O Brasil, no passado,
sempre produziu ideias interessantes. Mesmo nos seus primórdios havia o
pensamento de um Antônio Vieira, de um Gregório de Matos, um Joaquim Nabuco, houve
um Machado de Assis, um Santiago Dantas, os Mários e Oswalds, um Nelson
Rodrigues, um Dorival Caymmi, um Jobim, um Gilberto Freyre, e, mais recente, um
Vinícius, um originalíssimo canibal como foi Millôr Fernandes, enfim, pessoas
que se apropriavam de ideias alheias para reelaborá-las. Vá lá é aceitável até
incluir nisto a loucura de Glauber Rocha ou o tropicalismo já mumificado de
Caetano Veloso. Havia neles a mesma e saborosa ideia indígena de comer a carne
do inimigo para adquirir suas qualidades, habilidades, ou seja, o Brasil já
teve, até algumas décadas, ideias próprias ainda que enraizadas numa matriz
universal. Nós, como previa Darcy Ribeiro, prometíamos ser a nova Roma derivada
da miscigenação das raças.
Não somos. Estamos no
limbo da falta de reflexão. Num ponto onde se trocou o esforço pelo chavão, a
realidade pelo marketing, a imagem de se ser uma coisa que não se é pela
vitória da política dos improdutivos, o sindicalismo de resultados gerou a
falsa ascensão social, pelo aumento do consumo, se vendendo a ideia de que é
possível se chegar ao primeiro mundo sem educação, sem reflexão, por meio de
pessoas que não valorizam nem buscam o saber, pela pregação do ódio aos
melhores, pela adoção de ideias alheias sem nenhum senso crítico e até mesmo
pela segregação da elite do pensamento, como se fosse possível construir um
país sem ideias. Nunca o professor foi tão desprestigiado e ignorado como agora. A maioria das grandes universidades públicas estão em greve, os institutos técnicos também, nem o governo liga nem a imprensa tem a menor consideração. Ideias não fazem falta. Vale muito mais a fala vazia de um ministro ou o esvaziamento de um pixuleco por um grupo de militantes pagos.
O Brasil está de costas para o futuro. Como se pode construir
uma nação sem um projeto? Como se pode aceitar como normal ser dirigido por
alguém que não consegue ler dezoito linhas ou não consegue alinhar três minutos
de uma fala coerente? O Brasil que seria o país do futuro se encontra, como
sempre, na fila do atraso. Aceitando, como uma avestruz enfiada na terra, que
podemos continuar a ignorar as melhores práticas de outros lugares, que podemos
crescer, desenvolver sem educação e sem conhecimento. Vivemos, infelizmente,
uma época obscura de hegemonia dos que nunca trabalharam, dos que nunca
pensaram, dos que pregam que é possível construir uma sociedade mais justa fazendo
caridade com o chapéu alheio; que é possível se construir uma nação
privilegiando os que não trabalham e aumentando os impostos de quem produz. Por
isto estamos num desses momentos da história em que o país não produz nada de
interessante. O país precisa de uma grande revolução cultural. O Brasil precisa
resgatar a antropofagia, que sempre foi sua fonte de uma renovação total.
A grande realidade é
que esta coisa da estatização, da venda desmedida da ideologia dos coitadinhos,
gerou uma cultura da banalização, da mediocridade, de pessoas que se expressam
pelo Facebook, ou Whatsapps, por gostar mesmo é da espetacularização, porém, é
incapaz de escrever seriamente, de pensar com profundidade. Não há mais ideias
novas, não há vanguarda, embora o mundo tenha mudado completamente. Qual a
razão? Pessoas sem cultura, sem educação, são incapazes de refletir sobre o
mundo. Elas dissertam sobre tudo, mas, não criam formas novas. Cadê o
pensamento sobre como mudar o Brasil? Como mudar a escola? Só sabem repetir
Paulo Freire ou Marx, Maiakovsky, Foucault ou até mesmo Lacan, mas, onde algo
original? Não é com cotas, com novos impostos, com aumento de juros que faremos
uma nação melhor. É com a educação das pessoas, com a criação de regras estáveis,
com segurança e crença no que os governantes falam. Com menos governo e mais
mercado, mais competitividade e ideias. O Brasil precisa fazer sua revolução
cultural. Precisa revigorar o pensamento antropofágico.
Ilustração: Tela de Theodor
de Bry
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