Uma
dúvida que sempre me assalta é a de que se, de fato, há evolução humana. A
verdade é que gosto de viver e a vida, hoje em dia, neste século XXI, embora
seja, sem dúvida, muito mais confortável, me parece também mais enganosa, mais
difícil de se compreender e o Brasil, também os brasileiros que vivem aqui, e lá
fora, me parecem cada vez mais selvagens e incompreensíveis. No geral, sinto, a
contragosto, uma imbecilização em massa. Vide o recente episódio da Marcela
Tavares em Nova York. Bem é possível que exista um stand-up que preste, mas,
convenhamos, abrir um show de uma banda com um, já me parece uma insanidade.
Outra, e nem preciso que todo mundo concorde, é mulher dizendo palavrão, mesmo
o infantil de santificar os palcos. O problema maior é que, seja qual for a
visão que se tenha da humorista, ela falou a pura verdade: o Brasil está mesmo
insuportável. Aliás, não é o Brasil só. È o mundo. Ou será que todos pensam que
o Donald Trump conseguiu garantir o número mínimo de delegados para ser
candidato por estarmos perto de novos tempos?
Por
todas essas coisas é que tenho tentado me desapegar de tudo. Tudo mesmo.
Livros, papéis, escritos e poesias velhas. Móveis e utensílios nem falo mais.
Conclui, depois de muito tempo de apego, que o desapego é, definitivamente, uma
grande qualidade. É sempre mais fácil o desapego às coisas, mas, também, às
vezes, é preciso, indispensável, o desapego com as pessoas. Isto sempre foi
muito difícil. Diria que, mesmo impossível, para mim, mas, ultimamente, tenho
pensado que é melhor, mais saudável, mais salutar ter menos pessoas, com mais
tempo, com mais carinho, com mais amor e dedicação. E se preciso de uma prova
escuto o bandolim do Lito Casara, o violão do Nicodemos, a voz do Caté e me
regalo com o papo descontraído, líquido e prazeroso dos amigos, como o Marcus Vinicius,
o Demétrio, o Gêgê, os Macaxeiras e alguns novos e instigantes, além de belos
interiormente, como a Tamires e a Taina. Ter o prazer de conviver com pessoas
novas e inteligentes é uma coisa que me faz crer no mundo e solidificar minha
crença de que Marlon Brando não morreu. Quem amanteiga uma mulher como Maria
Schneider sobrevive até mesmo ao último tango.
Talvez
isto também provenha do fato de que alguns amigos, bons amigos, fizeram, creio
que também sem meios de se contrapor, o dissabor de ir embora mais cedo. E a
falta deles dói. Dói muito. Me consola o fato de que alguns me obedeçam e sigam
a regra essencial que imponho aos amigos agora: a de não irem embora sem aviso
prévio. Ainda assim a morte não respeita minhas regras e vai levando quem pode.
Por tudo isto, como se sai desta vida como se entra, sem nada, liso e nu, estou
exercitando a arte de rir até mesmo para saber deixar as coisas e as pessoas
irem, quando não podem, não querem ou não podem mais ficar. Sempre dói, mas, é
melhor se acostumar. Um dia como nos desapegamos deles, então, os que sobrarem
se desapegarão de nós. A arte do desapego faz parte da arte de viver. Bem,
vocês podem não compreender muito bem a
razão de ter escrito isto, porém, é parte de um processo que também não
entendo, ou seja, está perfeitamente coerente com os nossos tempos.
Ilustração: www.viva50.com.br
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