Um grande estudioso do
inconsciente, a porção não compreendida da mente, o psicólogo suíço Carl Gustav
Jung, recuperou da alquimia medieval o termo “enantiodromia”, que, na sua
concepção, teria o significado de que qualquer tipo de superabundância de uma
força que produz o seu inverso. Assim, por exemplo, numa sociedade que cria
muitos freios e contrapesos, que limita a liberdade individual e coletiva, o
excesso de limites tenderá a gerar uma nova geração libertária. O oposto também
é verdadeiro (e comprovado). O que há de interessante na ideia é que não deixa
de ser um apelo e uma forma de equilibrar a sociedade, e as pessoas, o fato de
que este movimento pendular se torna um processo que tende a compensar o que é
danoso ao fluxo normal da energia psíquica, ou seja, o fato do excesso gerar o
seu oposto serve para manter a saúde social e mental.
A ideia também é boa na medida em
que possui o aspecto essencial da vida: a mudança constante. Há pessoas que se
aferram a algumas ideias e não mudam e, em certas circunstâncias, até alcançam
o sucesso desta forma, porém, se trata de casos excepcionais. O normal é a
mudança, de vez que tudo muda mesmo que, como escreveu Tomasi di Lampedusa
“Tudo deva mudar para que tudo fique como está”. Pensamento que traduz a
certeza de que a mudança de costumes, a evolução das pessoas e da sociedade é
muito mais lenta do que se pensa. Aliás, é preciso dizer aqui que nada tenho
contra Dom Quixote e suas lutas contra moinhos. Até estimulo alguns. É
necessário indispensável que existam os utópicos, os que sonhem com o mundo de
amanhã, mas, a construção do futuro é lenta, exige esforços diários, humildade,
menos individualismo e muito mais dialogo, construção de um grupo que pense da
mesma forma, porém, pela discussão, pela construção de uma base comum de
ideias, de uma constante troca de opiniões, num clima de liberdade e de
diversidade. É indispensável que a energia flua, que as idéias mudem, que os
conceitos se transformem, que se agregue pessoas para pensar e resolver os
problemas da sociedade. Numa sociedade complexa como a atual não existe mais
como as coisas serem resolvidas por um líder sozinho, por mais carismático e
talentoso que seja. É claro que o personalismo existe, e sempre existirá. As
grandes personalidades, os grandes líderes, são seres que são socialmente
moldados pelas circunstâncias para ocuparem certos espaços e resolverem os
problemas sociais com sua perseverança e força de vontade. No entanto, num
mundo cada vez mais multifacetado, usando os símbolos do futebol, hoje, tão
comuns na política, cada vez mais, o talento individual está sendo soterrado
pelo jogo coletivo. Não basta apenas ser Neymar. É preciso que se possua uma
equipe jogando junto para não virar Santos em dia de Barcelona. E, como
comprovou o Corinthians este ano uma equipe jogando coletivamente é muito mais
poderosa que apenas um ou alguns grandes jogadores jogando sem conjunto. Quando
não se aprende na escola -dizem os sábios-a vida ou o campo ensina.
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