Ao contrário do que se
veicula o problema maior da reeleição de Dilma não é a queda na pesquisa
CNI/Ibope que, em geral, tem maior efeito apenas nas classes mais politizadas.
Embora a queda da popularidade acentue os problemas e, de fato, tenha
acontecido no pior momento para o governo até agora, uma boa leitura mostra que
é apenas mais um sinal no ponto de inflexão de um governo que não fez o seu
dever de casa. Por mais que o controle da imprensa, por meios econômicos, a
propaganda intensa e a tentativa permanente de sufocar a oposição seja um traço
do poder opressivo que busca se tornar único do PT, os furos no dique se
acumulam e todos eles derivam da incapacidade administrativa do governo seja em
relação à política econômica, ao atendimento de suas bases ou na construção da
infraestrutura e oferta de serviços básicos à população.
Há uma questão
insolúvel na estratégia do Partido dos Trabalhadores que é o de desejar se apresentar
como um governo de “todos” quando, ostensivamente, faz sua política se baseando
nas camadas economicamente mais frágeis da sociedade, ou seja, o que antes
criticava, o coronelismo das antigas elites, é, hoje, a sua força. Basta
verificar que foram os grotões que elegeram Dilma e não as camadas da população
de maior escolaridade e renda. E, no momento, são os grotões que escapam de seu
controle. Antes, porém, a situação era completamente diferente. Os grupos de
menor renda não estavam, como estão agora, descontentes com o governo. Havia
uma aprovação enorme de Lula, a inflação sobre controle, o crescimento da
economia vendendo esperança de dias melhores e Dilma era uma desconhecida
avalizada pelo otimismo que o governo trescalava.
Hoje, o panorama é outro.
Além da insatisfação geral demonstrada nos movimentos de junho do ano passado,
os descalabros visíveis, como os dos gastos da Copa e da Petrobras, a
intervenção governamental que desestimulou os investimentos no País e a fuga
até mesmo de capitais nacionais e o agravamento dos problemas das contas
externas se misturam com a falta de capacidade do governo de negociar quando
encontra resistência. O normal é desejar satanizar quem se antepõe aos seus
desejos o que, muitas vezes, dá certo, porém, é um recurso que está se
esgotando na medida em que os aliados sentem que só o são na hora de apoiar. E,
para piorar, vivem sob a ameaça constante de operações policiais que acusam de
serem dirigidas contra quem não se comporta conforme o figurino. Agora mesmo o
senador Clésio Andrade se queixa de que, por ter assinado a CPI da Petrobras, o
ameaçam com retaliação via o erroneamente denominado “Mensalão de Minas”.
O problema é que o que
antes funcionava não funciona mais. O governo perde ostensivamente a batalha das
ideias. Seja no Facebook, nos blogs, nos jornais, nas filas, que parecem ter se
multiplicado em todos os cantos, xingar o governo está se tornando o esporte
favorito. É bem verdade que quase todos dirigentes e políticos, mas, Dilma está
passando a ocupar um significativo lugar de destaque. E o que é mortal para as
eleições, e a obtenção das assinaturas para a CPI da Petrobras sacramentou, é
que, para os políticos, como para grande parte da população, ela não representa
mais esperança, o que eleitoralmente é mortal. As defecções não se acumulam por
acaso: os políticos sentem que os sinais indicam os caminhos da mudança.
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