Se formos pensar em
termos de burocracia será imprescindível ir buscar o seu conceito em Max Weber.
É do sociólogo alemão a concepção científica da burocracia que ganhou com ele o
significado clássico de que a burocracia seria a organização eficiente por
excelência por conseguir explicar nos mínimos detalhes como as coisas deverão
ser feitas. Para Weber, aliás, a burocracia moderna não seria apenas uma forma
avançada de organização administrativa, com base no método racional e
científico, como também uma forma de dominação legítima. Para conceber esta
visão ele creditava aos burocratas os atributos que regem o funcionamento da
burocracia como formas de relações sociais das sociedades modernas.
Para Weber, a
burocracia e a burocratização são processos inexoráveis, ou seja, inevitáveis e
crescentes, presentes em qualquer tipo de organização, seja ela de natureza
pública ou privada, inclusive raciocinando que, sem a organização burocrática, o
desenvolvimento de uma nação seria retardado por ser indispensável ao funcionamento
do Estado um aparato burocrático para bem cumprir suas funções. Portanto, em
Weber, apesar de ter existido em períodos anteriores, só no contexto do Estado
moderno e da ordem legal é que a burocracia atingiu seu mais alto grau de
racionalidade, ou seja, a ação burocrática tende a visar, de fato, a eficiência
e resultados. É evidente, porém, que não conhecia o Brasil, nem a sua
capacidade de canibalizar conceitos, palavras e instituições. No Brasil como se
sabe o que menos existe em qualquer burocracia é racionalidade e busca de
alcançar objetivos. Numa síntese: desmoralizaram completamente a concepção de
Weber.
Por aqui o que vale
mesmo é a famosa concepção popular, e certeira, de que a burocracia é uma
organização lenta, vagarosa, mal educada e na qual os papéis e atestados sempre
se multiplicam para impedir soluções rápidas ou eficientes. O termo é empregado
não somente com o sentido de apego dos funcionários aos regulamentos e rotinas,
causando ineficiência à organização, como também pela singular jabuticaba de
criar dificuldades para vender facilidades tão próprias do país. No Brasil a
burocracia é um sistema de moer as pessoas que se caracteriza não pelos
atributos que Weber viu, mas, sim pelos defeitos que o sistema apresenta e
aprimora. No Brasil a burocracia é o suprassumo da crueldade e da insensibilidade.
Tanto que ainda que você insista em dizer que está vivo, e peça para que
verifiquem a pressão e as digitais, de nada adianta se o sistema diz que você
morreu. E, se não tomar cuidado, o burocrata mata para dizer que o sistema está
certo.
Não se precisa ir longe
para verificar isto. Basta pinçar do pronunciamento de Dilma Roussef a notável atualização
da tabela do Imposto de Renda. Imposto de Renda que o contribuinte é obrigado a
fazer a declaração para ser taxado, ou seja, faz o papel da burocracia para ser
por ela explorado. Porém, a burocracia em nosso país é de uma crueldade
invulgar. Basta ir a um posto médico onde não se atende ninguém mesmo chegando
morrendo sem fazer uma ficha. Basta ver a concessão das aposentadorias que é um
processo de extorsão dos benefícios que se angariou pela vida. Basta verificar
que quando se trata de sugar recursos o Estado é rápido e insaciável, voraz
mesmo. Quando se trata de reconhecer direitos, porém, aí de ti contribuinte,
ninguém te fará justiça. A justiça só existe mesmo para os burocratas e seus
amigos. Crianças jamais verás um país tão burocraticamente cruel quanto este!
Nenhum comentário:
Postar um comentário