Que o Brasil é
um país surrealista sempre se soube. O que espanta, agora, é que o surrealismo
está chegando a um ponto tão surreal que a palavra parece despida de sentido
para descrever o que acontece. O caso mais emblemático é o da Petrobras, onde
se fala em devolver milhões como se fosse dar um troquinho para o pedinte da
esquina. Ora, se um deles, apenas um, dos envolvidos concorda em devolver mais
de US$ 100 milhões, então, não há como não se ter certeza que as coisas não são
muito piores do que se pensa. Ainda mais quando partidos, e parlamentares, sabe-se
que estão na mira da Polícia Federal e seus nomes pendentes dos ministros do
Supremo Tribunal Federal para serem processados. Até os ministros, abrindo mão
do silêncio que, em geral, cultuam, se mostram pasmos diante dos valores
furtados na corrupção da empresa de petróleo brasileira. E não se mexe uma
palha com sua direção. Nada parece abalar a cúpula, com exceção de um braço do
PMDB, que, por sinal, caiu mais por ingerência externa.
O outro lado do
surrealismo vem da questão do superávit primário. Neste o Congresso ameaça
fazer uma lei para desmentir a lei que instituiu os critérios de gestão. É
como, no fim do jogo, se modificar as regras para que o time ganhe com a
participação ativa do juiz. O absurdo consiste mais ainda em que, como já
existiram dirigentes condenados pelo não cumprimento da Lei de Responsabilidade
Fiscal, se implanta, definitivamente, a regra de que a lei, nos tempos atuais,
é delimitada pelo tamanho do poder do infrator. Quanto ao conceito, ao
princípio de responsabilidade fiscal, é como se colocassem um carimbo
definitivo de arquivado. A coisa é tão esdrúxula que os novos ministros da área
econômica querem evitar completamente qualquer tipo de relação com a manobra heterodoxa.
Pelo que se anuncia só tomam posse depois que a lei for aprovada no Congresso. E
o governo, de qualquer forma, inclusive oferecendo nacos de participação na sua
composição, vai aprovar a mudança. É o uso ilimitado, escancarado mesmo do toma
lá, dá cá, para obter os votos necessários.
E o que se pode
esperar dos novos ministros? Novos? Na Fazenda, Joaquim Levy, no Planejamento,
Nelson Barbosa, e continua o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini
parecem já muito velhos. Ah! Pelo menos anunciam que vão dar as diretrizes da
política econômica a partir de 2015, com foco no ajuste das contas públicas.
Como diz um famoso chef de cozinha: “Que marrravilha!”. Vão anunciar que as
panelas receberão as receitas que sua excelência, Dilma Roussef, estigmatizou durante
toda a campanha eleitoral. O processo de gestação de um
pacote que inclui grandes novidades, como cortes dos gastos públicos, contenção
de despesas, enfim, o que se negava que seria preciso.
O problema é que as dificuldades não param por aí. A
eleição da presidente, que havia prometido crescimento econômico, se fez com
enorme desgaste de sua credibilidade e o pacote previsto que limita o crescimento
dos gastos correntes, reduz o pagamento de seguro-desemprego, abono salarial e
busca elevar as receitas é, justamente, o que grande parte dos que a apoiaram
não desejava. Com o desgaste da gestão pouco eficiente, do escândalo do
Petrolão e os tempos difíceis da economia, nada será como antes. E se não
houver diálogo, se não se comportar com o mínimo de capacidade para unir os
apoios frágeis do parlamento, certamente, nem a nova equipe salvará o governo
de uma situação que se complica quanto mais o tempo passa.
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