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sexta-feira, janeiro 17, 2014

A distorção política da realidade


A lógica no Brasil está cada vez mais torta. Não há exemplo maior do que a polêmica (?) que envolve os tais dos “rolezinhos” que, ultimamente, se espalharam como uma praga pelo país, supostamente, como protesto contra a “discriminação contra os jovens pobres”. O tamanho desta besteira só é maior por ser suportado por afirmações de autoridades, como a ministra da Igualdade Racial, Luíza Bairros (PT), ao afirmar que os jovens que participam dos rolezinhos nos shoppings são vítimas de "discriminação racial explícita" (????) ou a do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de que os shoppings promovem uma “discriminação social" (????)  ao proibir a entrada de jovens da periferia. E, numa total inversão das coisas, chegou a afirmar que houve, mais uma vez, a ação inadequada da polícia que “acabou botando gasolina no fogo” e ainda teve a coragem de criticar as administradoras dos shoppings declarando “Eu não tenho dúvida de que a concessão dessas liminares (para proteger os shoppings) contra os rolezinhos também é um erro. Para mim é, no mínimo, inconstitucional.” O que é, no mínimo estranho, é que este honorável senhor seja o primeiro a correr para usar a polícia quando qualquer manifestação ameaça bater na porta do Planalto, ou seja, parece que a Constituição, ou sua interpretação, muda de acordo com os interesses.
As palavras ficam ainda mais bizarras quando se lembra que as ruas, os prédios do governo, as praças são públicas, enquanto os shoppings são empreendimentos privados, por sinal, criados para gerar bem-estar, segurança, lazer e atividade econômica lucrativa. Será que isto é possível com a invasão de uma multidão de jovens? É uma gigantesca inversão dos fatos alegar discriminação, quando os shoppings e os lojistas pretendem apenas manter a ordem, proteger o próprio patrimônio e garantir a integridade dos seus consumidores, que costumavam frequentá-los como se fossem ilhas de segurança na visível insegurança das cidades brasileiras. É um total contra-senso quando contrapostos os discurso e o comportamento, pois, as autoridades consideram normal ter todo o direito de manter seguranças, cobrar identidades, exigir crachás, esvaziar ruas e praças, mas, os shoppings não tem direito de se precaver contra tumultos orquestrados, planejados ou não, que podem provocar grandes problemas e prejuízos? É a lógica torta de que os “pobrezinhos” tem direito a tudo por serem pobrezinhos. E os direitos dos outros onde ficam? Quem ressarciu, por exemplo, os prejuízos e lucros cessantes de lojas atingidas nas manifestações de vândalos no ano passado? E não se tem notícia, em qualquer parte deste país, de se ter impedido jovens, pobres ou não, de entrar nos shoppings. Agora será que é possível se ter segurança e normalidade com centenas de jovens pendurados numa escada rolante? Será possível reunir tantos jovens sem comprometer as atividades econômicas e sem tumulto?
Não é à-toa que a violência se alastra. Há uma completa falta de visão sobre os direitos e deveres. Nossas polícias têm lá seus defeitos, mas, vivem sendo alvo de críticas contundentes e eleitoreiras, quando, muitas vezes, apenas cumprem, e muito bem, o seu papel. É absurdo que não se crítica os que fecham estradas, ruas, invadem prédios ou acampam em locais inadequados e tumultuam ou tentam tumultuar a vida dos cidadãos, dos trabalhadores, das cidades. A polícia, mesmo quando se excede, age em reação, mas, acaba se tornando não quem zela para segurança, mas, o alvo preferencial até mesmo da imprensa e da politicagem barata que apóia barbaridades cometidas por manifestantes que podem ter a causa mais justa do mundo, mas, devem responder pelo que fazem e pelos problemas que causam. É este tipo de comportamento que acirra o faroeste em nossa vida cotidiana; que conduz à inacreditável comemoração feita, em Campo Novo, pela morte de oito bandidos de um bando que aterrorizou a cidade. Como a violência se vulgarizou, a barbárie parece normal quando feita para restaurar a ordem.

É preciso que se restabeleça a ótica correta. Que as autoridades assumam suas responsabilidades e usem a ação policial contra os que, pobrezinhos ou ricos, discriminados ou não, atentem contra a ordem pública, sem receio de que as imagens da ação policial sejam usadas nas campanhas eleitorais. É preciso firmeza para preservar e defender os direitos da maioria, garantir o direito de ir e vir e proteger o patrimônio público e privado. Não se pode aceitar como normal a lógica enviesada de que é possível se ter direitos sem respeitar os direitos alheios; que se pode ter direitos sem deveres. Ora, no caso dos rolezinhos, não se respeita os direitos nem dos empresários, nem dos freqüentadores dos shoppings. Ou será que alguém é capaz de defender que tais manifestações serão sempre ordeiras, pacíficas e que não causarão nenhum prejuízo? Se tiver alguém com esta certeza que se providencie, por favor, tratamento médico, de vez que chegou ao ponto máximo de distorção da realidade.  

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