Analistas
reconhecidos como notáveis, e políticos, diante dos protestos que cobrem as
ruas brasileiras, confessam, se dizem perplexos com o que está acontecendo e
procuram dizer que os protestos são legítimos. Não é lá um primor de ilação,
mas, mostra o quão distante se encontram da realidade brasileira. Mas, os
cartazes que os populares postavam demonstram o que os políticos não desejam
ver: deixaram de representar a imensa maioria das necessidades do País. Tanto
fizeram para se manter no poder, sem estruturar seus partidos, enroscados em
gabinetes, cercados de seguranças e somente fazendo acordos para se manter que
se deslocaram completamente da política que é arte de cuidar dos interesses
públicos.
São
sintomáticos os cartazes que o povo carregava pelas ruas. Eis alguns exemplos:
“O povo unido protesta sem partido”; o povo acordou, o povo decidiu: parem a
roubalheira ou paramos o Brasil”; “A, e, i, a Dilma vai cair”; “Era uma casa
muito engraçada, não tinha escola, só tinha estádio”; “Isso aqui não é Turquia
nem Grécia é o Brasil saindo da inércia”; “Brasil vamos acordar, o professor
vale mais que o Neymar”; “Da Copa abrimos mão, queremos é dinheiro para a saúde
e educação”; “Quando seu filho ficar doente, leve-o a um estádio”; “Não é
Dilma, não é Lula, são todos os políticos” e, o primor dos primores, “Nenhum
partido nos representa”.
Esta
é a grande realidade da atual política brasileira. De tanto protelar as
demandas públicas para apenas se manter no poder, de conchavos em conchavos, de
acordos espúrios em acordos espúrios, os políticos, invés de fazer o que se
espera da verdadeira Política, com p
maiúsculo mesmo, que diz respeito à arte de governar, ao uso do poder para
organizar a sociedade, nas suas diversas instâncias evitando a desordem e
organizando a convivência dos diferentes, resolvendo os problemas comuns, se
organizaram apenas para usufruir de seus mandatos. Não é, como pensam os anões
da política, com p minúsculo, para ser lembrada em períodos de
eleições, onde somos obrigados por lei a votar, mas, nós, que somos seres
sociais, que só desejamos viver bem, ficamos à margem das decisões e, mesmo
quando não concordamos, somos obrigados a nos comportar pelas decisões e ideias
dos que participam e fazem esta política porca, menor que está aí e nos inibe
de nos realizarmos, por não cuidar do que é essencial para a população. A
política de hoje é uma política de pigmeus mentais, que não precisa de elite,
pois, abomina os que pensam e dizem que, certas coisas não se pode fazer, que o
poder exige ritos e comportamentos.
Nós,
cidadãos, a sociedade toda é obrigada a obedecer ao estado, mas, para que esta
obediência seja justa e legítima, as pessoas precisam ter o direito de escolher
os que julgam ser mais preparados para nos representar, governar e para fazer
boas leis. Estas condições, por uma série de razões, não existem. E, quando a
sociedade julga que seus governantes não estão administrando bem o estado, ela
tem o direito e o dever de reclamar, e esta reclamação também é política.
Apenas, quando não se tem, como é o caso atual, instituições que possam
representar suas aspirações, se torna, como no presente caso, uma ótima
oportunidade para a irracionalidade e para o vandalismo pela forma difusa como
se manifesta, embora, é claro, existam grupos que tentam se aproveitar e
manipulá-la para seu proveito. O problema de momentos assim é que, de repente,
podemos voltar aos tempos em que somente a força bruta poderá restaurar a
ordem, mas, empurrando os problemas com a barriga, como nossos políticos tem
feito, o impressionante é que, só agora, a gota d’água tenha feito à
insatisfação explodir. Agora é tentar buscar uma saída antes que algum
aventureiro lance mão de algum esquema janista ou collorido de salvacionismo.
Derrubar instituições, criticar os antecessores e o passado é fácil. Difícil é
construir uma sociedade justa, responsável e com instituições sólidas. Que o
recado nos possa ser útil para retomarmos o caminho da verdadeira política.
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