Embora não possa negar
a idade, de fato, pelas probabilidades estatísticas estou mais pra lá do que
pra cá, com os meus próximos sessenta e quatro, não me considero um saudosista.
Em termos, no carnaval e na música, reconhecidamente sou. E já tendo vivido os velhos carnavais do Rio
de Janeiro, de Recife, Salvador e Porto Velho, certamente, tenho sólidas razões
para ter saudades. Afinal quem conheceu os carnavais de outrora não pode olhar
senão, com uma certa nostalgia, os carnavais atuais. A grande realidade é a de
que, apesar da festa ter crescido em tamanho, perdeu em uma série de outros
quesitos, entre eles, os mais sensíveis de paz, beleza e alegria.
Hoje, Porto Velho, por
exemplo, estava um convite ao sono, como ontem, aliás, quando a Banda do Vai
Quem Quer, uma tradição mantida duramente por Manelão, foi, por fim,
interrompida. Não foi, efetivamente, a primeira tentativa. O carnaval de Porto
Velho veio vindo, morrendo aos poucos, com intervenções de autoridades que impuseram
regras e censuras a bailes, corsos, carros alegóricos, enfim, acabando com o
desfile que já foi um dos pontos altos dos dias de Momo. Ultimamente nem mesmo
a subvenção pública salvava os blocos de parecerem uma paródia dos velhos
tempos, sem graça, sem samba, sem a alegria que, no passado, fazia o carnaval
ser carnaval. Sem contar que sumiram muitos dos complementos que faziam sua
beleza.
Se não me engano
começou quando Jânio Quadros era presidente da República e proibiu o uso de
lança-perfumes. Depois, mudaram o desfile, por razões diversas de um lugar para
o outro, e sumiram as serpentinas, os confetes, as fantasias e até mesmo os
bailes maravilhosos de outrora, como foram os do 5º BEC, do Ypiranga,
Ferroviário e outros sempre muito prestigiados pelo povo até porque, agora, se
cobra uma fortuna sobre direitos autorais, de forma que utilizar músicas se
torna quase inviável. O que vemos, hoje,
aqui em Porto Velho, é o que sobrou da resistência: poucas, modestas escolas de
samba, que teimam em desfilar com enorme esforço pessoal de alguns abnegados. Eles
lutam, mas, o carnaval não tem mais o mesmo encanto e não temos perspectivas de
reviver os velhos tempos.
Não é muito diferente
mesmo no Rio ou em Salvador. O carnaval, por lá, virou um grande negócio que
engorda diretorias de escolas e blocos, hotéis, fazedores de abadás, e o que
acontece de real mesmo é a aglomeração dos jovens, com roupas padronizadas, em
torno de bares e casas noturnas. Ah! Tem o desfile da Sapucaí. Outro grande
negócio que virou palco de desfile de celebridades enxertadas com silicone.
Longe, bem longe, estamos dos sambas enredos de verdade, uma mistura de samba
do crioulo doido e ingenuidade que tinha sabor. Hoje até o samba tem gosto de linguiça.
Nem queira saber como se fabrica.
Não, por acaso, me vi
revendo Capiba, Nelson Ferreira, as velhas marchinhas de carnavais passados,
como a de Francisco Alves cantando “Ó pé de anjo! Pé de anjo/ és rezador, és
rezador/ Tens o pé tão grande que é capaz de matar Nosso Senhor”. Neste
domingo, pensativo, ponderei para mim mesmo, que Nosso Senhor, mesmo vítima do
pezão pode ressuscitar. O carnaval brasileiro está difícil. Ingressou, definitivamente,
no mar da mediocridade geral. Prefiro o sossego que assistir a maior festa
nacional ter se transformado num imenso zumbi. Nós, brasileiros, estamos
provando que chegaremos ao passado sem ter tido presente. O carnaval de hoje é
um imenso velório disfarçado de alegria. As cinzas se espalham antes da
quarta-feira.
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