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terça-feira, maio 20, 2014

Má alocação do crédito diminui crescimento


A presidente Dilma, quando esteve em Davos, na Suíça, tentou sensibilizar os investidores estrangeiros fazendo loas ao Brasil que, segundo ela, se tornaria mais competitivo. Na íntegra: "Quero enfatizar que nós não transigimos com a inflação", disse. "A responsabilidade fiscal, por sua vez, é um princípio basilar da nossa visão de desenvolvimento econômico e social." Responsabilidade social meio esquisita, de vez que Rousseff parou em Cuba, onde o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) despejou quase US$ 700 milhões em crédito subsidiado para financiar o Porto de Mariel. Depois de cortar a fita de inauguração, a generosa presidente, que não tem mais dinheiro para educação e saúde no Brasil , prometeu mais US$ 200 milhões em empréstimos do BNDES para a segunda fase da construção. O "Valor Econômico" divulgou que Cuba ocupa o terceiro lugar entre os destinos dos recursos do BNDES. O problema de tais empréstimos é que, desde 1959, a ilha de Castro acumulou US$ 75 bilhões em dívida estrangeira não paga e outras obrigações,-inclusive US$ 35 bilhões para o Clube de Paris. Ou seja, se empresta regiamente a um dos maiores caloteiros do mundo num negócio de alto risco para colocar dinheiro no bolso dos irmãos Castro.
Há, é claro, o outro lado da moeda. Não é só Cuba quem ganha. A Odebrecht, grande construtora brasileira, ganhou o contrato para modernizar o Porto de Mariel, portanto, se torna a grande beneficiada do empréstimo subsidiado do BNDES e lucra ainda mais porque também foi contratada para modernizar o aeroporto de Havana, com outro financiamento subsidiado do BNDES. É verdade que financiar empresas brasileiras é a razão de ser do BNDES, mas, banco é banco e deve fazer financiamentos com a perspectiva de retorno. Acrescente-se que, mesmo que os empréstimos do BNDES e dos outros bancos estatais (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) não estejam incluídos na dívida bruta, o que se observa é que eles tem dependido de transferências do Tesouro que, para isto, tem que captar recursos no mercado. Em suma, captam a um custo mais alto para financiar os empréstimos subsidiados. Como isto não vai impactar na dívida total é preciso um mágico para explicar. E são cada vez maiores as exigências de recursos, pois, os empréstimos da Caixa cresceram a uma média de 45% ao ano nos quatro anos entre 2009 e 2012. Os empréstimos do BNDES cresceram 23,5% entre 2009-12, e o crédito do Banco do Brasil cresceu 24% por ano entre 2009-12. Como as taxas de juros sobem, sobe o custo do serviço da dívida do governo, o que só aumenta o déficit fiscal. O governo, então, aumenta mais o peso das políticas fiscais e regulatórias criando entraves para as empresas, para o crescimento e aumentando a inflação. E, para coroar a falta de coerência, o banco central vem aumentando a taxa básica de juros, a Selic, que já chegou a 10,75% ao ano.
O que há de ruim também é que a qualidade dos empréstimos dos bancos oficiais tem sido altamente politizada o que aumenta o risco das taxas de inadimplência. Neste sentido vale lembrar que o BNDES (nem vamos lembrar os fundos de pensões) se especializou em apostas perdedoras. Não se sabe os valores, mas, estima-se que, somente para as empresas lideradas por Eike Batista foram liberados US$ 4,7 bilhões. É uma má alocação do crédito, que, para não ser mais duro, não sendo encaminhado para onde deveria, naturalmente, representa um crescimento menor da economia. É um comportamento desanimador para os investidores, internos e externos, daí a fuga do espirito animal do país. Como investir num local com tão altos impostos, má alocação de capital, taxas de juros altas, exceto para os ungidos, num cenário de incerteza econômica e inflação crescente? É esta a resposta que está sendo impossível de ser dada pelo governo atual. E a razão pela qual, apesar das promessas de Rousseff em Davos, não há, no horizonte das atuais políticas públicas, condições reais de se criar uma economia competitiva.

sexta-feira, maio 16, 2014

Se o time não joga bem é hora de trocar de técnico


As próximas eleições presidenciais, pelo menos no Facebook, onde, supostamente, estão pessoas de classe média e escolaridade um pouco acima da média, de fato, já começaram pelas manifestações constantes das pessoas. Um dado que se ressalta é que, pelo menos no Face, o Partido dos Trabalhadores já perdeu feio a batalha de argumentos. Não somente porque desertaram do partido importantes ícones que, no passado, levantaram a sua bandeira, como pela completa falta de argumentos e de esperança que o governo e Dilma podem oferecer. O caso mais recente do cantor Ney Matogrosso é exemplar. Ney, um artista normalmente tímido, não aguentou o clima do país e desabafou, numa entrevista à televisão portuguesa, afirmando que as coisas no Brasil andam ruins pela ineficiência governamental e os péssimos serviços públicos. O que fizeram em relação as suas declarações? Procuraram desqualificá-lo ora dizendo que está senil ou que, agora, deixou de ser rebelde, pela idade não é uma pessoa digital, nem capaz de avaliar bem a situação, enfim, é um títere da Rede Globo. Mas, ninguém vem dizer, em público, que a segurança é ótima, a educação é a melhor do mundo ou a nossa saúde é padrão Fifa, que as estradas são tapetes ou o transporte coletivo é de primeiro mundo.  
Aliás, apesar de ser o governo quem alimenta imprensa, inclusive de recursos, a cegueira ideológica (ou muitas vezes intere$$eira) faz com que se venda a farsa de que a imprensa cria um discurso oposicionista, em especial a Globo que oculta o que pode dos “malfeitos” do governo, de que tudo vai mal no país. É menos verdade. Acontece é que as coisas vão mesmo muito mal e não é possível ocultar, com tanta deterioração em todos os setores, daí que a proteção que a imprensa tenta dar ao governo se torna vulnerável. Não dá mais, como no passado, para ficar somente cantando loas, como nos tempos de Lula da Silva. Até porque a imagem de Dilma é de um ser completamente distante, incapaz de, ao menos, fazer o jogo de cena que o metalúrgico fazia de que se importava com as pessoas.
Um dado muito interessante da pesquisa Datafolha mais recente é de que, num segundo turno, entre os entrevistados de renda familiar de 2 a 5 salários mínimos, Dilma tem uma intenção de voto de  43% contra 39% de Aécio Neves. Ou seja, é um empate técnico mesmo entre os mais pobres. E isto deve se acentuar ainda mais com a Copa quando serão mostrados os gigantescos e suntuosos estádios recém construídos, com fartos recursos públicos, que contrastam com as dificuldades de uma população que consumiu muito se endividando e, hoje, em especial nas cidades, enfrenta uma grave crise urbana. É uma questão que deve ficar clara com os estádios: se podem se fazer estádios com qualidade por que não se pode ter escolas, hospitais, creches, transporte público e segurança de que tanto precisamos? E o atual governo, no poder faz 12 anos, não pode mais colocar a culpa da má qualidade de tais serviços em FHC. Neste sentido a Copa é uma herança mais que maldita de Lula para Dilma.  Que vai haver segundo turno ninguém mais duvida, porém, o que é mais surpreendente é a velocidade que se observa na aceitação que o discurso oposicionista passou a ter e, mesmo nas classes de menor renda, a certeza que o governo se exauriu e que está na hora de trocar de governo. E se este sentimento se acelerar, como parece que está se acelerando, Eduardo Campos passa a ter uma grande chance de crescimento e a mudança, então, será inevitável. Se o time não joga bem o primeiro que cai é o técnico.


segunda-feira, maio 12, 2014

A crueldade da burocracia brasileira


Se formos pensar em termos de burocracia será imprescindível ir buscar o seu conceito em Max Weber. É do sociólogo alemão a concepção científica da burocracia que ganhou com ele o significado clássico de que a burocracia seria a organização eficiente por excelência por conseguir explicar nos mínimos detalhes como as coisas deverão ser feitas. Para Weber, aliás, a burocracia moderna não seria apenas uma forma avançada de organização administrativa, com base no método racional e científico, como também uma forma de dominação legítima. Para conceber esta visão ele creditava aos burocratas os atributos que regem o funcionamento da burocracia como formas de relações sociais das sociedades modernas.
Para Weber, a burocracia e a burocratização são processos inexoráveis, ou seja, inevitáveis e crescentes, presentes em qualquer tipo de organização, seja ela de natureza pública ou privada, inclusive raciocinando que, sem a organização burocrática, o desenvolvimento de uma nação seria retardado por ser indispensável ao funcionamento do Estado um aparato burocrático para bem cumprir suas funções. Portanto, em Weber, apesar de ter existido em períodos anteriores, só no contexto do Estado moderno e da ordem legal é que a burocracia atingiu seu mais alto grau de racionalidade, ou seja, a ação burocrática tende a visar, de fato, a eficiência e resultados. É evidente, porém, que não conhecia o Brasil, nem a sua capacidade de canibalizar conceitos, palavras e instituições. No Brasil como se sabe o que menos existe em qualquer burocracia é racionalidade e busca de alcançar objetivos. Numa síntese: desmoralizaram completamente a concepção de Weber.
Por aqui o que vale mesmo é a famosa concepção popular, e certeira, de que a burocracia é uma organização lenta, vagarosa, mal educada e na qual os papéis e atestados sempre se multiplicam para impedir soluções rápidas ou eficientes. O termo é empregado não somente com o sentido de apego dos funcionários aos regulamentos e rotinas, causando ineficiência à organização, como também pela singular jabuticaba de criar dificuldades para vender facilidades tão próprias do país. No Brasil a burocracia é um sistema de moer as pessoas que se caracteriza não pelos atributos que Weber viu, mas, sim pelos defeitos que o sistema apresenta e aprimora. No Brasil a burocracia é o suprassumo da crueldade e da insensibilidade. Tanto que ainda que você insista em dizer que está vivo, e peça para que verifiquem a pressão e as digitais, de nada adianta se o sistema diz que você morreu. E, se não tomar cuidado, o burocrata mata para dizer que o sistema está certo.
Não se precisa ir longe para verificar isto. Basta pinçar do pronunciamento de Dilma Roussef a notável atualização da tabela do Imposto de Renda. Imposto de Renda que o contribuinte é obrigado a fazer a declaração para ser taxado, ou seja, faz o papel da burocracia para ser por ela explorado. Porém, a burocracia em nosso país é de uma crueldade invulgar. Basta ir a um posto médico onde não se atende ninguém mesmo chegando morrendo sem fazer uma ficha. Basta ver a concessão das aposentadorias que é um processo de extorsão dos benefícios que se angariou pela vida. Basta verificar que quando se trata de sugar recursos o Estado é rápido e insaciável, voraz mesmo. Quando se trata de reconhecer direitos, porém, aí de ti contribuinte, ninguém te fará justiça. A justiça só existe mesmo para os burocratas e seus amigos. Crianças jamais verás um país tão burocraticamente cruel quanto este!