É um processo quase
recorrente, e do qual não se escapa, o fato de que, no final do ano, sempre
acabamos fazendo um balanço e ficando meio filosófico. E, com os anos que
passam, é normal também que se fique mais reflexivo, de forma que me peguei pensando
sobre as crenças e a sua força. Que não se pense, porém que as crenças sejam
coisas de religiosos. Ah! Quanto engano! O que tenho observado é que os maiores
crentes são aqueles que, longe se se apegarem a uma cruz ou mantras, de fato,
creem, piamente, que são racionais, críticos e, acima de tudo, científicos!!!
Afinal uma das grandes dificuldades de combater as crenças é que os crentes não
tem a menor consciência das crenças que possuem e, na sua grande maioria,
alegam a ciência como base de suas convicções e argumentos. Um grande sinal da
crença reside, justamente, em que, muitas vezes, o pensamento e a ação do
crente são completamente dissociados. Nos tempos recentes, por exemplo, os
maiores crentes que conheço são extremamente capitalistas nas suas ações e, no
entanto, são propagadores e adeptos de partidos e teorias socialistas que criam
uma contradição de personalidade tão grande que só os próprios não percebem.
Jamais citarei casos reais. Estou, é claro, raciocinando com exemplos
hipotéticos. E um deles, comum, no nosso meio é o do professor, muitos
universitários, repletos de títulos, que são eternos caçadores de benesses, que
adoram estar no meio dos amigos ricos, um verdadeiro leão se mexerem num
centavo seu, porém, nas palavras, no discurso, na sala de aula ou no bar, se
tornam irreconhecíveis: são, sem dúvida, os grandes socialistas que a
humanidade, infelizmente, desconhece na vida real. A crença ´prega essas peças
nas pessoas. Faz com que jamais enxerguem, inclusive, os argumentos contrários
ao que o crente acredita ser a “verdade”. O crente, efetivamente, se reveste,
mentalmente, de uma capa protetora que o impede de ver o que contraria sua
ideologia. Isto pode parecer uma coisa sem sentido, mas é preciso acentuar -e
aqui falo como uma espécie de terapeuta de crenças- que nós, seres humanos, não
fazemos uma diferenciação clara entre a percepção e a realidade. Nosso cérebro
não sabe, de verdade, a diferença entre uma experiência imaginada e uma
lembrada na medida em que usamos as mesmas células da mente para ambas as
experiências. Existe sim uma diferença sutil na qualidade das imagens internas,
de vez que sons e sensações cinestésicas serão diferentes, o que faz com que a
informação real, a percebida, seja codificada de forma mais específica, porém,
com o tempo, e se reforçados certos sentimentos e crenças, podem ser fixados e
se tornam extremamente difíceis de não serem considerados reais. Daí o
reconhecido ministro da propaganda Joseph Goebbels, tão esquecido, afirmar que “Uma mentira contada mil vezes
torna-se uma verdade” e ser enfático em que “Nós não falamos para dizer alguma
coisa, mas para obter um certo efeito”. Um sintoma, aliás forte das crenças
estarem em alta- e isto acontece nas ditaduras e/ ou nas fases próxima de sua
implantação, é a necessidade de cercear os meios de refutar as crenças que são
propagadas. Ressalto que não há nisto nenhum juízo de valor sobre a ação das
mídias sociais, sabidamente úteis e educativas, se bem usadas. E mais não digo
porque isto é somente uma reflexão de fim de ano sobre crenças e não um tipo
qualquer de manifesto político. Não sou dos que creem que a política está em
tudo, mas também, com as crenças que tenho, não sou capaz de refutar quem crê
nisto. Creiam, vocês, ou não.
Ilustração: Hipnose para viver bem.
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