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quarta-feira, junho 07, 2006

A RELATIVIDADE DO INSULTO

Um insulto tem, muitas vezes, um poder devastador. Se formos procurar, na história, certamente, há muitos mais insultos que criaram perturbações políticas do que se possui registro. Com certeza, também, muitos conflitos tiveram raiz num gesto de desprezo ou na depreciação provinda de algum grupo étnico depreciado. Talvez também se subestime seu valor em trabalhos da literatura e da arte.
É, no entanto, em nível individual, que o insulto é arrasador. Muitas vezes detona a moral de alguém ou provoca uma reação inesperada e, não raras vezes, extrema que tanto pode ser uma reação física, como um murro ou uma bofetada, como pode resultar na anomia, na fuga desesperada, na renúncia ou mesmo no suicídio. Insultos despertam os mais diversos sentimentos como ansiedade, depressão, desespero, raiva, desgosto.
Corrói a confiança nas próprias forças ou ativa o desejo de responder com muito mais força ainda e com muito mais insultos. Agora o que é insulto mesmo? O Aurélio não o trata com o merecido respeito. É pobre mesmo na sua definição dizendo sobre ele apenas que vem do latim medicinal insultu, que se trata de um substantivo masculino, tendo como significado injúria, ultraje, afronta, ofensa e como adendo que, em Medicina, significa ataque. Para mim o dicionário parece insuficiente e uma falta de respeito a uma palavra tão poderosa que deveria, no mínimo, lembrar que se trata de ser bruto, insensível, rude ou insolente com alguém, ou seja, deixa de lado o fato que um insulto é uma ação, ou uma inação também, que implica na humilhação de outra pessoa.
O insulto, todavia me parece ainda assim mais complexo. Talvez até mereça um livro que o explique porque também para que exista não se trata apenas da ação deliberada. É preciso que o outro também sinta que está sendo desprezado. Como, por exemplo, o Brizola chamou Lulla da Silva de “Sapo Barbudo”. Isto é um insulto? Acredito que não. Embora os sapos nunca tenham se pronunciado a respeito.
Agora o jornalista americano que chamou Lulla de “pinguço” claramente o insultou, embora possa alegar em sua defesa que se limitou a “constatar” os fatos. Aqui o insultado, efetivamente, chiou e reagiu, inclusive, de forma despropositada, querendo despachá-lo sem demora de volta à pátria. Pode-se também discutir o impacto e o tempo de reação do insulto. Há insultos difíceis de entender e há os que jamais são entendidos. Ou o que é um insulto, para mim, não é um insulto para os outros. Hoje me sinto assim insultado quando sei que Lulla da Silva é presidente do Brasil, por exemplo. É. Até o insulto é relativo. Para alguns a ignorância deve ser o paraíso. E isto é um insulto em massa.

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