Devo dizer que não sou
um dos maiores fãs de Messi. Não nego que seja um jogador excepcional, mas, de
certa forma, ele é o Zico argentino. Explico: ele e Zico tem, em comum, o fato
de serem sempre regulares e, em momentos decisivos, serem até mesmo
excepcionais, porém, sempre jogam de forma quase burocrática. E sei que vou
desagradar muito os rubro-negros, mas, na verdade, como Messi, Zico foi um
jogador que se fez pelo esforço, pela disciplina e não seria quem foi, ambos,
aliás, se não jogassem na equipe em que jogaram. A grande diferença, talvez
seja, que Messi veio da escolinha do Barcelona e nela se moldou, enquanto Zico
precisou sair do Flamengo para se transformar num atleta no verdadeiro sentido.
Messi, é verdade, conseguiu muito mais dinheiro e sucesso. Porém, penso que
Zico foi muito mais perfeito em chutar e, para desespero meu, que sempre fui
vascaíno, chutava com perfeição de qualquer jeito. Costumo dizer que Zico foi
um dos últimos grandes ídolos brasileiros que sabia os fundamentos do futebol.
Hoje tão esquecidos, e até mesmo vilipendiados, pela falta de treino, de
disciplina, de aplicação. Os jogadores de hoje, muito bem pagos, podem ver pelo
que fazem, desaprenderam a arte de chutar, de cabecear e, muitos, de driblar
para a frente. De serem mesmo craques. São muito mais celebridades que eficazes
no campo.
Voltando, no entanto,
ao prato principal. Messi desfruta com Zico o dissabor de, na seleção, não
conseguir ser o que é no seu clube e, para piorar, ambos falharam em momentos
decisivos. Não consola, mesmo para Messi, um batedor de recordes, ser a estrela
principal do mundo e não conseguir ajudar seu país a conquistar títulos. É uma
coisa de profissional, sim, reconhecer as dificuldades e chorar por não
conseguir fazer o que se esperava dele. É um fato que o honra tanto ter chorado,
como considerar, mesmo não sendo verdade, na medida que ainda tem muito o que
dar, dizer que não jogava mais por sua seleção por se sentir insatisfeito com
sua atuação. Foi uma demonstração de seu alto nível de cobrança pessoal e um
comportamento que honra sua carreira e seu país. Messi comprovou ser um
verdadeiro argentino com a grandeza de seu gesto. A inconformidade com os
limites é digna dos grandes gênios.
Assim, ouso dizer que é
um fato político importante que, mesmo com a forte chuva que caiu sobre Buenos
Aires, na tarde do último sábado, centenas de pessoas se reuniram no Obelisco,
famoso monumento da cidade, para pedir que Messi não deixe a seleção argentina.
Os fãs levaram bandeiras e cartazes com a expressão "No te vayas Lio"
(Não se vá, Lio), usada desde o último domingo pelo jornal "Olé" para
que o craque volte atrás, gritaram e cantaram. Um torcedor chegou a exibir uma
bandeira em que o comparava a Deus. Certo que é um exagero, mas, que se pode
esperar dos bons e orgulhosos argentinos? O que fizeram é um verdadeiro ato de
humildade: reconhecer a grandeza de quem se esforçou para fazer o melhor e
pedir que continue a fazer. Foi uma manifestação que foi honrosa para Messi,
mas, também para os que a fizeram. De fato, Messi é uma estrela e, nos tempos
atuais, qualquer seleção argentina ou até mesmo qualquer campeonato regional ou
mundial, não há dúvida, que perde um muito do seu encanto, do seu brilho, sem
ele. De forma que, como bom brasileiro, que gosta de bom futebol, também me
associo, mesmo sem pegar a chuva que pegaram, e peço: Não se vá, Lionel. O
futebol fica menor sem sua presença.
Foto: Globo esporte.
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