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quinta-feira, dezembro 20, 2012

Não basta ter Neymar




Um grande estudioso do inconsciente, a porção não compreendida da mente, o psicólogo suíço Carl Gustav Jung, recuperou da alquimia medieval o termo “enantiodromia”, que, na sua concepção, teria o significado de que qualquer tipo de superabundância de uma força que produz o seu inverso. Assim, por exemplo, numa sociedade que cria muitos freios e contrapesos, que limita a liberdade individual e coletiva, o excesso de limites tenderá a gerar uma nova geração libertária. O oposto também é verdadeiro (e comprovado). O que há de interessante na ideia é que não deixa de ser um apelo e uma forma de equilibrar a sociedade, e as pessoas, o fato de que este movimento pendular se torna um processo que tende a compensar o que é danoso ao fluxo normal da energia psíquica, ou seja, o fato do excesso gerar o seu oposto serve para manter a saúde social e mental.
A ideia também é boa na medida em que possui o aspecto essencial da vida: a mudança constante. Há pessoas que se aferram a algumas ideias e não mudam e, em certas circunstâncias, até alcançam o sucesso desta forma, porém, se trata de casos excepcionais. O normal é a mudança, de vez que tudo muda mesmo que, como escreveu Tomasi di Lampedusa “Tudo deva mudar para que tudo fique como está”. Pensamento que traduz a certeza de que a mudança de costumes, a evolução das pessoas e da sociedade é muito mais lenta do que se pensa. Aliás, é preciso dizer aqui que nada tenho contra Dom Quixote e suas lutas contra moinhos. Até estimulo alguns. É necessário indispensável que existam os utópicos, os que sonhem com o mundo de amanhã, mas, a construção do futuro é lenta, exige esforços diários, humildade, menos individualismo e muito mais dialogo, construção de um grupo que pense da mesma forma, porém, pela discussão, pela construção de uma base comum de ideias, de uma constante troca de opiniões, num clima de liberdade e de diversidade. É indispensável que a energia flua, que as idéias mudem, que os conceitos se transformem, que se agregue pessoas para pensar e resolver os problemas da sociedade. Numa sociedade complexa como a atual não existe mais como as coisas serem resolvidas por um líder sozinho, por mais carismático e talentoso que seja. É claro que o personalismo existe, e sempre existirá. As grandes personalidades, os grandes líderes, são seres que são socialmente moldados pelas circunstâncias para ocuparem certos espaços e resolverem os problemas sociais com sua perseverança e força de vontade. No entanto, num mundo cada vez mais multifacetado, usando os símbolos do futebol, hoje, tão comuns na política, cada vez mais, o talento individual está sendo soterrado pelo jogo coletivo. Não basta apenas ser Neymar. É preciso que se possua uma equipe jogando junto para não virar Santos em dia de Barcelona. E, como comprovou o Corinthians este ano uma equipe jogando coletivamente é muito mais poderosa que apenas um ou alguns grandes jogadores jogando sem conjunto. Quando não se aprende na escola -dizem os sábios-a vida ou o campo ensina.

domingo, dezembro 09, 2012

O espírito animal enjaulado


Embora o governo petista jamais queira admitir os fundamentos macroeconômicos da economia brasileira continuam a ser os do governo Fernando Henrique. As mudanças nele introduzidas, foram, de um lado, pontuais, e de outro, uma mudança estrutural que, longe de aperfeiçoar e ajudar o crescimento, importam num sensível retrocesso. Saímos de um governo com evidente cunho, e visão, de que o setor privado é responsável pelo desenvolvimento, para um governo que pretende ser intervencionista e desenvolvimentista. Claro que algum grau de intervencionismo do governo é necessário e desejável, mas, sua função precípua é ser regulador, é prover a economia de um ambiente econômico propício para o empreendedor. Governo não faz desenvolvimento. Quem faz desenvolvimento é a livre iniciativa. 
Não se nega o sucesso do governo em promover uma melhoria dos estratos mais baixos da população. Também é preciso notar que este se fez por meio do crédito, mais que duplicado, que aumentou o mercado interno, e o endividamento, porém, sem uma melhoria da capacidade produtiva do País. A inclusão social foi feita pelo aproveitamento da capacidade produtiva e da mão de obra ociosa (e de baixa qualidade tanto que predominam o crescimento de baixos salários) e pelos programas sociais que, como se sabe, não geram aumento da produção. O maior consumo que decorreu deste aumento de renda tem sido atendido mais pela importação do que pelo aumento da produção interna, ou seja, com a exportação de empregos e de renda. Como as reformas, tributária e trabalhista, não avançam, nem poderiam avançar sem criar problemas políticos para a sustentação governamental, o que é essencial para a sustentabilidade do crescimento brasileiro, o aumento de investimentos e de competitividade, se arrasta ou retrocede, apesar de todas as alegações de que estamos no melhor dos mundos possíveis. Na busca de uma solução o governo tenta medidas pontuais seja tentando baixar juros, criar barreiras no comércio exterior ou baixar os custos setoriais, seja por desoneração de impostos ou intervindo como fez no setor elétrico, mas, sem sucesso. O baixo desempenho brasileiro, ao contrário do que pregam, é fruto das condições internas e não externas, como se apregoa como desculpa.
Talvez esquecendo a máxima de D. Pedro de que, “Quando não se sabe o que fazer não se deve fazer nada” há uma propensão a um voluntarismo que muito tem de autoritário quanto de inútil. Não se desperta o “espírito animal” do empresário à força. Empresários não se encantam com discursos ou promessas sem o respaldo do tilintar das moedas. E criando mais incertezas, tornando o ambiente econômico ainda menos saudável, pela imposição de normas que tendem a baixar os lucros e impor restrições à liberdade econômica, não se aumentam os investimentos que, para desespero, dos burocratas governamentais não reage de acordo com suas formulas mágicas. O protecionismo e o intervencionismo do governo atual está indo na contramão do que desejam, que é aumentar o crescimento econômico. 
E não adianta acenar com novos pacotes quando é pífia execução dos projetos e investimentos públicos. Isto não anima mais ninguém. Não é preciso demitir o Mantega. É preciso, sim, que o governo faça o dever de casa. Corte impostos, faça reformas e melhore o gasto público. Com um melhor desempenho, cuidando de suas funções, criando um maior estímulo aos micros e pequenos, com um ambiente econômico mais adequado, os empresários brasileiros já provaram, até por estarem aproveitando as oportunidades mundo afora, que são capazes de investir mais e gerar maior crescimento. Não, porém, com uma situação em que, apesar das perspectivas favoráveis, a intervenção do governo cria mais incertezas que crença num futuro melhor.

terça-feira, dezembro 04, 2012

O paradoxo brasileiro




Se houve um consenso na Conferência sobre Relações Exteriores-CORE 2012, realizada pela Fundação Alexandre Gusmão em parceira com a Universidade de Fortaleza-UNIFOR, no dia 29 último, foi o de que o Brasil ganhou importância no cenário internacional. Tal destaque foi enfatizado, por exemplo, pelo próprio presidente da FUNAG, Embaixador José Vicente de Sá Pimentel, pelo Embaixador Carlos Henrique Cardim, que enfatizou a importância do Brasil, a partir do mapa mundial e pela globalização do futebol, bem como nas palavras da Ministra Vera Cintia Cunha Alvarez que disse ser este "o momento do Brasil" ressaltando que nós temos o que mostrar, numa conjuntura recessiva, a partir de uma "política pública extremamente necessária para todos os países"  que seriam as experiências de programas sociais redistributivos como o Bolsa Família. Também o emérito professor Renato Baumann ressaltou a proeminência do Brasil e sua crescente participação nas decisões internacionais ressalvando, porém, que se o Pais se tornasse de fato um protagonista central na multipolaridade "seria o primeiro caso de um país se tornou poderoso por meios pacíficos". Outros que também ressaltaram a crescente importância do Brasil, como o fizeram, por exemplo, o professor Renato Galvão Florês Junior, que, aliás, elencou e analisou os atores importantes da cena mundial, fizeram questão de destacar o softpower que nosso País propõe com uma agenda social positiva.
De fato o Brasil, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e no atual, mesmo com os baixos índices de crescimento, conseguiram melhorar a distribuição de renda e aumentar o consumo interno, em grande parte graças a uma melhoria dos estratos sociais mais pobres, por um crescimento da renda que não tem contrapartida produtiva, bem como uma notável expansão do crédito e, em consequência do endividamento das famílias. É verdade que, diante da crise, o Brasil apresenta uma relativa solidez econômica, estabilidade política e conquistas sociais significativas, mas, o paradoxo brasileiro é que, ao vendermos externamente, uma imagem de capacidade de resolver nossos problemas e propor uma formula para os outros países, em contrapartida, como ressaltou o Embaixador Valdemar  "O Brasil está perdendo mercado para a China em todos os mercados e até internamente" por conta não somente do câmbio alto, da falta das reformas fundamentais (tributária, trabalhista e política, entre outras) e a insuportável burocracia que afetam a nossa competitividade.
Em suma, o Brasil melhorou, porém, como comprovam os baixos índices de investimentos e os gargalos da infraestrutura e a ausência de um ambiente econômico adequado e estável ao desenvolvimento não resolvemos nossos problemas fundamentais. Assim,  se, como acentuou o professor Marcos Ferreira Costa Lima, "O Brasil está caminhando para uma liderança maior", os que pensam criticamente apontam que estamos longe de resolver os nossos problemas e a desigualdade interna, inclusive regional, o que não nos autoriza a dar lições a ninguém. Se isto não é um empecilho para termos uma agenda positiva e propositiva nas relações internacionais, no entanto, devemos ter a humildade de reconhecer que há um dever de casa a ser feito. Que o paradoxo brasileiro é que pretendemos resolver os problemas mundiais sem ter resolvido os grandes problemas internos cujos principais ítens da agenda permanecem os mesmo a quase duas dezenas de anos. 
 

domingo, dezembro 02, 2012

CONFERÊNCIA SOBRE AS RELAÇÕES EXTERIORES-CORE 2012


Com a abertura realizada pela Reitora da Universidade de Fortaleza-UNIFOR, Fátima Maria Fernandes Veras, pelo Presidente da Fundação Alexandre Gusmão-FUNAG, Embaixador José Vicente de Sá Pimentel, a Autoridade Olímpica, Marcio Fortes e a Vice-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIFOR, Lilia Maia de Morais Sales, a Conferência Sobre Relações Exteriores-CORE, em Fortaleza, durante os dias 29 e 30 de novembro último, discutiu assuntos relevantes para o País como os megaeventos, cultura e diplomacia, a crise econômica e as perspectivas para o Brasil, os desafios à paz e à segurança com a conseqüente necessidade de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, meio ambiente, as perspectivas da multipolaridade e os caminhos para a cooperação entre a Academia e a Diplomacia, relação esta título, aliás, de excelente tese Embaixador Gelson Fonseca Júnior. O objetivo do evento foi, efetivamente, alcançado com a presença maciça, durante os dois dias do evento, de diplomatas, representantes do governo, acadêmicos, formadores de opinião e estudantes que tiveram oportunidade de ouvir palestras sobre os principais temas da política externa brasileira, seguidas de debates. Uma pena a pouca cobertura dada pela imprensa à Conferência que será gravada e terá seu conteúdo convertido em livro, a ser publicado em 2013 pela FUNAG. Perde o público por não ter tido acesso a informações que, certamente, ajudariam muito a ter uma visão mais correta da cena das relações internacionais brasileiras e até mesmo de outros tipos de problemas internos, como a falta de investimentos, de reformas, de política para melhorar a competitividade e o bem estar de nosso País. Não é sempre que se consegue reunir num mesmo local uma diversidade tanto intelectual, quanto geográfica, para discutir problemas brasileiros de uma forma surpreendentemente aberta, na medida em que se sabe que a diplomacia é muito reticente em externar suas opiniões. Porém, talvez, devido ao contraste, ressaltado pelo Embaixador José Pimentel, entre os que podem se dar ao luxo de pensar livremente e os que tem que agir, tenha tornado as palestras e os debates extremamente estimulantes. Contribuiu para o brilho do evento a feliz escolha de excelentes nomes para abordar os temas como são os casos do Embaixador Carlos Henrique Cardim, Marcio Fortes, Ministra Vera Cintia Alvarez, Cacá Diegues, Renato Baumann, Renato Galvão Flôres Junior, Embaixador José Viegas, Embaixador Valdemar Carneiro Leão, Embaixador Gelson Fonseca Junior, Embaixador Ronaldo Mota Sandenberg, Ministro Norberto Moretti, Ana Flávia Granja e Barros, Ministro Flávio Damico, Antonio Jorge Ramalho da Rocha, Conselheiro Fernando Pimentel, Ennio Candotti e o notável Embaixador João Clemente Baena Soares. Isto sem contar que, na platéia, despontavam nomes como o do professor e escritor Antônio Walber Muniz, o professor Doutor José Flávio Sombra Saraiva, a coordenadora do curso de Relações Exteriores do Amapá, Ioneida Cunha, o professor Manoel Coracy Sabóia Dias, que, com intervenções corretas, mostrou o quanto há de desconhecimento sobre a realidade amazônica, e o professor André Santos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lá no outro extremo, entre muitos outros. Porém, se a diversidade e a polêmica estiveram presentes também ficou evidente que existem alguns consensos, como a emergência da China, que os Estados Unidos, mesmo perdendo poder, continuará a ser um player muito importante, que a crise européia ainda vai durar mais de cinco anos, que os BRICs vieram para ficar, que a globalização do futebol é um feito brasileiro e o esporte uma forma forte de posicionar o país na cena internacional, a constatação de que, embora econômicamente, o Brasil não tenha crescido, ganhou importância política no mundo, bem como que precisa, urgentemente, fazer o dever de casa. Neste sentido, a FUNAG fez seu papel ao dar uma excelente contribuição aproximando os acadêmicos e a diplomacia, mas, ficou também muito evidente que existe a falta uma política regional adequada, que é descoordenada, perdulária e pífia a execução governamental, bem como que se trata a questão da Ciência e da Tecnologia e a defesa de nossas reservas de uma forma distorcida e, para completar, puxando o fogo para a nossa sardinha, o Brasil não tem dado a atenção merecida à Amazônia.