A crise do coronavírus, por mais que alguns desejem
até esticar por razões políticas, não irá durar para sempre. As pessoas mais
pobres, os micros e pequenos empresários mais atingidos por ela já se
manifestam pelas ruas do Brasil contra a quarentena a ponto de muitos até
pedirem a quebra da ordem institucional. É um reflexo do desespero que, se não
for atendido, em breve provocará situações muito mais complicadas, em especial
para aqueles que defendem o isolamento denominado de horizontal. Na prática,
aliás, ele já não existe, pois, mesmo em estados, como São Paulo, que, deveriam
ter apenas 30% das pessoas nas ruas, possuem muito mais. O problema real será
depois que virar a chave da crise? Como iremos tratar de, no mínimo, mais dois
milhões de desempregados? Que empresas, especialmente entre as micros e
pequenas, ainda estarão de portas abertas? Com certeza também as famílias, que
já estavam endividadas e já não tinham poupanças suficientes para lidar com
este tipo de choque, como se comportarão? Um cálculo, que já fazem os
especialistas no mercado de trabalho, é de que haverá uma sensível redução da
mão de obra a ser contratada. Estima-se que, dos que perderam seus empregos,
somente 70 a 80% serão recontratados e não de imediato. Não se espera- e nisto
existe quase um consenso entre os analistas- que o crescimento, a globalização e o comércio
simplesmente voltem ao normal quando houver o controle da epidemia. Em suma, o
mundo não será mais o mesmo. Em primeiro lugar porquê quanto maior o tempo de
paralisação das atividades econômicas mais o país, as empresas e as pessoas
empobrecem e, em segundo lugar, com o aumento das compras por meio do
e-commerce e a utilização do teletrabalho, uma das resultantes inevitáveis
será, certamente, uma diminuição do número e do tamanho das lojas físicas.
Em terceiro lugar, não há possibilidade de uma
recuperação rápida da crise, tanto que o Fundo Monetário Internacional-FMI
prevê a maior depressão econômica desde os anos 30, porém, naquele tempo as
razões e a economia eram completamente diferentes. Inclusive teve seu início no
sistema financeiro. Agora não. É na produção que se atingiu a economia. E,
mesmo na Grande Depressão o desemprego nos EUA subiu somente 3,5%, ao longo de quatro anos, agora,
no Brasil, se estima uma queda imediata de 5%, todavia, que podemos chegar um aumento
do desemprego de 9% em mais quatro semanas de paralisação das atividades.
É um desafio enorme para um governo, como o brasileiro,
que já possui dívida e déficit público altos. Mas, o governo brasileiro não
poderá fugir de ter que criar pacotes de ajuda, de crédito e de transferir
recursos para os mais necessitados. Não somente no nosso país isto acontece, de
fato. Porém, em países em melhor situação, países com taxas de juros mais
baixas do que as taxas de crescimento, como os Estados Unidos e os mais fortes
da Europa, os pacotes se pagam sozinhos.
Para países como o nosso não há opção fora rodar enormes déficits orçamentários
no futuro e usar a inflação para aliviar o peso da dívida. A solução boa seria
impulsionar o crescimento, para diminuir a dívida como proporção do PIB, mas, como
vimos antes da crise, isto é mais fácil falar do que fazer.
Ilustração: Superinteressante.
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