Total de visualizações de página

domingo, agosto 28, 2016

SAUDOSISMO RONDONIENSE


Postaram, no Facebook, no grupo Saudosismo Portovelhense, o primeiro ônibus de linha a chegar em Guajará-Mirim, em 1967. Isto me levou a pensar como os ônibus mudaram. E os usos e costumes desde quando, em meados da década de 70, aportei em Porto Velho. Ainda se comia tartarugas no seu Amorim, na Pedro II. No fim da tarde, havia um tacacá no centro ou ainda se comia uma boa maniçoba. Nem falo de caranguejo ou de deliciosas tapiocas no café da manhã. Mas, é da vida, as coisas passam. Porto Velho possuía um bom carnaval, festas juninas maravilhosas, um ar provinciano e pacato que sumiu com o tempo.

Somem muitas coisas no tempo. O Luís Matos, um escritor de fatos e coisas do Guaporé, lembrava que sumiu o costume de dançar a “Desfeiteira”, dança típica do Vale do Guaporé ao som de acordeon, sanfona ou fole, qualquer nome que se queira dar, que podia ser acompanhada do pandeiro, se existisse, mas, invariavelmente, do bombo, um instrumento de percussão, feito artesanalmente de couro de viado retesado sobreposto a um pau oco de um metro. Um instrumento rústico de bom som, porém, de poucas notas, daí o som monótono e repetitivo, o mesmo tra-lá-lá sempre. Que era animado era. A diferença da dança consistia em que, quando o sanfoneiro parava, o par que se encontrasse na sua frente tinha obrigação de dizer um verso alto para todo mundo ouvir. Muitas vezes os versos que saíam eram irreverentes e havia pares que fugiam, mas, o sanfoneiro ia atrás para obrigar todos a declamar um verso. Muitos eram jocosos e, mesmo os imorais, eram de uma imoralidade implícita. Também sumiu o costume denominado “saca-borracho” (tira bêbado) que era o de, logo ao começar o baile, o dono da casa apresentar uma criança de colo como autoridade máxima. Se alguém se excedia na cachaça, logo aparecia o pai com a criança e o mandava dormir. Ia compulsoriamente, sem reclamações. Outro costume que desapareceu foi a  parte do chapéu, que era um baile onde um dos dançantes aparecia com um chapéu e dançando colocava na cabeça do outro. Que procurava se livrar rápido, pois, se a parte terminava, a música parava, quem estava com o chapéu na cabeça pagava um litro de vinho para as damas. São costumes que se perderam no tempo. Como o famoso “Bloco da Cobra” são só saudosismo rondoniense. 

sábado, agosto 27, 2016

As amizades verdadeiras ultrapassam o tempo



DE AMIZADES, SAMAUMEIRAS E FÉ

“A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro” (Platão).


Ter amigos é uma dádiva. Para lembrar que as amizades são raras um dos consensos que existe é de que os verdadeiros amigos se contam na ponta dos dedos. Também se afirma que a verdadeira amizade, como o verdadeiro amor, resiste à distância, ao tempo, as dificuldades e aos dissabores. Mas, como as plantas devem ser regadas. E, toda esta introdução, é apenas para poder falar de uma bela amizade que une duas grandes figuras da Amazônia por décadas: Euro Tourinho e Almino Affonso.
Iniciada nos velhos tempos de Porto Velho, quando ainda eram crianças, ambos, são grandes cultivadores de amigos, tanto que possuem mais amigos do que o normal, porém, jamais, entre eles, deixaram de estar presente por uma carta, no passado, por um e-mail, no presente, pelo envio de um convite ou de um livro ou ainda a lembrança de uma data importante. E isto fica mais uma vez comprovado quando, depois de Euro ter sido homenageado com no lançamento do livro “Euro Tourinho, a Samaúma da Imprensa Amazônica”, Almino Affonso, que não teve como vir, gentilmente envia um bilhete para Euro com as seguintes palavras:

“Caríssimo amigo:

Na singeleza desse soneto, escrito em Porto Velho nas férias de 1948, eu já previa o teu destino de ‘Samaúma’.

Grande Abraço
Almino Affonso

E anexo o soneto agora transcrito:

SAMAUMEIRA
                                              Para Euro Tourinho
Samaumeira! Lianas e flores, em festa,
Descem da copa imensa que a amplidão fareja...
E o sol, em sangue e ouro, portentoso beija
A soberana-graça e força- da floresta.
Mas, quando, em transe, o vento sopra as tempestades,
E lhe fere, zimbrando, a colossal umbela,
Luta, esbraveja, cai...grandiosamente bela,
Porém, jamais se curva como os vis covardes!
Golpeada, ainda assim, vai soltando as sementes,
Louros, plumeos casulos, livres e frementes,
Que se livram e vão nascer léguas além...
Atenta: se algum dia na vida fraquejares,
Não importa....do amanhã na vastidão dos ares,
Na força de tua fé reviverás também!


Como se observa todas as grandes árvores, como as grandes personalidades, não desconhecem que viver é lutar e, para lutar o bom combate, é preciso ter fé. 

quarta-feira, agosto 10, 2016

EXPLICAÇÃO UM POUCO DESNECESSÁRIA


Embora tenha explicado no próprio livro, no entanto, sei que, muitas pessoas, não terão acesso a ele, bem, como até mesmo alguns que terão, não possuem paciência para ler mais do que algumas linhas, e, tenho me deparado, invariavelmente, com a pergunta que não quer calar: por que resolvi escrever um livro a respeito do jornalista e diretor do Alto Madeira Euro Tourinho?  Há uma, e só uma resposta clara para mim, realizei, mesmo que, tardiamente, o desejo de um amigo que me foi muito caro, o também jornalista Sued Pinheiro.
Foi Sued quem, por inúmeras vezes, me chacoalhava e me cobrava “-Vamos escrever um livro sobre ‘seu’ Euro”. Devo dizer que, no começo, a ideia me parecia pouco atraente. Não pelo Euro, que é uma pessoa querida, amável, porém, devo confessar que sou um preguiçoso nato e, para me dedicar a pesquisar alguma coisa é preciso ter paixão. No caso, não nego meus pecados, também pensava que, como havia sido nosso chefe de jornal, poderia parecer algo com certa aura de bajulação. Ele, porém, não desistia e, sempre que possível, não só voltava a tocar no assunto, bem como me admoestava sobre a necessidade de homenagear as pessoas em vida. Sempre, com um certo descaso, afirmava que, nós é que deveríamos ter cuidado, pois, Euro Tourinho, certamente, assistiria muitos de nós partirmos antes. Só não contava que Sued fosse um dos que partiram e tão cedo. Com a sua morte, que me deixou, uns três meses, consternado, e até, em alguns momentos, sem crer, ou crendo que era ele que batia, como muitas vezes fez, na porta de minha casa, reformulei meus conceitos.

E entre as decisões da mudança decidi que, pelo menos, no caso de Euro, não cometeria o erro de não homenageá-lo em vida. De fato o livro “Euro Tourinho, a Samaúma da Imprensa Amazônica” é uma homenagem, que é mais do Sued do que minha, ao nosso querido diretor. E, ao contrário do que pensava, a tarefa foi prazerosa, de vez que não apenas nos aproximamos mais, como procurei tornar o livro como Euro é: leve, divertido, tentando fazer um relato de partes de uma vida de um homem sábio. Devo dizer que, no fim, o livro ficou muito aquém do homenageado, mas, tenho um grande orgulho e o prazer de ter feito. Afinal me associei, por vias tortas, a um homem que é uma lenda viva. E que ainda por muito tempo há de servir de exemplo de pessoa humana, de simplicidade e de ser o que é: uma pessoa que procura sempre fazer as coisas que devem ser feitas e viver feliz. 

Foto: Rosinaldo Machado