As relações do Brasil com a China terão, a partir de
agora, uma dura prova. É que, na atualidade, 80% das medidas antidumping do
Brasil são contra a China mesmo este país sendo o maior importador de bens
brasileiros. Acontece que, como a adesão de Pequim à Organização Mundial do
Comércio (OMC) e ao sistema multilateral do comércio, foi realizada em 2001,
agora, o processo, previsto para durar 15 anos, termina no próximo dia 11 de
dezembro. Até então, um país que se considerasse afetado por um dumping de
produtos chineses pode aplicar uma taxa extra cobrada nos portos contra o bem
importado e se utilizava como parâmetro os preços praticados dos produtos de
outras partes do mundo para demonstrar que os chineses estavam agindo de forma
desleal.
No entanto, a partir do dia 11, a China já sinalizou
que espera que esta regra mude e que os governos apenas comparem os preços
chineses com outros do mesmo país. Na prática, impor uma barreira ficará mais
difícil. E, mais do que isto, os chineses pretendem que todos os seus parceiros
comerciais o tratem como qualquer outro, o que significa menos chances de se
adotar barreiras comerciais. E, para tornar a questão mais complicada, os diplomatas
chineses já deixaram claro esperar do Brasil uma posição de "aliado",
principalmente diante dos compromissos assumidos por ambos no Brics. Em suma: a
China está pressiona o governo brasileiro para que passe a tratar suas
importações como faz com o resto do mundo e a considerar o país como economia
de mercado. E isto já tem sido tema de reuniões ocorridas em Pequim e em
Brasília. O certo é que os chineses já avisaram que não vão aceitar mais que
seus produtos enfrentem determinadas barreiras.
E aí que o bicho pega. Afinal já no ano passado, a
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
avisou ao governo que não se poderia mudar o tratamento dado aos chineses sob pena da
indústria nacional, que não peca por bons resultados, ficar numa posição mais
difícil ainda para competir com as importações chinesas. A posição do governo
brasileiro, até porque a exportação para a China, e a necessidade de obter seus
investimentos, é fundamental, tem sido ambígua. Por um lado, o ministro de
Indústria e Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, afirma que vai
cumprir os compromissos com os órgãos internacionais, mas, mesmo afirmando que
o setor industrial brasileiro está se adaptando às mudanças, diz, aos setores industriais,
que estão avaliando novos mecanismos de proteção que terão de ser criados. É o
que se chama de um abacaxi diplomático. E daqueles acrianos, bem grande mesmo.