O professor escocês Angus Deaton foi premiado com o Nobel
de Economia. Não discuto seu merecimento ao prêmio, nem seu trabalho. Qualquer
economista ou intelectual que se dedique, como foi o seu caso, a desenvolver um
trabalho no qual procura diminuir a pobreza partindo do ponto de vista de que, segundo
o comitê responsável pela escolha, "Para elaborar políticas econômicas que
promovam o bem-estar e reduzam a pobreza, devemos primeiro perceber as escolhas
de consumo individuais” é digno de elogios e prêmios. É um pensamento que busca
encontrar os mecanismos entre o agir individual e o comportamento macroeconômico,
o que revela a visão de um pensador.
O que me incomoda, como já incomodou no ano passado quando
o prêmio também contemplou uma visão macroeconômica da regulação, é o fato de
que a contribuição do agraciado foi de construir modelos abstratos que buscam
captar as escolhas das pessoas e empregar métodos estatísticos
apropriados em suas estimações. Dizem que, com seus trabalhos, se avançou
muito na estimação de um sistema de demanda por bens e serviços.
Sinceramente, sou, como economista, ainda um grande cético
dos modelos econométricos que, embora pense que podem ajudar na economia,
jamais surgirão de suas abstrações os reais entendimentos dos mecanismos
econômicos. Afinal, para se estimar um sistema de demanda, se precisa de uma
teoria. É necessário, antes de mais nada, um modelo da escolha do consumidor,
ou seja, uma representação abstrata das preferências das pessoas que gera, como
resultado, suas escolhas de consumo. Aí,
para mim, está o busílis da questão. Como se ter um modelo correto? É um
problema complicado. Porém, isto não parece abalar os que utilizam uma combinação
de modelos, métodos estatísticos e dados sobre indivíduos e/ou firmas, a norma
na pesquisa em economia, que, supostamente, acaba, segundo eles, por trazer
resultados relevantes. Continuo a pensar que um modelo, macroeconômico ou
microeconômico, se constitui num conjunto de equações que tenta
representar a economia como um todo, mas, me parece que, quanto mais
complicados ficam os modelos, são, ainda assim, uma representação
muito simplificada da economia real. Não tiro os méritos de muitos estudos
deste tipo, porém, sou cético sobre o avanço do entendimento econômico passar
pelo uso cada vez mais intensivo de modelos matemáticos e computadores. E,
sinceramente, me parece impossível que, por exemplo, o estudo que elaborou nos
anos 80, com seu colega John Muellbauer, de um conceito de “Sistema Quase Ideal
de Demanda” (AIDS, na sigla em inglês), que estudava o comportamento dos
consumidores seja muito mais do que um exercício intelectual que, dificilmente,
terá algum uso prático. Por isto considero muito mais importante o pensamento
de Deaton e seus trabalhos para medir pobreza e desigualdade.
Não sei o que as pessoas pensam, mas, como economista me
incomoda muito que, o que aparece como evolução na Economia, não deixe de ser,
aos olhos leigos, tremendamente banal. É verdade que, às vezes, explicar as
coisas mais simples, cientificamente, é complicado, mas, nos casos recentes do
Nobel de Economia, estimar demandas na economia e/ou a necessidade de regulação
do mercado não parece ser um avanço significativo, principalmente, quando se
culpa os economistas por tantas coisas no mundo que não funcionam. Ainda mais
quando se espera que, como médicos, os economistas tenham as receitas para
aplacar as dores do mundo.
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