Escrevo ainda transtornado pelo
impacto da notícia de que Sued Pinheiro morreu, ontem, do coração. Sued, mal
chegado a casa dos cinqüenta anos, foi um indiscutível amigo e parceiro, nos
últimos doze anos, de bons e maus momentos. Uma inteligência notável, inclusive
com uma memória prodigiosa, mesmo sendo extremamente polêmico, era, ao fim, uma
pessoa de grande coração e sentido de justiça que, muitas vezes, procurou
contra seus próprios interesses. Foi, sem dúvida, nos últimos dez anos, uma
figura central do jornal Alto Madeira que, sem ele, talvez, não tivesse tido
alguns dos seus momentos memoráveis e até travado combates inglórios, porém, de
extremo sentido social.
Como muitas pessoas criativas
Sued era um inconformado que, na maior parte das vezes, chegava a ser inconveniente
ao dizer verdades (e, muitas vezes, elucubrações de meias verdades) que ninguém
desejava ouvir. Negava ser jornalista e se dizia publicitário, porém, tinha uma
alma de repórter investigativo na medida em que, não só desejava saber tudo,
como explicar. Não cuidava de si mesmo, pois, sofria de uma diverticulite que
sabia ser necessário operar e estava muito além do seu peso ideal. Ainda assim
comia e bebia muito, inclusive refrigerantes e salgados, o que, obviamente, não
devia lhe fazer bem. Ultimamente insistia comigo para fazermos uma sociedade e
criar um pequeno bistrô tendo como especialidade bacalhau. Antes já tentará me
seduzir com a proposta de criar um bar. Não nego que me atraíam suas propostas,
porém, uma coisa que Sued nunca teve foi paciência e apego a detalhes que são
necessários a um plano de negócio. Seus planos eram realizados a partir de sua
cabeça privilegiada, mas, como economista, tenho obrigação de resistir à falta
de previsibilidade e de planejamento. Por causa de tais objeções, concordamos
em conversar em fevereiro sobre o bistrô. A ceifadora antecipou-se aos nossos
planos e levou-o inesperadamente.
Como estou fora de Rondônia não
sei se chegarei a tempo de lhe dar o último adeus. Já sinto o vazio que deixa e
a falta que fará à sua família e amigos, que cultivava com uma tenacidade
diária. Claro que não era uma pessoa fácil nem perfeita, mas, sempre foi amigo
dos amigos, um lutador que, infelizmente, se vai sem ter alcançado as glórias
que merecia. E há um traço dele que será inesquecível para quem compartilhou de
sua amizade: o seu humor. Sued oscilava entre um humor ingênuo, satírico e,
algumas vezes, fino e difícil nas suas abstrações demasiado humanas. Com ele
morre a coluna o “Candiru do Madeira” que, em certo sentido, ironicamente, tem
muito de sua personalidade e de sua alma insatisfeita de ser humano e de
artista que, agora, repousa em paz. Com a morte de Sued, Rondônia, Porto Velho,
fica, sem dúvida, muito mais pobre de humor, de cultura e de humanidade. E,
diante da impotência que nos assoma, só é possível mesmo recordar e chorar.
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