Por uma dessas felizes
coincidências estava lendo o livro “Eu sou Anastácia-histórias de uma rainha”,
da historiadora Lêda Dias, com a própria Anastácia (Lucinete Ferreira), editado
pela FacForm do Recife, na mesma semana em que a TV Globo veiculou “Gonzaga- De
pai para filho”, sobre a trajetória de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, seu filho. É
muito prazeiroso, como nordestino, estar assistindo, mesmo que por um tempo
breve, homenagens que são feitas a verdadeiros ícones nordestinos (e
brasileiríssimos, por sinal) como são Luiz Gonzaga e Anastácia. Um dos pontos
fortes, por exemplo, do livro de Anastácia é, justamente, o fato por seu
depoimento amplamente demonstrado, que jamais cultivou, como é usual hoje, o
marketing, a busca de se tornar um ídolo, uma estrela. Caminho diferente não
trilhou Luiz Gonzaga, que sempre foi o que foi, um operário musical com enorme
talento. Luiz se tornou uma lenda muito mais pelo trabalho contínuo, por sua
forma de ser e de se comportar, como um sanfoneiro, um artista de sua terra do
que qualquer outra coisa. Anastácia, que não teve tanta fama, é sua face
feminina. Ele foi uma “Anastácia de calças”; ela, um “Luiz Gonzaga de saias”.
Ambos, artistas insuperáveis que percorreram o Brasil, ainda no tempo dos
circos, levando beleza e alegria aos rincões mais longínquos de nosso país.
Se, no filme, o destaque está
para a vida, nem sempre em linha reta, de Gonzaga e a tumultuada relação
familiar, em especial com o filho, o que se destaca no livro de Anastácia é sua
coragem, sua ousadia, sua alegria de viver, que se esparrama mesmo nas piores
situações. Em ambos as criações tomamos contato com a figura real de Luiz
Gonzaga, uma pessoa generosa, mas, ao mesmo tempo, casmurra, com certos padrões
nordestinos antigos entranhados que, hoje, seriam considerados “preconceitos”,
porém, que revelam os padrões éticos e o caráter de uma certa época, mesmo que
com suas contradições, na medida em que não somos perfeitos. Mas, é a
humanidade dos personagens, suas qualidades e defeitos que o tornam ainda mais
louváveis. Ser artista jamais foi fácil e, ser capaz de ter destaque no meio,
exige certos sacrifícios que só compreende quem os enfrenta, embora, hoje, o
sucesso, seja, aparentemente, uma coisa mais fácil de ser conquistada.
Todavia, o que se destaca nas
figuras de Luiz Gonzaga e de Anastácia não é, simplesmente, o sucesso. É o fato
de que se tornaram símbolos, exemplos de trabalho, de determinação, de
permanência, de qualidade. São padrões que, de uma forma ou de outra, estão
presentes no imaginário popular por sua importância e representatividade. Muitos
outros existem que trilharam os mesmos caminhos. Impossível, por exemplo, não
lembrar de Marinês, de Jackson do Pandeiro, de João do Vale, de Waldick Soriano,
de Genival Lacerda, do Trio Nordestino e do próprio parceiro maior de
Anastácia, Dominguinhos. São nomes de pessoas, entre muitas outras, que, no
Brasil do passado, enchiam os circos de plateia, levavam multidões aos auditórios
de rádios e televisões, encantavam cantando nas ruas, se necessário. São
artistas que, em Luiz Gonzaga e Anastácia, tiveram representantes máximos do
forró, do baião, do maxixe, de canções de amor e de sofrimento que marcaram e
marcam a alma nordestina. Luiz e Anastácia, são, de formas diferentes, os expoentes máximos de uma época, embora ele o seja pelo todo de sua obra e ela, pela sua capacidade de transformar em canções a vida de seu povo.
Um comentário:
Esta senhora entre Luiz Gonzaga e Anastacia é minha Bisavó, achei por acaso essa imagem e vim olhar se o nome dela seria citado. Ela se chama Anita Matos, Anita do Cipó como chamava seu Luiz Gonzaga. E essa foto inclusive foi tirada na casa dela, eu tinha mais fotos, mas algumas eu perdi por conta de varias mudanças.
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