Evidentemente que ninguém é contra um programa que buscar retirar as
famílias do endividamento. Afinal o mérito de ser destinado, na maior parte, as
pessoas de menor renda, o programa Desenrola, criado pelo governo federal, tem, mas, apesar da
boa intenção, quem entende de economia sabe que só vai funcionar por pouco
tempo na medida em que se atacam os efeitos e não as causas. Não há dúvida de
que, teoricamente, se trata de uma forma de fazer a economia girar aumentando o
consumo via os que, hoje, estão com o nome sujo. Este é, na verdade, o objetivo
maior do programa, pois apesar de revestido de caráter social, é uma tentativa
do governo de estimular a economia e aumentar o produto interno. O erro está na
forma. Um país, para crescer, se faz necessário aumentar a renda, melhorar o
nível de emprego. A tentativa via consumo não tem sustentação, não resolve o
problema. Quem está endividado, na maioria das vezes, perdeu um emprego, teve
um negócio mal sucedido, o que ocorreu muito durante a pandemia, ou uma doença
grave e avançou sobre o crédito usando dinheiro que não possuía. E aqui o cerne
do problema: a grande massa dos endividados não possui noções de educação
financeira, não controla seus gastos e isto em todas as faixas de renda. É
claro que, para quem está numa situação de inadimplência, o programa Desenrola,
é excelente, inclusive para os bancos, que irão receber parte de um dinheiro
dado como perdido. O grande problema é que, agora, com parte da divida o
inadimplente pode voltar a ter crédito. Com certeza vai gastar de novo e, com
mais certeza ainda, voltará a ficar inadimplente. Isto porque o problema não é
financeiro e sim derivado da falta de educação financeira. O que vejo de errado
no programa Desenrola é que, embora todo mundo seja, em tese, a favor da
educação, a prática dela não existe na ação governamental. Se existisse, a
primeira exigência do programa -assim como se faz com motoristas flagrados em
casos de bebida-deveria ser submeter a quem quisesse participar do programa da
obrigação de fazer um curso de educação financeira, com matemática básica,
estudo comportamental e estratégias para ter uma vida financeira sob controle.
Inclusive orientando sobre a necessidade da poupança e de criar um fundo para a
aposentadoria, de vez que, com os problemas da previdência, será cada difícil
se aposentar pelo INSS e se ter sustentação na velhice. Da forma como está
sendo feito o programa Desenrola irá dar um alívio temporário e um alento à
economia, porém no médio e longo prazo tende a aumentar ainda mais os problemas
do endividamento. Inclusive também possui o aspecto pouco claro sobre quais
incentivos estão sendo oferecidos aos bancos para, por exemplo, suspender,
incialmente, quem tem dividas abaixo de R$ 100,00, de vez que apenas se retira
o nome dos órgãos de cadastros negativados.
E também trata de forma desigual os inadimplentes ao fixar a negociação
somente para quem ganha até R$ 20 mil. Os que ganham mais não tem direito a
resolver seus problemas? Bom, de qualquer forma, o programa começou com a Febraban
(Federação Brasileira de Bancos) divulgando que, nos 5 primeiros dias do
Desenrola Brasil, programa teve uma adesão de 2 milhões de brasileiros com
dívidas de até R$ 100,00 e foram repactuados mais de 150 mil contratos de
dívidas, no valor de cerca de R$ 500 milhões, exclusivamente pela faixa 2,
categoria para brasileiros com renda mensal de até R$ 20.000,00. Não se pode
negar o sucesso da iniciativa.
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