Como um aficionado dos jornais, das revistas e dos
livros é impossível não me ligar às questões da que se costuma denominar como crise
da imprensa escrita. Sem dúvida, a imprensa escrita sofreu muito, em especial, nos
últimos 10 anos, com as grandes mudanças tecnológicas, com os meios digitais e
as redes sociais roubando grande parte dos seus leitores e, mais ainda, desviando
os gastos em publicidade, ainda que,
examinadas de perto, as receitas do on-line
não compensem as receitas perdidas no papel. De fato, estima-se que os anunciantes na imprensa escrita decresceram,
em uma década, quase 80%, enquanto o digital, talvez, recupere apenas 55 a 60%
dos investimentos, ou seja, na prática, há uma queda de investimentos, embora a
sua multiplicidade, e até mesmo a anarquia das mensagens invadam nossos olhos e
mentes.
O sinal real da crise reflete-se em que os grandes
jornais, as grandes revistas, nacionais perderam milhares de leitores nas
edições impressas, e, como se sabe, muitos até cessaram de ter edições
impressas, ou até mesmo, encerraram suas atividades, enquanto sobe, e muito, a
leitura digital que, no entanto, sobe muito pouco na circulação digital paga, o
que gera um saldo pouco positivo para a imprensa em geral. A crise, no meu
entender, é, na verdade, do modelo de negócio que a indústria jornalística tanta
manter, num ambiente hostil à sua permanência, até mesmo por falta de opção.
Aliás, a tentativa que vem sendo feita, de cortar custos, parece ter piorado
sua situação na medida em que diminui a qualidade do seu jornalismo e, via de
consequência, acelera seus problemas mais do que resolve. E o resultado se vê
como um desastre: jornais e revistas com, cada vez mais, menos páginas, com
análises e notícias mais curtas, numa concorrência inútil de atender uma população
com cada vez menor capacidade de atenção. E, como cortaram na carne, nas
redações, o preenchimento dos espaços com fotos e notícias de agências de
notícias, torna todos muito parecidos, tudo muito igual, muito pasteurizado.
Não tenho uma formula para combater isto, e se
tivesse já teria tentado, mas, ainda creio existir um mercado para o jornalismo
de investigação e de análise e de uma opinião bem sustentada. É este tipo de
jornalismo que faz falta à democracia, que falta (e muito) ao nosso país. Minha
crença é a de que , para que os jornais permaneçam relevantes, é preciso servir um jornalismo de muito maior
qualidade, que seja um diferencial para o leitor. Ainda creio que exista uma
grande procura por uma imprensa qualificada, de opinião e crítica. Também pode
ser lida, é claro, e até partilhada, com as redes sociais, mas, é este tipo de
notícia que cria audiência e da qual sinto falta em todos os meios. Claro que
as revistas e jornais são empresas, porém, não são apenas isto. Possuem também
um papel cívico e responsabilidades mais amplas. Não podem, como tem sido a
tônica nos últimos tempos, somente considerar seus interesses próprios, sem qualquer
preocupação em relação à veracidade das notícias. Se fazem isto, então, em nada
se diferenciam das opiniões do Facebook, onde cada um diz o que quer, na
maioria das vezes, indiferente aos efeitos. Revistas e jornais continuam a ser
os maiores produtores de conteúdo e devem ser a melhor fonte de informação
sobre os governos, as empresas e as instituições que conformam as nossas vidas.
Se não fazem isto, se perdem este tipo de preocupação, se não despertam
interesse, é natural que percam importância. E perder a importância é também
perder renda e leitores. É preciso inovar nossa imprensa escrita.
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