O The Economist faz previsões de que os países emergentes,
entre eles o Brasil, entrarão em uma fase de menor crescimento. E os argumentos
que utiliza em relação ao Brasil são pertinentes e dizem respeito ao fato de
que não fizemos as reformas necessárias, não fizemos o dever de casa, crescemos
em cima das commodities, crescemos
porque a China cresceu e precisava de nossas matérias-primas. É uma leitura,
sob o ponto de vista político e econômico, correta. O Brasil, malgrado, ter
melhorado não melhorou o suficiente para criar um marco jurídico e econômico
estável e que proporcione o meio ambiente necessário para que viceje o
empreendedorismo e aumentem os investimentos, o que é fundamental para criar um
desenvolvimento efetivamente sustentável.
O governo tem tentado fazer as coisas ao seu modo o que
inclui, num sistema de mercado, a tentativa de manter as coisas sob seu
controle. Isto é visível nas canhestras tentativas de privatização e na busca
de limitar o lucro de setores, como se o maior, ou menor, lucro não fosse um
dos mecanismos que faz com que o mercado funcione. Depois, mesmo quando tenta
mudar, tenta mudar aos pedaços. Ora, não se faz reforma política, ou econômica,
por fatias, nem é aceitável que o governo faça, como tentou com a questão do plebiscito, uma consulta
sobre problemas abstratos a um povo que demonstra, nas ruas, a falta de
confiança nos seus representantes, que reclama pelo fato de não se sentir
representado. O que se vê claramente é que o nosso sistema democrático não tem
funcionado a contento e que é indispensável que se modifique as regras para que
se tenham políticos eleitos com representatividade, com legitimidade.
É preciso, portanto, que haja propostas de mudança que se
orientem não para atender as necessidades governamentais, ou partidárias, mas,
para valorizar a opinião, o debate sobre políticas públicas e a elaboração de
um projeto para o País. É evidente que isto não é nada fácil. Quem está no
poder não pretende abrir mão dele, nem construir um sistema onde a
representação política seja um serviço público, um apostolado, uma expressão da
honra, e não uma carreira. Isto, é evidente, somente acontecerá, no longo
prazo, porém, a defasagem que existe entre o ideal e a realidade já produz
efeitos substanciais. Basta ver a última pesquisa Ibope divulgada, na qual a
avaliação negativa da presidente Dilma Rousseff supera a positiva pela primeira
vez desde março de 2012 e que mostra que os governadores dos Estados mais ricos
e populosos também enfrentam a desconfiança dos eleitores. É uma pista vital
para se entender o que pensa o povo a respeito do momento político atual. O que
se verifica é que a desaprovação a Dilma, não se deve a aumentos sazonais de
preços, boatos sobre Bolsa-Família e seca no Nordeste. É mesmo uma rejeição ao
governo que inspira graves preocupações e deixa desconfortável todos os governantes
e políticos, que vão precisar responder às demandas de um eleitorado cada vez
mais desejoso de mudanças, seja na situação material como institucional. E, com
índices menores de crescimento, as mudanças serão inevitáveis.
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