Havia
entre os cientistas que executavam a missão de reconhecimento de Plutão a expectativa de que que o
planeta acabaria sendo, como a Lua ou Mercúrio, um planeta cheio de crateras em
que nada acontece. Mas, como revelado pela sonda New Horizons da Nasa (agência
espacial norte-americana) que sobrevoou Plutão em 14 de julho, pela primeira vez, via imagens em alta resolução do planeta, a geografia revelada é de
um dinamismo e de uma variedade que modificou tudo que se pensava sobre este
corpo celeste desde seu descobrimento, há 85 anos. A paisagem de
montanhas geladas, sem crateras e com evidências de processos geológicos
encontrada no planeta anão, nos confins do Sistema Solar, deixou toda a
comunidade científica perplexa e com a sensação de que as novas informações, que
serão obtidas, podem também trazer respostas sobre como se formam os
planetas e as origens de alguns elementos fundamentais da vida.
A
topografia acidentada de Plutão, sem dúvida, surpreendeu os pesquisadores. Em
especial porque as imagens mostram montanhas nos extremos da região que tem uma
forma de coração, batizada como Região de Tombaugh, em homenagem ao descobridor de Plutão, Clyde Tombaugh,
com uma altura calculada de cerca de 3.300 metros, altitude superior à dos
Alpes na Europa ou a das Montanhas Rochosas no oeste dos Estados Unidos. E alguns pesquisadores trabalham com a
hipótese de que podem exsitir ainda montanhas mais altas em outras partes. No
entanto, o mais sensacional é que a capa relativamente fina de metano, monóxido
de carbono e nitrogênio congelado que cobre a superfície do planeta anão é
forte o suficiente para formar montanhas. Isto sugere que se formaram com
a água congelada do subsolo, já que o gelo se comporta como rocha sob as
temperaturas gélidas de Plutão.
Acrescente-se que as observações feitas do planeta, a partir da Terra, não
haviam detectado sinais de água gelada. Ainda pairam interrogações sobre as
descobertas que somente poderão ser corroboradas pelas medições feitas por sete
equipamentos a bordo da New Horizons, cujos resultados irão chegar ao centro de
controle de Maryland (EUA) nos próximos 16 meses. Mas, não paira dúvidas de que, segundo o chefe da
missão, Alan Stern, “Podemos estar certos de que existe água em
abundância".
Uma
outra grande surpresa é a constatação de que não existem crateras em Plutão. As
crateras permitem aos astrônomos determinar a idade de uma superfície, de vez
que se é muito antiga terá marcas deixadas por impactos de colisões; se for
mais nova será mais lisa, porquê a formação recente apaga as impressões
anteriores.As imagensmostram um terreno que parece ter passado por processos
vulcânicos ocorridos nos últimos 100 milhões de anos, o que implica numa idade
extremamente jovem para a superfície, se considerarmos que o Sistema Solar tem
4,5 bilhões de anos. O tamanho de Plutão também pode ter alguns quilômetros a
mais de diâmetro, agora, estimado em 2.370 km, o que equivale a dois terços do
tamanho de nossa Lua. A falta de precisão na medição de Plutão desde a Terra
ocorre porque, em primeiro lugar, o corpo celeste está muito longe daqui (4,8
bilhões de km). E também porque sua atmosfera cria reflexos capazes de
confundir o telescópio terrestre mais avançado. Mas, apenas com os
relativamente poucos dados que se recolheu, até agora, já nos presenteou com
surpresas maravilhosas, inclusive mudando a concepção que se tinha de Caronte,
sua maior lua, que possui penhascos tão profundos como os do Grand Canyon, no
oeste dos Estados Unidos e pode ter uma cadeia de desfiladeiros de 800 km.
Enfim, nem mesmo Plutão é mais o mesmo.
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