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sábado, dezembro 15, 2007
JORGE MAUTNER E NÉLSON JACOBINA
Jorge Mautner, o nosso guia
Graças ao projeto Sempre um Papo, e ao seu coordenador local meu amigo Fred Perillo, tive um dos maiores prazeres dos últimos tempos que foi o de conviver por algum tempo, em Porto Velho, com Jorge Mautner e seu parceiro o excepcional maestro Nelsón Jacobina que, a meu ver, são a materialização de Dom Quixote e Sancho Pancho modernizados e revistos, ou seja, despidos de quaisquer conotações menos lisonjeiras. Ambos são grandes artistas, mágicos que consideram normal fazer magia.
Mautner, o único mestre que conheço que se embriaga bebendo água, traduz de uma forma otimista e criadora o ser humano que soube viver a história e se transformar sem perder a esperança, a busca da síntese criadora e a paixão arrebatadora pelo viver que caracterizam sua música e suas palavras. È, e dito com a autoridade de quem pode dizê-lo, Mário Schenberg, “Um dos profetas da Nova Era” e o fato de até já ter se apresentado “como messias (talvez com uma ironia peculiar)”, só demonstra que sua extrema competência, e seriedade, é feita de um fino humor que os deuses somente dão aos iluminados.
Criador do Kaos, uma integração contraditória e trágica do paganismo dionisíaco, do comunismo transfigurado e do cristianismo reformulado, é um filósofo que superou a filosofia porque vê, na sua visão de raio-x, além dos prótons, dos elétrons e dos spins que somente a arte nos salvará, o que o transforma num continuador de Nietzsche. È verdade. Mas, Jorge, que até tem nome de santo, foi muito além do bem e do mal e de todos os super-homens com um racionalismo poético radical que prega uma nova espécie de Eterno Retorno cósmico na medida em que o seu Kaos contém também o Caos e o integra, o dissolve, sacode, explode em minúsculas partículas super e subatômicas que criam os maracatus, mas também, Lavoisier do relativismo, tudo recupera no amálgama, esta síntese da síntese ao qual somente chegarão os inocentes que amam a poesia da vida depois de digeridas e recompostas todas as antropofagias.
Infelizmente, apesar de ser o nosso guia, de traduzir como ninguém Jesus, com a mesma simplicidade e talento com que canta valsas de Bertold Brecht e Kurt Weill, até agora não fez como Raul Seixas que criou uma igreja. Não seria, certamente, racional, porém, mesmo o discurso doce de Edir Macedo não soaria tão bonito quanto as parábolas nem as músicas com que Mautner prevê que iremos “brasilificar o mundo”, mas, antes, teremos que “amazonificar o Brasil”, o que me lembrou o ministro dos planejamentos imprevisíveis, Mangabeira Unger, ao afirmar que “O Brasil somente se revelará ao Brasil por meio da Amazônia”. Em suma, o nosso guia prevê que o mundo será purificado pelo excesso de vida que sempre o nosso país exalou, mas, nele, não há nada tão vivo, tão pujante, tão trescalando exuberância, vida e frescor quanto a Amazônia e o Amazonas e, certamente, serão suas águas já não tão puras, que serão utilizadas no batismo e na purificação do novo mundo que há de surgir quando o Brasil, país do carnaval e da poesia, dominar a nova era pós-capitalista por meio da alegria e da dança. Como meu guia sempre está certo estamos iniciando a época da grande transição, mas, admitindo que erre pela primeira vez, não importa. É uma previsão tão boa que, se der errado, vamos ao acaso procurar estrelas para brincar. E, igual ao mestre, não peço desculpas nem peço perdão mesmo todo errado.
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