Ao
nos aproximarmos da Copa do Mundo também nos aproximamos do primeiro
aniversário das grandes manifestações de rua que inundaram as cidades
brasileiras durante junho de 2013. É o momento de olharmos para trás e
perguntar em que resultou tanta movimentação, tanto barulho, tantas propostas
dispersas e o abalo sísmico sofrido pelo nosso sistema político que captou, ou
pelo menos fingiu captar, a mensagem de que a maioria da sociedade não se sente
representada por aqueles que, supostamente, deveriam cuidar de seus interesses.
É verdade que foram, na sua grande maioria, pessoas da classe média cobrando maior
representação, melhor qualidade das políticas públicas, mais saúde, educação e
uma gama de outras reivindicações que desfilaram pedindo maior eficiência e da
moralidade, porém, o apoio das classes mais baixas, apesar de menos ostensivo,
foi muito real.
Uma
primeira impressão é a de que os resultados, apesar dos discursos de que os
políticos “ouviram as ruas” é o de que se ouviram deve ter sido numa língua
estranha, de vez que não mudaram em nada. Continua abismal a distância entre o
que a população deseja e o governo, aqui envolvendo todas as instâncias
políticas, oferece. O que está na base da insatisfação popular somente tem se
agravado. É inegável verdade de que houve um achatamento da massa salarial
brasileira. Também é verdade que este achatamento se torna mais sensível nas
camadas da classe média onde o acesso à educação universitária, mesmo de
péssima qualidade, resultou numa diminuição expressiva dos ganhos de imensa
parcela de segmentos da classe média. Acrescente-se que se, sob o ponto de
vista macro, a massa salarial tem crescido este crescimento se dá pela
diminuição salarial. O aumento do emprego, tão fortemente alardeado pelo
governo, é um aumento de empregos de baixa qualificação e de baixa renda que,
de fato, inclui mais, porém, penaliza enormemente segmentos significativos da
classe média alta, seja pela forma de perda de empregos, ganhos ou até mesmo de
tributação mais elevada. E com a elevação da inflação esta base se consolida e
se amplia.
Ainda
mais que com a falta de um projeto real de desenvolvimento, na medida em que, efetivamente,
o reformismo petista somente mudou pontualmente as estruturas do Plano Real,
por sinal um plano de estabilização, permitiu que, via crédito e consumo, fosse
reduzido um pouco a pobreza, porém, sem tocar nos alicerces da imensa
concentração da propriedade dos patrimônios e ativos produtivos, o que, de
fato, impede uma melhor distribuição de renda, apesar da ficção da “nova classe
média” de R$ 1.200,00. O que se observa, desde que a crise eclodiu, é que o
governo, mesmo sem saber o que fazer, procura apenas manter a popularidade para
enfrentar as eleições e, posteriormente, quem sabe, buscar um projeto. Por
outro lado, a oposição, também sem saber o que fazer, não propõe nada de novo.
Nem sequer algo de impacto como, por exemplo, acabar com o imposto de renda, o
que seria uma bela ideia. Vamos chegar ao processo eleitoral marcado por esta
imensa falta de clareza na agenda futura. Embora ambos saibam que querem o poder, nem o governo nem a oposição sabem o
que fazer e, com uma correlação de forças que somente se une no seu descontentamento
com a situação, é impossível saber o que pode acontecer, inclusive, porque a
própria população também não sabe o que quer. O grande perigo, ou talvez a
solução se quem encarnar a resposta for competente, é que podemos ter muitas
surpresas até a eleição. Mas, será preciso mudar, radicalmente, a forma de
fazer política no país, sob pena de ingressarmos numa fase de dificuldades que
nos levarão a novos tempos de ruptura institucional.
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