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terça-feira, julho 21, 2020

O NOVO NORMAL NÃO SERÁ TÃO NOVO



Há uma série de pensamentos sobre a vida depois da pandemia do novo coronavírus que me parecem irreais. As pessoas pensam, ou desejam acreditar, que o isolamento pode provocar uma mudança profunda na forma de pensar das pessoas, o que está longe de ser realidade. É verdade sim que altera a forma de vida, porém, me parece que, em que pese algumas atitudes de maior relevância em termos de solidariedade, que a crise leva mais longe ainda as diferenciações que já existiam e eleva o grau de egoísmo das pessoas. Basta ver que, por exemplo, muitas das pessoas que podem ficar em casa veem quase como um crime que outras pessoas, que não podem ficar em casa, procurem meio de sobreviver ou até mesmo façam críticas exacerbadas contra as festas de algumas pessoas (há os que não sabem viver sem festas, em geral jovens). Mas, a crise teve, em termos econômicos, um papel extremamente perverso: concentrou ainda muito mais a renda. Só o sistema financeiro e as grandes empresas lucraram com ela. E impulsionaram uma tendência profundamente anti-social que é a que, inclusive domina a mente de muitas pessoas que se consideram defensores dos pobres, que é a de que pensam na população mais vulnerável com os seus padrões, ou seja, de que essas vivem (e devem)  migrar para o digital. Mas, quem vive no mundo digital? É quem pode. São os que tem mais dinheiro, os que tem acesso a aparelhos e conexões melhores, os que podem se dar ao luxo de ficar comentando a vida, postando nos Facebooks, no Instagram ou comentando em grupos no Whatssap. Mas, esta é a realidade do interior do Brasil? É a realidade das periferias de Porto Velho? Não. Num país em que cerca de 70 milhões de adultos não completaram o ensino médio o mundo digital é uma irrealidade. Uma sondagem feita pela consultoria Usina de Ideias mostra, por exemplo, que 83% das pessoas perderam renda em Rondônia e que, em Porto Velho, mais de 58% das pessoas dependem do auxílio emergencial para viver. Não é a loucura, portanto, que fez as filas que observamos nas agências da Caixa Econômica Federal durante a pandemia, e sim a necessidade. Há muitos analistas, políticos e sociólogos, que se dizem socialistas em mesa de bar, que não sabem nada de povo, que não conhecem ninguém na Zona Sul ou Zona Leste, não conversam nem estão em contato com essa população desassistida. Basta ver  que na Fundação Universidade de Rondônia-UNIR, em relatório do CONSUN, o conselho universitário, sobre inclusão digital  mostra que somente 12,3% possuem uma conexão excelente e 44,4% uma boa e só 78% possuem conexão, assim mesmo grande parte por celular. E 30% possuem computador em casa, mas, de forma compartilhada. Ou seja, mesmo a nossa maior universidade não é digital tanto que se procura meios de ter aulas virtuais, embora, por diversas formas, se tenha atividades virtuais, na maioria,  por  plataformas externas. Então, não se espere muito do “novo normal”. Com certeza, as coisas levam muito tempo para mudar. E a razão está na cabeça das pessoas. Principalmente, das que pensam que sabem o que é melhor para os outros.


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