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domingo, setembro 23, 2007

É PRECISO REAGIR

A VERGONHA FLORESTAL
Só há uma palavra correta para o anúncio da primeira concessão de florestas a ser feita pelo governo federal. E esta é o celebre bordão de Boris Casoy: “É uma vergonha”. Depois da queda, o coice. Depois da absolvição de Renan Calheiros desmoralizando o Senado nada pior para o país que esta entrega silenciosa e definitiva da Amazônia. O grande geógrafo Aziz Ab’Saber, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBPC, brasileiro de indiscutível saber e mérito posicionou-se duramente contra o Ministério do Meio Ambiente pela licitação da primeira área pública para concessão, a Floresta Nacional-Flona do Jamari, em Rondônia. Suas palavras:“Tenho absoluta certeza que o exemplo, mais uma vez, mostra que o Brasil continua não sabendo gerenciar sua floresta. Estão, agora, privatizando a floresta. Não pensam no futuro. Tenho raiva da ignorância ambiental que existe nesse governo. Estou indignado”, frisou Ab’Saber. Aos 83 anos, confessou ser esta uma das “maiores tristezas” de sua vida. Ele está triste. Agora perguntem como estou que considero a medida safada, anti-nacional e uma porta aberta para se perder o controle da Amazônia. A resposta é impublicável.
Na verdade sempre fui contra a política adotada no Meio Ambiente que é surda, cega e insensível à nossa realidade. Basta verificar que, quando alguém deseja plantar alguma coisa, há toda a sorte de impedimentos que vão desde de que pode plantar e não conseguir retirar até o fato de que a burocracia e as interpretações das leis ambientais deixam qualquer empreendimento ao sabor do dirigente de plantão e, afora os custos exorbitantes de atender as leis, a preocupação existente se situa apenas na fiscalização. O resultado todo mundo vê, embora as estatísticas escondam, o desmatamento avança na medida em que o governo não pode com a iniciativa privada nem com a devastação ilegal.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao anunciar o processo de licitação de 1 milhão de hectares de florestas públicas, diz que “Todas as inverdades sobre a Lei de Gestão de Florestas Públicas estão agora sendo desconstruídas”. Não dá para levar a sério. Este tipo de concessão é somente falta de patriotismo, de visão ou até mesmo um modo de servir a interesses pouco claros. Utilizar uma medida desta como forma de “resolver” a questão da preservação é criminoso.
Na verdade é um meio de impedir o acesso dos locais (que jamais terão condições de participar contra grandes grupos externos ou cumprir a burocracia que se impõe), mas, o que jamais pensei foi que, logo, a primeira área pública a ser licitada fosse aqui, na Floresta Nacional-Flona do Jamari, em Rondônia. A unidade de conservação do Jamari tem 220 mil hectares de extensão, dos quais 90 mil hectares serão concedidos, mas, não é, como muitos pensam, uma área sem ocupação. Não importa. Importa é que nós, rondonienses, não podemos e não devemos aceitar este verdadeiro estupro de nosso território. A meu ver é hora de fazer um movimento contra esta licitação entreguista e anti-nacional. Se querem entregar algo aos estrangeiros é melhor, então começar licitando o Ministério do Meio Ambiente e uma porção de parlamentares que aprovam este tipo de lei. Se a ministra acha tão boa a medida devia começar pelo Acre.

sexta-feira, setembro 14, 2007

A RELATIVIDADE DAS ANÁLISES

A Imprensa Ideal
Seria até engraçado se não fosse doloroso, mas, até mesmo alguns jornalistas tidos como “sérios” embarcam na tese furada, que tem sua origem no filósofo petista Wanderley Guilherme dos Santos, de que “a imprensa no Brasil é um partido político” porque, segundo ele, “se considera indestrutível porque resiste à democratização, à republicanização do Brasil” (sic), por culpa da “capacidade que a imprensa tem de criar movimentação popular, de criar atitudes, opiniões, independentemente do que está acontecendo na realidade”, ou seja, para ele, “a imprensa brasileira tem a capacidade de gerar crises, instabilidade política”. Este poder seria derivado da concentração das notícias em grandes jornais e revistas e da TV Globo.Para Wanderley, este poder é utilizado contra o governo Lula da Silva por suas “prioridades óbvias”, supostamente sua atenção “as classes subalternas”, o que irrita e “faz com que aumente a disposição da imprensa para acentuar tudo aquilo que venha a dificultar e comprometer o desempenho do governo”.
Não se pode negar ao emérito professor sua capacidade de elaboração de teses. O problema talvez esteja na memória, na leitura ou na ideologia. Na própria imprensa também grassa uma outra vertente da mesma tese que é a de que a imprensa estaria julgando, sendo, ao mesmo tempo, “delegados de polícia, promotores públicos, juízes, júri e carrasco”, ou seja, estaria extrapolando suas prerrogativas de consciência nacional e praticando excessos porque, nas palavras de alguns, “a opinião publicada não é a opinião pública”. Engraçado é que, no passado, quando o PT acusava sem a mínima prova, quando na ânsia de cortar cabeças insistia em criminalizar qualquer ato alheio não havia o mínimo questionamento sobre o papel da imprensa que, ao acusar os integrantes do governo FHC por qualquer coisa apenas “exerciam o papel da imprensa livre”. Há!Há!Há!
Ora, a imprensa se alimenta de noticias e, ninguém nega, que, em geral de notícias ruins. A questão é a de que quem a fabrica, nos últimos tempos, quem plantava, e planta, notícias é o próprio governo, o partido do governo e seus integrantes. Nem se precisa lembrar de partidários do PT, membros do MP, que foram punidos por alimentar a imprensa com notícias contra autoridades ou o que a imprensa carinhosamente chama de “fogo amigo”. A grande realidade que não se pode esconder é a de que “nunca antes neste país” um governo fabricou tantos escândalos e, a rigor, a imprensa, que sempre foi de esquerda, alisa mais do que bate e, as empresas, principalmente as grandes, enchem as burras de dinheiro, satisfeitas com o governo Lula da Silva. Se não escondem mais é não dá. Nunca, de fato, a lama foi tão grande e a transparência da Internet deixaria seus meios de comunicação em maus lençóis. A verdade verdadeira é que nunca houve uma imprensa tão pouco investigativa e submissa quanto à do Brasil atual. O sonho do governo Lula e de seus ideólogos, porém, é de que tenhamos uma imprensa tipo três macaquinhos: sem ver, sem ouvir e sem falar.

QUE PAÍS!

Uma lição de falta de vergonha
Só há um dado que é pior para o país do que a absolvição de Renan Calheiros: é, sem dúvida, a normalidade com que o resultado foi encarado e a falta de vergonha dos principais atores. Desde que filmaram Waldomiro Diniz, um assessor de Zé Dirceu, próximo de Lula da Silva, pedindo propina para bicheiro, que a norma tem sido a da mais completa impunidade coberta pelo argumento petista de que tudo é somente “caixa 2” eleitoral e que, no fim, todos são iguais, daí que ninguém tem mais ética do que o nosso operário presidente que, no entanto, somente se sustenta com o apoio dos que, ontem, execrava públicamente como o próprio Renan, Sarney, Jader Barbalho, Orestes Quércia e tantos outros.
Neste sentido a salvação momentânea de Renan se constitui apenas numa reprise da gigantesca pizza servida pelos poderes desde 2005, quando permitiram que o presidente Lula da Silva escapasse impune do escândalo do mensalão, sem tentar seriamente o “impeachment”, malgrado a fartura de evidências de sua responsabilidade por práticas delituosas, seja como mandante ou omisso. Neste sentido a não condenação de Calheiros segue a lógica do próprio presidente que, em tempos passados, no começo da crise, afirmou que a primeira mentira exige outras, mais outras e outras até que já não se possa mais cobrir o descalabro que as sucessivas mentiras provocam. Assim, na verdade, o caso Renan é apenas uma reprise, uma repetição das mesmas práticas, inclusive com muitas das mesmas pessoas, pois salta aos olhos que a política foi reduzida a um círculo no qual os fins justificam os meios e os interesses particulares e imediatistas são sempre colocados acima de qualquer interesse público.
O mais triste ainda é verificar que a sustentação dos interesses de um grupo partidário é feita com a benção de banqueiros, rentistas e grandes empresários em detrimento do futuro do país e da maioria dos brasileiros que são condenados à perpetuação da desigualdade por um esquema que utiliza uma roupagem de esquerda e social por meio de um assistencialismo que mitiga, hoje, a subnutrição de milhares sem lhes proporcionar capacidade de obter uma existência digna. O episódio Renan Calheiros somente expõe que os membros do Executivo e Legislativo, em sua maioria, são cúmplices deste estado de coisas e não possuem a menor vergonha de posarem para fotos como marionetes de um governo que não oferece nenhuma opção, exceto o agravamento da doença. Infelizmente se há uma derrota, se houve uma derrota, esta foi da vergonha e do Código Penal.