O mundo precisa de
ordem. E a verdade que há uma certa ordem até mesmo no caos. Só os anarquistas,
que não primam, aliás, por deixar de gostar das coisas que funcionam, das
coisas bem ordenadas, é que são capazes de acreditar que a ordem não seja
necessária. Aliás, o problema deles não é nem mesmo a ordem. Eles não gostam
mesmo é que haja comando, governo, mas, sem estas coisas, aí, principalmente,
com a complexidade do mundo moderno, é que nada funciona mesmo. A ordem, por
menos que gostemos, dela é uma necessidade essencial. Claro que, mais jovem,
também me rebelava contra a ordem estabelecida, mas, existiam razões sensíveis:
o mundo era preto e branco. As coisas eram mais simples: havia um governo
militar e se desejava a democracia. Era evidente quem estava de um lado ou de
outro e o que se desejava era o que, hoje, existe: um governo eleito pelo voto.
Dos anos 80 em diante o
mundo mudou muito e o Brasil muito mais. A democracia que foi conquistada a
duras penas, porém, como se esperava, melhorou muito as coisas, sob os aspectos
de liberdade e de opinião, porém, não resolveu, como era a ilusão reinante, os
grandes problemas nacionais. O crescimento, por exemplo, não foi o mesmo do
governo militar, seja porque, há que se reconhecer, os militares usaram a
melhor capacidade técnica possível existente e fizeram, em áreas essenciais,
escolhas que foram corretas. Fizeram uma enorme dívida pública? Fizeram. Porém,
é inegável que criaram um Brasil muito maior economicamente e com possibilidades
de pagar a dívida sem problemas. Foram as escolhas civis, o não pagamento dos
juros da dívida externa e a falta de combate adequado à inflação que fizeram
com que, entre 1986 e 1994, o país voltasse aos níveis de produção dos anos 70
com governos populistas que não faziam o que deveriam fazer. Só com o Plano
Real, a coragem de Itamar Franco, e com uma equipe sob o comando de FHC, é que
começamos a trilhar os caminhos corretos. A estabilidade, as reformas, as
privatizações, a consolidação e o controle da dívida pública (que nem se sabia
de quanto era) e a Lei de Responsabilidade Fiscal permitiram ao país viver uma
nova realidade e consolidar o processo democrático.
A ascensão de Lula da
Silva, mesmo saudado como o supra sumo do processo, sempre me pareceu um
problema. Nada contra Lula, que tem seus evidentes méritos, mas, sua falta de
determinação e preparo eram, sempre foram, evidentes. Não que seu governo não
tenha tido méritos. O maior deles foi manter a receita e melhorar, de forma nem
sempre adequada, o acesso dos pobres a uma vida melhor. Menos pela melhoria
efetiva da renda do que pelo aumento do crédito, pois, saímos de um patamar de
24% do Produto Interno Bruto-PIB de crédito para os 49% do final de seu
governo. O consumo interno aumentou muito é a pura verdade. Graças ao
endividamento geral também é verdade. O que é essencial para termos um país
melhor: valorizar o trabalho, a educação, criar serviços de qualidade,
consolidar a burocracia pública, diminuir a carga tributária, melhorar a vida
dos aposentados, porém, foram promessas esquecidas. Embalado no marketing e nos
elevados índices de popularidade o líder petista criou um monstrengo: a
satisfação completa dos muito ricos, uma ligação direta com a população mais
carente por meio de benesses e o sufocamento das instituições, em especial, o
Congresso pela cooptação econômica e por distribuição de cargos das oposições.
A classe média, os servidores públicos, os militares pagaram a conta com
aumento de impostos e queda de seus rendimentos. No geral, sem contestação política, Lula deixou as coisas correrem, empurrou os
problemas com a barriga e elegeu sua sucessora fazendo os acordos mais espúrios
possíveis e carregando consigo a carga de seu governo ter sido palco do maior
escândalo público de todos os tempos. É esta herança maldita que uma Dilma
atônita tenta equilibrar sem ter forças nem a percepção de que só desligando-se
de seu criador e matando os monstros ocultos debaixo do tapete. Terá força e
grandeza para isto? Não sei. Sei que sugerir plebiscito é uma solução
insolúvel. Sei que, hoje, falta uma visão do que desejamos, de para onde
desejamos ir. E o povo nas ruas, também sem lideranças e sem caminhos, é um
perigo para o aventureirismo e as soluções de força. É tempo de se ter a calma
e o bom senso de verificar que precisamos, em nome da democracia, dar uma
trégua para que se possa pensar em soluções e não apenas pressionar um governo
que, embora não seja nem um pouco o que desejo, foi eleito contra a minha
vontade e, em respeito à democracia, não podemos fazer com que seja empurrado
para as cordas e haja uma quebra da ordem isntitucional. É hora das lideranças
conscientes começarem a dizer que é preciso que as manifestações de ruas tenham
fim e o país volte à normalidade. Não há solução mágica e só com a democracia
funcionado poderemos ter uma representatividade real e as mudanças que
desejamos. Continuar indefinidamente protestando e parando as atividades
econômicas é um convite ao retrocesso.
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