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sábado, dezembro 31, 2011

Salve 2012!


É culpa do fim do ano. É inevitável que se faça um balanço dos dias passados, que se busque erros e acertos, horas de felicidade e os tempos difíceis, os obstáculos que tivemos. Ainda mais quando as estatísticas implacáveis nos alertam que o brasileiro, comum, o brasileiro que sua, luta e paga impostos, vive de crédito e está endividado. Endividado, mas, feliz. Talvez por sermos a sexta economia do mundo. Um pouco por mérito, um pouco porque os outros quebraram no caminho. Não importa. Olhamos para trás e quem, ontem, nos parecia rico, hoje, amarga dias difíceis e, como um corredor que passa pelos que cansaram, nós sentimos fortes.
E, uma dúvida que não se tem, é a de que o brasileiro tem por profissão a esperança, embora duvide muito de que não desiste nunca. Aliás, motivos não faltariam para desistir, porém, nesta hora de reflexão, de renovadas esperanças, o melhor é deixar para trás as coisas tristes e seguir acreditando que o amanhã será melhor. Vou, como se trata do ano do Dragão das Águas, no horóscopo chinês, na umbanda de Ogum e Iemanjá, em busca de uma camisa amarela. Não para sair por aí e sim, calmamente, curtir um bom charuto cubano, com champanhe, jogar conversa fora, desejar votos de dias melhores para amigos e familiares, enfim, fazer o ritual de fim de ano, que exige também uma boa libação alcoólica, comida farta e alegria. Pelo menos, por um dia, ostentarei pose de rico.
Devo dizer que me despeço de 2011 sem magoas e sem remorsos. Foi um ano bom, difícil, muitas vezes, amargo. Recordo alguns rostos que ficaram no caminho que me fazem falta, que gostaria de poder dizer-lhes, meus amigos, bebamos pelo novo ano. Enquanto tiver memória essas belas pessoas não terão esquecimento. Também me faz falta alguns amigos vivos que tomaram outros rumos, como o parceiro e chorão Lito Casara que, se não estivesse pelas Minas Gerais, estaria na calçada tocando choro para se despedir chorando do velho ano e saudar o choro do novo. Luiz Carlos Marques, evóe meu mano, saudades do Beco do Rato, das chuvas do Rio de Janeiro, embora, este pernambucano de Belém, a vida toda continuará sendo rondoniense. A vantagem da vida é que surgem novos amigos, como o Felipe Veras, um católico crente de pouco mais de vinte anos, que me ensina que o futuro é sempre melhor e como um verdadeiro adepto de Santo Agostinho, que seremos sempre salvos, apesar e, por causa, do nosso amor pelas mulheres, pela bebida, pela música, pela poesia, por gostar de viver.
Tudo isto serviu mesmo só de pretexto para dizer a todos que 2012 será sim muito melhor. Que viver é ser, enquanto se pode, matéria consciente. É ter a capacidade de ver que a vida é bela, imensa, surpreendente e, contra os céticos, renovável. Por tudo isto, meus amigos, meus irmãos de aventura, que tudo se realize no ano que vai nascer. Saúde muita, dinheiro, se possível, e bom humor para temperar os novos dias. Feliz 2012! Feliz ano novo!

O muito que se torna nada


Bem, meus amigos, muitos de vocês dirão que não tenho jeito. Que, por detrás da fama de ser, digamos, brincalhão, para não ser mais duro comigo mesmo, não consigo ficar quieto, nem deixar de apontar certas coisas. É verdade. Parece que o menino travesso, que vive dentro de mim, não se conforma em ser o homem maduro e resignado. Quando menos espero me dá uma revolta com certas coisas e não dá mais para segurar. Não explode o coração, porém, explodem as palavras. E não há nada que me faça ficar mais impaciente do que a forma como a educação é tratada no país. Agora mesmo, por exemplo, o Censo de Educação Superior 2010 me faz, mais uma vez, gritar contra o que denomino “discurso da educação”, que é a farsa de que se investe e se melhora a educação.
Pode-se pensar, e até dizer que se trata de uma cruzada minha contra Lula. Que Deus o conserve com saúde desde que longe do governo. Não é. Antes de Lula também o discurso da educação, invés de se cuidar da educação, já existia e depois dele continua. A questão é que o discurso de Lula sempre foi o do triunfalismo, de festejar, por exemplo, que nesta década, o crescimento do setor mais do que duplicou, chegando a 6,4 milhões de estudantes, sepultando os vergonhosos índices de outrora, de 8% da população com terceiro grau. Agora, apontam, que estaria por volta dos 13%, mas, os números mostrados carecem de respeito, pois, se sabe que, muitos, são manipulados. A educação nossa continua uma tragédia. Numa comparação, por exemplo, com a Europa, se formos verificar os jovens que frequentam cursos superiores, certamente, estaremos na idade média. A expansão que fizeram, para quem é professor e acompanha o ensino, sabe que, na base do “vamos de qualquer jeito”, perseguindo mais os efeitos político do que fazer, de fato, uma revolução educacional, nós afundamos no pântano. Aumento de cursos de forma acelerada, vagas a granel, pouco treinamento, professores pegos à laço, só podiam dar no que deu: a baixa qualidade.
Aponta-se que 73% dos alunos do ensino superior são da rede privada, uma rede beneficiada, lambuzada de favores nos anos Lula. Encheram-se as salas, porém, sem cursos de gabarito Hoje, o Ministério de Educação tenta organizar a bagunça classificando e, como a diarista que não fez o trabalho, dando uma arrumada para enganar que fez a limpeza. Como solução miraculosa anuncia-se o corte de 50 mil vagas ociosas e só na área da saúde foram 148 cursos penalizados pelas más condições que apresentavam. Para o discurso que denomino de “democratismo”, aquele que prega que todo mundo pode ser universitário, se trata de uma crítica até mesmo fascista. Há, contra toda a lógica e os custos, quem acredite que o importante é aumentar o número de diplomados, ainda que sem condições e sem qualidade. A prática está provando que a tese é falsa. Além da mercantilização do ensino superior a assombrosa verificação de que há pessoas com diplomas que não sabem escrever revela, cristalinamente, que há propaganda demais para pouca qualidade. E que pessoas despreparadas fingindo saber podem ocasionar grandes tragédias.
A triste realidade que vejo todo dia é que os alunos tem cada vez menos interesse na vida acadêmica. Não apenas porque o diploma já não lhes garante empregos e bons salários, de imediato, porém, porque as nossas escolas, as nossas faculdades e universidades, em especial, ainda vivem no século XIXX. Ou mudam seus métodos, ou se tornam instâncias reais de aprendizagem, com o uso de meios e tecnologias modernas, ou tendem a se tornar, na sua quase totalidade, feudos de falsa ciência, assembleias em que burocratas discutem se o governo irá dar 4 ou 5% de aumento, enquanto os alunos zombam de velhos e novos professores que fingem que ensinam, mas, ganham menos do que os policiais que, pelo menos, brigam por aumentos de 44%. E, mesmo quando perdem, conseguem ganhar mais de 20% o que mostra que são mais competentes ou mais armados em seus pleitos. De qualquer forma não há como melhorar sem educar. E não se faz isto sem passar do discurso da educação para sua prática. De discurso, de números e de falas que provam que melhoramos estamos cansados. É preciso melhorar de verdade.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

É preciso uma mudança real na economia


A grande realidade é que somente pelo trabalho duro, pela atividade diária de construção das coisas e, no caso das pessoas e do país, pela educação, pelo aumento da escolaridade, pode haver progresso, no entanto, nossa economia é ditada pelo predomínio da ideia do capital, ou seja, o pensamento de que quem tem recursos está mesmo centrado em quantos por cento uma aplicação gera (embora não gere nada se não for aplicada em capital produtivo, ou seja, num negócio que crie serviços ou produtos). O maior problema brasileiro, no momento, é este. O governo de Dilma Roussef, mesmo com o crescimento nulo do Produto Interno Bruto, no 3º trimestre, vacila entre atender os interesses dos mercados financeiros dos quais depende para rolar a dívida e as necessidades de políticas que estimulem o crescimento, mas, como é natural, impactem sobre os spreads e juros absurdos que as bancas cobram. Embora com sucessivas quedas da taxa Selic o que se observa é que, utilizando o espantalho da situação externa, os juros brasileiros continuam a ser um dos mais altos do mundo favorecendo as atividades especulativas e dificultando a vida de quem precisa produzir.
É um falso problema colocar que fortalecer o mercado interno depende das condições externas. Aliás, a melhor forma para se preparar contra uma crise global sempre foi buscar tornar o ambiente interno melhor o que não se irá conseguir desestimulando os empresários e sem uma perspectiva otimista sobre o futuro. O nosso caminho para o futuro, além de deixar de fazer o discurso da educação e educar de fato, é o de criar um projeto de país o que passa por fazer menos propaganda e investir mais em programas e projetos que funcionem como uma correia de transmissão para muitas cadeias produtivas que precisam ser energizadas. Os recentes picos de crescimento do país tem se alicerçado nos investimentos em infraestrutura e construção civil que se demonstram fortes meios de ativar a economia.
A desindustrialização do país, que por mais que neguem, é evidente, se efetua por conta da dificuldade do nosso ambiente de negócios. A agenda de modernização que impunha as reformas tributária, trabalhista e a desburocratização esbarraram nos vícios políticos e, infelizmente, a competitividade brasileira acabou ficando restrita ao agronegócios a alguns outros poucos setores. Não há milagre a ser feito quando temos como melhor e pior parceiro a China. É preciso que, além de medidas pontuais como a redução de impostos, se adote medidas que visem, efetivamente, recuperar a competitividade do país e mesmo que não se façam as reformas, paulatinamente, se criem as condições de modificar o nosso ambiente de negócios. Não se pode enfrentar o novo se aferrando ao passado. É indispensável que o país avance o que não será feito sem um esforço real de mudança. Sem que se deixe de empurrar os problemas com a barriga.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Por isto estamos como estamos


Recentemente foi publicado por Carlos Elizondo Mayer-Serra, um reconhecido professor e analista econômico mexicano, o livro "Por Eso Estamos como Estamos: La Economía Política de Un Crecimiento Mediocre", que procura explicar as razões para o baixo crescimento econômico do México. Se bem que examinando o México o livro diz respeito a todos que procuram compreender as complexas estratégias para superar o problema da pobreza e criar desenvolvimento.
O autor considera, com uma grande capacidade analítica, que o México não alcançou taxas elevadas de crescimento porque as decisões políticas e as medidas tomadas internamente não foram nem as melhores, nem as mais adequadas. Deixando de lado as posições ideológicas e justificativas inúteis, que colocam a culpa das nossas desditas nos outros, assume que a causa de tragédia nacional de seu país não se deve nem aos vizinhos, nem as condições adversas que existem no mundo. Para ele, o que o México é, fundamentalmente, foi o resultado do que seu povo e governo, fez ou deixou de fazer.
Mais do que isto: vê como problema central da economia mexicana a capacidade de certos grupos para evitar a formulação e implementação de políticas públicas para o interesse público para premiar o mérito, estender os direitos reais aos mexicanos, a fraqueza e a pouca intenção da sociedade para impor mudanças. No fundo, como acontece no Brasil, há o fato de que a política dominante é realizada sob uma lógica do passado que não cria incentivos para encorajar mudanças de utilidade geral, e persiste a existência de um Estado fraco que não pode enfrentar os interesses poderosos que impedem o país de crescer, incluindo sua própria burocracia. E analisa que o sistema antigo vigente promoveu mecanismos que não estimulam o esforço, o mérito e a competição. E lista alguns dos entraves existentes para um maior crescimento:
1) .- Empresas públicas que perdem dinheiro de forma sistemática e acabam consumindo mais recursos do que geram;
2) .- Monopólios públicos e privados mal regulados, que atraem os consumidores de alta renda e dificultam a competitividade das empresas que consomem seus produtos e serviços;
3) .- Trabalhadores que não fazem nada ou muito pouco, mas, que não podem ser descartados;
4) .-A incerteza, derivada da constante mudança das regras do jogo;
5).- Expropriações arbitrárias que desestimulam o investimento.

Como se observa Elizondo Mayer-Serra mostra que a situação atual do México, e os resultados também, não discrepam muito dos nossos problemas, embora tenham suas configurações específicas. O que ressalta, porém, é que a situação do México, como a do Brasil, não deriva de qualquer herança ou destino histórico ou cultural. Nós é que somos responsáveis pelo que fizemos de nós mesmo. Se isto nos traz muito desalento, pois, não há nada mais difícil que mudarmos nós mesmos, por outro lado, nos mostra que a mudança do Brasil está em nossas mãos. Porém, isto não se fará sem trabalho, estudo, educação e a criação de um projeto de país que exige uma nova forma de fazer política-o que não é nada fácil.

terça-feira, novembro 15, 2011

A podridão está no cerne da maça

Com um livro grande, inclusive no número de páginas, Archie Brown criou uma obra provocadora (Ascensão e Queda do Comunismo, Editora Record), na medida em que procura examinar as razões pelas quais o comunismo, com o desmanche da União Soviética, se tornou uma peça de museu, embora ainda suas viúvas persistam em chorar lágrimas sentidas e ter a fé inabalável de que o fantasma um dia há de voltar. Interessante, sob o aspecto histórico e documental, o livro defende uma tese até certo ponto aceitável, a de que “a reforma produziu a crise”, ou seja, que foi uma escolha, supostamente errada, de Gorbachev, caracterizado como um político ingênuo, que acelerou a dissolução do regime. É certo que a “perestroika” teve uma imensa participação com a condução decisiva de Gorbachev, bem como que o regime seria forte o suficiente para permanecer intacto por muito mais tempo, contudo, até usando o próprio pensamento marxista, cada época somente gera os problemas que pode resolver. Em outras palavras Gorbachev foi uma resposta às fragilidades do modelo: a falta de liberdade e a paralisia. Corroído, como Brown constata, pela ineficiência, pela estagnação e pela incapacidade de, tecnologicamente, entrar na era da informação.
Interessante é a constatação do Autor de que o comunismo acabou ao mesmo tempo em que não deseja admitir que a tirania dos regimes soviéticos é um subproduto direto do marxismo. Sua expressão concreta. Marx, e seus seguidores, concordariam plenamente com a afirmação de que o Estado não é uma entidade imparcial e superior à sociedade, não é um juiz que arbitre serenamente o jogo conflituoso dos interesses econômicos, gerindo o bem comum. Ele não é o representante de interesses superiores aos interesses particulares. Para eles, na verdade, o Estado sempre foi um dos instrumentos mediante os quais a burguesia, a classe dominante, impõe a lei da sua vontade e do seu interesse ao proletariado. Ora, Marx chegou a escrever que “O Estado não é a realização do homem, mas, a sua alienação”. Isto parece completamente contrário a uma sociedade que é dominada pelo Estado! A rigor, seguindo seu pensamento, um Estado completamente estatal seria a alienação completa e, como não é uma entidade imparcial, sempre serviria a alguns interesses. Somente se precisa olhar para o passado para verificar que sim. E, para o presente, vendo o que resta que assim continua.
À parte do livro, que é um instrumento para a reflexão, o que se vê é que o marxismo como forma de pensar está ultrapassado. Não se precisa discutir suas bases, nem a genialidade de Marx, para perceber que era uma teoria única e totalizante, redutora da vida e da história, que exigia e impunha uma solução única e que não deixa espaço nem para a democracia, nem para a liberdade. Marx, que se pregava um democrata, criou uma religião sustentada por uma meia ciência em que, mesmo que tudo aponte para o contrário, a inabalável fé de que o socialismo triunfará, que pode ser sustentada por qualquer crise, sempre se sustenta da esperança no futuro e da repetição de frases de um pseudo-conhecimento que se justifica pela desigualdade social. Mais do que nunca a defesa dos “pobrezinhos”, a ditadura do politicamente correto e o uso gramsciano da hegemonia se justificam por si mesmo, de vez que não há justificativa científica mais para a farsa da revolução socialista.
Qualquer pensador de meia-tigela há de convir que, se a democracia formal, com todos os seus defeitos, não é um primor de liberdade, muito menos o será uma sociedade na qual o partido e o pensamento único vicejam. Como falar em democracia e em povo sem liberdade de escolha? Aqui vale lembrar que ninguém menos que Rosa Luxemburgo afirmou que “Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam diferente”. E isto, decisivamente, não é possível sob o comunismo ou qualquer tipo de socialismo real que são, tipicamente, sociedades de comando. Em suma, a podridão da maça está no seu recheio. Não foi o comunismo real uma distorção da teoria marxista, mas, sim sua realização e, por isto, quem a prega deve falar em ditadura simplesmente, pois, do proletariado não tem nada.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Um bom momento para começar


Até o dia 20 de dezembro serão injetados na economia brasileira, provenientes do 13o salário, R$ 118 bilhões, recursos que representam 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo informa o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). No Brasil são 78 milhões de pessoas que recebem, um número 5,4% superior ao verificado em 2010, e, estima-se que, em Rondônia, uma parcela de R$ 768 milhões deve ir para as mãos de 468 mil pessoas. São recursos que são esperados, normalmente, em novembro e dezembro, período em que se gasta muito com compras de Natal e quando as pessoas costumam elaborar planos pessoais para o novo ano que se aproxima. Mas, o dinheiro que, a princípio, parece muito quando não se planeja seu uso some por mágica.
As explicações são diversas entre as quais a clássica em economia: os recursos são sempre insuficientes para prover todos os desejos. Ainda mais quando, no fim de ano, as pessoas são assaltadas por uma febre de consumo diante da enchente de publicidade e ofertas sedutoras. Mais do que nunca é preciso se policiar. Esta é uma época de muitos gastos extras, razão pela qual, para não entrar 2012 já devendo, é preciso que o dinheiro que for gasto nos presentes e nas das ceias de Natal e Ano-Novo não venha a ser chorado depois. Então não há outro modo de fazer que não o de administrar os seus gastos para não acabar no vermelho. É preciso acima de tudo ter disciplina.
Acostumado com a inflação o brasileiro, em geral, ainda conserva sua memória histórica e ainda não aprendeu a fazer planejamento financeiro que consiste em escrever, ou quando possível utilizar uma planilha, em que sejam elencadas suas receitas e despesas. É uma questão matemática para se manter saudável economicamente: suas despesas devem estar, sempre que possível, abaixo das receitas, o que lhe dá condição de poupar, ou, no máximo, deixar as contas zeradas. É claro que isto é mais simples de dizer do que executar, principalmente, quando se vai fazer compras sem uma lista e sem a determinação de gastar um determinado teto. As pesquisas da Fecomércio/RO, dizem que, em outubro, em Porto Velho, 66% das famílias tinham dívidas, mas, em situação problemática só 17% se consideravam muito endividados. De qualquer jeito para quem tem dívidas o ideal é quitar as dívidas cujos custos sejam mais altos, como os de cartões de créditos ou cheques especiais. Aliás, se recomenda também estes sejam usados, em especial nesta época, somente o indispensável e o que se possa saldar de imediato.
É preciso pensar também que o 13º salário não se limita apenas aos gastos de fim de ano. Sempre surgem contas a pagar em janeiro e fevereiro. São as férias, pagar o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), renovar o seguro do carro, a matrícula dos filhos e material escolar. Tudo isto sem contar com os gastos constantes como alimentação, aluguel, transporte, telefone, luz e, para quem gosta, ou não, o carnaval, quando chega, implica em algumas despesas a mais. De qualquer forma não há jeito fácil de poupar. É preciso colocar no papel, ter controle e disciplina todo mês para sobrar algum dinheiro. E um bom momento para começar é agora quando chega um dinheiro extra. Planejar suas finanças é poder ter sua vida sobre controle.

terça-feira, novembro 01, 2011

Você é sério? Ou esconde sua tolice?

Tem certos livros e ideias que nos agradam à primeira vista, mesmo quando dizem que os livros e as ideias não significam muita coisa nos tempos atuais. De qualquer forma, como sou mesmo um dinossauro, ainda me toca ler um escritor como o de Lee Siegel, que escreveu “Are You Serious? How To Be True and Get Real in The Age of Silly” (Harper Collins), numa tradução livre -“Você Fala Sério? Como Ser Verdadeiro e Cair na Real na Era da Bobagem”, que é um estudo de como a nossa cultura perdeu a capacidade de distinguir entre a seriedade, a bobeira e a falta de sentido que, muitas vezes, é um niilismo revestido de intelectualidade. Siegel põe o dedo na ferida quando mostra que qualquer um opina sobre tudo, ainda que seja um comediante ou um âncora do telejornal, embora o comediante só saiba ser engraçado e o âncora repetir noticias e, aqui, me lembro de Caetano Veloso que, por mais brilhante que seja, não deveria ter pedida sua opinião em coisas que sabe tanto quanto eu de física quântica. Em suma, Siegel nos mostra que não se sabe, hoje, em dia distinguir a seriedade da tolice.
Interessante é que, apesar de reconhecer as dificuldades da tarefa, o livro pretende guiar o leitor pelo caminho da seriedade na política, na cultura e tenta recomendar, no melhor estilo dos bons livros de auto-ajuda, com uma receita simples de que maneira se pode ser sério. Não pensem, porém, que se trata de um livro de humor, embora a ideia não esteja longe de ter um humor sofisticado, no fim se trata mesmo de uma autópsia de nossos tempos e a constatação perfeita para o nosso país, mas, não apenas para ele, de que existe um enorme hiato entre seriedade da nossa vida privada e a bobagem que se enxerga, e somos obrigados a tolerar na vida pública. Siegel cunha um termo, um neologismo, o "whateverism", algo como o “qualquercoisismo”, que seria um sintoma existente entre os adolescentes norte-americanos de impotência diante disto, diante do fato de que a tecnologia da bobagem na nossa época é estrutural, uma espécie de efeito colateral das engrenagens da qual não escapamos, daí, a conformação dos jovens.
Também é interessante o receituário de Siegel contra isto. Para ele para se ser, realmente, sério é preciso ter atenção, propósito e continuidade. Ou seja, prestar mesmo atenção às coisas, estar situado, saber onde se encontra e a partir deste ponto saber, ou pelo menos, buscar chegar a algum lugar. E dá um exemplo de sua receita: o piloto Chesley Sullenberger, o capitão da US Airways, que aterrissou no gelo fino, com os motores do avião em pane, em janeiro de 2009. Um homem sério que estava cumprindo sua obrigação profissional. Se bem que a seriedade, para ele, se revista até mesmo de um burocratismo, de um formalismo e de nuances que misturam seriedade e bobagem, como exemplifica com Oprah Winfrey, que é um híbrido de seriedade e bobagem, tanto que toma posições fortes como a de apoiar Obama quase com a mesma velocidade com que fica à vontade com Tom Cruise dizendo besteiras e saltando no sofá.
De qualquer forma o que nos prende, e polemiza, é o fato de que Siegel nos mostra que, no mundo moderno, parece que as figuras sérias, ou a maioria delas, praticamente desapareceram nos deixando órfãos e nas mãos de amadores, bufões e palhaços profissionais (sem nenhuma alusão a Tiririca, por favor). Interessante é que ele tem um olhar atemporal ao declarar que tem sido, mais ou menos assim, em todas as épocas, e cada tempo teve seus próprios obstáculos para se viver a sério. Creio que o grande mérito do livro é o de combinar ficção, história, crítica social, sátira, e reflexão para iluminar nossa paisagem e como o lucro, a popularidade, e o prazer imediato influenciam na cultura, na política e no cotidiano da vida. É, por isto mesmo, uma reflexão inteligente e esclarecedora da seriedade em todas as dimensões. E pode ser um bom antídoto para a nossa própria tolice. Até mesmo um caminho para se forjar a própria seriedade. Que dê a primeira risada quem não se acha, muitas vezes, um pouco tolo.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Tópicos sobre o mercado de trabalho de Rondônia


O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) lançaram na última terça-feira (25), em Brasília, a terceira edição do Anuário do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda. A publicação traz informações sobre o mercado de trabalho brasileiro, entre elas, a ocupação, postos de trabalho gerados e renda. No lançamento, em discurso, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, afirmou que “Esse é o maior retrato que temos de um Brasil que está dando certo. É uma fotografia do mercado de trabalho, das políticas de qualificação profissional, de economia solidária, das políticas para a juventude. A cada ano, vamos aprimorando e ele serve para melhorar as políticas públicas do Ministério. Com os dados do sistema nacional de emprego, podemos saber, por exemplo, onde está precisando de qualificação”.
De fato o trabalho, em especial a parte relativa ao mercado de trabalho, é rico em informações globais sobre o país e, embora não sendo tão detalhado em relação aos estados o que, naturalmente, seria mais interessante. Talvez por causa dos dados utilizados, em grande parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE cuja forma de pesquisa segue as contas nacionais que são mais regionalizadas. No entanto, há muitas informações boas como a de que, no final de 2010, os empregados formais no Estado de Rondônia eram 334.290, o equivalente a 0,8% dos trabalhadores nacionais. Interessante também foi observar que os assalariados representam, em Rondônia, 59.9% do total da força de trabalho e que a iniciativa própria é alta tanto que 20,1% trabalham por conta própria e há 7,5% de não remunerados. Embora a informalidade em Rondônia seja considerada grande se observa que os trabalhadores sem carteira assinada são apenas 15% do total, o que representa o menor percentual do Norte, onde, por exemplo, o Amazonas tem 16,6% de empregados sem carteira assinada; no Pará, este percentual sobe para 22,5%. No país a média é de 16,5%, ou seja, neste item, pelo menos, estamos melhor que a média do Brasil. Vale ressaltar ainda que, em Rondônia, a Taxa de Pessoas em Idade Ativa (PIA) foi, em 2009, de 1.270.000 pessoas, a População Economicamente Ativa, 834.000 pessoas e a Taxa de Desocupação de Rondônia de 6,8%, uma das mais baixas do Norte, que teve uma média de 8,6% enquanto que a média brasileira foi de 8,3%. Não foram divulgados por estados a participação da força de trabalho por setores econômicos, porém, por regiões se assinala que ainda continua a ser o setor agrícola o grande empregador no Norte com, em 2010, respondendo por 20,2% do uso da mão de obra, seguido do setor de comércio e serviços que respondem por 19,1% da ocupação e da indústria que utiliza 10,6% da mão de obra. São dados que nos informam e esclarecem sobre o Brasil atual.

sexta-feira, outubro 21, 2011

As nuvens negras no céu de 2012


Ou Secando as aves e os astros de mau agouro

Não bastassem os economistas e futurólogos afirmando que uma possível desaceleração do crescimento chinês, aliado com os problemas europeus e norte-americanos, apontam para a possibilidade de termos um 2012 muito difícil, agora, quem vem nos assustar é a astrologia, esta inefável e imprecisa ciência que, todos nós negamos acreditar, porém, invariavelmente, corremos para ler nos jornais, por mais inacreditáveis que sejam suas previsões. O fato é que o astrólogo Ivan Freitas faz uma correlação entre o passado e o presente afirmando que “O mesmo céu que regeu o período da grande depressão econômica advinda do crash da Bolsa de Nova York (em 1929) está regendo o céu na atualidade, desde a quebra do Lehman Brothers (em 2008)”. Ou seja, a mesma quadratura que se formou no céu no dia da quebra da Bolsa de Nova York, em 29 de outubro de 1929, a terça-feira negra (“Black Tuesday”), se repete, 83 anos depois. Segundo os astrólogos, naquele dia, o planeta Urano, responsável pelas mudanças drásticas, repentinas e as situações críticas, colocou-se a 08º22’ do signo de Áries, numa quadratura negativa com o planeta Plutão, que transforma as estruturas de poder. Pois é, estamos, novamente, sob as influências insondáveis do Sistema Solar e, para desespero e impotência nossa, no dia 23 de junho de 2012 Urano estará no mesmo 08º22’ do signo de Áries e novamente em quadratura com Plutão.” Podia ser pior: afinal havia até mesmo a predição desmoralizada de que o mundo ia acabar em 2012.
No terreno da realidade, todavia, há o fato real de que há indícios da desaceleração do gigante asiático, mas, a China ainda é um planeta de certa forma também insondável para nós. Afinal se ninguém acertou que iria tão rapidamente ascender no cenário mundial qual a razão para acertarem que terá um baque? É demasiado humano desejar ler o futuro e, neste ponto, a economia pode apontar, graças as chamadas contas nacionais, certas tendências. Ocorre que estas na China (e não somente lá, podem crer) é objeto de muita manipulação. Inflação e produto interno chineses são olhados com certa desconfiança, embora, como acontece com outros indicadores, são os que existem. Mas, o que se divulga, por enquanto, não autoriza ninguém a crer num declínio chinês. E se houver? É evidente que nos afeta, que afeta o mundo todo. No entanto, caso haja, termos que lidar com seus efeitos que, como já ocorreu com os EUA, pode ser bem menos dramático do que se pinta. Quando se trata de futuro, porém, astrologia e economia tem muito em comum: são excelente fontes de erros. E, me valendo de outra ciência que erra muito, a meteorologia, devo concluir que nuvens negras nem sempre são sinais de tempestade, daí, esperar que apesar das quadratura adversas , 2012, venha com muito mais surpresas agradáveis. Mesmo que não seja verdade é um consolo saber que ninguém sabe nada do futuro e, apesar dos astros, quem morre de véspera continua sendo o peru. Feliz 2012!

quinta-feira, outubro 13, 2011

Chico Buarque e a inocência humana


Em primeiro lugar devo dizer que sou um fã de Chico Buarque. Aliás, de longa data quando um velho e grande político do Ceará, Paulo Sarasate, que era dono do jornal “O Povo” e um homem de cultura, louvou fazendo política a música “A Banda”. Era, é, um primor de letra e música e, ali, já se anunciava a genialidade do compositor e letrista. Repetem, e é verdade, que nenhum poeta conseguiu ir tão fundo na alma feminina e, confesso, minha inveja de certos versos que qualquer um gostaria, se pudesse, ter feito. O poeta Chico Buarque é um talento indiscutível. O poeta, porém, não se separa do homem. E o homem envelhece, perde a sintonia com seu tempo, tem as fraquezas e os desejos demasiados humanos.
Chico, que já foi uma unanimidade, esqueceu a música e fez romances. Seus romances me lembram a música “Construção”, uma música perfeita, mas, que possui uma arquitetura que mostra os andaimes da construção, deixa ver o trabalho da elaboração e, se mostra grandeza, acaba por não parecer real. Os livros de Chico são bons, diria que quase ótimos, porém, ao fim, difíceis, exercícios de elaboração, que deixam a desejar diante da obra do poeta mór, do compositor inspirado e múltiplo. Talvez não tenha sido uma opção errada. Quem sabe, amanhã, num país mais culto, com pessoas mais cultas do que sou, as suas obras venham a ser mais importantes do que me parecem. Hoje não. Hoje parece que esqueceu o que sabia fazer tão bem e nos deixou órfãos de belas canções e conseguiu mesmo ser um pouco esquecido.
E Chico também tem uma ingenuidade que transparece nas suas letras. Não que também não seja maldoso, mas, há nele o paradoxo de ser maldosamente inocente. Também na vida, como num episódio em que se envolveu com uma amada nas praias, ou em pensar que é possível opinar livremente sobre política sem ônus ainda mais quando se é um privilegiado num país que está dividido em todos os sentidos. Chico foi um ídolo, um ícone, um tocador da manada quando era contra a ditadura. Num país de múltiplas opções ficar ao lado do poder sendo egresso da elite, e podendo ter apartamento em Paris, é se colocar como alvo, ainda mais quando seu posicionamento político ajudou a irmã a alçar voo para um ministério.
Agora lançou um disco denominado Chico (Biscoito Fino). O primeiro, depois de cinco anos, recebido apenas com críticas e suas novas canções não tocam, nem em canais de internet, televisão e dá trabalho encontrar saber quais as faixas de suas canções, exceto para quem comprar os CDs que sobram nas lojas. E só deram atenção a um verso que fala em “mulher sem orifício”. Uma pena. O CD de dez faixas é de excelente qualidade. O problema é que Chico, um homem de elite, esteve ajudando com seu apoio à incentivar a falta de cultura. Num vídeo se assombra que tem pessoas que falam mal dele na internet e o chamam de “velho bêbado” quando nem bebe. A verdade, para muitos, é que se comportou como se bebesse, e, se suas canções não produzem o mesmo impacto é, justamente, porque até mesmo os que, hoje, estão no poder, na sua grande maioria, são incapazes de compreender (e sentir) a beleza de seus versos. A indiferença vem de que a grande massa gosta dos baticuns ou do barulho do rock ou até mesmo da batida de trilho das grandes bandas e seu público, igual a ele, envelheceu e não conta mais. Chico, infelizmente, esteve distante do país e ainda vive ao som da bossa nova e crê no homem cordial. A violência para ele só chegou pela internet. Pelo menos, o salva fazer ainda belas canções para o futuro. Neste momento, é cercado pela indiferença dos amigos e pela pena de muitos fãs que gostariam que tivesse permanecido sendo apenas o grande poeta que sempre foi. A pena não é de que ele esteja sozinho, mas, que não tenha se limitado a torcer pelo Fluminense e jogar bola pelo Politheama. A pena é de que tenha se equivocado tanto sem ter percebido que estava se enterrando em vida. Talvez seja um caso exemplar de auto-engano. Ou a maldição de que nossos maiores compositores, igual ao país, não encontrem jamais a felicidade.

terça-feira, outubro 11, 2011

A morte do homem cordial no país sem plano


É engraçado como se consolidam socialmente alguns estereótipos na psique popular. Talvez nenhum deles seja mais emblemático do que, por exemplo, a crença de que nossa sociedade se caracteriza por traços que a apontam como uma sociedade cordial, pacífica, sem imensos conflitos sociais. É claro que isto não poderia escapar do olhar científico e são muito conhecidas as palavras de Sérgio Buarque de Holanda que, em Raízes do Brasil, escreveu “A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal”.
Será que ainda é válida a análise feita no século passado, e publicada pela primeira vez em 1936, em que, supostamente, o transplante das relações sociais para o tecido macro da sociedade encobriria, ou amenizaria, as questões mais agudas e graves? Será assim atualmente? Vivemos ainda num país onde grassa a cordialidade? Ultimamente, creio que não, pois, sumiram os traços patriarcais, o predomínio das crenças do meio rural e na nossa realidade contemporânea, urbana e globalizada, o homem cordial se liquefez, com certeza. Nem irei apelar para os episódios de queimas de índios e mendigos ou as recentes agressões absurdas a casais gays ou até a quem num gesto de carinho acabou confundido e sendo espancado. Não há nada de cordial, por exemplo, no MST, nem nas invasões urbanas ou ocupação de edifícios por sem-teto nas cidades brasileiras. Nem mesmo os protestos de estudantes, funcionários públicos, de camelôs ou até movimentos negros e do hip-hop escondem uma violência que se manifesta ainda mais agressiva no trânsito e nos assaltos e roubos. Não faço crítica aos movimentos coletivos, mas, constato que até mesmo os crimes, no passado, eram mais delicados. Não existiam balas dum-duns, nem AR 15, nem se assaltava em grupo como hoje em dia acontece. A grande realidade é que não existe mais o homem cordial e o brasileiro cordial foi enterrado sem pompas num túmulo desconhecido.
Só constato que o Brasil ingênuo morreu. Que há uma violência gratuita mesmo nos grupos mais descompromissados com qualquer agenda política que reflete, talvez, a falta de compreensão dos fenômenos atuais, a impotência da construção de uma solução política para nossos problemas, pois, a grande realidade é a falta representatividade das políticas, dos políticos e das instituições. É imprescindível que se reflita sobre a nossa realidade, sobre um ativismo social que nos faça ter um pensamento estratégico, um planejamento da ação, uma proposta de futuro. Não podemos ficar ao sabor da mistura vazia entre o entretenimento, o marketing e a impostura sem abrir caminho para uma ação conseqüente, sob pena do Brasil cordial, sem a instrumentalização adequada, virar o Brasil da desordem, o Brasil caótico, o Brasil que voltou ao passado sem passar pelo futuro.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Alguma reflexões sobre o pós usinas


Estive esta semana conversando com o jornalista Paulo Vagner, do Portal Rondônia, sobre o futuro de Porto Velho depois das usinas. Confesso que foi uma conversa surpreendente e, ao mesmo tempo, estimulante por me fazer tentar exercer um dom de futurologia para o qual não estou minimamente preparado, embora muitas pessoas pensem que isto é uma coisa normal na cabeça de um economista. Não é ainda que seja verdade que os conhecimentos de economia proporcionam certas ferramentas que permitem prever alguns tipos de aumento de demandas e antever problemas. Para tentar matar a curiosidade intelectual do Paulo Vagner, no entanto, tive primeiro que esclarecer que, em Rondônia, para este tipo de exercício, falta inclusive o essencial que são estatísticas em série, estatísticas recentes e confiáveis. Não é um fato comum, mas, todo economista sabe que o grande legado de Keynes foi o de ir buscar na estatística o comportamento médio das variáveis econômicas e, a partir daí, tentar monitorar e controlar o comportamento da economia.
Quando se trata de Porto Velho, como esclareci, o problema é muito maior. A cidade já estava num ritmo de crescimento próximo dos dois dígitos antes do Complexo do Rio Madeira, um megainvestimento de construção de duas usinas ao mesmo tempo, algo raro em qualquer tempo e lugar. O segundo maior empreendimento do mundo com a maior obra do Brasil em execução. Era previsível que houvesse, como de fato aconteceu, um extraordinário crescimento da renda e da geração de emprego por causa do ciclo da construção das hidroelétricas. A cidade recebeu, conforme atestam os resultados preliminares do Censo, algo como 110 mil pessoas, o que foi quase 30% de acréscimo populacional, gerando diversos impactos socioeconômicos também previsíveis, inclusive o aumento trágico da violência e do trânsito. Em contrapartida, com três faculdades de Medicina em funcionamento, a transformação de Jacy-Paraná e a implantação de Nova Mutum há fatores que apontam novos caminhos para o futuro que, na minha opinião, são promissores. Porto Velho é, hoje, uma cidade universitária com mais de 22 mil estudantes de nível superior e, ao contrário do que muitos pensam, não terá grandes dificuldades para o pós usinas. Não se trata de previsão, mas, de dados e de lógica. É evidente que não cresceremos em níveis altos como temos crescido. Mas, como saldo das usinas, teremos uma estrutura muito melhor que ainda depende da governança local ser aprimorada. Nossos problemas não são tão grandes, porém, se faz necessário que haja uma melhor aplicação dos recursos públicos, um melhor planejamento do futuro e trabalho. Existem muito mais promessas, do que realidades efetivas, que precisam se tornar realidade.
É certo que o nível de atividade econômica, de geração de empregos e de renda deve cair no futuro. Já caiu com os recentes distúrbios de Jirau, porém, isto não significa voltar ao período de estagnação, nem aos níveis do passado. Depois das usinas entraremos num período de acomodação. Cerca de 70% da mão do obra formada, ou que aportou com formação, irá seguir o caminho natural dos “barrageiros”, trabalhadores que seguem as grandes obras de construção de hidroelétricas, e com o próprio fim das usinas as demandas serão menores. O nosso futuro, portanto, dependerá mais de nossa capacidade de gerir o pós usinas. De buscar consolidar a vocação de comércio e serviços de Porto Velho, o que significa construir um novo porto fluvial, duplicar a BR-364, que já tem previsão, concluir a BR-319, buscar implantar os projetos do gasoduto de Urucu, das eclusas e da ferrovia Cuiabá-Porto Velho e tornar nosso aeroporto, de fato, internacional, para aprofundar as relações comerciais com os países vizinhos. São projetos viáveis e exeqüíveis que, aliados a uma política de apoio aos micros e pequenos, parecem apontar no sentido de que o período difícil é ainda o que atravessamos, o durante as usinas, em que temos que conviver com uma demanda para a qual a cidade não estava e não está preparada. No meu entender, porém, o pior já passou e se tivermos uma melhora substancial de nossa capacidade política podemos chegar em 2020 com uma grande cidade que poderá ser motivo de orgulho para todos nós.

sexta-feira, setembro 30, 2011

Top of de Mind O Estadão do Norte, uma feliz iniciativa

A pesquisa Top of Mind O Estadão do Norte/IPESO sobre as marcas mais lembradas de Porto Velho é uma iniciativa que merece todo apoio por levantar uma necessidade do mundo moderno que, no Brasil, é muito esquecida: a de cultivar o valor das marcas. Embora os exemplos de marcas, como as da Coca-Cola ou da Windows, sejam uma mostra do valor intangível dos símbolos é um fato comprovado que, em nosso país, a criação e o cultivo de marcas e de patentes ainda é um setor bastante descuidado e sem o investimento que deveria ter. Por esta razão a inovação e a iniciativa do Estadão do Norte deve ser apoiada para que, cada vez mais, haja o cuidado e a atenção com a construção de marcas num estado de uma região como a Amazônia que, por si mesmo, é uma marca mundial.
Veiculada na última quinta-feira como encarte do jornal diário com um sub-título “Na ponta da língua, Confira os nomes mais lembrados de Porto Velho” tendo como jornalista responsável o sempre competente Antônio Pessoa, a revista com os resultados da pesquisa Top of Mind O Estadão, aponta que, em certos setores, os resultados corresponderam ao que é voz comum, como são os casos, por exemplo, dos destaques da Romanel e da Roberto Simon, em jóias; em perfumes, O Boticário e Água de Cheiro; em calçados, Milani e Di Santini; em padarias, Nordeste e Roma; em distribuidoras, Coimbra e Atacadão; em supermercados, Gonçalves e Irmãos Gonçalves; em Pizzaria, Bella Pizza e Fiorella; em fast food, Bob’s e Mc Donald’s; em cervejas, Crystal e Skol; em sorvetes, Dullim e Kibom; em papelaria, Prisma e Líder; escolas particulares, Classe A e Objetivo; em móveis e eletrodomésticos, Gazin e City Lar; em material de construção, Alfa e Ronsy; em hospitais, 9 de Julho e Central; em plano de saúde, Unimed e Ameron; em bamcos, Banco do Brasil e Bradesco; em televisão regional, Rondônia e Allamanda; rádios, Transamérica e Parecis; TV por assinatura, Sky e Via Embratel, Óticas, Diniz e Especialista; Veículos, Saga e Autovema; academias, Mahatama e Win e farmácias, Farmabem e Econômica, entre outras que se destacaram na pesquisa. Que, aliás, foi feita com uma amostra de 600 entrevistados com uma margem de erro de 4%, o que é muito representativo do universo.
Se os resultados acima não surpreendem o mesmo não se pode dizer, por exemplo, da Churrascaria Boi na Brasa ser mais lembrada que a tradicional, e de excelente conceito, Paraná, ou o fato de, em Porto Velho, o refrigerante Dydyo ter um recall maior do que o da Coca-Cola. É claro que não se duvida dos dados, mas, são indicativos reveladores de que estas empresas desenvolveram algum tipo de marketing que a tornaram mais lembradas espontaneamente, um mérito indiscutível de suas estratégias. O importante é que a iniciativa do jornal O Estadão avança num setor que é preciso que se dê mais atenção, não só em nosso estado, como no país. Só por incentivar a preocupação com as marcas a pesquisa já mereceria os parabéns, mas, é preciso que, o que, hoje, é pontual se torne uma tradição para que se criem marcas rondonienses, um grande valor intangível que é mais do que imprescindível cultivar. Uma boa marca é por si mesmo um grande ativo financeiro no mundo atual.

domingo, setembro 25, 2011

Sobre as ideias de Roger Scruton


Na Veja desta semana, mais precisamente nas páginas amarelas, a entrevista do filósofo inglês Roger Scruton é um facho de luz sobre o pensamento moderno. Em especial sua observação de que o pensamento utópico sobrevive por ser uma forma que, ao se embeber do otimismo mal-intencionado, é fácil de digerir e permite que se fuja dos problemas reais de construção de qualquer alternativa real, o que sempre exige determinação e trabalho. É fértil sua afirmação de que a esquerda possui, e adora, ter uma tradição de culto à vitima. Como bem acentua Scruton sua origem vem de Karl Marx, no século XIX, que criou o método de julgar toda forma de sucesso humano a partir do fracasso dos outros, como se o sucesso de alguém dependesse menos de seus esforços que de usufruir dos outros (a idéia de um capitalismo que se sobrepõe à consciência e à vontade humana).
Marx, com base neste método, e contra sua própria capacidade lógica, inventou um plano para salvação dos mais fracos e, com uma causa muito justificável, criou a fórmula de seu sucesso da esquerda: ter uma causa justificável e uma vítima a ser resgatada para pousar de justiceira do mundo. No século XIX, lembra o filósofo, eram os proletários, depois, nos anos 60, foram a juventude, as mulheres, os pobres e, atualmente, com o ambientalismo, se propõem a salvar o planeta. Ocorre que a esquerda jamais trata do mundo e dos problemas reais, mas, radicaliza a questão que passa a ser uma espécie de fé e os que a ela não aderem são estigmatizados como o “mal”. Scruton acentua que isto é um jogo de “soma zero” com um vencedor e um perdedor, quando as relações humanas não precisam ser um jogo de perde-e-ganha, quando podem ser um jogo de ganha-ganha.
É muito lúcida sua análise de que “quando uma pessoa começa a pensar sobre as grandes questões que afligem o homem e a sociedade, tende a aceitar as posições de esquerda, pois, elas parecem oferecer soluções. Ao pensar além, ao se aprofundar, a pessoa aprende a duvidar e rejeita o argumento esquerdista. Na universidade muita gente pensa, mas, poucas refletem profundamente”. Sem dúvida é preciso levar em conta o valor objetivo da liberdade, o qual as sociedades coletivas impedem que exista, e, sobre este tema, é muito arguta a observação do filósofo inglês de que “O conservador reflete sobre coisas reais e sabe que a liberdade verdadeira é obtida sob leis e regras”. Não pode ser, como muitos pretensos iluminados desejam, monopólio de um grupo ou de um partido e sim devem ser uma construção social em que as pessoas possam exercer seu direito democrático de serem diferentes e discordarem ainda que a maioria prevaleça. Isto, porém, jamais poderá ser uma realidade privilegiando a cultura do “coitadinho”, de que as elites sociais invés de serem os guias da sociedade passem a ter que regredir para se adequar ao pensamento comungado pelos menos cultos. Não se pode, como muitos hoje desejam, aceitar o anti-iluminismo como forma de progresso social ou, o nosso futuro, estará no passado. Só alguns indivíduos fazem o pensamento avançar e, estas águias solitárias, não fazem parte da massa. Efetivamente se destacam por discordar delas e ter um pensamento que faz a sociedade avançar.

terça-feira, setembro 20, 2011

A insensatez nossa de cada dia


Há um belo sol lá fora. O dia, indiferente aos problemas humanos, esparge luz. Tentei ler um livro sobre capital especulativo, sobre capitalismo especulativo. Esta uma realidade da qual pouco se fala, mas, que é significativa de nossa realidade atual, da insensatez humana. Insensatez que está em toda parte. Na violência do trânsito, nos maus modos, na agressividade com que as pessoas se comportam e até mesmo no ambientalismo, que travestido de defesa da vida nega vida a pequenos produtores, que não tem como sobreviver cercado pelas infames regras dos códigos florestais. Leis que transformam um homem, que deseja apenas viver e derruba a mata ou mata uma paca, num marginal enquanto livra os que roubam milhões ou que matam impunemente, porém, tem bons advogados.
Os veículos passam velozes. Distante um jazz lento me lembra o quanto o passado era mais simples e, paradoxalmente, mais difícil. Tento ouvir as notas musicais para atenuar a dor que me corrói, a dor da morte de uma pessoa querida irracionalmente, insensatamente, assassinada por uns míseros trocados. São contraditórios também meus sentimentos de querer apagar o passado e, ao mesmo tempo, ter este negro desejo de que se aplique a lei de Talião, do olho por olho, dente por dente. Inútil. Nada trará de volta o sorriso, a mansidão e a beleza da pessoa que se foi. A insensatez humana também faz parte de mim. Também me cobra o preço de agir e pensar, muitas vezes, de forma errática, sem sentido. E é isto, talvez, o que nos faz humano. Conseguir conviver com a insensatez que nos cerca como se o absurdo fosse normal até que um dia a foice feche nossos olhos para o amanhã.

terça-feira, setembro 13, 2011

Lana Del Rey, a diva do momento


O performático artista Andy Warhol disse, no passado, sabíamente, que “No futuro toda gente será famosa por quinze minutos”. Ele acertou em cheio na sua profecia, mas,talvez, tenha errado no tempo que, hoje, parece muito longo. Talvez todos tenham, no futuro, seus quinze segundos de fama. Porém, enquanto isto não acontece ainda temos, com a internet, celebridades que são feitas de forma instantânea seja por algum tipo de talento, seja por um comportamento bizarro ou algo que escapa ao comum. Afinal, por mais que se deseje uma vida previsível, sempre o imprevisível e o novo é saudado com certo entusiasmo. Comprova isto, por exemplo, o sucesso do rapaz de Rondônia que reclamou por “não ser cutucado” por ninguém ou o sucesso de canções como “Friday”, de Rebecca Black, e “Oração”, da curitibana “A banda mais bonita da cidade”, que viraram sucesso imediato, mas, que, parecem, depois de algum tempo esquecidos. O fato de ser visto, aliás, se celebriza não garante a qualidade.
Há alguns destes fenômenos que podem resistir se apresentarem qualidade. No momento, por exemplo, chama a atenção o trabalho da americana Lana Del Rey, uma louraça belzebu de 24 anos, que, na semana passada, sem razões aparentes, bombou do nada, alcançando mais de 340 mil visualizações no YouTube com uma canção de título moderno “Video games”. Pode-se dizer que a marca não seja grande coisa para a rede, no entanto, a repercussão da música foi poderosa na medida em mostrou uma qualidade artística que mereceu elogios. A razão se situa na beleza da moça, um diva no melhor estilo Maryln Monroe, e na canção com vocais etéreos e uma melodia melancólica que percorre um clipe cheio de referências cinematográficas ajudando a compor aimagem da jovem cantora. Diga-se, de passagem que a canção começa a surpreender pela abertura com um solo de harpa e termina surpreendendo mais com uma seção de cordas completa e, com uma letra longa e bem estruturada, consegue ter uma sonoridade atemporal que aumenta a intensidade poética e a aura da canção.
Pode até ser que esta canção “Video games” seja a porta para a fama de uma grande cantora. Isto porque Lana chegou a lançar um disco em 2010, com a produção de David Kahne, que passou quase despercebido e foi considerado fraco. Pode também, como foram os casos já citados e outros, que tudo morra com esta canção, mas, um fato a moça já criou: é a diva do momento. Pelo menos da semana, embora, há quem diga que com sua beleza ainda que não emplaque mais nada com “Video games” estabeleceu uma das canções memoráveis de 2011 e colocou sua imagem no caminho da fama. Nem que seja a de 15 segundos. De qualquer forma vamos torcer para que repita o feito desta canção que sou o primeiro a indicar como um vídeo de talento.

sexta-feira, agosto 26, 2011

A Cegueira Ideológica


A Incompetência Política

A crise, assim como a desigualdade, é inerente ao capitalismo. Ao contrário do pensamento ideológico de que a crise irá acabar com o capitalismo, pelo menos, no horizonte previsível a premissa não se sustenta. Até parece que sempre as crises só o fortalecem. Mas, não se pode fazer nada contra a fé, tanto que, apesar da queda do muro de Berlim ter mostrado, definitivamente, que as sociedades planificadas não têm futuro ainda há os que acreditam piamente que a única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo, quando, não resta a menor dúvida, que se trata de um sistema que, na realidade, tolhe o progresso, a eficiência e a liberdade.
Apesar disto, mesmo que a História tenha demonstrado claramente ser um horizonte aberto, e não um sistema lógico que terminaria, inevitávelmente, numa sociedade sem classes, há os que, cegos na sua ideologia, continuam a acreditar que são os arautos do futuro e que possuem a fórmula e o conhecimento do bem-estar, ainda que todos os que disseram saber, quando chegam ao governo, fazem igual, ou pior, do que os antecessores e, ainda se gabam, de que todos fazem igual. Sob muitos pontos de vista, mesmo para os países em desenvolvimento, o mundo tem melhorado, porém, só apontam para o fato de que a miséria e a fome (que eram muito piores) continua a existir e que as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos. Tudo isto é verdade, porém, o problema não é do capitalismo, um sistema que é feito pelos homens, porém, dos próprios homens, que não conseguem criar formas políticas capazes de eliminar os problemas humanos mais graves.
O mais fantasmagórico de tudo isto é que os mesmos que dizem querer a democracia, a liberdade e o bem-estar de todos desejam, e tentam até mesmo de forma despudorada, manietar a imprensa. O argumento mais usado é de que os fatos, as notícias são selecionadas, apresentadas, valorizadas ou desvalorizadas, mutiladas ou distorcidas de acordo com as conveniências do grande capital. Assim, dizem que, por exemplo, o governo Lula da Silva teria sido vitima de uma imprensa cujo objetivo maior seria o de impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos e o seu significado, bem como sempre atacando o governo por ser um governo voltado para o povo. Ainda que se aceite que haja esta inaceitável e impossível manipulação da imprensa em geral quem estaria mais habilitada para fazê-la: o governo ou as grandes empresas? Claro que é o governo que, cada vez mais, seja por cercear anúncios de cigarros ou bebidas, seja por aumentar os recursos de publicidade, seja por criar agências e direcionar as notícias tem muito mais poder de fazer isto que qualquer projeto particular. Mas, se faz isto, o que se vê é que não deseja apenas isto. Esta conversa de regulação é uma procura de retorno à censura.
A volta da censura vem sob o argumento de que os jornais e as cadeias dedicam cada vez mais tempo ao entretenimento e menos a grandes problemas e lutas sociais. Afirmam os defensores de uma “imprensa realmente livre” que os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência nas suas múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o cotidiano e a vida amorosa de celebridades, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc. Assim fariam para evitar que os cidadãos pensem. Esta seria a tarefa permanente dos media. É uma meia verdade. A mídia reflete a sociedade. Se as pessoas gostam disto são servidas pelo que gostam. Não é a Rede Globo que produz a deseducação, embora possa até multiplicá-la, mas, é a grande deseducação pública que gera a Globo como ela é. A Globo é competente: faz o que o público deseja. A política brasileira tem sido incompetente: gera a falta de educação e de cultura que induz a programação da Globo a ser o que é.

Fonte de Imagens: http://www.taringa.net/posts/info/3162575/Frases-de-Politica.html

domingo, agosto 07, 2011

A presidente Dilma na corda bamba


É claro que o loteamento político dos cargos entre os partidos, a unção à chefia de cargos de pessoas desqualificadas, a corrupção, o apadrinhamento, o nepotismo e o uso privado dos recursos públicos não são criações do Partido dos Trabalhadores,nem da presidente Dilma, mas, a república sindical estabelecida por Lula da Silva,com o amordaçamento e eliminação de qualquer oposição consistente,permitiu que estes vícios históricos se alargassem e se tornassem grandes barreiras à boa gestão pública. A imprensa tem sido o último baluarte de oposição e, sejamos claros, não por não estar também atrelada ao governo (as verbas e patrocínios bem distribuídos tornam também a cumplicidade dela evidente), porém, pela desfaçatez que passou a existir,a partir do fato de Lula ter escondido o Mensalão debaixo do tapete. Muitos, a partir daí, com a falta de princípios que o caracterizam passaram a considerar normal o que se tem como desonesto. Afinal “se todo mundo faz”... O resultado é que se acumularam as práticas e as evidências explodiram no colo da atual presidente.
É fato que as denúncias são recentes dos desvios nos ministérios dos Transportes, Agricultura e Cidades. Porém, são práticas novas? De forma alguma. Como comprovam a constatação de que os dirigentes destes órgãos não são novatos na função. São todos parte do antigo esquema de Lula que partidarizou a máquina pública e ofereceu a alguns feudos que serviam a fins nada republicanos. São estas velhas práticas que, hoje, emparedam as ações do governo federal e deixam a presidente Dilma Rousseff numa encruzilhada. Principalmente, pela razão de que,ao assumir o papel de “faxineira”,foi ela mesma que defenestrou o esquema do Ministério dos Transportes. E a grande verdade é que conseguiu também o feito de fazer com que os próprios peemedebistas brigassem,como foi o caso de Michel Temer e o senador Romero Jucá,ambos seriamente atingidos pelos estilhaços do escândalo do Ministério da Agricultura. Para significativos setores políticos, em especial algumas velhas raposas da política, Dilma quer refazer o governo rifando seus aliados e, por tal razão, já se observam sinais de que haverá troco.
A presidente segue seu projeto de limpeza, mas, como esta somente atingiu, até agora, os outros partidos, qualquer nova ação que for feita terá profundos efeitos colaterais. A demissão de 27 funcionários da cúpula dos Transportes mostra que, ao contrário de Lula, Dilma não quer conviver com a suspeita de corrupção em seu governo e não hesitou em queimar seu principal auxiliar, Antonio Palocci, quando necessário, porém, é preciso acentuar que quase todas as áreas sob comando de aliados políticos seguem um padrão similar de preenchimento de cargos. Se a limpeza começar a ser feita de fato o resultado tanto pode ser de paralisia do governo, que não já não prima pela eficiência, e até mesmo da queda por falta de sustentação política. Portanto, Dilma tem pela frente um desafio gigantesco: compatibilizar as composições políticas com a necessidade de manter o rumo, a imagem e a consistência do governo. O grande problema é o de que o nosso sistema de governo é um presidencialismo de coalizão, um sistema em que o Poder Executivo divide espaços nos ministérios com aliados no Legislativo. A lógica que suporta esta distribuição de forças, porém, no governo atual está sendo muito distorcida contra os aliados que ainda veem no comportamento da presidente uma forma sutil de surrupiar o poder que possuem em prol do PT. Dilma, para ter sucesso, terá que mudar sem provocar os efeitos colaterais que farão explodir os aliados de seu próprio partido. Até onde terá tal habilidade política reside o resultado de seu movimento para sair da inércia em que o governo se encontra e buscar novos caminhos para o país.

Ilustração: http://robertodelorena.blogspot.com/2010/04/dilma-na-corda-bamba.html

quarta-feira, agosto 03, 2011

Brasil só um pouco maior


O momento escolhido não o foi por acaso. É uma ação estratégica porque o governo se encontra acuado e a economia nacional sente os impactos negativos da desindustrialização, filha do câmbio sobrevalorizado, juros e impostos muito elevados e a concorrência desigual de países como a China, bem como do grave e crônico problema, a corrupção, que inunda as manchetes e corrói também a competitividade do País. É de se louvar, portanto, que utilizando o slogan "Inovar para Competir. Competir para Crescer", a presidente Dilma Rousseff tenha lançado, como uma nova política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior, o Plano Brasil Maior.
São ações que tentam retomar uma agenda positiva o que deve sempre ser louvado, porém, é preciso recolocá-las dentro de seu contexto e dimensões. Antes de tudo não se pode dizer que há um plano quando o que existe mesmo é um conjunto de medidas pontuais que buscam garantir a sobrevivência de setores que sofrem com a competição dos importados, beneficiados pelo câmbio irreal. Assim foi traçado, para o período 2011-2014, a meta de aumentar a competitividade dos produtos nacionais a partir do incentivo à inovação e à agregação de valor. Ocorre que, ao contemplar somente a indústria na sua desoneração, começa por iniciar tardiamente um processo esperado e desejado, porém, de uma forma desbalanceada. A maior prova desta falta de visão geral econômica decorreu das palavras do presidente da Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman, que foi taxativo afirmando que o plano "Deveria ser permanente e direcionado a todas as atividades econômicas", completando suas palavras com uma queixa explicíta de que é uma estratégia para "corrigir pontualmente os efeitos, pela incapacidade de se atacar diretamente as raízes do problema" citando a falta das reformas, o desequilíbrio cambial e as elevadas taxas de juros, para concluir com a sentença da relatividade das medidas: "Enquanto os juros cobrados no Brasil se mantiverem no topo do mundo, a taxa de câmbio vai continuar distorcendo nossa real capacidade competitiva."
É uma análise correta e clara. Não adianta o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o mercado brasileiro deve ser usufruído pela indústria brasileira e que o conjunto de medidas a fortalece a e dá condições de competir com os outros países. Qualquer economista ou empresário sabe que mesmo com essas medidas de estímulo à indústria, o país deve continuar importando muito e, no máximo, se atenua os impactos que o setor industrial vêm sofrendo com a valorização do real, diante da baixa do dólar. O denominado plano Brasil Maior é um avanço. É, pelo menos, um sinal de ação diante de um quadro adverso, porém, é ainda muito pouco para mudar o ambiente empresarial do País. O Brasil ficou maior, é verdade, mas, ainda muito pouco para ser o País do presente que precisa ser.

segunda-feira, julho 18, 2011

Uma oportunidade aberta

Tive a oportunidade singular de participar, em Juiz de Fora, do “Fórum das Américas: Leite e Derivados”, realizado entre 12 e 14 de julho, na Expominas, pela Embrapa Gado de Leite, que teve como um dos seus pontos altos o “3º Workshop de Qualidade do Leite” com palestras imensamente instrutivas sobre o setor, especialmente pela presença de uma missão chinesa que trouxe 21 membros de diversos setores do grande país asiático. Aprendi muito sobre leite e, mais ainda, sobre os problemas do setor no Brasil e na China, o que foi um brinde inesperado.
Não se pode deixar de considerar que, com 1,3 bilhão de consumidores, a China deve permanecer como a locomotiva do desenvolvimento mundial e mercado potencial de muitos produtos dada a baixa capacidade de respostas da produção local à sua necessidade de consumo. Isto também acontece no setor lácteo no qual o consumo no ano passado foi de 41 bilhões de litros, dos quais 4,3 bilhões importados), porém, é preciso considerar que o crescimento da demanda interna tem sido acima de 8% o que representa, no mínimo, a necessidade de mais 3,2 bilhões de litros/ano. E mesmo que, no Norte do país, existam fazendas gigantescas, com mais de 10 mil vacas, ficou bastante explicito nas diversas palestras que a capacidade de crescimento da produção é bastante restrita face aos problemas de falta de tecnologia, de insumos, em especial ração para o gado, as práticas rudimentares, na sua grande maioria nas pequenas propriedades, e a questão ambiental que é grave dado o fato que o setor responde por 41,9% da emissão de gás na China.
É verdade que os chineses são bons planejadores e pensam a longo prazo. Há planos e diretrizes que procuram equilibrar a oferta e a procura de lacticínios até 2020, mas, o grande problema-como apontou o técnico do Ministério de Desenvolvimento e Comércio Exterior, Benedito Rosa do Espírito Santo- é que, em dez anos, o consumo na China aumentou 102% contra um aumento na produção de apenas 72%, ou seja, não se trata apenas de absorver o aumento do consumo como também de acabar com um passivo acumulado. Assim a China, apesar de ser o terceiro maior produtor de leite do mundo, atrás apenas da Índia, o maior de todos, e dos EUA, deve se conservar sendo um grande importador para suprir suas necessidades futuras. No entanto, as limitações para que essas oportunidades sejam aproveitadas pelo Brasil são enormes. Embora, para muitos, seja inviável, pela valorização do Real, as questões são mais profundas. É evidente que o Brasil tem custos absurdos derivados de impostos, porém, também, mesmo para um leigo como eu, ficou claro que nós temos problemas de qualidade das práticas, do rebanho e dos produtos. Avançamos muito em tecnologias, porém, ainda há muito a ser feito. E não há, pelo visto, grandes possibilidades de intercâmbio com a China no setor, exceto em programas comuns de melhoria da produção e da genética. De qualquer forma há uma grande oportunidade de cooperação entre Brasil e China neste setor que não deve ser desperdiçada e Rondônia, até por seu clima tropical, tem uma excelente oportunidade para ser um elo importante desta cooperação.

segunda-feira, junho 20, 2011

Eireli, abre-se uma nova porta ao empreendedorismo


Acaba de ser aprovado no Congresso Nacional a nova modalidade de negócios denominada Empresa Individual de Responsabilidade Limitada que pode reduzir ainda mais a burocracia e favorecer os pequenos negócios. Só falta mesmo a sanção da presidente Dilma Roussef. O atual presidente o Sebrae, Luiz Barretto, ao comentar a aprovação do Projeto de Lei Complementar 18/11 pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em caráter terminativo, o que significa que o projeto não precisa passar pelo Plenário da Casa, seguindo direto para sanção presidencial, afirmou que “A redução da burocracia é sempre positiva para o empreendedor e para o país. É importante que apenas as pessoas interessadas em fazer parte de uma sociedade estejam formalmente num empreendimento, até mesmo para qualificar as micro e pequenas empresas. A aprovação da Empresa Individual é mais um mecanismo para favorecer os pequenos negócios, assim como ocorreu com o Empreendedor Individual, que já tem mais de 1,1 milhão de profissionais formalizados”.
E não deixa, efetivamente, de ser mais um passo que melhora o ambiente para as micros e pequenas, pois, pela redação da proposta, apenas o patrimônio social da empresa responde pelas dívidas do negócio, ficando de fora o patrimônio do dono o que é fundamental, de vez que na situação atual quando a empresa quebra, o patrimônio pessoal do empresário também vai para execução fiscal. Não é que esteja pregando a falta de responsabilidade, porém, com a legislação em vigor, a burocracia, os impostos altos e os encargos sobre a mão de obra manter uma empresa é ter uma sociedade desigual com o governo e com os bancos, que ganham muito enquanto as micro e pequenas suam para se manter. A rigor, como economista, não posso deixar de acentuar, e já fui empresário e sei o que estou dizendo, é uma vocação misturada com uma espécie de loucura abrir um negócio no Brasil atual.
Creio mesmo que o Brasil que, nos últimos doze meses, mesmo com uma carga tributária de país rico, com uma burocracia esmagadora e com uma das maiores taxas de juros do mundo, demonstra que é um país capaz de suportar qualquer coisa pelo fato de que os micros e pequenos, mesmo sob estas condições, criaram dois milhões de empregos. Imagine se tivessem digamos 60% da cultura norte-americana de incentivo ao empreendedorismo, legislação favorável e crédito farto? Certamente, quando isto acontecer, teremos a verdadeira revolução social do País. Quando se abre esta nova modalidade de empresa, que será constituída por uma única pessoa titular do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no país, é mais uma portinha para empreender que se vislumbra, porém, ainda creio que, nos próximos 10 anos, possamos fazer a revolução de fato da micro e pequena empresa. Se derem aos micros e pequenos uma condição melhor não tenham dúvidas que aí caminharemos, de fato, para o futuro sem igual com uma distribuição de riqueza muito mais justa.

sexta-feira, junho 03, 2011

Explica, explica e não explica


Palocci depois de muito se esconder apareceu em entrevista nacional para se explicar. A explicação dele foi, no mínimo, evasiva e, no máximo, incompleta. Nem a santa mãezinha dele há de se convencer com a conversa de que está resguardando seus ex-clientes. Infelizmente, a grande verdade é que quem está na arena pública, quem, como o ministro, tem, e teve, uma grande parcela de participação no governo não pode, nem deve, igual a ele fez, pedir que acreditem na palavra dele esquecendo, como ele fez questão de se esquecer, que o problema real é que seu patrimônio teve um ritmo milagroso de crescimento, vinte vezes em alguns parcos anos. Não será com as palavras, por mais suaves e maneirosas que sejam, que ele irá escapar de uma cobrança não somente da oposição, mas, mais ainda de seus pares que cobram dele a conta da torre de marfim em que o governo vive ignorando os pedidos e as cobranças.
A verdade é que a situação de Palocci fica ainda mais difícil pelas suas próprias palavras. Ao dizer que “não existe crise” no governo (uma meia verdade na medida em que o ministro mais poderoso do governo Dilma Rousseff estar sendo acusado de enriquecimento ilícito atinge o centro do governo) e negar o que se sabe que houve (a tentativa de troca de uma posição mais amena em relação a ele por mais maleabilidade em outras matérias) o ministro colocou a cabeça no pelourinho, pois, se a crise não é do governo a solução mais simples é colocá-lo para fora. Não é tão simples pela razão clara de que é Palocci um verdadeiro anteparo do gênio pouco político de Dilma. Sem ele, certamente, ela ficará mais exposta e mais vulnerável. E o governo, e Palocci, já tentaram de tudo, inclusive o jogo duro contra Temer, para esgotar o assunto sem conseguir. Não conseguirão. O faturamento rápido da consultoria de Palocci é pouco provável até mesmo para um reconhecido expert em economia como Delfim Netto, daí, ser um problema de psicologia: só Freud explicaria a repentina bondade dos empresários com o ministro Chefe da Casa Civil.
E se a coisa podia ficar pior, creiam, ficou. Com a declaração do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, de que “Nós não dependemos do Congresso para seguir trabalhando”, até a base aliada se arrepiou porque o Executivo tem muitos poderes. Demais, até, e pode mesmo sem apoio do Congresso fazer muita coisa. Mas, a declaração não ajuda nada e aumenta a necessidade de cobranças inclusive pelo próprio PT. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), considerou "insuficientes" as explicações dadas pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, em entrevista ao Jornal Nacional. "Se há alguma explicação, o ministro não quis ou não pode dar. Isso só reforça a suspeita de que cometeu tráfico de influência. O melhor para o país é o seu afastamento", disse o líder do PSDB. O PT, como sempre, vai dizer que explicou tudo, mas, já discutem a reformulação da articulação política do Planalto. Com estas explicações que nada acrescentam Palocci parece, ao que tudo indica, que está mesmo com os dias contados.

domingo, maio 29, 2011

Sobre a rara espécie política que diz não


Na política, ao contrário do que pensa muita gente, não é fácil ser oposição. Especialmente numa época como a nossa em que o contentamento das pessoas se parece mais com conformismo do que qualquer coisa. Há uma inevitável vontade de dizer sim diante da enorme onda de “sims” dito a todo instante seja no nível municipal, estadual ou federal. Esta moda não passageira, até onde se enxerga, de governos de coalizões parece querer enterrar ou colocar no museu quem se posiciona contra alguma coisa. Isto acontece em relação a governos de qualquer tipo, no Brasil de hoje, onde parece que, ao contrário do passado, ser contra é pecado. Ainda mais quando ser contra significa não ter acesso aos cargos, as benesses, pois, até mesmo os assessores dos parlamentares, que se comportam sem fechar os olhos ao que vem do governo, olham o chefe como um ser de outro planeta quando não prática a famosa Oração de São Francisco do “É dando que se recebe”.
O triste é ver que os princípios foram para o brejo e que, estando ou não de acordo com o encaminhamento das políticas públicas, o parlamentar acaba votando do jeito que o governo deseja e não como a população espera que ele vote. Na prática se observa que, quando contemplado com verbas ou cargos, automaticamente, fecha-se os olhos a tudo o que de condenável possa existir, e o parlamentar, que deveria ser um representante do povo vira uma empresa política que só visa o próprio lucro e não o bem estar social pelo qual deveria zelar. No Brasil, a base do governo é tão grande que praticamente exterminou qualquer foco de oposição. As poucas vezes em que o governo tem alguma contrariedade é, como acontece agora, com o Código Florestal, quando o absurdo das posições é tão grande que não há como vastas camadas ou segmentos da população não chiar e exigir um posicionamento diferente. Em coisas, porém, que não atingem tão diretamente os interesses das pessoas, estas passam batido, como é o caso atual do ministro Palocci que, em qualquer país com uma cultura política sólida, já estaria afastado, enterrado, seria coisa do passado.
O fato é que ter a fama de ser do contra pode fazer a fama de um parlamentar. E isto se trata apenas de manter a coerência, de se aferrar aos seus princípios, lutas e posições. Estes parlamentares, aliás, se sustentam na vida partidária exclusivamente de pessoas que acreditam nele e que esperam que continue cumprindo seu papel de crítico, ainda que sozinho. O problema é que, muitas vezes, acabam sendo tachados de radicais, de serem oposicionistas só por ser e, pior, se indispõem com seus próprios pares que desejam apenas dizer sim. Também podem acabar isolados e será que é possível fazer política assim, sendo a minoria até no seu próprio partido? Converso com alguns destes espécies raras e crêem que podem e seguem pregando contra os mal-feitos do governo mesmo incomodando a classe política. Embora nem sempre concorde com suas ideias considero que são indispensáveis e funcionam muito bem como um anteparo social para a unanimidade que, como acentuava, Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”.

quarta-feira, maio 25, 2011

Humano, demasiadamente humano


A atração por mulheres é, a meu ver, uma coisa normal no homem. Até mesmo bíblica, digamos, pois, segundo o livro sagrado, Deus fez o homem e a mulher para se completarem e se reproduzirem conservando a vida. A questão é que o sexo se tornou, como toda coisa boa, um pecado e, para muitos, um vício. Que sexo é bom não há a menor dúvida que é. O problema é quando o sexo se torna uma obsessão ou é transgressivo. Para mim, o problema real é o sexo sem amor, sem se ter pelo outro o desejo e a reciprocidade. Não acredito em pessoas que dizem que jamais tiveram o desejo de “mexer” com outra pessoa. Muitas vezes, é verdade, a atração pode ser maior do que o bom senso e não é incomum, e sim demasiado humano, que os homens cometam tais pecados. Se bem que há mulheres que também o fazem, ou seja, o pecado não tem sexo. É preciso, todavia, preservar certos limites e, o limite sempre é dado pelo que o outro permite. Em palavras claras: tentar é possível. O impossível de aceitar é que diante da recusa do outro se queira impor o seu desejo como senhor do outro.
O comentário não pode deixar de ser sobre os recentes casos do ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, que quis submeter à força uma camareira e do ex-governador da Califórnia e ator Arnold Schwarzenegger que admitiu ter tido um filho fora do casamento há mais de dez anos. Mildred era empregada na casa do ator e de sua ex-mulher, Maria Shriver, e se aposentou em janeiro deste ano. De acordo com o site "TMZ", Mildred confidenciou a amigos que fez sexo com Arnold na própria casa do ator enquanto era funcionária da família. São dois casos escandalosos, de fato, por ambos terem uma vida pública, porém, o primeiro é, digamos, muito “fora do normal”, pelo fato de que envolve o crime de estupro. Já o do Exterminador do Futuro, inclusive o próprio, é censurável, porém, muito mais comum do que se imagina. Na verdade o fato de que a mulher é muito mais bonita do que a empregada (feia para os padrões comuns) revela o que, muitas vezes, a sociedade esconde que é que a beleza nem sempre é mais importante na relação entre as pessoas. Muitas vezes, ao contrário do que se pensa, são mulheres feias que são grandes mulheres, que dão ao homem o carinho e a atenção que não encontram no cônjuge. Se bem que cada caso é um caso.
É impressionante, porém, que um homem com a formação de Strauss-Kahn tente forçar alguém a fazer sexo. Afinal é uma pessoa fina, sob todos os padrões, e de educação refinada e com dinheiro. Como explicar um comportamento assim? Deve ter razões psicológicas profundas. Similar é o caso do músico norte-americano Joseph Brooks, recentemente encontrado morto no último domingo em sua casa em Nova York, que aguardava julgamento por acusações de estupro. Brooks, de 73 anos, compôs “You Light up My Life”, para o filme Luz da Minha Vida (1977) que também escreveu e dirigiu. Pela canção, ganhou o Oscar e o Grammy. Em 2009, o compositor se declarou inocente de uma série de acusações, entre elas a de estupro, depois de ter sido acusado pela polícia de levar para seu apartamento 13 candidatas a atriz para “entrevistas” individuais, como desculpa para agredi-las sexualmente. Parece que se suicidou, ou seja, talvez não tenha resistido a seus fantasmas. Casos assim demonstram que o homem, apesar de toda sua capa de civilização, ainda conserva instintos primitivos que o governam, entre eles, sem dúvida, um é o sexo. Humano, demasiadamente humano.

sexta-feira, maio 13, 2011

Confúcio, o resiliente otimista


Viver é sinônimo de aprender. E, confesso, que não esperava aprender nada quando fui participar, um pouco de forma inesperada, do I Rondônia Antenado no Futuro, um evento programado para a segunda-feira passada, pela Faculdade São Lucas com o apoio do Consórcio Santo Antônio e o Sistema Imagem de Comunicação. Seria um encontro para discutir os rumos futuros de Rondônia, mas, pelo formato que teve, com uma palestra central do governador Confúcio Moura e pouco tempo para os demais participantes, acabou mesmo sendo uma exposição sobre o governo e a administração atual. Surpreendente mesmo, em primeiro lugar, para mim, foi a presença de um governador que continua com a mesma disposição e o entusiasmo do candidato em campanha. Com tantos problemas iniciais em seu governo a minha sensação de longe é que deveria estar abatido com os percalços iniciais que estavam fora do alcance de qualquer visão política, por mais sagaz e previdente que fosse. Ledo engano, encontrei uma pessoa tranqüila, consciente e determinada.
Somente me veio à mente a palavra vinda da Física denominada de resiliência que significa a resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada num corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo. Nas Ciências Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o seu desenvolvimento pessoal, profissional e social. Traduzindo isto de uma forma simples é fazer de cada limão, ou seja, de cada adversidade que a vida nos apresenta, uma limonada refrescante e agradável.
A aplicação do termo ao governador Confúcio Moura vem de que, na sua palestra, demonstrou não ser uma pessoa comum sob este aspecto e, quando digo comum, sem desrespeito aos comuns, é porque o normal, mesmo entre os políticos, é sentir, se abater quando as coisas não correm conforme o programado. Já os excepcionais, os resilientes, se caracterizam por um conjunto de atitudes que os fazem resistentes aos embates da vida. O termo ressalta bem a capacidade que os corpos têm de voltar à sua forma original, depois de submetidos a um esforço intenso. Ou seja, é o tipo do ser humano que vive suas emoções sem se deixar abater pelos obstáculos, o que somente é possível quando se age com respeito à dignidade e reconhecimento pelo que se faz e se gosta de fazer. Pelo que vi a surpresa não foi somente minha tanto que o governador foi interrompido por aplausos em diversos momentos e, mesmo quando não teve as melhores respostas (e teve muitas) demonstrou um comprometimento e um entusiasmo que me despertou, apesar de cético e crítico, algumas reflexões que vale a pena externar. A primeira delas é que demonstrou que seu governo faz muito mais do que divulga, pois, revelou medidas que poucos no auditório tinham conhecimento, mas, também que há necessidade de mudanças na sua administração para que o que está sendo feito seja compartilhado e comunicado adequadamente.
É claro que não se pode desejar de um governo com pouco mais de cem dias que tenha uma obra pronta, porém, o que, para mim, ainda parece acontecer é que ainda se olha para o atual governador com uma certa visão salvacionista, com a esperança de que ele tenha as soluções para todos os problemas. Confúcio é oposto disto e todo seu posicionamento é de agregar soluções, buscar parcerias, construir em conjunto. Sua posição é a de não atrapalhar se não pode ajudar. É, talvez, neste sentido o mais puro produto político de Rondônia: um político que acredita que a solução dos problemas está na própria sociedade. Sua fé no futuro é invencível. E, por isto, teve um momento que perdi em relação a ele o olhar intelectual e passei a acreditar que seu governo pode ter resultados muito melhores do que, hoje, se espera na medida em que, como ser político, ele demonstrou ser bem maior do que muita gente imagina.

domingo, maio 01, 2011

Em favor de um forte partido de oposição


Não há nada demais em um partido governar um país por doze anos ou até vinte ou trinta que seja. O grande problema em relação ao PT é que não tem um projeto para o país e adota e incorpora os discursos alheios, como os do PDSB de distribuição de renda e modernização pelas privatizações, cujos resultados positivos foram estigmatizados e demonizados durante as campanhas eleitorais, sem explicações, via uma distorção dos fatos e a propaganda intensa que, conforme a Folha de São Paulo, é feita maciçamente, hoje, até mesmo pelos livros do Ministério de Educação. Pode-se defender dizendo que o PT, de maneira competente, no governo ocupou todos os espaços políticos. É, porém, neste sentido, se não há oposição, se o governo pode tudo, inclusive modificar a realidade e as regras a seu favor, a pergunta que fica é: onde está a democracia?
A democracia anda mal na medida em que toda e qualquer oposição foi reduzida a uns poucos pronunciamentos parlamentares, sem a menor relevância e influência no processo político, ou as análises esparsas de estudiosos e colunistas que demonstram que a vida brasileira não é cor de rosa como os áulicos do poder insistem em pintar. O governo também alega, e por isto vive alimentando a ideia de amordaçar os meios de comunicação, que o papel da oposição está sendo feito pela mídia. Uma irrealidade flagrante tanto pelo fato de que a mídia não é um partido, não disputa eleições, como porque as críticas são feitas em cima da falta de ação do Executivo, da corrupção e do saque ao tesouro que sempre os denunciados alegam ser apenas “discurso de oposição” ou equívocos de políticas e/ou até mesmo mazelas da administração pública que sempre existiram. Pode até ser, mas, o discurso era o de que com a ascensão do Partido dos Trabalhadores, como eles sabiam o que fazer e sabiam fazer as coisas no interesse popular, os desmandos seriam, pelo menos, amenizados. Na contramão das promessas esses parecem terem crescido e se tornado a tônica. O país, segundo grande parte dos analistas políticos e econômicos respeitados, se encontra paralisado em relação as reformas que precisaria para avançar e ser competitivo e refém de uma política do “é dando que se recebe” que imobiliza qualquer modificação positiva. Apesar do discurso ufanista o Brasil não cresceu, de fato, e desindustrializou-se voltando a ser agrário-exportador.
A miséria em que o Brasil se afunda não é que o PT seja um partido hegemônico, que cooptou, com sobejos do poder, outros partidos e o sistema sindical, antes tão combativo e, agora, inerte gozando das delícias do poder. A miséria é mesmo a falta de uma oposição com projetos, com alternativas, que faça o que o PT fez no passado e combata diuturnamente os erros, aponte as negociatas, os acordos espúrios que mantém o poder e passam também pelo financiamento das eleições, porém, são muito mais presentes nas licitações, nos preços absurdos que o governo paga por bens e serviços que, muitas vezes, nem são prestados em razão de que as empresas, mesmo aquinhoadas, acabam por falir sob o peso das propinas altas. Não vejo o PT como um partido diferente dos demais. Nele há pessoas bem intencionadas e qualificadas, porém, não infalíveis nem predestinadas. Como partido considero que fez sua parte e esgotou-se num programa que se tornou eleitoreiro, assistencialista e apegado ao poder. É preciso que se crie uma nova alternativa de oposição que não pode ser também um novo pouso para os caciques do PSDB, do DEM e outros que já se provaram incapazes de construir algo novo. É preciso indispensável um proposta nova, mobilizadora, pois, nenhuma democracia pode sobreviver sem uma oposição forte com um programa alternativo, com políticos e militantes fiscalizadores e dinâmicos. Se isto não acontecer o PT irá se consolidar como um partido hegemônico, a exemplo do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por dezenas de ano, porém, como no México, não iremos avançar mergulhados no pacto da mediocridade e do imediatismo. E, é preciso lembrar, até os árabes se revoltaram contra o totalitarismo.