Tomo conhecimento, com muito pesar, da morte de Luiz
Malheiros Tourinho, o notável empresário Luiz Tourinho, não somente o
responsável pela manutenção por mais de meio século do jornal Alto Madeira,
mas, sem dúvida, durante, pelo menos, trinta anos um dos mais importantes
empresários do Território e, depois, Estado de Rondônia. Certamente, Luiz
Tourinho nunca teve, em vida, um reconhecimento à altura do enorme papel que exerceu em
nossa sociedade. Ao contrário dos irmãos, que enveredaram por caminhos mais
suaves, Luiz foi, ao seu modo, um gênio do mundo dos negócios e um articulador
político excelente de bastidores. Como um homem que disputa poder teve seus
admiradores e seus adversários e os tratou de acordo com seus interesses e grau
de ferocidade que as lutas pela sobrevivência exige. Não foi um santo, claro,
porém, não se pode negar sua grandeza como figura de relevo no panorama
estadual. E sempre foi amigo dos seus amigos. E sempre foi um homem de
princípios. Leal até mesmo com os adversários avisava do que não gostava e não
negava as atitudes que tomava na defesa dos seus interesses.
Logo cedo surgiu como uma liderança estudantil e,
depois, empresarial. Teve uma passagem vitoriosa pelo Banco do Brasil que, para
ele, foi uma escola e ganhou dinheiro com seguros, depois enveredando por
outros negócios, de fato, criou um pequeno império que geriu com tino e
sagacidade. Foi proprietário da primeira revendedora de automóveis Fiat e de
uma corretora de seguros, bem como também foi proprietário do jornal O Rio
Branco e da Rádio Rio Branco, no Acre, onde se formou como advogado. Um homem
de larga visão, que, depois de ter sido dirigente da Associação Comercial de
Porto Velho, teve o mérito de, com os empresários José Ribeiro Filho e
Frederico Simon Camelo, ser um dos responsáveis direto pela criação das
federações do Comércio e da Indústria de nosso Estado. Depois, por longo tempo,
seria presidente da Fecomércio, como também presidente do Conselho Deliberativo
do Sebrae, que ajudou a fundar em nosso
Estado. Incansável participou também da criação da Federação da Agricultura e
Pecuária (Faperon). Entre outras coisas construiu o prédio Rio Madeira, o
primeiro grande edifício privado de nossa capital e que também foi pioneiro em
ter elevador. Na transformação do Território para Estado, quando o Alto
Madeira, atingiu o auge como jornal estadual mais importante, exerceu um papel
muito grande junto ao governador Jorge Teixeira tendo, inclusive, sido
responsável pela indicação de postos importantes do governo. Também exerceu a
função, no governo Raupp, de secretário de Indústria e Comércio. Foi, com o
governador do Acre, Nabor Junior, iniciar com uma comitiva que foi ao Peru, convidado
pelo ex-presidente Belaunde Terry, em 1983, o sonho da Saída para o Pacífico,
que, depois seria uma bandeira que gerou a atual estrada Bioceânica que, liga
via Assis Brasil, com o Peru e os portos do Pacífico. Recentemente lançou um
livro em que defendeu a necessidade da integração latino-americana, em
especial, da integração de nossa região com os países vizinhos.
Com sua morte, certamente, nossa paisagem
intelectual fica muito mais pobre e perdemos a oportunidade de ter um retrato
muito preciso da história política estadual, de vez que havia prometido fazer
um livro de suas memórias que, com certeza, seria muito esclarecedor de uma
época política (e rica) da história mais recente do Estado. Com a morte de Luiz
Tourinho fecha-se um ciclo, pois, deve ser um dos últimos remanescentes dos
grandes empresários que participaram ativamente da vida pública no final do
século passado. Ele foi o nosso grande empresário que se fez por si mesmo, de
certa forma, embora mais diversificado, foi o nosso Assis Chateaubriand, um
Chatô eclético, que formou um império e ergueu bem alto o nome da família
Tourinho na região. A morte, como se sabe, é inevitável, mas, nem por isto não
se pode deixar de lamentar quando morre um homem que participou e escreveu
parte de nossa história. No mínimo, para ser justo, se deve dizer que morreu um
grande empreendedor. E que será impossível escrever a história empresarial de
nosso Estado sem considerar sua imprescindível colaboração.