A lógica no Brasil está
cada vez mais torta. Não há exemplo maior do que a polêmica (?) que envolve os
tais dos “rolezinhos” que, ultimamente, se espalharam como uma praga pelo país,
supostamente, como protesto contra a “discriminação contra os jovens pobres”. O
tamanho desta besteira só é maior por ser suportado por afirmações de
autoridades, como a ministra da Igualdade Racial, Luíza Bairros (PT), ao
afirmar que os jovens que participam dos rolezinhos nos shoppings são vítimas
de "discriminação racial explícita" (????) ou a do ministro da
Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de que os shoppings
promovem uma “discriminação social" (????) ao proibir a entrada de jovens da periferia. E,
numa total inversão das coisas, chegou a afirmar que houve, mais uma vez, a
ação inadequada da polícia que “acabou botando gasolina no fogo” e ainda teve a
coragem de criticar as administradoras dos shoppings declarando “Eu não tenho
dúvida de que a concessão dessas liminares (para proteger os shoppings) contra
os rolezinhos também é um erro. Para mim é, no mínimo, inconstitucional.” O
que é, no mínimo estranho, é que este honorável senhor seja o primeiro a correr
para usar a polícia quando qualquer manifestação ameaça bater na porta do
Planalto, ou seja, parece que a Constituição, ou sua interpretação, muda de
acordo com os interesses.
As palavras ficam ainda
mais bizarras quando se lembra que as ruas, os prédios do governo, as praças
são públicas, enquanto os shoppings são empreendimentos privados, por sinal,
criados para gerar bem-estar, segurança, lazer e atividade econômica lucrativa.
Será que isto é possível com a invasão de uma multidão de jovens? É uma
gigantesca inversão dos fatos alegar discriminação, quando os shoppings e os
lojistas pretendem apenas manter a ordem, proteger o próprio patrimônio e
garantir a integridade dos seus consumidores, que costumavam frequentá-los como
se fossem ilhas de segurança na visível insegurança das cidades brasileiras. É
um total contra-senso quando contrapostos os discurso e o comportamento, pois,
as autoridades consideram normal ter todo o direito de manter seguranças,
cobrar identidades, exigir crachás, esvaziar ruas e praças, mas, os shoppings
não tem direito de se precaver contra tumultos orquestrados, planejados ou não,
que podem provocar grandes problemas e prejuízos? É a lógica torta de que os “pobrezinhos”
tem direito a tudo por serem pobrezinhos. E os direitos dos outros onde ficam?
Quem ressarciu, por exemplo, os prejuízos e lucros cessantes de lojas atingidas
nas manifestações de vândalos no ano passado? E não se tem notícia, em qualquer
parte deste país, de se ter impedido jovens, pobres ou não, de entrar nos
shoppings. Agora será que é possível se ter segurança e normalidade com
centenas de jovens pendurados numa escada rolante? Será possível reunir tantos
jovens sem comprometer as atividades econômicas e sem tumulto?
Não é à-toa que a
violência se alastra. Há uma completa falta de visão sobre os direitos e
deveres. Nossas polícias têm lá seus defeitos, mas, vivem sendo alvo de
críticas contundentes e eleitoreiras, quando, muitas vezes, apenas cumprem, e
muito bem, o seu papel. É absurdo que não se crítica os que fecham estradas,
ruas, invadem prédios ou acampam em locais inadequados e tumultuam ou tentam tumultuar
a vida dos cidadãos, dos trabalhadores, das cidades. A polícia, mesmo quando se
excede, age em reação, mas, acaba se tornando não quem zela para segurança,
mas, o alvo preferencial até mesmo da imprensa e da politicagem barata que
apóia barbaridades cometidas por manifestantes que podem ter a causa mais justa
do mundo, mas, devem responder pelo que fazem e pelos problemas que causam. É
este tipo de comportamento que acirra o faroeste em nossa vida cotidiana; que
conduz à inacreditável comemoração feita, em Campo Novo, pela morte de oito
bandidos de um bando que aterrorizou a cidade. Como a violência se vulgarizou,
a barbárie parece normal quando feita para restaurar a ordem.
É preciso que se
restabeleça a ótica correta. Que as autoridades assumam suas responsabilidades
e usem a ação policial contra os que, pobrezinhos ou ricos, discriminados ou
não, atentem contra a ordem pública, sem receio de que as imagens da ação policial
sejam usadas nas campanhas eleitorais. É preciso firmeza para preservar e
defender os direitos da maioria, garantir o direito de ir e vir e proteger o
patrimônio público e privado. Não se pode aceitar como normal a lógica
enviesada de que é possível se ter direitos sem respeitar os direitos alheios;
que se pode ter direitos sem deveres. Ora, no caso dos rolezinhos, não se
respeita os direitos nem dos empresários, nem dos freqüentadores dos shoppings.
Ou será que alguém é capaz de defender que tais manifestações serão sempre
ordeiras, pacíficas e que não causarão nenhum prejuízo? Se tiver alguém com
esta certeza que se providencie, por favor, tratamento médico, de vez que
chegou ao ponto máximo de distorção da realidade.
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