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sexta-feira, abril 29, 2016

O DISCURSO INSENSATO DOS NEOSOFISTAS


As participações, a chamada “defesa” da presidente Dilma Roussef, na Comissão especial de impeachment do Senado, nesta sexta-feira, somente podem ser classificadas de um teatro mal enjambrado. Se não houvesse já uma melancólica nomeação de um ministro de Turismo que parece mais uma piada sem graça, o que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, fez, sob o ponto de vista técnico, não deixa de ser um strip-tease intelectual contra toda argumentação lógica, pois, nega que o governo tenha praticado fraude fiscal ao editar decretos para liberação de recursos suplementares ao orçamento em 2015 afirmando que os fez! Também chega a ponto de dizer, sem o menor pudor, aos senadores, que Dilma está isenta de responsabilidade na liberação de subsídios do Plano Safra, programa que, segundo a denúncia por crime de responsabilidade contra a petista, foi alvo das chamadas pedaladas fiscais. É ou uma confissão de completo desconhecimento, o que não é aceitável num ministro de uma pasta como a Fazenda ou, como afirmaram senadores, uma completa distorção dos fatos. Comprovadamente, é documental, inclusive atestado pelo Tribunal de Contas da União-TCU, que tanto foi feita a liberação de crédito suplementar sem aval do Congresso, por meio de decretos não numerados, como existiram os atrasos no pagamento de subsídios do Plano Safra, os dois argumentos usados pela Câmara dos Deputados para dar seguimento ao processo de impedimento. Afora muitos outros que já justificariam o afastamento, mas, os interesses espúrios limitaram o pedido a estes. Um escândalo, como o Petrolão, em qualquer país democrático, enterraria qualquer governo ou participante dele, como é o caso de Dilma.
Somente a dificuldade técnica do entendimento permite que se tente, como se tenta, dizer que não houve o que é flagrante. E mais: se joga com dois argumentos completamente furados. O primeiro de que foi feito no passado e não se responsabilizou os outros. Ora, este é um argumento maravilhoso. Digno de um advogado de porta de cadeia: houve roubo sim, mas, outros também roubaram e estão soltos! Me poupem! Mas, o segundo não é menos indigno. Alega-se que os créditos feitos à revelia da lei tinham finalidade social! É um exercício permanente de sofisma, como a história de dizer que é golpe o que a Constituição permite ou que é golpe por não ter fundamento (o que, pela lei, é atribuição do Senado dizer se existe ou não), o que mostra, de forma clara, o comportamento continuado da falsidade, de promessas e dados, da administração Dilma. A falta de bom senso e noção de realidade é tão grande que o senador Jorge Viana, em programa de Miriam Leitão, tem o desplante de dizer que Dilma vai deixar o Brasil melhor do que FHC deixou, agredindo os índices econômicos, e o advogado geral da União, na comissão do Senado, defendendo o indefensável, não cora de vergonha em dizer que Temer não tem legitimidade por “não ter votos” e que, por isto, não pode assumir a presidência quando, é cristalino, para qualquer iniciante de Direito, que vice é eleito e, constitucionalmente, sua única função é substituir o titular nos impedimentos. Constituição, leis, documentos, lógica, verdade, nem cerca de 80% da população pedindo a saída da presidente, nada disto importa. O que importa é se manter no poder e, sem pudor nenhum, fazem tudo para não largar o osso. O problema é que o País não aguenta mais os neosofistas. A economia é mais forte do que qualquer discurso falso quando começa a doer no bolso.


quinta-feira, abril 14, 2016

A DERROTA JUNTO COM A DESONRA


O impeachment será inevitável. Se, não ocorrer agora, tornará o país um barril de pólvora. Não há golpe, mas, sim rebeldia, manifestações espontâneas da população que não deixam dúvidas sobre a repulsa às pretensões hegemônicas do PT. Podem dizer que não foi o povo, mas, foram as massas populares mais conscientes, as mais informadas que se mobilizaram nas redes sociais e nas ruas, que mostraram aos políticos tradicionais que repudiavam o governo, a soberba e a prepotência da presidente Dilma, a ineficiência do governo e a complacência, e porque não dizer a cumplicidade dos partidos da base aliada. Foi o povo e a imprensa, que o governo petista tentou manietar, mediante verbas e ameaças de regulamentação, inspirado no modelo chavista, que fizeram com que o governo chama de “golpe”, na verdade, seja um “contragolpe”. O povo e o jornalismo livre cumpriram o seu dever na defesa da democracia e impuseram, mesmo aos políticos áulicos, o impeachment. É verdade que um segmento importante do MP, da Polícia Federal e da Justiça também fizeram a sua parte, inclusive o juiz Sérgio Moro, que democratizou o Código Penal, remetendo ao cárcere grandes empresários e notórios malandros da vida pública, que acreditavam na impunidade pela força do dinheiro, mas, nada seria possível sem a mobilização popular. A classe política, porém, aparece de uma forma decepcionante. Mesmo o PMDB, que é essencial para a mudança, compareceu muito ao reboque dos acontecimentos. É verdade que mamaram nas tetas, todos mamaram, mas, são políticos e, como políticos, tem a necessidade imperativa de dinheiro para sobreviver, mas, esta sobrevivência não pode abrir mão de representar a vontade popular sob pena de ser  o que se tornou o governo Dilma, uma fraude completa.  Lembro das palavras de Winston Churchill,  afirmando que “pior do que a derrota é a desonra”.  Lula e Dilma não tem nem sequer a capacidade de preservar o respeito que poderiam adquirir se cedessem à vontade popular. Vão tentar prolongar a posse do poder até o fim. Vão prolongar o nosso sacrifício por absoluta falta de bom senso e visão de futuro. Serão enterrados, sem a menor dignidade, pelos os que se fizeram partícipes da quadra mais negra da vida brasileira, pois, podem dizer o que quiserem, como disseram antes até mais contra, Sarney, Collor, Maluf, Renan, Cunha, Jucá e tantos outros, mas, a verdade é que, hoje, fazem um papel mais tosco e vergonhoso do que todos os que acusaram antes. Saíram da história como os vilões que venderam as esperanças de melhores dias e nos entregaram, ainda tentando nos enganar, a recessão, o desemprego, a inflação e a falta de perspectivas. Não terão as benesses mais do presente e no futuro serão vistos apenas como uma página negra da história do País que foi preciso virar para que se possa de novo retomar o desenvolvimento. 

Ilustração: chicletedecarnemoida.blogspot.com

sexta-feira, abril 08, 2016

Até onde e quando a farsa vai?


Cunha, na opinião dos brasileiros, é culpado de crimes? A grande maioria entende que é. Renan Calheiros é culpado de crimes? A opinião pública entende que sim. Dilma é culpada de crimes? Só os seus seguidores e os petistas acreditam que não. A imensa maioria acredita que sim.  Então, qual a grande diferença entre eles? Sob o ponto de vista formal, certamente, nenhum, mas, quem governa o país? É Cunha, Renan ou Dilma? Supostamente é Dilma, e, por via de consequência, até mesmo os crimes de Cunha e Renan, como de uma quantidade imensa de outros parlamentares que teriam recebido propina da Petrobras, tem sua origem nos recursos do executivo. Em última análise, Dilma, no mínimo, seria culpada de não zelar pelo que é de sua responsabilidade. Dizer que não fez nada não resolve. No mínimo, seria culpada de omissão por não impedir o maior escândalo que, literalmente, quebrou a maior empresa do país.
Mas, segundo, muitos, nenhum deles  dos citados manda de fato. Quem governa seria quem não teve voto, nem se candidatou a nada, mas, trançou, e trança, os fios dos mamulengos,  por detrás dos panos, e se comporta como ministro, mesmo sem ter conseguido tomar posse, e se comporta como presidente, sem ter sido eleito, e, segundo tudo que se sabe, mesmo acusado de vários crimes também, manda, contra os interesses públicos na máquina administrativa e, inclusive, estaria negociando cargos para manter Dilma no poder.
É uma situação surreal. Quem desrespeita a Constituição, quem fala que defende o povo quer se manter no poder contra a vontade popular usando a mistificação de que tem mandato, usando todo o poder do governo apenas para se manter. Ora, Thomas Jefferson, o maior dos republicanos da América do Norte, dizia que, ao povo, era lícito se rebelar quando o governo não cumpria seus deveres, quando, pesava, como o atual governo pesa, duplamente, por arrecadar impostos e não devolver, em troca, senão desesperança, um futuro negro- e este argumento foi usado pelo próprio governo para se reeleger. Mesmo quem defende o atual governo não nega que se passaram já dois anos do seu mandato sem conseguir governar. Vai passar mais tempo para fazer o quê? Envergonhar ainda mais a nação. Quando até Paulo Maluf, que não é reconhecido publicamente, como nenhum padrão de moralidade, afirma que as práticas do governo não são nada republicanas, então, a grande pergunta é: o que o atual governo ainda pode nos proporcionar? Mais escândalos? Ou será preciso o derramamento de sangue para, depois de terem comido a carne, largarem o osso?


Ilustração: casamentodagabi.wordpress.com

sexta-feira, abril 01, 2016

A INSENSATEZ EM MARCHA FORÇADA


Na história e na política não é incomum que governos e políticos adotem medidas contrárias aos seus próprios interesses. Há uma obra que se tornou clássica de Barbara W. Tuchman denominada de “A Marcha da Insensatez”, que examina fatos em que isto aconteceu, de forma que Barbara acaba por considerar ser este um dos maiores paradoxos humanos: a insistência dos governos em adotarem políticas contrárias a seus próprios interesses. Porém, nenhum exemplo pode ser mais emblemático que, o que ocorre, hoje em dia, no Brasil. A trajetória do governo Dilma, neste segundo mandato, é uma bela comprovação da tese da marcha da insensatez.
A começar do fato de que, no primeiro momento depois de eleita, aliás, em uma eleição em que “fizeram o diabo”, como havia sido prometido, a presidente disse que estendia a mão à oposição. Se, efetivamente, fora as palavras, tivesse feito algo neste sentido, talvez, seu governo tivesse alguma viabilidade. Não o fez e, para piorar as coisas, adotou o programa do adversário, o programa que havia demonizado e hostilizado em toda a campanha eleitoral, pela metade, na medida em que vai contra tudo que o PT prega. Fez o que devia fazer, o que era pragmático. O aumento de consumo ancorado no crédito- motor da aprovação que Lula havia obtido-havia se esgotado no endividamento e o governo se afogava com o aumento da dívida e a queda de receitas externas das commodities. Não havia alternativa e se sabia disto bem antes das eleições. O problema real é que um governo, que prega o controle do mercado, somente tem programa quando o caixa está cheio. Sem recursos, e sem horizontes, a única preocupação, em dois anos de governo, foi a de continuar no poder. E continuou a fazer mais do mesmo, enquanto as condições se deterioravam com o aumento da inflação e dos gastos públicos. A investigação dos "malfeitos" da Petrobras, a Operação Lava Jato, fez o resto: acrescentou o carimbo da corrupção a uma administração desastrosa. 

Nesta semana o Ibope aponta que 82% da população é contra sua forma de governar. Mesmo assim tentou trazer Lula para ver se termina seu mandato. Lula, com a imagem desfeita pelas acusações que o cercam, está fazendo o possível, e o impossível, para mantê-la. Reuniu as tropas e conseguiu até mesmo mobilizar os sindicalistas e alguns movimentos sociais movidos a verbas públicas para as ruas. Tenta oferecer os cargos que o PMDB entregou como moeda de troca para manter o mandato de Dilma. É insensatez em cima de insensatez. Ainda que Dilma escapasse do atual pedido de impeachment viriam outros. Mas, o impeachment será inevitável. A prisão de Silvinho Pereira e de Ronan Maria Pinto, na Operação Carbono, é um fechamento de cerco sobre Bumlai e Lula. Embora os cargos oferecidos sejam atraentes, políticos são animais sociais. Alimentam-se de um ego alto e de votos. O risco é muito grande. E, ao tentar ganhar na votação do Congresso, Lula e o governo apenas deixam claro que o impeachment é legítimo e, chega a ser irônico, que a presidente, no seu discurso de defesa, no Planalto, afirme que não cometeu crime de responsabilidade justificando as pedaladas com o pagamento de bolsa família e outros programas sociais. Igual a Lula, que depois de ser conduzido à força para depor, diz que não cometeu crime explicando que vive às custas “dos amigos” e levou 11 contêineres, quando saiu do Planalto, mas, não tem recursos para guardar “seus presentes”. E assim caminha a desumanidade. 

Ilustração: Cartoon por J Stélio