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domingo, novembro 30, 2014

Nada será como antes


Que o Brasil é um país surrealista sempre se soube. O que espanta, agora, é que o surrealismo está chegando a um ponto tão surreal que a palavra parece despida de sentido para descrever o que acontece. O caso mais emblemático é o da Petrobras, onde se fala em devolver milhões como se fosse dar um troquinho para o pedinte da esquina. Ora, se um deles, apenas um, dos envolvidos concorda em devolver mais de US$ 100 milhões, então, não há como não se ter certeza que as coisas não são muito piores do que se pensa. Ainda mais quando partidos, e parlamentares, sabe-se que estão na mira da Polícia Federal e seus nomes pendentes dos ministros do Supremo Tribunal Federal para serem processados. Até os ministros, abrindo mão do silêncio que, em geral, cultuam, se mostram pasmos diante dos valores furtados na corrupção da empresa de petróleo brasileira. E não se mexe uma palha com sua direção. Nada parece abalar a cúpula, com exceção de um braço do PMDB, que, por sinal, caiu mais por ingerência externa.
O outro lado do surrealismo vem da questão do superávit primário. Neste o Congresso ameaça fazer uma lei para desmentir a lei que instituiu os critérios de gestão. É como, no fim do jogo, se modificar as regras para que o time ganhe com a participação ativa do juiz. O absurdo consiste mais ainda em que, como já existiram dirigentes condenados pelo não cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, se implanta, definitivamente, a regra de que a lei, nos tempos atuais, é delimitada pelo tamanho do poder do infrator. Quanto ao conceito, ao princípio de responsabilidade fiscal, é como se colocassem um carimbo definitivo de arquivado. A coisa é tão esdrúxula que os novos ministros da área econômica querem evitar completamente qualquer tipo de relação com a manobra heterodoxa. Pelo que se anuncia só tomam posse depois que a lei for aprovada no Congresso. E o governo, de qualquer forma, inclusive oferecendo nacos de participação na sua composição, vai aprovar a mudança. É o uso ilimitado, escancarado mesmo do toma lá, dá cá, para obter os votos necessários.
E o que se pode esperar dos novos ministros? Novos? Na Fazenda, Joaquim Levy, no Planejamento, Nelson Barbosa, e continua o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini parecem já muito velhos. Ah! Pelo menos anunciam que vão dar as diretrizes da política econômica a partir de 2015, com foco no ajuste das contas públicas. Como diz um famoso chef de cozinha: “Que marrravilha!”. Vão anunciar que as panelas receberão as receitas que sua excelência, Dilma Roussef, estigmatizou durante toda a campanha eleitoral. O processo de gestação de um pacote que inclui grandes novidades, como cortes dos gastos públicos, contenção de despesas, enfim, o que se negava que seria preciso.

O problema é que as dificuldades não param por aí. A eleição da presidente, que havia prometido crescimento econômico, se fez com enorme desgaste de sua credibilidade e o pacote previsto que limita o crescimento dos gastos correntes, reduz o pagamento de seguro-desemprego, abono salarial e busca elevar as receitas é, justamente, o que grande parte dos que a apoiaram não desejava. Com o desgaste da gestão pouco eficiente, do escândalo do Petrolão e os tempos difíceis da economia, nada será como antes. E se não houver diálogo, se não se comportar com o mínimo de capacidade para unir os apoios frágeis do parlamento, certamente, nem a nova equipe salvará o governo de uma situação que se complica quanto mais o tempo passa. 

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