Os setores mais ricos,
aliados com a esquerda supostamente progressista, até por oposição à Bolsonaro,
mas, sem nenhuma consideração pelas consequências econômicas, nos dois últimos
meses, criaram tanto ruído nos meios de comunicação e nas redes sociais, que,
embora seja o desejo majoritário da população mais pobre, esta não teve força, nem pressão política suficiente, para
conseguir o avanço na liberação das atividades. O fato é que, como há um
equilíbrio de forças, entre as tendências pró e contra o isolamento, isto
acabou privilegiando o combate à covid-19, em detrimento da economia, em que
pese o peso crescente da insatisfação da população pelo sofrimento causado. O
mal está feito. Não tem mais como serem recuperadas as empresas falidas, os
empregos perdidos, a produção não realizada. Os custos disto são sentidos pelas
finanças das empresas que sobreviveram e que, por pior que estejam, se preparam
para o passo seguinte de aceleração e investimento que terão que tomar em
relação ao seu futuro. Neste contexto, existe a angústia de se ter que agir
diante de um quadro de grande incerteza que deve se seguir à crise.
Considerando o histórico de crises recentes e de epidemias passadas, algumas
premissas são possíveis de se perceber como bases para uma orientação nas
tomadas de decisões:
·
Uma expectativa lógica, embora um pouco
distanciada da realidade, é a de que as pessoas tentarão reconstruir o estado
anterior, pré-crise. Muitos dos esforços terão a direção do resgate da vida
anterior.
·
Como pano de fundo será inevitável a busca
de medicamentos, tratamentos e vacinas eficazes para o covid-19.
·
Embora existam muitos arautos da tese de
que “o mundo não será mais o mesmo” as mudanças são lentas, o que não quer
dizer que não existirão, mas, em linhas gerais, as coisas seguirão o mesmo
curso.
·
A crise não atingiu a todos da mesma forma.
Assim as diferenças de setores, geográficas, de tamanho e de capacidade de
inovação gerarão dificuldades e oportunidades particulares para pessoas e
empresas.
·
Em que pese as polêmicas sobre a retomada
das atividades, mesmo que não vá ocorrer, como muitos preveem um retorno em ‘V’,
depois de seis meses, ou um ano, deve haver um crescimento econômico forte
resultante das oportunidades represadas pela crise. Este tem sido um
comportamento histórico no capitalismo.
·
Ninguém substitui sua ação nem sua
iniciativa. Isto também acontece com as empresas. A recuperação, mais rápida ou
mais lenta, é sempre resultado da ação, das iniciativas que são tomadas para
ocupar o seu espaço no mercado. E vai crescer mais quem estiver atento as
necessidades que surgirão.
·
É esperado que os governos, preocupados
com sua economia, atuem no sentido de propiciar mais recursos e mais crédito,
com taxas de juros mais baratas. No caso brasileiro, isto deve ser essencial em
especial para as micro e pequenas empresas. Nem todas, porém, irão conseguir
acesso (e outras, talvez, nem resistam), mas, as finanças serão um fator
essencial para o futuro próximo.
Um componente decisivo
para o sucesso no futuro próximo será a velocidade com que as empresas irão
ganhar espaço no mercado, inclusive substituindo as que foram engolidas pela
crise. Em outras palavras, as empresas terão que ter não apenas a necessidade
de sobreviver, mas, devem se preparar para crescer e inovar. Esta inovação não
será, como muitos pregam, nem um retorno ao mundo antigo, nem um “novo mundo” e
sim uma mistura do antigo com adaptações possíveis para o ambiente que mudou
com o vírus, criou algumas novas preocupações e expectativas que devem ser
captadas e atendidas. Em particular terá que se ter atenção a fatores novos
como a tecnologia 5G, o uso da Inteligência Artificial, a tendência de se
procurar trabalhar em casa ou próximo do trabalho, uma tendência de
minimalismo, que irá passar também pela busca de maior acesso aos bens, ao
invés de posse e uma maior busca de lazer, de leveza, mas, com algum componente
de isolacionismo. Muitas empresas irão depender muito mais de suas próprias iniciativas
do que dos programas de ajuda, porém, vão precisar de parcerias em setores que
não dominam, bem como terão que reavaliar seus fornecedores, a logística e seus
produtos sempre buscando oferecer mais com menor custo. Certamente isto
significará uma ampliação do uso de aplicativos, ou, usando o termo correto,
uma “uberização”, que será essencial para a sobrevivência. Ainda que a crise
tenha sepultado muitas empresas somente acirrou a necessidade de maior
competitividade, ainda que criando problemas para os insumos e produtos
importados. Será um traço novo, neste cenário, a tentativa de diminuir a dependência
de produtos externos, que já se percebe nas campanhas do tipo compre no seu
estado, ou no seu bairro, mas, como se sabe, a eficácia desta tendência depende
sempre dos preços. Ninguém compra mais caro por patriotismo ou regionalismo.
Assim, embora as empresas possam, de fato, ter um diferencial por pertencerem a
uma região ou estado, se não tiverem um preço competitivo ou um diferencial que
justifique a aquisição de seu produto é melhor não contar com a fidelidade de
seus consumidores locais. Uma coisa que não se altera, com certeza, no
pós-crise são os fundamentos econômicos. Oferta e procura, custos,
competitividade continuarão a ser elementos essenciais para as empresas até
onde se pode avistar no ambiente econômico do presente século. Portanto, entre
as perspectivas para se ter sucesso, não se poderá abrir mão de ter um produto
de qualidade por um preço menor ou ter um produto diferenciado por suas
qualidades. Ou seja, as perspectivas pós crise não mudaram tanto assim. Ser
competitivo ou diferenciado ainda será essencial.
Ilustração: https://worthwhile.com/.
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