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sábado, fevereiro 12, 2011

Não vale olhar para o lado


As mudanças que acontecem no Egito me fazem refletir sobre a nossa realidade e sobre o que nos leva a ser tão apáticos em relação ao ambiente que nos cerca. Pode até ser uma impressão errônea, mas, nós temos no imaginário que o Brasil, apesar de ter mudado, na essência não muda. Não tem, como no presente caso, contra um ditador um posicionamento tão forte, tão determinado, tão positivo ao ponto de fazer com que a razão prepondere sobre as armas porque, se sabe que lá, o sangue há de correr. Aqui o que corre mesmo é o suor embalado pelos pandeiros do carnaval e os grandes gritos são o de gol nos nossos estádios de futebol.
Pode até alguém lembrar que houve a grande movimentação pelas “Diretas já” ou mesmo o movimento dos caras pintadas contra Collor. Bem, como “o tempo é o senhor da razão” o que, com o tempo se comprovou, é que a movimentação, realmente, foi maior, o clima foi de empolgação, porém, havia mais disputa e desejo de poder que modificações reais. Basta verificar que o que se buscava no passado era o que se continua buscando: construir um país moderno onde o cidadão não dependa eternamente do estado, que tenha voz e tenha vez. Infelizmente, neste sentido, como no famoso romance “mudamos para que nada mude”.
É só verificar que os problemas, com exceção da inflação menor, parecem uma eterna repetição. Assim, como pela manhã o sol nasce, todo início do ano, nos deparamos com o crescimento da inflação, na esteira da alta dos gastos típicos sazonais, como matrículas e mensalidades escolares, IPTU, IPVA e, mais recentemente, dos preços dos alimentos, cujo valor deixou de ser cotado pela demanda dos consumidores, passando a ser obra da fome dos jogadores dos mercados futuros globais. Até o que muda vem, de fora, que é a ganância dos que transformaram o preço da comida em commodities e fonte de lucros especulativos, numa perversão social de difícil aceitação por qualquer um que não participe dos cassinos globais ou não sejam intoxicados pelo noticiário do cartel da mídia. Previsivelmente sobem, em quase todas as cidades, o preço das tarifas de transporte coletivo e os preços dos aluguéis.
Ultimamente existe a manobra sanfona, instituída para ganhar eleições, que, agora mesmo acontece, nos dois primeiros anos de governo se contém os gastos para, nos dois últimos, fazer uma farra que leva a reeleição ou a eleição do sucessor usando a máquina pública. Nada novo mesmo. Talvez a única coisa nova seja a perversão, também previsível no começo do ano, do Banco Central elevando juros, tendo como álibi deter a inflação provocada pelo câmbio e pela especulação com commodities, o que é óbvio, está totalmente fora do alcance dos juros brasileiros. Mais do que patológico, este modus operandis, tornou-se o principal instrumento de transferência de renda para os especuladores externos que incharam a dívida interna saboreando um dos juros mais altos do mundo e sem taxação. Reformas? Também se fala nelas, como agora se fala, no início do governo, também para que nada se mude. A realidade é a de que a carga tributária subiu, o custo interno da produção mais ainda, o país perde seu mercado interno para produtos chineses e indústrias até para os países vizinhos. A população embalada no samba, no futebol e no crédito nem liga para questões econômicas que são entediantes e chatas. Caminha na mesmice endividada e feliz batendo palmas para quem a conserva deitada em berço esplêndido de miséria e slogans. E daqui a pouco acaba acreditando que “País rico é país sem miséria” de tanta propaganda. O problema é que não vale olhar para o lado.

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