Em geral conferências
nacionais tem sido ou uma mera convalidação de políticas antes já decididas,
com a arregimentação de grupos de apoio para bater palmas, ou, quando muito,
uma ocasião para fazer política eleitoreira com promessas de melhorias que
terminam nas proposições. Não foi o caso da 6ª CBAPL-Conferência Brasileira de
Arranjos Produtivos Locais, que teve como tema “Sustentabilidade dos APLs:
Governança, Conhecimento e Inovação”, realizada entre os dias 03 e 05 dezembro,
em Brasília. Quem participou teve condição de verificar que foi uma conferência
múltipla, rica e com diversos desafios estimulantes tanto sob o ponto de vista
do fazer, como da elaboração de políticas públicas e de debates acadêmicos.
O sucesso do evento
começou pelo fato de que, entre os patrocinadores, aparecia, para surpresa de
muitos, no meio de tradicionais promotores deste tipo de evento, como o Banco
do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia
e o BNDES, um patrocinador privado, o Bradesco. E não é por acaso que o maior
banco privado do país estava lá, de vez que seus representantes informaram que apóiam
mais de três centenas de arranjos produtivos em todo o Brasil. Porém, o
interessante, e os méritos vão, sem dúvida, para o Ministério de
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-MDIC, que conseguiu a proeza de
reunir técnicos governamentais, empresários e acadêmicos para um debate que se
caracterizou por ser variado e estimulante e, melhor ainda, sem viés político,
para discutir os problemas reais da produção, da comercialização e dos entraves
que fazem o país permanecer abaixo de suas potencialidades.
Ressalte-se que isto
foi feito com o talento também de apresentar uma gama de casos de sucesso que
merecem ser ressaltados como foi o caso da diretora do Centro Brasileiro de
Rochas Ornamentais, Olívia Tirello, do que foi feito, por exemplo, para
desenvolver Passo Fundo, apresentado pelo professor Marcos Alexandre Cittollin,
de Polocentro, um pólo de tecnologia da Serra Gaúcha, apresentado pelo seu
presidente, Antônio Augusto Tessari ou, para irmos até o Nordeste, buscar o
caso do Núcleo de Produção Engenho Digital-NPED apresentado por Caio Vinicius
Dornelas-só para citar alguns. Mas, houve uma exposição de produtos originados
dos APLs que trouxe redes de Jaguarana, por meio do Marcos Abreu e do Alex,
jóias de Cristalina e do próprio DF, Cachaça de Góias, mel, laranja e casca de
laranja defumadas, enfim de tudo um pouco.
Também, é difícil até
citar pela qualidade das palestras, mas, para citar algumas entre as que
assisti, valeu a aula do José Eduardo Cassolato que ressaltou terem os arranjos
produtivos ocupado seu espaço recuperando a noção de que a produção se dá no território,
é coletiva e se dá por meio do aprendizado interativo e enfatizando que a “a
governança de fora para dentro não funciona”; embora discordando de alguns
pontos, em especial a falta de acentuar que a inflação é uma inflação dos
preços administrados e não de mercado, também foi muito boa a do economista do
Bradesco, Robson Rodrigues Pereira, sob o cenário econômico; a inspiradora
palestra de Susan Andrews do Parque Ecológico Visão Futuro sobre o
FIB-Felicidade Interna Bruta, a do secretário de Inovação do MDIC, Nelson Akio
Fujimoto, com a exposição do Inovativa Brasil, que apóia novos empreendimentos
voltados para a inovação, bem como as também muito interessantes palestras
sobre audiovisual de João Guilherme Barone Reis e Silva, de Cesar Piva, Fabio
Cândido e Luiz Andrade, mais ressaltando as vantagens competitivas de Nitéroi.
Com certeza estarei sendo injusto com muitos outros que precisariam ser
lembrados, mas, a intenção foi ressaltar a riqueza e a abrangência do tema que
incluiu até a necessidade de integração cultural e produtiva com os outros
países do Mercosul.
Em especial me tocou de
perto a percepção de Marcus Franchi, discutindo os APLs de audiovisual, por
acentuar o enorme fosso que existe entre, digamos assim, o Brasil real e o
Brasil visto de Brasília, que aparece nas exigências que se faz de um
tecnicismo que está longe da realidade brasileira. Franchi mostrou que a
política do Ministério da Cultura, e pelo que vi ele ainda mais, tenta se
aproximar criando meios para facilitar o acesso a recursos do que chamamos de
Economia Criativa, porém, o governo é uma caixa preta difícil, cheia de siglas
e quadrados onde as demandas públicas se emaranham e morrem. O certo é que o
Brasil está complicado, apesar de suas imensas possibilidades, e a 6ª CBAPL nos
trouxe situações inusitadas como a de que, e é uma política correta, o Sebrae
tratar de grandes empresas. É uma inovação e uma demonstração de que é preciso
ter coragem de assumir os riscos e mudar as formas de agir e perceber o País. A
Conferência também teve o mérito de ser um choque de realidade que nos informou
sobre os problemas sem deixar de ter uma visão otimista sobre o futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário