Quando se olha para
trás e se observa a eleição da atual presidente, Dilma Roussef, se constata que
o Partido dos Trabalhadores-PT e seus candidatos estavam numa situação muito
mais confortável. Lula conseguiu, com uma estratégia esmagadora e a fragilidade
e incompetência da oposição, fazer Dilma vencer a eleição para a Presidência, em
grande parte pelo fato da economia brasileira, aparentemente, andar bem, pois,
se gabavam, com farta publicidade, de ter superado o baque causado pela crise mundial
de 2008 e, para demonstrar isto, mesmo sem pesar os custos, trabalharam (e
abriram generosamente os cofres) para que o crescimento do Produto Interno Bruto-PIB,
em 2010, atingisse, na única vez que se conseguiu isto no governo petista, o
recorde de 7,5%. Nem mesmo o alerta da
inflação alta de 6,71% afetou o resultado, de vez que, para gregos e troianos,
se exibiam os números do aumento de emprego, de renda da população e a
continuidade de uma política que se trombeteava correta.
Calaram-se, sufocados
pelos alaridos e a propaganda eleitoral, o fato de que nada havia mudado substancialmente.
A carga tributária continuava a ser a mais elevada do mundo, os juros
continuavam a ser altos (embora suavizados), a desindustrialização era, como
tem sido, contínua e, o mais significativo dos sinais, os investimentos, para
quem conhece economia a única forma possível de aumentar o PIB no médio prazo, continuava
no mesmo patamar do início do século. De nada adiantava alertar, como se alertou,
que as palavras otimistas de Mantega de que teríamos “quinze anos de
crescimento sustentável” não se sustentavam; que, sem investimentos, o voo de
galinha voltaria a se repetir, seria inevitável. E, para tentar evitá-lo, houve
mesmo esforços de facilitar o crédito, estimular o consumo e até mesmo de
desonerar certos setores, mas, como seria de se esperar, esforços inúteis.
O governo petista tem
um pecado original: é contra o sistema de mercado. Tem a filosofia de tentar
controlar o mercado, de influir no mecanismo da oferta e da procura por um
voluntarismo que a história já provou ser inútil. E, dentro de tal filosofia,
construiu uma política econômica contraditória que, ao mesmo tempo, que não faz
a lição de casa de cortar os gastos públicos e tornar as despesas públicas mais
eficientes tenta controlar a inflação aumentando as taxas de juros, ou seja,
dando um tiro no próprio pé, de vez que, pelo menos, um terço de suas dívidas
são indexadas aos juros. Também apresenta uma péssima execução dos programas e
projetos, inclusive o Plano de Aceleração do Crescimento-PAC, uma peça
publicitária que envolve no mesmo saco investimentos públicos e privados, mas,
onde a execução acontece apenas nos projetos privados. Nunca antes neste país,
para usar o chavão lulista, se conseguiu um recorde tão grande de obras
públicas paradas, de projetos que não saem do papel. E o resultado também é visível: os gargalos da infraestrutura, os péssimos serviços públicos, o sucateamento da educação e da saúde.
Acrescente-se que o
bem-estar que as pessoas sentiam antes, com o crédito farto e ganhos salariais,
desapareceram com Dilma. Hoje, o endividamento geral e os salários que
despencaram, a falta de bons empregos (o mercado desemprega os salários altos e
emprega os de baixo custo), a reposição magra azedam o humor em relação ao
governo. E a inflação se tornou um perigo real, embora o governo deseje pregar
que se trata da oposição ou de muita imaginação de quem afirma isto. Porém, é a
realidade do mercado onde a alta dos preços atinge quase todos os setores
econômicos, mas, bate mais forte na alimentação e nos produtos dos supermercados,
os insumos básicos, do dia a dia. Hoje, o descontentamento surdo vem de quem tem
contas para pagar e, no fim do mês, percebe como subiram os serviços de
cabeleireiro, manicure, escola, curso de inglês, telefone, gasolina, passagem
de ônibus, alimentação e tantas outras coisas. Se Dilma Rousseff e Lula
desconhecem esta realidade, e somente tratam de agradar o PMDB e o PT que
brigam pelo supérfluo , é porque suas despesas são custeadas por outros. Mas,
seria de se esperar que, pagando tantos assessores regiamente, estes, pelo
menos, alertassem que, com a situação inflacionária atual, com o
descontentamento silencioso que se propaga, a reeleição petista é um osso duro
de roer mesmo contando, como conta, com uma poderosa máquina de propaganda, a
boa vontade da imprensa e dos institutos de pesquisa e uma imensa quantidade de
comissionados. Afinal o Titanic também parecia sólido.
Ilustração: www.lepanto.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário