se sabe o
que o governo irá fazer, porém, com o crédito contido, com as despesas públicas
estacionadas, um endividamento alto e um menor investimento, somente por meios
mágicos será possível fazer a economia alcançar um nível maior de crescimento,
mesmo fazendo, como tem feito, desonerações setoriais que são como cibalena
para doença grave.Pode até fazer com o doente se sinta bem, mas, não resolve.
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